sábado, 17 de janeiro de 2009

Pensamentos de Anais Nin




I- A Racionalização das Emoções- Anais Nin

O ponto de vista feminino tem sido muito mais difícil de expressar que o
masculino. Se assim me posso exprimir, o ponto de vista feminino não passa pela
racionalização por que o intelecto do homem faz passar os seus sentimentos. A
mulher pensa emocionalmente; a sua visão baseia-se na intuição. Por exemplo, ela
pode ter um sentimento em relação a qualquer coisa que nem sequer é capaz de
articular.
A princípio, achei extremamente difícil descrever como me sentia. Porém, se
fazemos psicanálise, a questão é sempre: «Como é que se sentiu em relação a
isso?» e não «O que é que pensou?» E como muito frequentemente a mulher não deu
o segundo passo, que é explicar a sua intuição - por que passos lá chegou, o
a-b-c daquilo - ela não consegue ser tão articulada.

Ora eu tentei fazer isso (quer tenha conseguido quer não), e, porque estava a
escrever um diário que pensava que ninguém leria, consegui anotar o que sentia
acerca das pessoas ou o que sentia acerca do que via sem o segundo processo. O
segundo processo veio através da psicanálise, que era igualmente um método de
comunicar com o homem em termos de uma racionalização das nossas emoções de modo
que pareçam fazer sentido ao intelecto masculino. Por isso existe uma diferença,
penso eu, que é muito profunda, mas que está a começar a desaparecer. Com
efeito, penso que, quando a geração mais jovem passa por qualquer experiência
psicanalítica descobre que os sonhos dos homens e das mulheres são os mesmos, o
inconsciente é universal, e que aí as coisas brotam do sentimento e do instinto
e não passaram pelo processo de racionalização, e portanto este é um ponto de
vista feminino.


II- Tornamo-nos Mais Objectivos Depois de Reconhecermos a Nossa Subjectividade - Anais Nin

Toda a arte da psicologia ou da ciência da psicologia, se lhe quisermos chamar
assim, é baseada numa inversão do processo de objectividade. Não que não
possamos tornar-nos objectivos, mas que apenas possamos tornar-nos objectivos
depois de termos confrontado as nossas atitudes não objectivas, as nossas
atitudes não racionais. Atingir uma objectividade honesta significa termos de
saber quais os pontos da nossa natureza que são propensos a determinado
preconceito, que parte de nós é defensiva, que parte de nós distorce o que
ouvimos. E é necessária uma tremenda auto-honestidade para começar a remover
essas distorções e a clarificar a nossa visão. De modo que só podemos atingir a
objectividade depois de termos descoberto quais as áreas da nossa psique que não
são objectivas.

Além disso, o reconhecimento básico da psicologia é que, lá bem no íntimo, a
maior parte da nossa vida é desconhecida da mente consciente e que, quanto mais
nos tornamos consciente dela, mais honestos e mais objectivos nos podemos
tornar. Nós não vemos os outros com clareza, e o que obscurece a nossa visão são
os preconceitos que a pessoa supostamente objectiva se recusa a reconhecer. Uma
pessoa objectiva diria que não é responsável pela guerra, mas uma pessoa que
sabe psicologia sabe que cada um de nós é responsável porque cada um de nós tem
sempre uma área de hostilidade, que depois é projectada para hostilidades
colectivas mais vastas.

III- Quais São os Escritores Que Nos Enriquecem? Anais Nin


Quais são os escritores que nos enriquecem? Penso que isso é diferente para
todos. Penso que lemos muito subjectivamente. Lemos aquilo de que precisamos. Há
quase uma força obscura que nos guia para determinado livro numa determinada
altura; depois criamos problemas quando tentamos racionalizar isso e dizemos que
este escritor é bom e aquele escritor é mau. Nunca fui capaz de dizer isso.
Compreende, não posso dizer que Simone de Beauvoir seja má escritora, mas posso
dizer que não me enriquece. O que é uma afirmação totalmente diferente. E penso
que isso varia muito. Elaborei uma lista de escritoras e dos seus livros que me
enriqueceram. Mas não é uma selecção literária. É uma selecção puramente
subjectiva e a sua podia ser totalmente diferente.

Perguntam-me muitas vezes o que penso acerca de Simone de Beauvoir, o que penso
acerca de The Golden Notebook, e é-me sempre difícil responder. Não os considero
livros enriquecedores, porque me repetem incessantemente como as coisas estão,
mas nunca me mostram como posso mudá-las. Logo, quando Simone de Beauvoir
escreve um livro acerca do envelhecimento, ela está a curvar-se à idade
cronológica e a dizer que em determinada altura ficamos velhos. Mas nós às vezes
ficamos velhos aos vinte anos.

A idade é outra coisa que temos de transcender e de encarar com outra atitude. Não é cronológica. E penso o mesmo em relação à descrição de coisas tal como elas são, sem uma abertura que nos diga para onde podemos ir a partir dali ou como podemos transcendê-las, que encontro naqueles que chamo os escritores enriquecedores. É por isso que, quando não estou apaixonada por escritores, digo sempre que posso respeitar as suas ideias, mas que não me dão o sentimento que me empurra para a vida.



IV- Não Existem Pessoas Totalmente Ocas- Anais Nin

Nunca encontrei uma pessoa oca. Nunca encontrei uma vida sem significado quando
se procura realmente o seu significado. É esse o perigo de dizer que não
procuramos, porque foi assim que chegámos ao ponto em que sentimos que a vida
não tinha qualquer significado. Bem vê, nós repudiámos tantas formas de terapia.
Quer dizer, tantos de nós repudiam actualmente a filosofia, a religião ou
qualquer outro padrão que nos mantinha coesos anteriormente. Repudiámos tudo.

Até repudiámos a terapia da arte. Por isso não nos restou realmente mais que olhar
para dentro, e os que o fazem descobrem que toda a vida tem significado porque a
vida tem significado. Fomos seriamente prejudicados por pessoas que disseram que
a vida era irracional e de qualquer modo não significava nada. Mas assim que
começamos a olhar, descobrimos o padrão e descobrimos a pessoa. Nunca encontrei
aquilo a que se poderia chamar uma pessoa totalmente oca.

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Néon


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