domingo, 31 de janeiro de 2010

DESEJO- JPalmaJr



quando com tua boca
me percorres
e com tua língua tu descobres
o sal que sentes em minha pele
quando o odor que tu procuras
tu o fuças com as narinas de felina
quando com tuas garras tu me marcas
nos caminhos que o desejo te ensinou
por entre os pelos do meu peito
e o destino de teus lábios
onde com o fogo de tua boca
e a água de teu céu tu me ferve a carne
enquanto eu te procuro a toca intacta
que tu guardastes
para que nela a serpente te buscasse
enquanto nossos lençóis são puro mar
ondas de ti em beijos de brisa a me levar
enquanto meu desejo é te empurrar
dentro e fora, como quem foge
e logo depois já quer voltar
quando tua boca fica seca
e tua alma se encharca
quando te urro feito bicho
e te despejo em louco jato
te águo a flor despetalada
e molho e fertilizo teu jardim
é quando daria um mundo inteiro
para ter até o fim dos tempos
meu corpo no teu corpo sempre assim
.

Surpresas Virtuais- Giselle Sato






Pedro Henrique entrou no bar, confirmou o reservado e sentou-se no bar. Quase duas horas, estava adiantado, o coração parecia prestes a explodir tamanha a ansiedade. Pediu um scotch com água e gelo. Precisava relaxar, a excitação do proibido, somado ao perigo de encontrar algum conhecido, estavam mexendo com sua concentração.
Não podia perder o controle, dois meses planejando cuidadosamente, ajustando agendas e inventando compromissos e reuniões.
Nervoso, pediu uma segunda dose quando Ana e Bia chegaram, chamando muita atenção de ambos os sexos. Eram naturalmente bonitas e ousadas. Beijinhos, abraços e troca de elogios.
Pediram um vinho e brindaram ao encontro. Pedro sentiu um pezinho atrevido acariciando o tornozelo, subindo e descendo sem pressa. Ignorou a curiosidade e fingiu interesse na conversa.

Simone estava atrasada, era a primeira vez que se encontravam fora do virtual. Quando Pedro conheceu a moça, ficou encantado com o jeitinho tímido e delicado. Horas depois, partiram para um sexo online quente e desinibido. A partir daquele dia, quase todas as noites, encontravam-se na frente do PC .

Pedro estava apaixonado e queria um encontro de verdade. Simone não aceitou, estava satisfeita e não sentia necessidade de mudar. Os dois eram casados e moravam na mesma cidade. Na concepção de Simone, se a relação estava restrita a uma tela, não era traição. Pedro começou a imaginar uma forma de burlar as regras da amante virtual.
Meses mais tarde, Pedro descreveu seu maior desejo. Uma tara boba, mas que nunca conseguiu realizar. Trabalhou a idéia dia após dia, mexia com a imaginação da mulher instigando, sempre batendo na mesma tecla.

A libido da moça fervilhava, Simone passou a sonhar com as cenas descritas por Pedro. Finalmente concordou em experimentar , começaram a pensar em todos os detalhes e planejaram tudo com cautela . Um único encontro para realizar a fantasia. Simone pediu algumas precauções e Pedro prometeu cumprir todas as exigências.


A hora da verdade

As moças estavam irritadas com a espera e queriam ir embora. Simone surgiu no momento em que pediam a conta. Muitas desculpas manhosas e , o ar de menina desamparada. Pedro puxou uma cadeira para Simone e apresentou as amigas.
O entrosamento era um fato, todos haviam gostado um do outro, era hora de ir em frente com os planos. Pedro entendeu o silêncio:

- Bom, acho que está ficando tarde. E então, o que decidiram? Vamos sair para algum lugar mais tranqüilo? – Ana e Bia estavam animadas. Simone fez cara de indecisa e disse que não sabia.

Ana pediu a chave do carro e saiu com Bia para o estacionamento:-Tudo bem querida, não gostou das moças? - Pedro fez um carinho no cabelo de Simone .

-Na verdade, adorei suas amigas. Realmente são lindas.

-Então, fale qual é o problema, quem sabe eu não resolvo?

-Você vai ficar zangado comigo? É que elas são perfeitas demais, estou um pouco inibida – Pedro achou Simone uma chata, linda, mimada e infantil.

- Minha linda, que bobagem, você é muito gatinha. Elas são um pouco peruas, desculpe, não pensei que fossem te assustar.

Levantaram-se ao mesmo tempo e saíram apressados. Simone parecia mergulhada em pensamentos. Pedro caminhou até o carro esporte, os vidros das laterais eram quase negros, pelo barulho do motor calculou que o ar condicionado estava ligado. Simone entrou no carro como se nada tivesse acontecido:- Mudei de idéia. Não faça esta cara, juro que não estava fazendo gênero. Foi uma bobagem que passou pela minha cabeça.

As meninas beijavam-se no banco de trás. Não deram a mínima para o casal, Pedro assistia pelo espelho enquanto dirigia pelas ruas congestionadas. Estava deliciado com a visão:

- Vou acabar sobrando nesta brincadeira, estou morrendo de inveja.

Simone ficou calada, ouvindo os gemidos das duas. A mão de Pedro apertou de leve o joelho, deslizou pela coxa levantando a saia, descobriu que ela estava sem calcinha. Insinuou um dedo mais atrevido e sentiu o quanto ela estava excitada. Em dois minutos estavam na porta do motel.
Ana e Bia subiram as escadas correndo. Quando Simone entrou no quarto, assustou-se com o tamanho do ambiente.
Uma das paredes era coberta por espelhos, quatro ‘’futtons ‘’ king size cobriam o chão de tábuas corridas. Um painel estilizado exibia botões de comando para luzes, temperatura e outras facilidades. O banheiro também era imenso, a banheira de hidromassagem tinha o tamanho de uma piscina, tudo extremamente luxuoso e bonito.
Pedro sorriu para a Simone:- Gostou? Era deste jeito que imaginava?

-É muito mais que eu esperava. Suas amigas estão cheias de fogo, acha que vai conseguir resistir?

-Fique tranqüila, vai ser do jeitinho que combinamos...

Bia dançava enquanto tirava a roupa, sob a luz dos spots coloridos, parecia ainda mais bonita. Seios fartos, quadris largos e formas arredondadas. Longe dos padrões, conservava a pele translúcida, o púbis completamente depilado.
Ana estava deitada de lado, assistindo a performance da amiga. Bebericava o champagne gelado, quando percebeu que era observada, molhou os dedos na bebida e acariciou os bicos do seio.

Bia sorriu para o casal enquanto usava a cinta liga qual chicote, provocando a companheira. Em instantes as duas beijavam-se, tocando com suavidade o corpo uma da outra, Ana gemia baixinho enquanto Bia qual uma gata, lambia a amiga. A língua passeando lentamente, sem pressa, saboreando um gosto que Simone desejou experimentar.
Simone ficou fascinada com o corpo musculoso e firme da mulher, peito quase reto, toda longilínea, poderia perfeitamente passar como um rapazinho. Ana percebeu o olhar e fez sinal para que ela chegasse mais perto. Antes que desse o primeiro passo, sentiu o abraço de Pedro puxando-a contra si, soltou as alças do vestido leve e aconchegou-se:

-Deixe eu ficar um pouquinho com você.

- Pedro, que loucura! Ana e Bia são demais!

-Calma menina, temos a tarde inteirinha. É nossa primeira vez de verdade. Nem acredito!

Estavam lado a lado, os dois casais partilhavam o mesmos espaço, mas o desejo de dar e receber prazer, era muito diferente. Ana e Bia mergulhadas uma na outra, lambiam-se sem pressa, vez por outra, alternavam as posições. Ana parecia comandar toda a ação, Bia deixava-se conduzir, uma submissão consentida.

Cheia de cumplicidade, parceria, carinho e paixão. Encaixavam-se, colando as vaginas molhadas, movimentando-se até alcançar o gozo.Faziam tudo parecer tão gostoso, que Simone não conseguia tirar os olhos das duas mulheres.

Pedro esforçou-se para estimular a parceira. Explorou cada pedacinho de pele e Simone parecia uma boneca inerte. Completamente sem iniciativa, algumas vezes, soltava um gemido fraco e falso. Ele era um homem experiente, percebeu imediatamente que a mulher não estava excitada.

Bia acariciou Pedro Henrique, mas ele empurrou a mão da moça e puxou Simone contra si, pediu baixinho que ele o chupasse gostoso. Recebeu um boquete tímido que e nada estimulante, enquanto retribuía lambendo a moça com maior empenho:

- Tá gostoso? Fala amor, você é uma delícia sabia? – Pedro fazia malabarismos com a língua, o clitóris entre os lábios gulosos, louco para fazer Simone gozar. Nada...

Enquanto isso, as duas garotas, resolveram brincar com um enorme pênis de borracha. Ana soltava gritinhos enquanto Bia enfiava o brinquedinho rapidamente, depois trocaram as posições e foi a vez de Bia partilhar o falo duplo.

Quando Ana empinou a bunda e Bia começou a passar óleo no anus apertado da amiga, Simone soltou um gemido alto: queria estar no lugar de Ana, queria aqueles dedos mexendo nela, exatamente daquele jeito.

Pedro sentiu-se perdido entre as pernas da mulher. A Simone vibrante e cheia de tesão da internet, havia evaporado, aonde estava a safada, despudorada, exibicionista? ! :

- Droga de mulher maluca, pela câmera virava-se do avesso e fazia de tudo. O que está acontecendo? - Não houve resposta.

Amaldiçoou o tempo que perdeu convencendo a doida, que com outra mulher, também não era traição, era só experiência... Simone agora, parecia uma coisa morta, nem a própria esposa era tão ruim de cama.

Pedro estava com raiva, não conseguia se concentrar, não estava funcionando e ele perdeu a ereção! Situação constrangedora, o maior pesadelo de Pedro. Pior, na frente de três mulheres! Isto sim, foi a maior derrota, completamente transtornado,
levantou-se apressado, e decidiu tomar um banho para refrescar a cabeça.
O barulho da porta contra o batente assustou as duas amantes e acabou com o clima. As moças sentaram-se de imediato, uma olhando para a outra, completamente sem graça.


Ana foi buscar uma bebida gelada, enquanto Bia tentava conversar com Simone:

- O que aconteceu ? Vocês brigaram? Simone não respondeu, ficou encolhida, os braços em volta do corpo miúdo, perdida em pensamentos. Apenas sentiu quando Bia, a abraçou com carinho:

- Escute, espere ele ficar mais calmo, estas coisas acontecem, há quanto tempo estão casados?

-Espere aí, não somos casados. É a primeira vez que nos encontramos de verdade! Ai! É complicado explicar...

- Mas ele disse que era presente de aniversário de casamento! Queria que você nos visse juntas e, depois, se quisesse poderíamos trocar...Eu não gosto de homem, mas Ana não se importa.

- Vocês não são amigas do Pedro? Não trabalham na mesma empresa? De onde vocês são?

Bia fechou os olhos e fez uma careta, não havia como consertar:

- Sou uma tonta, falo demais e me atrapalho toda. Vou chamar um taxi, antes que o Pedro me mate.

Ana começou a catar as roupas e jogar as peças em Bia:

-Não sei como ainda não foi expulsa, é o terceiro cliente que perdemos por sua causa.

Simone estava furiosa: primeiro, a fantasia de Pedro era transar com ela, enquanto assistiam duas mulheres juntas. Segundo, ele havia jurado que as moças eram velhas amigas, que as conhecia há anos e eram de inteira confiança. Tudo fora um fracasso completo. Estava cansada, triste e frustrada.

Resolveu ir embora com Ana e Bia. Enquanto caminhavam pelo corredor, deu uma boa olhada nas meninas e mudou de idéia.
Sabia o quanto era imprevisível, e achava que era uma qualidade admitir as novidades. Reuniu as moças em um canto do lobby:´- Se vocês estão livres, eu quero contratar as duas, já estamos aqui e acho que não vale a pena desperdiçar a oportunidade.

Bia deu um gritinho, estava salva e aceitou pelas duas. Simone ignorou os agradecimentos de Bia esperando a resposta de Ana:

- Claro que será um prazer. Na verdade, acho que era para ter sido deste jeito desde o início.

-É verdade, mas acho que ainda vai dar tempo de corrigir.

Simone pediu um quarto e o recepcionista não pareceu surpreso. Acontecia de tudo naquele motel, era um troca-troca desenfreado. No elevador, Ana sussurrou no ouvido de Simone tudo que planejava fazer com ela, coisas deliciosas que ela nem imaginava. Para provar, trocaram um beijo a três e riram como meninas levadas, sem o menor pudor.

Pedro não entendeu nada quando encontrou o quarto vazio. Esperava não ver a cara de Simone nunca mais, no entanto , havia pago uma fortuna pela diária das putas .
Pegou o celular e ligou para outra agência. Mandou vir duas morenas com o tipinho de Simone. Por precaução engoliu um Viagra.

Violência moral e/ou psicológica- Lucia C. Gonçalves





Do ponto de vista semântico, violência é um distúrbio comportamental que incide sobre outrem em prejuízo desse, transformando os atores dessa relação em vítima e agressor. Podemos dizer que violência é um comportamento que causa dano a outra pessoa, ser vivo ou objeto. Durante o emprego da violência, nega-se a autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida do outro. A violência moral e/ou psicológica diferencia-se do uso da força. Enquanto força designa, em sua acepção filosófica, a energia ou "firmeza" de algo, a violência caracteriza-se pela ação corrupta, impaciente e baseada na ira, que não convence ou busca convencer o outro, simplesmente o agride.

Quando falamos de violência psicológica referimo-nos a um comportamento (não-físico) específico por parte do agressor, seja este agressor um indivíduo ou um grupo específico num dado momento ou situação. Muitas vezes, o tratamento desumano tal como rejeição, depreciação, indiferença, discriminação, desrespeito, punições (exageradas), pode ser considerado como um grave tipo de violência. Esta modalidade, muitas vezes não deixa (inicialmente) marcas visíveis no indivíduo, mas pode levar à graves estados psicológicos e emocionais. Muitos destes estados podem se tornar irrecuperáveis em um indivíduo, de qualquer idade.

Diferentemente da violência física, a violência moral e psicológica tem menor visibilidade, pois as decorrências não são percebidas de imediato, vindo a sê-lo em estado avançado, quando ocorrem evidências de depressão, dependência química e suicídios. Crianças, idosos e deficientes são as potenciais vítimas no círculo escolar ou familiar.

Existe violência explícita quando há ruptura de normas sociais estabelecidas a esse respeito: contudo não é um conceito absoluto, variando entre os diferentes grupos. A violência está contida em todos os círculos, diferentes níveis sociais e organizações humanas: na política, no trabalho, na família, dentro ou fora dos muros.
As crianças são mais expostas à violência psicológica, tendo em vista que dispõem de menos recursos que lhe garantam a proteção, assim como os adolescentes também são vítimas da mesma situação por motivos semelhantes às crianças. Mesmo indivíduos adultos podem sofrer as mesmas conseqüências danosas. Um exemplo claro disto são as situações de assédio moral.

As mulheres são comumente vítimas da violência moral e/ou psicológica dentro do ambiente de trabalho, muitas vezes em decorrência do assédio sexual a que são submetidas. Sua atuação e capacidade profissional são colocadas em xeque, desmerecidas publicamente, gerando maus resultados na avaliação do desempenho do trabalho.

A Análise Transacional é um estudo psicodinâmico, entretanto sua principal diferença em relação à psicanálise é que a pessoa pode modificar seus sentimentos, pensamentos e escolhas pelo autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Analisa as relações entre as pessoas.

De acordo com a Análise Transacional, as relações humanas são regidas por jogos psicológicos que se transformam em dramas. A formação do ser está relacionada aos órgãos psíquicos, os quais se manifestam fenomenologicamente e operacionalmente através dos três estados de Ego correspondentes, são eles Pai, Adulto e Criança. Os Estados do Ego são manifestações dos órgãos psíquicos, podendo compreendê-los da seguinte forma: Quando um indivíduo não tem uma das figuras do PAC (Pai, Adulto, Criança) desenvolvidos saudavelmente, isso originará uma característica de pessoa mal resolvida psicologicamente.
O indivíduo que não têm desenvolvidas corretamente as etapas do PAC, passa a ser o agressor ou vítima, dependendo de qual capacidade foi desenvolvida ou não. O choque advindo do jogo psicológico dentre os meios sociais onde ocorre a violência moral e/ou psicológica é justamente a geração de drama nessas relações. Nessa instância, ou a figura da criança ou a do pai (PAC) não foram corretamente desenvolvidos. Sendo a da criança, os mecanismos de defesa da vítima não estão suficientemente desenvolvidos não permitindo uma reação adulta; sendo a do pai, a condição impõe que deva ser protetor, conciliador e orientador, e isso faz com que seja benevolente com o agressor, visto como filho no momento, estimulando ainda mais as atitudes agressivas- violência.

Caracterizando-se por palavras maldosas, gestos agressivos, olhares sarcásticos entre outras ações, o agressor mórbido vai continuamente usando esses instrumentos como meio de aplicação da violência. Palavras usadas que vão atuar na auto- estima da vítima, olhares duros, irônicos, gestos desrespeitosos, risos sardônicos, usados constantemente sobre um único alvo, geram um grau de exaustão tão grande que a vítima é paralisada pela incapacidade de reação dentro do jogo psicológico.

Para a Saúde Pública, a preocupação com os índices de violência é relevante na medida em que o indivíduo passa a desenvolver estados patológicos, problemas físicos, psicológicos ou comportamentais que o afastam do trabalho ou convívio social.

Por outro lado, necessita a Saúde Pública analisar a questão da morbidade do agressor, autor da violência moral e/ou psicológica. No estado mórbido em que se encontra o agressor, não lhe é permitido perceber da satisfação acometida pelo mal que ocasiona no outro indivíduo- sadismo, ou seja um estado patológico.

A maioria dos suicídios é, pois, uma decorrência da submissão à violência moral e/ou psicológica sofridas pelas vítimas submetidas a um jogo psicológico estafante e altamente prejudicial..
Finalizando, observamos que nesse jogo psicológico temos dois seres envolvidos numa relação dramática, portadores de deficiência na área da saúde, pois tanto vítima quanto agressor são potencialmente deficitários, pacientes merecedores de atenção pelas políticas de saúde pública e de ações concretas como meio de diminuir a incidência da violência nas relações humanas.


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Fins e inícios




O velho leão já quase não caça, só o mínimo para sua sobrevivência e suas necessidades vão diminuindo dia após dia. Foge das lutas e move-se cada vez mais mansamente a fim de passar quase desapercebido, não fora seu porte majestoso.

Mas, elas, as hienas vêm em bando sequiosas de espaço e poder. Cercam-no, rosnam ameaçadoras. Espreitam e acuam, constrangem-no com os dentes arreganhados, raivosas, sedentas de sangue. Aos poucos o conduzem até o limiar de seus domínios.

O velho leão vai sendo expelido de seu território e o apressa o saber que pouco as impede de galgar-lhe ao pescoço, aniquilando-o definitivamente.

O velho Nicolau é um velho leão cansado dos embates pela manutenção da vida. Já não tem forças e aos poucos deixa de reagir aos apelos de luta. Alquebrado, carrega no dorso as marcas da trajetória imposta.

Expulso, dá uma última olhada ao que lhe pertenceu, dá adeus ao que amealhou aos poucos durante a vida difícil e laboriosa. Deixa tudo que conquistou com o trabalho de toda sua existência.

Espera-se que tenha no peito uma mágoa incontrolável, ledo engano!

O velho guerreiro vê na linha divisória um novo horizonte, o azul do céu, o espaço sem fim, a liberdade, enfim...

Não é o fim da linha, mas uma nova linha que se inicia.
Fecha a porta e sai para viver!

sábado, 30 de janeiro de 2010

Pensamentos e Poesias -Hilda Hilst-




-Frases e Pensamentos de Hilda Hilst-




Mensagem sobre Sonho


Há sonhos que devem ser ressonhados,projetos que não podem ser esquecidos...

***


A vida é crua. Faminta como um bico de corvos. E pode ser tão generosa e mítica: arroio,lágrima,olho-d’agua,bebida. A vida é líquida
***

A vida é crua. Faminta como um bico de corvos. E pode ser tão generosa e mítica: arroio,lágrima,olho-d’agua,bebida. A vida é líquida
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Lobos? São muitos. ( Hilda Hilst )

Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
A palavra na língua
Aquietá-los.
Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.
Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.
Raros? Teus preclaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que digo
Acreditares.




*********



Venho de Tempos Antigos ( Hilda Hilst )

Deus pode ser a grande noite escura
E de sobremesa
O flambante sorvete de cereja.
Deus: Uma superfície de gelo ancorada no riso.
Venho de tempos antigos.
Nomes extensos:
Vaz Cardoso, Almeida Prado
Dubayelle Hilst... eventos.

Venho de tuas raízes, sopros de ti.
E amo-te lassa agora, sangue, vinho
Taças irreais corroídas de tempo.
Amo-te como se houvesse o mais e o descaminho.
Como se pisássemos em avencas
E elas gritassem, vítimas de nós dois:
Intemporais, veementes.

Amo-te mínima como quem quer MAIS
Como quem tudo adivinha:
Lobo, lua, raposa e ancestrais.
Dize de mim: És minha.

NEM SEMPRE- JPalmaJr



nem sempre te saberei dizer
as palavras que precisas...
nem sempre saberei moldar
as nuvens brancas em forma
de corações para te dar
como se fossem balões de ar...
nem sempre estarei no teu quarto
para abrir as janelas e deixar
o sol entrar...
não será todas as vezes
que te poderei carregar
de cavalinho feito menininha...
nem sempre te beijarei a pontinha
do nariz e te direi que és ainda mais bela
do que a paisagem que se estende
em um jardim na Primavera...
nem sempre poderei te amparar
quando teus sonhos cairem da
montanha onde mora a alegria
mas posso te ajudar
a levantar um sonho novo
a cada dia...
nem sempre te darei a mão
enquanto andas no meio-fio de contra-mão...
nem sempre estarei contigo
quando a noite for negra e sem luar
e nem mesmo poderei colher as lágrimas
de teu chorar...
mas enquanto eu puder
te entregarei meus pensamentos
te direi de amor por palavras
que não saberia dizer
se não houvesse você
em meu coração

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O que é prosa?


Prosa ou Textos em Forskel é o nome que se dá à forma de um texto escrito em parágrafos.

"Prosa" é uma palavra de duplo sentido, pois pode designar uma forma (um texto escrito sem divisões rítmicas intencionais -- alheias à sintaxe, e sem grandes preocupações com ritmo, métrica, rimas, aliterações e outros elementos sonoros), e pode designar também um tipo de conteúdo (um texto cuja função lingüística predominante não é a poética, como por exemplo, um livro técnico, um romance, uma lei, etc...). Na acepção relativa à forma, "prosa" contrapõe-se a "verso"; na acepção relativa ao conteúdo, "prosa" contrapõe-se a "poesia".

Aristóteles já observava, em sua "Poética", que nem todo texto escrito em verso é "poesia", pois na época era comum se usar os versos até em textos de natureza científica ou filosófica, que nada tinham a ver com poesia. Da mesma forma, nem tudo que é escrito em forma de prosa tem conteúdo de prosa.

O lingüista Roman Jakobson define "poesia" a partir das funções da linguagem: "poesia" é o texto em que a função poética predomina sobre as demais. Assim, um texto escrito em forma de prosa pode ser considerado de "poesia", se sua função principal, sua finalidade, for poética. A tal texto pode-se dar o nome de prosa poética ou poesia em prosa. Pois é "prosa" em sua forma; mas "poesia" em sua função, em sua essência, nos sentimentos que transmite.

Historicamente, o marco de início da prosa poética é geralmente associado aos simbolistas franceses, entre os quais Baudelaire e Mallarmé; no Brasil esse início também está associado aos simbolistas, principalmente ao Poeta Negro: o grande Cruz e Sousa, que tem cinco obras em prosa poética: Tropos e Fantasias (1893); Missal (1893); Evocações (1898); Outras Evocações (obra póstuma) e Dispersos (obra póstuma).

A partir do século XX o gênero foi adotado por muitos poetas e poetisas, de estilos e inclinações muito diversos. Costuma-se dividir a prosa em três subgêneros especificadores: o romance, o conto e a novela.

O romance é um tipo de história onde há um conflito principal, prolongado com conflitos menores, vindos dos painéis de época, das divagações filosóficas, da observação dos costumes, etc.

O conto é um tipo de história mais curta, construído geralmente com um único conflito, com poucas personagens.

A novela também é um tipo de história curta, que pode apresentar um ou mais conflitos (normalmente de tamanho intermediário entre o conto e o romance, com a particularidade de a novela ter um andamento mais episódico, dando a impressão de capítulos separados.

Vale destacar que, em relação a estrutura temos dois tipos de texto: Poesia e Prosa.





ATÁVICA

Minha mãe me dava o peito e eu escutava,
o ouvido colado à fonte de seus suspiros:
‘Ó meu Deus, meu Jesus, misericórdia’.
Comia leite e culpa de estar alegre quando fico.
Se ficasse na roça ia ser carpideira, puxadeira de terço,
cantadeira, o que na vida é beleza sem esfuziamentos,
as tristezas maravilhosas.
Mas eu vim pra cidade fazer versos tão tristes
que dão gosto, meu Jesus, misericórdia.
Por prazer da tristeza eu vivo alegre.
(Adélia Prado)




De lirismo, os poemas de Adélia não sentem falta, há um transbordamento de maneira bonita, harmoniosa - às vezes simples como ela - mesmo quando se funde num só texto: o sexo, a morte e a religião. Não sentindo nenhuma discrepância entre essas experiências ela explica, "não vejo desligamento delas"

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Gravidez de risco- Madamme Mmey







Os jornais descrevem histórias fantásticas sobre médicos tarados, mas nunca imaginamos que aconteça com a gente, sempre é ficção, fantasia.
Eu ia fazer meu preventivo com a Doutora Ana, como faço todos os anos e me deparei, já em sua sala, com um médico diferente.
-Olá. Sente-se.
-Desculpe, a Doutora Ana não está?
-Está de férias. Sou André, seu substituto.
-Quando ela volta? É que faço tratamento com ela regularmente. Não seria melhor esperar sua volta?
-Não se preocupe. Anoto tudo na ficha e quando ela voltar acompanha. Relaxe, é procedimento normal. Os médicos tiram férias. Ele estava sendo irônico.
-Desculpe-me. É claro que tiram. Eu estava envergonhada. Parecia que o estava julgando incompetente e tal...
-Tudo bem. Você não foi a única. Pelo visto todos adoram a Doutora Ana. Mas vamos começar. Vejo que está tentando engravidar. Estava lendo minha ficha.
-Pois é Doutor. Eu e meu marido estamos casados há dois anos e nada. Eu nunca tomei anticoncepcional. Já fizemos exames e nada de nos impede.
-Seu marido já fez o espermograma?
-Sim. Parece que o problema é comigo.
-Está tomando a medicação que a Doutora Ana receitou regularmente?
-Religiosamente.
-Vamos lá então...Ele levantou e entrou na sala de exames. Era um procedimento normal, mas eu estava desconfortável. Normalmente a Doutora Ana chamava a enfermeira e ele não ligou para a recepção. Percebendo meu constrangimento disse:
-Espero que não se importe. A Secretária está no laboratório. Pedi que fosse até lá para trazer o resultado de seus últimos exames. Vai ajudar na consulta.
-Tudo bem. Eu não gostei de ter que ficar sozinha. Era homem e nunca tinha sido examinada por um médico que não fosse mulher, mas não podia bancar a caipira, ele era um profissional como outro qualquer.
Eu estava vestindo aquele roupão aberto na frente quando percebi uma enfermeira entrando na sala.
-Trouxe papel?
-Sim. Deu-lhe um papel e uma caneta. Fiquei espiando curiosa. Ele escreveu algo e deu à moça.
-Obrigada. Agora vá comprar o que mandei.
-Não quer que eu o ajude?
-Não. Esse é meu trabalho, pode deixar. Melhor buscar o que pedi antes que a loja feche.
-Tudo bem. Até logo mais.
Ela saiu no exato momento em que entrei para deitar na maca, sem perceber minha presença.
-Venha. Eu ajudo você. Deitei na maca e ele tentou me ajudar com os pés no suporte. A Doutora Ana colocava os meu joelhos apoiados ali, mas, por incrível que pareça, ele colocou meus pés lá. Fiquei numa posição ridícula.
-Não se preocupe. Eu prefiro assim, dá um melhor ângulo para o exame.
Eu estava corada de vergonha e ele cobriu minhas pernas com o lençol.
-Assim fica melhor. Vamos relaxe. Vou examinar os seios para ver se tem algum nódulo. Começou a apalpar os seios e novamente me senti constrangida. Ele tocava meus seios diferente da Doutora Ana. Era um toque delicado e de vez em quando roçava o biquinho que estava ficando durinho. Imediatamente olhei para ele envergonhada, mas ele estava concentrado no que fazia e parecia não perceber meu embaraço.

"Que burra que sou. Deve ser normal. Estou imaginando coisas porque ele é homem. Espero que não tenha percebido meu rosto em chamas".

Ele foi descendo os dedos e devagar começou a apalpar a região acima da vagina.
-As vezes aparecem nódulos por aqui também. Precisa ficar atenta. Mais uma vez seu toque era bem peculiar. Eu arrepiei toda e dessa vez ele percebeu, pois esboçou um sorriso.
-Ei moça. Precisa relaxar. Vai terminar tudo bem.
Que vergonha! Fechei meu olhos e desejei morrer, sumir. Então ele puxou minhas nádegas para a beirada da maca e disse:
-Fique assim, bem na pontinha...E não tire os pés do suporte por nada. Vou começar o exame vaginal. Tornou a cobrir as minhas pernas, pois o lençol tinha caído, tirando assim minha visão. Puxou o banquinho e sentou. No início senti o dedo dele apalpando o canal bem devagar, como era normal, a Doutora sempre fazia...Depois foi ficando mais delicado, saindo as vezes do canal e tocando de leve, quase sem querer, meu clitóris. Eu arrepiei toda e senti que minha vagina estava ficando molhada. Devo ter mexido, pois novamente ele me puxou para a beirada da maca e...Ele colocou a boca e começou a chupar meu sexo, sua língua quente sugava e ao mesmo tempo lambia o líquido que escorria do meu canal. Eu não consegui mais raciocinar, estava numa posição muito frágil. Não demorou eu entrei num gozo fenomenal. Ele percebeu meus gemidos e grudou sua língua até que eu ficasse prostrada. Depois levantou do banquinho e abriu a calça, penetrando seu membro duro em minha vagina. Eu podia ver seus olhos esbugalhados, como se tivesse em transe. Ele gozou como um doido. Soltou muito esperma, dava para sentir escorrendo pela virilha. Quando terminou eu saí correndo para o banheiro. Limpei-me, lavei meu rosto, chorei...Não tinha coragem de sair dali e encará-lo. Tempos depois decidi, ia chamar a polícia, ele tinha me pego de uma maneira covarde. Não me deixou reação.
Sai do banheiro e fui para a sala médica. Na mesa estava a Doutora Ana.
-Dona Lúcia! Perdoe-me o atraso. Já está pronta para o exame?
-Como?
-O exame...A enfermeira disse que estava se preparando para o exame. Eu vim o mais rápido que pude, tive duas cirurgias hoje e estou toda atrasada.
-Mas...A Senhora não estava de férias?
A Doutora ficou surpresa e eu fiz um breve relato do que tinha ocorrido. Ela ligou para a recepção e chamou a enfermeira.
-Laura. Teve alguém aqui? Quem era o homem que esteve aqui?
-O pintor. A Senhora não disse para chamá-lo só quando não tivesse paciente?
-Sim, mas, quem era?
-Não sei. Liguei para a agência e mandaram. Faltou solvente e eu fui comprar. Ele roubou alguma coisa? Sinto muito, achei que fosse de confiança...
-Não. Nada disso. Mas você não sabia que Dona Lúcia estava na sala?
-Sim, mas foi depois que ele saiu. Ele me avisou que tinha chegado uma paciente, por isso voltaria amanhã.Algum problema?
-Não. Pode ir. A enfermeira saiu e tivemos uma longa conversa.
Não preciso nem dizer que nunca mais soube do tal homem. Investigamos por conta própria, mas ele desapareceu igual fumaça. Não tive coragem de denunciar. Eu ia ter que explicar para meu marido, ciumento do jeito que é, por que gozei em vez de meter o pé na sua cara. Até hoje não entendo por que...

Dois meses depois descobri que estava grávida.


FIM




Madamme Mmey tem uma nova e sedutora maneira de contar histórias eróticas. Escritora, construiu esse pseudônimo para exercitar livremente esse estilo, sem as amarras do dia a dia e julgamentos preconceituosos.

Literatura erótica, segredos íntimos e confissões:
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ukma canta meu poema "Aureolada" - Flá Perez



Aureolada

Eu tão anjo tenho andado,
que em mim nasceram asas.

O queme perde pro céu
é esse meu grande rabo
endemoniado

e minhas coxas grossas.


(repostagem de 07/01/08 com vídeo incorporado)

Este poema está em meu livro

(desenho de Larissa Marques
um dos modelos de capa sugeridos, não foi escolhido, mas é lindo!)

Encomendas pelo email flavia_perez@hotmail.com

domingo, 24 de janeiro de 2010

SINTA - JPalmaJr





apenas quero que sintas
não fale, não é preciso
apenas arfe e deixe
que minha boca
te sussurre
no embalo de meu
corpo sobre o teu...
quero apenas
que me sintas
e sinta como é quente
o meu desejo
e feche os olhos
enquanto beijo
a tua boca de menina
mesmo sabendo
que o que beijo
é o desejo de mulher
que não termina...
apenas sinta
as ondas de teu mar
se revolvendo
a tempestade em teu ser
se ampliando
o terremoto que te fere
os alicerces
o furacão que te domina
os sentidos
quando te transformo
em vulcão
em cuja boca eu despejo
para que guardes
em teu íntimo
a lava branca que te aquece
em um jato expelido
em desespero
não fale, apenas sinta
que junto ao gozo
que te molha a cavidade
meu suor sobre o teu peito
prova de tanta intensidade
que fora o amor que recebestes
quero que não fales nada mais
e te deixes envolver pela paixão
pois mais que o corpo que te toma
te doma e te cobre feito bicho
existe o homem que te ama
e te come com o próprio coração...




CÃO
JPalmaJr

amei-te como um cão
que esfomeado
se fartou
nas carnes tuas...
amei-te como o cão
que feriu-te o corpo
com suas garras
e te bebeu toda
em tuas taças
em tua boca de menina
e em teus lábios de mulher...
amei-te como o cão
que não vê flores
e que não espera
que deixes de ser menina
pois o tempo é curto
estando os dois na Primavera...
amei-te como o cão
que fuça os cantos
que procura teus encantos
e que chegou à tua flor
entre as outras do jardim
só de fuçar o teu odor...
amei-te como o cão
que só deseja
o teu calor
que louco salivando
nada diz
vai empurrando
e vai entrando
até sentir
que se escondeu
dentro de ti
como se devorasse
as tuas almas...
amei-te com
o desespero
do louco bicho
que ama
e vai embora
como o animal que
te quer em desespero
e como cão
se vai embora...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O CAMINHO ERRADO- JPalmaJr



"o que me excita
em você
é este meio caminho
entre o recato
e o prazer
a meia caminhada
entre a inocência
e o pecado
e mesmo assim
não ficar esperando
na entrada...
o que me excita em
você, é que posso
andar sempre
e no entanto
não consigo
parar o meu passo
mesmo quando não sei
se sigo o caminho certo
ou o caminho errado..."

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O amante oculto - Pedro Faria





“Eu já lhe disse Sr. Carlos: Não estamos lhe acusando de nada, só queremos saber o que houve. Pelo amor de Deus, uma pessoa está morta!”
“Ok, ok, eu vou repetir tudo que eu disse para o policial lá na faculdade: Eu entrei no banheiro eram umas três horas. O homem da manutenção estava do lado de fora, terminando de instalar a câmera. Lá no banheiro, eu ouvi gemidos vindos de um dos reservados. Eu fiz o que tinha de fazer no mictório e fui lavar as mãos. Nisso, entrou o Pipoca;”

“O senhor quer dizer o Sr. Roberto Marques, sim?”

“Isso. A gente o chama de Pipoca porque todo jogo que ele joga, ele chega perto de ganhar e acaba perdendo no fim, então...”

“Por favor, Sr. Carlos. Continue apenas a relatar os fatos do dia.”

“Tudo bem, eu me distraí. Onde eu estava mesmo?”

“O senhor Marques entrou no banheiro...”

“Ah sim. Bem, ele entrou enquanto eu lavava as mãos. O sexo continuava rolando no reservado. Nos cumprimentamos e fizemos alguma piada sobre... vocês sabem, sobre a situação do casal no banheiro. Ele deu graças a Deus por ter mais de um reservado lá dentro, porque ele estava apertado. Ele também falou que ia rolar uma pelada na quadra e me convidou Eu falei que ia sim, que ia esperar ele do lado de fora, num banco que tinha ali no corredor. Ele ficou lá uns dez minutos, saiu, e nós fomos jogar bola. Mais tarde eu soube do que aconteceu, eu...”

“Muito obrigado, senhor. Se tivermos mais perguntas, nós o contataremos, sim?”

“Sim, é claro. Posso ir agora então?”

“Pode sim. Mais uma vez, obrigado.”

*

“Então, o que você acha Benja? Consegue resolver isso?”

Benjamim Pasco era um homem no início de sua terceira década de vida. Era alto, acima do peso, tinha uma barba por fazer. Trajava um terno branco que parecia ter sido roubado de alguma funerária, e usava um chapéu, também branco. Trabalhava como detetive particular.

“Acho que sim, tenente. Mas você só tem o depoimento desse garoto?”

O tenente Cléber Camacho já estava na meia idade. Seus cabelos, outrora negros e abundantes, se reduziam a uma fina camada de pêlos brancos. Ele conhecia o garoto Benjamim desde quando este era uma criança, e seu pai era um dos melhores amigos do tenente, na época apenas um cadete.

“Assim que ele terminou a entrevista comigo e com o sargento García;”

“Rá!”

“O que?”

“Sério que você nunca percebeu a ironia? O nome do sargento é García!”

“O que isso tem a ver com o caso?”

O detetive olhou divertido para o rosto do tenente. Desde a morte de seu pai, quando Benjamim ainda era um jovem garoto, o tenente Camacho era o mais próximo de uma figura paterna que ele jamais tivera.

“Nada, tenente. Continue, por favor.”

“Como eu ia dizendo, logo após a entrevista eu te liguei. Pois parecemos que temos um mistério insolúvel em nossas mãos: A câmera que Carlos mencionou em sua entrevista, aquela que estava sendo instalada, tornou-se operacional naquele momento. Tanto que a primeira imagem que ela registrou havia sido o Sr. Roberto Marques entrando no banheiro.”

“Por falar nisso, porque uma câmera apontada para a entrada de um banheiro?”

“Devido a atos de vandalismo. Rolos de papel higiênico sendo colocados em privadas, etc. A reitoria da faculdade achou melhor por essa câmera, já que esse banheiro era a principal vítma desses atos. Porém, após a partida dos dois amigos para a quadra de futebol, a câmera não capta mais qualquer circulação de pessoas naquele banheiro até a chegada do zelador, responsável pelo abastecimento de rolos de papel. Ou seja, nós temos o corpo de uma garota num reservado, estrangulada, deixada nua pelo assassino, mas nós não temos o seu parceiro sexual. Supomos ser esse o assassino, mas ele não aparece saindo do banheiro. É como se ele tivesse evaporado!”

O detetive particular parecia nem ouvir. Seus olhos estavam fixados em algum ponto da parede da sala do tenente. Na verdade, ele havia ouvido tudo. E já começava a formular algumas teorias...

“Tenente, eu suponho que a Perícia tenha coletado fluidos, não?

“Sim, o corpo esta no legista sim. Esperamos o resultado para mais tarde nessa semana. Você tem alguma idéia de por onde começar?”

“Sim, parece-me bem claro. Começarei com uma série de entrevistas. Esse senhor Roberto Marques será o primeiro. Eu suponho que a vítma tenha amigas, não? Falando nisso, não peguei o nome dela.”

O tenente olhou um papel sobre sua mesa.

“Renata Campos, vinte e um anos. Estudava informática, estava no sexto período.”

“Sim... como eu falei, preciso que o senhor me encontre a melhor amiga dela, aquela que seria sua confidente, por assim dizer. Também planejo falar com o homem da manutenção, aquele que instalava as câmeras. Seria possível?”

“É claro, não vejo porque não. Mas você não pretende entrevistar o zelador que encontrou o corpo?”

“O senhor já falou com ele não? Vejo aqui em seu relatório que ele é um senhor de setenta anos de idade, viúvo. Não me parece um candidato perfeito a assassino de sangue frio.”

“Acho que entendo.”

“Então é isso. Tenho uma boa idéia já, cozinhando aqui debaixo do velho chapéu. Prefiro que isso seja rápido... será que o Sr. Marques importaria em nos receber agora?”

“Apenas se ele tiver envolvido. Nesse caso, acho que ele se importaria, e muito!”
Ao dizer isso, o tenente abriu um sorriso. Benjamim sorriu também, e ambos partiram.

*

No fim das contas, Roberto não se importou de responder as perguntas da polícia. Sentados no apartamento onde ele vivia com sua mãe divorciada, o tenente e Benjamin começaram pedindo para Roberto relatar o que aconteceu até Carlos sair do banheiro.

“Perfeito, até agora tudo o que você nos contou condiz com o depoimento do senhor Carlos. Agora, conte-nos o que aconteceu após a saída dele.”

“Bem, nada demais. Os sons continuaram, vocês sabem. Parecia que o casal estava se divertindo à beça.”

Benjamim tossiu um pouco, interrompendo.

“Desculpe, será que a senhora poderia me arranjar um copo d’água?”, perguntou ele para a mãe de Roberto.

“Claro, eu já volto”. Levantou-se.

“Agora Roberto, antes de você continuar, me responda: O homem fazia muito barulho?”

“O que?”

“Quero dizer, tem homens que são mais reservados, e outros que soltam mais a voz mesmo. Em qual dessas categorias se encaixava o parceiro de Renata?”

“Ah sim... bem, ele era mais do tipo quieto. Acho que ele não estava gostando muito do barulho que ela tava fazendo.”

“Por que diz isso?”, perguntou o tenente.

“Bem, porque eu o ouvi a mandando calar a boca. Devia ter medo de alguém abrir a porta”

Benjamim tomou o copo da ex-Sra. Marques e o bebeu casualmente, depois o apoiando num descanso de copos sobre a mesa de centro.

“Ah, bem melhor. Obrigado senhora”.

“Senhorita”, ela corrigiu, com um sorriso malicioso.

Agora foi a vez do tenente de tossir discretamente.

“Então, continue.”

“Como eu falei, eu entrei no último reservado, fiz... vocês sabem, funções biológicas. Então eu lavei as mãos e saí. Encontrei o Carlos sentado no banco do lado de fora, e fomos para a quadra”.

O tenente e Benjamin se entreolharam.

“Obrigado, senhor Marques, senhora-quero dizer, senhorita -, esse depoimento foi de grande valia, não?”. A indagação foi voltada para Benjamin, que demorou alguns segundos para responder, pois estava encarando o papel de parede.

“Sim, é claro.”

Os dois já estavam do lado de fora do apartamento, quando Benjamin virou-se subitamente para a porta.

“Ah sim, mais uma coisa, Roberto: Antes de abrir a porta do banheiro, dava para ouvir alguma coisa do lado de fora? Ou a porta era o bastante para abafar o som?”

Roberto pensou por alguns segundos.

“Não, não dava para ouvir nada não. Só notei os gemidos após entrar no banheiro.
“Interessante... muito obrigado novamente.”

No elevador, o tenente comentou com Benjamim que o testemunho de Roberto não acrescentara nada de novo.

“Pelo contrário, tenente! Eu o achei completamente revelador!”

“O que”, começou o tenente, mas foi interrompido por um som vindo de seu celular.

“É uma mensagem do sargento García. Ele – ora, por que está rindo disso de novo? – conseguiu com a mãe de Renata o nome e endereço da melhor amiga de sua filha. Você deseja visitá-la agora?”

“Sim, vamos. Não demorarei com ela.”

*

Sabrina Cambria recebeu os policiais em sua casa. Estivera chorando antes dos dois tocarem a campainha.

“Lamento muito pela sua perda, minha jovem. Eu e meu parceiro temos poucas perguntas, seremos breves.”

“Sim, é claro, a Senhora Campos me ligou avisando que vocês vinham. Eu entendo.”

Todos sentaram à grande mesa de jantar. Os pais de Sabrina estavam trabalhando.
Ela olhou bastante para Benjamim.

“Desculpe, mas o senhor é policial?”

O tenente interviu.

“Policial aposentado por invalidez. Hoje trabalha de detetive particular, está me auxiliando nesse caso”.

Benjamin sorriu a essas palavras.

“Invalidez?”

“Sim, tomei um tiro na perna. Manco bem pouco, mas correr nem pensar. Como eu não queria aceitar um trabalho burocrático, decidi me aposentar e trabalhar de consultor para a polícia, e detetive particular.”

“Entendo... bem, o que vocês querem saber?”
.
Benjamin então começou.

“Senhorita, tenho quatro perguntas para a senhora: Obviamente a senhorita era muito próxima das Srta. Campos. Roberto Marques e Carlos Escafurra eram amigos das senhoritas?”

“Não amigos. Apenas conhecidos, estudávamos juntos.”

“Ah sim... e algum deles mostrava algum interesse especial em Renata?”

“Aparentemente não. Vocês sabem, Renata era bonita, mas não era nenhuma miss.”

“Certo, certo. Apenas mais duas: Você sabe de Renata estava namorando alguém?”
Nesse momento, Sabrina corou.

“Não que eu sabia... veja bem, Renata era um pouco... rodada. Se é que me entendem.”
“Ah, quer dizer que ela tinha certa reputação?”

“Sim. Ela era quase ninfomaníaca! Daria para o primeiro que visse, se tivesse com vontade. O que era quase sempre. Mas ela tinha um preferido, que era um cara de um período acima do nosso... Adílio Brás.”

Benjamim olhou sorrindo para o tenente, que não entendia o motivo de alegria.

“Bem, acho que acabamos aqui. Muito obrigado senhorita, sabemos o caminho da saída.”

“Espere, qual era a quarta coisa que você ia perguntar?”

O tenente e Benjamin já estavam próximos da saída.

“Senhorita, a senhora já respondeu. Muito obrigado.”

Dentro do carro, o tenente virou para Benjamin.

“O que está achando até agora?”

Benjamin estava se divertindo brincando com a saída do ar-condicionado.

“Eu? Já descobri.”

“O que?!”. O tenente estava incrédulo.

“Sim, é bem óbvio. Preciso fazer mais uma entrevista, e pronto.

“Com esse tal de Adílio?”

“Não!”. Benjamin pareceu chocado. “Bem, talvez. Vamos ver o tal vídeo da câmera externa ao banheiro. Depois que conversarmos com o técnico que a instalou, eu aviso ao senhor, ok?”

“Ok. Mas você tem certeza que já descobriu tudo?”

Benjamin olhou para ele, com uma expressão séria no rosto.

“Tenho.”

*

Já era noite quando ambos chegaram à faculdade.
Na sala da segurança, já estavam o chefe de Segurança Ricardo Pereira, e o técnico Marcelo Campos.
Após os cumprimentos gerais, o vídeo foi colocado.
Às 15h06min, entra Roberto Marques. Dois minutos depois, Carlos Escafurra sai, e senta no banco próximo ao banheiro. Tira um livro de sua mochila e começa a ler.
Nada acontece até as 15h17min, quando Roberto sai do banheiro, apontando para a porta que se fechava atrás dele e sorrindo.

“Fazendo alguma piadinha de mau gosto sobre o casal, eu aposto”, comentou o tenente.
Benjamin nada disse.

Depois, o vídeo foi avançado, não mostrando nenhuma movimentação de pessoas até 16h47min, quando o zelador idoso entra, apenas para sair cambaleando e gritando, dois minutos depois.
Benjamin se levantou subitamente.

“Bem, é isso. Eu tinha algumas perguntas para o senhor, Marcelo, mas o vídeo esclareceu tudo que eu precisava saber. Tenho só mais uma pergunta, e é para o senhor, Senhor Pereira: Porque esse banheiro específico era o principal alvo de vandalismos?”

O chefe de segurança, um homem alto, forte, e completamente careca, respondeu com uma voz grava e segura.

“Veja, cada andar é dividido em duas alas, Leste e Oeste. Existem dois banheiros em cada ala, um para cada gênero. As alas são divididas por um hall principal, que serve de área comunal para os alunos. Os banheiros são colocados da seguinte forma: Um na entrada da ala, próximo ao hall, e outro no fim, bem mais longe. Na ala leste, o banheiro próximo ao hall é o masculino, e o distante é o feminino. O inverso ocorre na ala oeste, onde o crime ocorreu. Como a parte final desse ala possui mais depositos e menos salas de aula, o banheiro masculino lá colocado é bem deserto. Por isso, os alunos mais irresponsáveis – para não dizer vândalos – o escolhem para suas... brincadeiras.”

“Sim, é claro... senhor, por sua causa, agora eu resolvi completamente o caso. O senhor é um cavalheiro e um sábio”.

Dizendo isso, Benjamin curvou-se numa desajeitada – bem, cômica – reverência.
O tenente pigarreou. Benjamin pareceu não notar.

“Tudo me parece muito claro agora. Eu peço ao senhor tenente que espere o resultado da análise da Perícia. Para o caso pouco provável de eu estar errado. O senhor pode me avisar dos resultados, não?”

“Sim, posso, é claro.”

“Então, esplêndido! Senhores, mais uma vez obrigado.”

Benjamin e o tenente Camacho partiram, deixando um confuso chefe de Segurança, e um divertido técnico de manutenção.

*

O tenente Camacho encontrou Benjamin em seu apartamento, três dias depois das entrevistas, quatro após o crime.

“Gostei do que você fez com o lugar”, disse ele, no tom mais irônico que sua voz conseguia adotar.

“Obrigado, tenente!”. Benjamin pareceu genuinamente animado com a demonstração de aprovação por parte do homem que um dia ele chamou de pai, quando jovem e triste pela morte do verdadeiro.

“Os resultados da Perícia”, disse o tenente, passando a Benjamin uma pasta.
O detetive demorou alguns minutos lendo.

“Sim, sim... nada de DNA, nenhum pêlo fora os da moça, nada de espermicida, porém sinais de penetração sexual... sim, tudo como eu pensava.”

“Então, homem! Diga-me o que houve!”. O tenente estava impaciente com a demora de Benjamin.

O detetive começou:

“Pense nos depoimentos, tenente. Temos Carlos Escafurra, descrevendo os gemidos. Temos Roberto Lopes falando do parceiro sexual misterioso de Renata. Temos Sabrina Cambria, descrevendo-a como um ‘ninfomaníca que daria para o primeiro que aparecesse’, e como ‘sempre estando com vontade’, além de mencionar o preferido de Renata, Adílio Brás. Temos o vídeo, é claro. E por fim, temos o depoimento do chefe de Segurança, Ricardo Pereira. Será que o senhor já consegue juntas as peças? Arrisca dar um palpite?”

O tenente coçou a cabeça.

“Se eu fosse um homem dado a tendências sobrenaturais, diria que só um fantasma poderia ser o parceiro de Renata, para conseguir matá-la e fugir sem ser pego pelas câmeras.”

Benjamin soltou uma alta gargalhada.

“Ah, meu caro tenente! Não foi o parceiro de Renata que a matou!”

“O que?!”. O tenente saltou da poltrona.

“Para mim é tudo muito óbvio. Pense bem, fora o homem com Renata dentro do reservado, quem ficou a sós com ela dentro do banheiro?”

O tenente pensou um pouco. “Ora, se foi Roberto Marques, o que ele fez com quem é que estava no reservado com Renata?”

“Absolutamente nada.”

Andando pela sala, o tenente bufava.

“Impossível, homem!”

Benjamin sorriu.

“Pelo contrário. Lembra-se do que Sabrina falou sobre Renata? Ela sempre estava com vontade. Bem, suponhamos que ela ficasse com vontade, mas não encontrasse um parceiro adequado, o que ela faria?”

O tenente começou a compreender.

“Quer dizer então...?”

“Sim, ela estava sozinha no reservado, se masturbando com algum consolo.”

Isso fez o tenente cair em sua poltrona.

“Sim, tudo faz sentido”, continuou Benjamin. “O banheiro é isolado, como disse o chefe de Segurança, perfeito para isso. Ela tinha grande certeza de continuar o que estava fazendo sem ser incomodada. Eu suponho que tenha sido um grande desencontro: Ela deve ter entrado lá alguns segundos antes do técnico instalar a câmera, portanto ele não a viu entrando nem sozinha, nem com ninguém.”

“Como você pode saber disso sem ter perguntado a ele?”

“Se esse tivesse sido o caso, ele já nos teria dito. Sim, perguntas não eram necessárias ao técnico.”

“Entendo”, admitiu o tenente.

“Então. Temos um jovem no banheiro com o que ele acredita ser um casal fazendo sexo. Ele fica curioso e resolve dar uma espiada, talvez por baixo da porta do reservado. E o que ele vê? Algo muito melhor que um casal: Uma garota sozinha! Ele acredita ter tirado a sorte grande. Ele abre a porta, e se insinua a garota. Ela talvez recuse, prefere o conforto de sua solidão, ou então já está satisfeita com seu... ‘brinquedo’. O garoto se irrita, pensa em todos os boatos. ‘Como uma garota que é tão fácil pode me recusar? ’. Ela, digamos, ri dele. O provoca. Ele perde um controle, é simplesmente um jovem, e põe as mãos no pescoço dela, até toda a vida deixar seu corpo. Ele entra em pânico, precisa pensar em como escapar disso. Aí então ele se lembra de como ele e seu amigo fizeram piadas sobre o ‘casal’ no reservado. Era perfeito! Ele precisava apenas pegar o consolo de Renata, colocá-lo na mochila e sair do banheiro como se nada tivesse acontecido!”
O tenente abaixa a cabeça, pensativo.

“Mas e o homem mandando Renata calar a boca...?”

“Ora, apenas Roberto menciounou isso! Carlos apenas falou dos gemidos!”

Tudo caía em seu lugar. Benjamin mostrara capacidade mental acima da média desde jovem. Cléber Camacho sabia que ele seria capaz de resolver esse caso.
Levantou-se.

“Muito bem, Benjamin! Precisamos agora provar tudo isso.”

Benjamim apertou a mão estendida do tenente.

“Roberto deve ter se livrado do consolo, mas deve haver traços do DNA de Renata em sua mochila. Eu inventaria alguma desculpa aos pais dos dois garotos para pegar as mochilas deles, como rotina, e mandaria a de Roberto para análise.”

O tenente olhou admirado para Benjamin.

“Ótimo, meu garoto! Ligarei agora mesmo para o sargento García!”
Benjamin sorriu a isso.

“Muito bem, tenente. Vamos então almoçar. Eu pago! E aproveito para lhe explicar a piada do Sargento García.”

“Se você pagar, eu aceito!”. E sorriu.

Triste resplendor- Lucia Czer






De repente, no manto azul da noite
Fez-se um brilho maior
Surge uma nova constelação
Nenhuma reluz melhor

Mal sabe a humanidade
Que nesses brindes do céu
Escondem-se mil tristezas
Amores jogados ao léu

Do pranto da princesa
Tantas lágrimas respingaram
Que os anjos comovidos
Em estrelas transformaram

O coração em pedaços,
Desfez-se em poeira incandescente
Sem que se pudesse juntá-los
Viraram estrela cadente

O brilho do seu olhar
Tão difícil de apagar
Os deuses se apiedaram
Na lua nova juntaram.

E, assim, desfez-se em fáctuo
O sonho acalentado
Viaja como pó em pleno vácuo
Todo o pranto derramado

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

NÃO ME ROUBES- JPalmaJr




não me roubes de meus sonhos...não me faça ir buscar teus sorrisos aonde o sol encontra a lua, naquele lugar impossível que por vezes acontece...não me roubes para teu deleite, para que eu te beije e te deite entre pétalas rubras roubadas de mil rosas...não me roube de meu tempo para que te queira e te ame pela eternidade, como se não houvesse ponteiros para nos cansarmos de amar...nem tente me lever embora para que a toda hora tua boca encoste à minha, borboleta que adeja na flor de maravilha que te pinta a boca de pecado...não busque me levar de mim, não queira que eu vá embora...saia daqui de dentro de onde moro em um coração vazio e vá bater ao teu...e tocar aquele sininho que te diz que seu amor sou eu...e que tu, menina feliz, convidou para morar aí...não queira me roubar pra ti...não é preciso, pois não me roubas...se sou teu desde o sempre em que nasci...

No Motel - Zé


Os espelhos do quarto do motel tão conhecidos do casal eram cúmplices do entrelaçamento de seus corpos, lascivos, umedecidos pelo contato com as roupas que ainda vestiam. Seminus, não se prendiam a detalhes, consumindo-se no ato de prazer que os uniam. O ar refrigerado, mesmo ligado, não aplacava a fúria calorenta daquela paixão. Arfares, gemidos, uns espetaculosos, a maior parte deles contidos, teimavam em passear pelo ambiente do quarto, apesar de abafados por um velho sucesso de Roberto Carlos que o sistema de som do motel insistia a transmitir. Josefa era fã do Rei, Zé Antônio preferia um pagode, mas não havia tempo para escolhas. A música surgira aleatoriamente para alegria dela e um certo dissabor do seu parceiro que, a despeito do Roberto, procurava concentrar-se no coito, dando e concedendo gozo. Em verdade, a trilha sonora já era uma concessão em seus planos iniciais.

Zé Antônio, entre uma carícia e outra, ligou o dispositivo giratório da cama redonda que girou em seu próprio eixo, assustando Josefa. A amante pedira inúmeras vezes que não abusassem da oportunidade quando ela surgisse, mas o namorado gostava de fortes emoções. Ele ameaçou ainda ligar a tv em um canal pornô, ou aproveitar a banheira de hidromassagem. Ela protestou, quase interrompendo a cópula. “Do que valia então estarem num quarto de motel se não podiam curtir totalmente o momento?” – reclamou Zé Antônio. O barraquinho no Morro do Querosene em que Josefa morava com mãe e cinco irmãos, constituia-se em local impensável para as artes do sexo, enquanto o rapaz dividia uma vaga numa pensão na Cruz Vermelha atulhada de cavalheiros, mero eufemismo para homens pobres e solteiros. Só mesmo ali, em um dos quartos do motel em que os dois trabalhavam; Josefa de arrumadeira, Zé Antônio como auxiliar de serviços gerais; o casal poderia consumar o seu amor domado, represado durante meses de namoro. Fodendo-se às pressas, literalmente, temiam que alguém os descobrissem em falta gravíssima no ambiente de trabalho e, como conseqüência, se fodessem na vida, ainda que metaforicamente.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Lua - Giselle Sato


Lua cheia

Onde ocultei o silencio d’alma
Nuvens escuras, névoas claras
Desnuda
Maré alta, vento sudoeste
Arrebata, envolve, mente, promete
Amantes e poetas
Feiticeiros e sonhadores
Parias e devotos

Já tracei planos, meneios, deixei-me levar pelos volteios da ilusão.
Procurei doçuras, rosas sem espinhos, não vi os sinais apontando o caminho...
Na cegueira absurda dos apaixonados, visionários enluarados, enfeitados de estrelas cintilantes...morri mil vezes.

Minguando o doce que restava no céu da minha boca.
Dilema. Manto cor de framboesa e amoras silvestres, terra molhada, grama recém aparada, uvas doces e coração amargo.
Quarto crescente, desejo indecente na pele molhada.
Para finalmente surgir nova e refeita. Escorrendo plena, por mares, oceanos, dando voltas e voltas. Senhora dona do mundo
Lua.







http://www.indrisos.com/translations/poritagiselesato.html

sábado, 9 de janeiro de 2010

A convenção dos cornos




por Vertigo



Ser corno na maioria das vezes é um estado que não requer nenhuma vontade. O sujeito dorme e, sem perceber ou querer, acorda corno no outro dia. É como uma virose que faz com que o cara, do nada, amanheça resfriado. Claro que existe a minoria que tem a fantasia de querer ver sua mulher dando para o pedreiro ou pro personal trainning e faz de tudo para que a esposa aceite suas taras de corno manso. Depois de saber de tantos casos e de ler tantos relatos sobre os mais variados gêneros de chifres, resolvi visitar, a título de curiosidade, um grupo de auto-ajuda exclusivo para traídos, tipo estes que existem para alcoólicos anônimos e para recuperação de viciados em drogas. Trata-se do Grupo de Ajuda que Liberta com Harmonia e Amor ou, como é mais conhecido, o Galha.


Descobri o Galha por acaso, através de um amigo que passou a freqüentá-lo depois que flagrou a mulher com outro na cama. Pior foi descobrir em seguida que ela trabalhava como prostituta de luxo fazia mais de quatro anos. Ele era farmacêutico e sua mulher contribuia com o orçamento da casa fazendo salgadinhos pra festas. Mas o padrão de vida deles era colossal: carro importado, casa luxuosa, viagens. Desconfiou e desenterrou a verdade. Não se separou para não perder a boa-vida (ele não era trouxa), mas entrou para o tal grupo justamente pra tirar o grilo, ou o chifre, da cabeça.


A portaria do Galha é bem sugestiva, com uma cabeça de touro empalhada pendurada na porta. Para manter a privacidade, não existe atendimento físico na recepção. O corno adquire um cartão com o responsável pela instituição e o passa na máquina e esta libera a entrada com uma mensagem sonora: “bom dia! Hoje é mais um dia rumo à sua liberdade. Com harmonia e amor venceremos os chifres e deixaremos as mágoas para trás”. Visitantes podem entrar sem o cartão, pois têm direito a uma visita para conhecer o ambiente. Ao entrar vi alguns homens e suas mulheres sentados em círculo. O clima era de resignação.


- Bom dia, meu nome é Argeu. Todos aqui já me conhecem, mas para quem é novato,
sou um dos terapeutas do Galha.


Argeu era um sujeito magro, alto, cavanhaque grisalho. No braço esquerdo tatuagem de
pelo menos cinco nomes femininos diferentes. Sempre que falava mexia com as mãos, como se quisesse fortalecer os conceitos que proferia.


- O senhor aí de camisa listrada cor-sim cor-não, o senhor é visitante? – perguntou para mim.


- Sim.


- Qual seu nome?


- Norberto.


- Já foi ou está sendo traído, Norberto?


- Eu diria que provavelmente ainda vou ser.


- Muito bom. É assim que se fala, pois compreender que todos traem e são traídos é algo totalmente natural. Como sempre digo, metade das pessoas admite o chifre e a outra metade ainda não descobriu que o levou. Sente-se.


A reunião começou com um gorducho falando sobre a aceitação que tinha com o chifre.


- Minha mulher me trai já há alguns anos e eu até incentivo, pois é uma fantasia minha. Mas de uns tempos pra cá eu tenho tido problemas, já que seus amantes não só transam com ela como também estão bebendo minhas cervejas, usando minhas roupas e um já até mijou dentro do aquário lá da sala.


- Realmente é um caso sério o do seu Gilson. Premissa máxima de boa conduta de um amante é saber enxergar o limite de sua atuação. Isso implica em não usufruir além do corpo da mulher do corno. Mijar no aquário é o fim da picada mesmo. Recomendo que o senhor peça o telefone do sujeito para sua esposa e dê um esporro nesse safado.


- Quem mais vive situação parecida?


Um cabeludo levanta o braço:


- Eu. A minha esposa faz orgias nababescas lá em casa. Nessas ocasiões ela dá para alguns homens ao mesmo tempo. Eu não ligo pra isso, mas de uns tempos pra cá os caras começaram a passear com meu carro. Outro dia precisei ir pro trabalho de bicicleta, porque minha mulher tinha viajado com um desses seus amiguinhos não sei pra onde.


- É chato isso. Temos que pensar em soluções para esse tipo de absurdo. Esconda a chave do seu carro e não abasteça sua geladeira com alimentos afrodisíacos. Ele perceberá sua insatisfação e voltará a respeitá-lo.


Um magrelo veio com uma pergunta que eu também tinha curiosidade:


- É verdade, sr. Argeu, que dizem que ser corno é só um passo para ser viado?


- Olha, Demerval, existem poucos estudos sobre isso. A psicologia não ratifica essa assertiva.


- É que um amigo meu começou permitindo que a mulher dele virasse rainha da bateria de uma escola de samba lá perto da casa dele. Daí ela engrenou um caso com o bicheiro dono da tal escola. Da última vez que o vi ele estava parado na porta de uma boate GLS.


- Alguns gays já foram cornos, mas nem todo corno é necessariamente gay – afirmou Argeu.


- Bom, eu queria saber como faço para não ser corno. Vi minha mulher me botando chifres e não admito isso. Não consigo sentir tesão vendo ela transando com o síndico lá do meu prédio. Também não quero terminar com ela. O que devo fazer?


- Eu sugiro que o senhor seja mais maleável. Aceite essa fantasia dela transar com o administrador do seu condomínio. O ciúme diminuirá e você ainda vai poder curtir a sauna do seu prédio sem ficar constrangido com seus vizinhos. Afinal, eles também são chifrudos.


- Não! Eu não aceito! Mesmo que ela fosse mais discreta e deixasse de dar pra ele na portaria eu ainda assim não aceitaria isso. É um descaso. Se eu não amasse tanto a Ângela, terminaria tudo e sairia do condomínio.


- Veja bem, o senhor não pode nunca levar o chifre para o lado pessoal. Dizer que vai “terminar tudo”, que vai “sair do condomínio” é típico de alguém sem personalidade. Admita o chifre e viva a relação! Afinal, se a mudança realmente acontecer, ela vai dar também para o síndico do outro edifício para onde vocês forem. Aprenda com a traição, tire proveito dela. Indignação é um sentimento que apenas o corrói. Faça a leitura da situação: síndico significa funcionário máximo do edifício, um indivíduo graduado. Se ela gosta de dar para esse tipo de pessoa é porque ela também vê em você um sujeito altamente capacitado, já que, quando não está dando pro cara, ela está transando contigo.


- É, isso é verdade. E também não posso reclamar muito porque o valor do nosso condomínio caiu consideravelmente, o que é ótimo.


- Pois então. Relaxe. Chifre acontece em todo lugar. Vamos aprender a administrá-lo e colocá-lo a nosso favor. Percebam que assim o stress em casa diminui, as cobranças ficam raras e brigas tolas vão praticamente a zero. E ela ainda deixa você assistir seu canal Playboy em paz. A galhada é, quase sempre, um prêmio pela sua abdicação à possessão.


- Que prêmio? Como posso extrair algo de bom de uma puta galhada que minha mulher me põe na cabeça? Estou é farto! A Jucimara sai com meu melhor amigo, paga o motel com seu cartão que eu sei e até dá o cú pra ele, coisa que não faz comigo.


- Edgar, dar o cú é um assunto que já foi debatido anteriormente. A mulher sente vontade de dar o rabo em situações que geram sensação de entrega proibida. Por isso que normalmente dão para o amante e não para o esposo. Não existe mistério nisso. Perceba que a partir daí ela pode tomar gosto pelo sexo anal. E adivinha quem vai satisfazê-la quando o Ricardão não estiver por perto, hein, hein? Você, seu bobinho!


Então, uma mulher tomou a palavra:


- Eu traio meu marido com uma amiga minha. Ele não desconfia. Devo contar?


- Certamente que sim. O chifre, ainda que homossexual, deve ser de conhecimento para que ele possa entender que você é uma mulher de confiança.


- E se ele quiser participar também?


- Bom, aí é uma decisão que cabe a você tomar. Mas já digo logo: desse jeito não é mais chifre, e sim sexo grupal. Pode haver prazer também, claro.


- Pesquisem na internet e vejam quantas pessoas estão satisfeitas com as puladas de cerca de seus cônjuges. Se auto-intitulam cornos, gostam de ser, adoram esse rótulo. A questão é o corno sair do armário, pois o Ricardão já saiu faz tempo. Congratulem-se com ele, vivam as suas vidas sem remorsos. Entendam que o prazer de seus companheiros não pode ficar limitado. O último censo apontou que 90% dos homens traem ou são traídos. Ou seja, provas claras de que ser corno, no fundo é bom. Esses 10% ou são mentirosos ou ainda não perceberam os benefícios do chifre. Vejam bem que o adultério já foi banido do Código Penal Brasileiro. Trair já não é mais crime.


- O sr. é corno, sr. Argeu?


- Claro. Todos os meus amigos têm a cópia da chave lá de casa para que possam visitar minha mulher quando quiserem.


- E isso não gerou nenhum desconforto para o sr.?


- Ah, sim. Alguns vizinhos começaram a fofocar, dizendo que minha mulher é uma puta e eu um corno. Logo recomendei que eles viessem para o Galha, para que abrissem seus horizontes. Minha filha de 18 anos está seguindo o caminho e também já põe alguns bons galhos na cabeça de seu namorado. O futuro, de uma forma geral é a proliferação irrestrita e harmoniosa do chifre. Meu problema só acontece quando a Silvinha leva muitos rapazes lá pra casa e minha mulher também. Aí tenho que sair, pois o tumulto fica grande.


- E o senhor não se incomoda se uns amantes da sua mulher também resolverem transar com sua filha?


- Bom, isso deve acontecer, sem dúvida. Mas não fico na beira da porta contabilizando quem está comendo quem. Deve-se deixar fluir normalmente. Se minha mulher transa com um universitário o que há de errado? Eu também adoro uma colegial. Sem problemas.


- E o senhor trai também?


- Claro. Muitas e muitas vezes. Eu passo mais tempo com outras mulheres que com minha esposa. E isso ajuda nosso matrimônio a ficar mais bonito. Acabamos nos tornando mais flexíveis e tolerantes.


- Sr. Norberto, o senhor como única pessoa nessa sala que não foi traída ainda, como é viver sem ser corno?


- Ouvindo vocês eu vejo que minha vida é chata mesmo. Transo com algumas mulheres por aí, mas nada fixo, sem raízes. Vejo que isso não está me levando a nada. Penso que vivo uma liberdade não-compartilhada.


Ouvi aplausos e assovios efusivos. Levantei meio atordoado e saí pensando em emprestar minha boneca inflável para alguns amigos. Quem sabe assim eu não estaria dando o primeiro passo para uma vida mais feliz?
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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Instintos- Narceja


Por Narceja
Senti naquela noite um desagradável ar de rejeição por parte de Leonardo. Sentia no seu olhar a repressão as minhas atitudes e sua oficiosa intervenção em minha vontade. Seu olhar penetrante de “dono” provocava-me arrepios por entre as pernas. Uma dominação que não era dada abertamente, mas insinuada.


Olhava as pessoas a minha volta como empecilhos para sentir o mais rapidamente que possível o pênis de Leonardo. O vi do outro lado da mesa, com alguns amigos enquanto conversava.



Um jantar entre casais e um olhar de repreensão e dominação que me excitava constantemente, a medida que as amigas riam ou gesticulavam e os olhares insinuosos de seus maridos para as outras mulheres se perdiam por entre as mesas.


Bichos em uma jaula. Grande sociedade... Civilização disfarçada e revelada apenas pelo primitivismo do sexo.- Quero pau duro!! Diziam meus olhos a quem soubesse lê-los.- Quero enfiar toda nessa puta! Revelavam os olhares dos maridos de minhas amigas. Putas, vagabundas loucas por rola, piranhas que se perdiam espetadas em uma rola grossa que as tornavam bichos na cama. E todas boas profissionais e mães de família.


Meus pensamentos, livre de minha moral social, se focalizaram no pênis de Leonardo. As carnes flácidas de um pênis mole, a esperança e milagre da vida. Via-o perfeitamente próximo a meus lábios, que os pegavam suavemente sentindo o peso de sua carne repousar sobre minha língua. O gosto inicial, geralmente de xixi, e o cheiro forte de macho me enchiam os pulmões e a vagina. Precisava de seu pinto logo.


Era apenas o que conseguia pensar após seu olhar de repreensão. A dominação de um macho sobre uma fêmea a minha submissão à frente de um pênis ereto e meu consentimento em dizer para mim mesma que sim... Sim, eu era a sua putinha e sim eu gostava de rola.- Leonardo, acho que precisamos ir... Disse interrompendo a conversa dos homens.- Só mais um pouco amor. Respondeu com um olhar sedutor.- Quero rola, quero leite! Era o que deveria ter dito na mesa para que todos ouvissem e pudesse desabafar a minha raiva e vontade. Mas me calei, afinal ainda estava na “jaula social”.


Tentei me fixar na conversa das amigas, mas entre minhas pernas um rio pegajoso escorria fazendo com que minhas pernas suassem e meu clitóris tremesse. Eu precisava ser entupida e logo.- Narceja, desde que a Sabrina se separou não foi mais a mesma... Nunca mais saímos juntas, você tem contato com ela? Perguntou uma de minhas amigas.-Não, nunca mais a vi... Certamente deve estar sentada em algum pau gemendo e gritando que é puta, enquanto eu estou aqui com vocês...Pensei e respondi: - Não!


Levantei com um olhar de fúria para Leonardo e disse que iria ao banheiro. Precisava me aliviar e tentar voltar ao mundo social. Passei por entre as mesas envaidecida pelo olhares de outros machos e entrei no banheiro.


No espelho, vi uma mulher de seios grandes e fortes, redonda no quadril, gostosa como gostam de dizer. Gostosa... Sempre pensei no verdadeiro significado dessa palavra; Que é gostosa quem é comida. Gostava de pensar que era um prato a ser comido e devorado pelos homens. Um prato que após ser comido ganhava um creme branco como prêmio. Estar cheia... Estar cheia de esperma era o que eu queria naquela noite.


Tranquei a porta e sentei no vaso sanitário, soltei meus seios para fora para que os visse de bicos duros e salientes, prontos para serem mamados. Levantei o vestido e tirei a calcinha,e antes de guardá-la na bolsa, a cheirei intensamente.


Era bom sentir meu cheiro de fêmea no cio, eu precisava ser preenchida ou não conseguiria me acalmar e curtir a noite com os amigos. Enfiei os dedos dentro da minha vagina até onde pude e fechei os olhos mordendo os lábios para não gritar. 3 dedos socados dentro de mim e outros dois molestando meu clitóris e os pensamentos no pênis de um macho, no pênis de meu marido, Leonardo.


Era bom sentir que era dele e que ele tinha o total domínio sobre meu corpo e vontade, que ele poderia me comer a hora que quisesse e sempre que pudesse.


Esfreguei os dedos com força arrancando mel por entre minhas pernas e me segurando para não gemer alto e gritar no restaurante que queria rola, que precisava de pau para me acalmar...Os pensamentos são, sem sombra de dúvida, nossos maiores libertadores. - Quero essa pica aqui dentro me enchendo... Enche essa sua vagabunda, enche! Dizia em pensamentos me molestando enquanto amassava meus seios com a outra mão.- Narceja? Você está ai? Perguntou uma de minhas amigas.- Sim... Saio já... Respondi com ódio e já gozando, soltando meu alivio para fora do meu corpo.


Fechei os olhos por alguns minutos a mais e focalizei na rola de Leonardo, na sua cabeçona rosada e no saco fedido de macho. Os pêlos em volta pretos e a cor cinza de seus testículos me faziam ranger os dentes e anunciar meu gozo farto e cheio em meus dedos.- Já vou, disse.Me acalmei por alguns instantes para que não notassem meu fôlego alterado e tirando os dedos de dentro de minha vagina os limpei no vão das minhas coxas.


Lavei as mãos e voltei pra mesa mais tranquila e capaz de passar mais algum tempo dentro daquela “jaula social”.- Demorou amor! Disse Leonardo já com segundas intenções.- Tive um problema no vestido... Respondi tímida.- Bem, nós já vamos! Disse meu marido levantando e se despedindo dos amigos.


Minha vagina piscou na hora ainda se acalmando do orgasmo anterior e já se preparando para ser violentada por um pau de verdade.Despedimos-nos dos amigo sempre trocando olhares insinuosos e sacanas. Em direção ao carro, Leonardo soltou: - Você fez...?- Curioso você... Disse sem responder.- Fez ou não fez? Voltou a perguntar .- Sem comentários... Disse.- Fez vagabunda que eu sei! Respondeu ao se aproximar do carro.- Vem ver então! Provoquei.


Leonardo me encostou no carro no estacionamento do restaurante e levantou meu vestido enfiando a mão por entre as minhas pernas, enfiando os dedos dentro da minha vagina arrastando um pouco de meu mel com ele, mostrando-me em seguida e depois colocando seus dedos dentro de minha boca disse : - Não aguenta ficar sem rola um minuto não é?- Você sabe que não... Confessei.- Entra no carro que vou te foder igual cadela de rua hoje!


Entramos no carro e vesti meu papel de puta beijando-o na boca e sentindo o gosto de sua língua quente enquanto pegava no seu pênis por cima da calça.- Mama ele enquanto dirijo! Pediu.


Abri sua calça enquanto Leonardo dava a partida no carro e pude matar minha fome sentindo o gosto daquele cacete duro passando por entre em meus lábios.- Mama que quero que vejam a putinha que eu tenho. Não me importava mais com nada, queria apenas sentir aquele pênis dentro de minha boca e ouvir suas palavras de comando, meu marido, meu dono.Leonardo passou perto de um ônibus de propósito e ouvi alguns homens gritando:- Mama vagabunda!! - Safada...- Goza na boquinha...


Então nessa hora, Leonardo estacionou o carro em uma rua mais escura e me mandou sentar no seu pau. Já sem calcinha, subi em seu colo e sentei com tudo em seu pênis melado deixando-me ser preenchida pelo meu macho, o homem que amava e que havia escolhido para ser meu dono.- Senta... forte... Dizia.- Gostoso... Ai... Como é bom ser comida... Enquanto gemia cravada em seu pau, pensava apenas no seu gozo se aproximando e no milagre que é ver um homem se acabando dentro de sua fêmea: - Quero leite grosso! Pedi. Era o sinal para deixá-lo como queria, completamente primitivo e sem rumo, animal em si, homem e macho.- Pois vou te encher de leite quente e é agora safada! Toma leite! Gemeu e soltou a primeira golfada de leite dentro de mim, me enchendo por inteira e continuou metendo sem parar já anunciando que meteria duas seguida sem intervalo, proeza para poucos homens, a maioria dá uma e dorme.- Quero mais... Pedi.Leonardo meteu novamente e disse que me encheria de leite de novo, para que eu aprendesse a esperar por ele.


Sentia as estocadas fortes enquanto via e ouvia os carros passarem por nós e pensava em toda aquelas pessoas ali no restaurante com suas vidinhas sociais e vazias... Se elas soubessem....- Vai aprender na pica a me esperar ! Dizia enfiando forte novamente. Em uma estocada, senti que iria gozar e avisei: - Mete mais que vou gozar! Meu marido então apressou as estocadas e meteu até me arrancar lágrimas:- Chora na rola... Chora para aprender. Chora! Gemi alto levando um tapa na bunda e gozei sentindo logo em seguida o creme quentinho e denso do Leonardo.


Ainda fiquei me contraindo um pouco em cima de seu pau cansado e sentido o frenesi de meu orgasmos na escala decrescente me acalmar e me transformar na mulherzinha carinhosa de meu marido. Era um espetáculo voluptuoso tal ambiguidade de meu ser. - Eu te amo muito. Disse me beijando.


Após o beijo, abracei-o forte montada ainda nele, sentindo suas carnes suadas e seu coração bater apressado. Repousando sobre seu peito e sentindo com minhas mãos sua barba mal feita, seus traços masculinos, me senti mulher, frágil em sua essência, doce e extremamente feminina. - Eu te amo, por que você é meu homem! Susurrei em seu ouvido. A verdadeira razão de existir está no espírito desse tempo. A “jaula social” não é nada além do nosso próprio medo de pensar e proceder totalmente em desacordo com o que é comum para os cegos de ideias e opiniões.


A promiscuidade nada mais é que o fracasso de todas as tentativas de fuga dessa “jaula social”. A regra é ao contrário, e agora é admitida como lei . A mulher não está fácil e existe homem fiel!


O contrário do comum é usualmente empregado como impossibilidades e paradoxos sociais. Ou talvez quem sabe... O pecado não esteja em ser “puta” ou ser “galinha” mas em pensar...

FLOR DE LÓTUS- JPalmaJr



na penumbra, sinto teu cheiro...
cão de teus odores...
me atraem, tuas fragrâncias,
teu calor, a silhoueta que se esgueira,
meia luz da lua te vestindo,
os cabelos que se confundem com a noite...

mãos minhas no teu calor,
meus dedos apertam,
provam a fruta,
selecionam,
como quem tem e comerá...
trazendo o sumo à boca, e sorvendo com gosto e prazer
de quem pode comer, beber, e com a língua irá retirar o caldo
que embriaga, mel de teu prazer, lambuzo-me de ti,
de tua fruta...para deleite de meus sentidos...

te sinto,
arfas, e ainda vais ganir...
como quem já não é fruta...
como quem já sabe o caminho, e mesmo assim quer se perder...

mas arfas, agora próxima ao meu ouvido...
arfas, como se fosse um grito
surdo e esquecido, de tua inocência já perdida...

gemes qual a menina que sente o primeiro membro a te tocar
e assim floresce a rubra flora entre tuas pernas
sente-se aguar, vira rio, vira lago,
eu a terminar em ti,
líquidos misturados,
espumados,
vira mar

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Adélia Prado- Uma abordagem especial


Everton de Paula entrevista Adélia Prado



A concepção poética surge de maneiras diferentes, segundo os próprios poetas: às vezes surge no momento racional, ou de um desejo d'alma; e há quem acredita estar possuído pelos segredos divinos. E no seu caso ela brota como "os matinhos depois da chuva".

"Os matinhos, depois da chuva", como você citou, constituem exatamente uma situação não racional. Matinhos depois da chuva, brotam como conseqüência de uma ordem cósmica, independente da vontade, do desejo. Assim também é a poesia.

Seria especificamente no seu caso?

Bom, a poesia não depende de nenhuma ordenação lógica e racional. Quero dizer, ela (a poesia) não traz nenhum esforço, não é uma decisão minha, não. O que eu faço é escrever a experiência da natureza poética, que surge como os matinhos depois da chuva.

Filósofos, como Platão e Aristóteles, conceituaram a criação poética de maneiras diferentes: o primeiro a considerava uma "reprodução da aparência" - não muito profunda - das coisas e dos seres. Enquanto o segundo, defendia a "imitação da realidade do homem em ação" como ponto de

Do artista. E você?

Não tenho condições de responder ao nível da pergunta. Teria que dominar bem esses dois conceitos de Platão e Aristóteles. Digo que a criação poética é a revelação do real. Talvez isso coincida com um dos dois filósofos.

E aqueles que se dizem estar inspirados por seres divinos?

A poesia é divina. O poeta, ele próprio é precaríssimo, tem os pés de barro. O que ele diz, se está realmente fazendo poesia, é o que o torna porta-voz de algo maior que ele.
A literatura, em alguns casos, é declarada como forma de evasão do escritor. É o expurgo do trágico, provocando efeitos terapêuticos. Certa vez um terapeuta argentino, lendo os poemas de Carlos Drummond de Andrade, disse: "ele não precisa de divã". O próprio Drummond reforça isto ao dizer que procura na poesia uma forma de resolver seus próprios problemas. Você, Adélia, confessa "escrevo o poema e iludo-me de que escapei à tristeza". Como se processa tudo isso?

Qualquer obra de arte tem diversos níveis de abordagem, de enfoque e de leitura. Você pode olhar uma pintura sob o ponto de vista psicológico, sociológico, fisiológico, como também um poema. Quem ler o texto pode exclamar: Nossa!... Ela estava enfossada. Nossa! ela estava alegre. Nossa! ela estava eufórica. Isso é o de menos no texto literário. O que importa é saber se o texto (falando de fossa de miséria, amor, de Deus, de sexo, de problemas sociais) é realmente literatura; se como tal tem valor; se é uma obra de arte ou se se revela como poesia.
Não fosse assim, todas as pessoas que escrevessem diários, desabafos, seriam considerados autores, e não é verdade. O texto literário pode ser um desabafo, mas ele tem que ser, em primeiro lugar, um texto literário. Senão, ele não tem valor algum. O que interessaria às pessoas saber da minha fossa, da minha dor de cotovelo? Nada! A não ser que eu fale de maneira bela, numa forma poética!

O poeta e crítico Afonso Romano de Sant'Anna afirmou que você parece ser uma das poucas poetas que fazem referências à família. Afinal, a família está sempre presente nos seus textos. Qual a razão desse enfoque?

O tema dos meus livros é o cotidiano. A família pra mim, é uma experiência vital. Falar da família, é como falar do ar no qual eu estou mergulhada, o qual eu respiro. São coisas que me interessam em primeira mão.


Religião



Enquanto muitos poetas fazem citações de grandes pensadores, você optou por citações da Bíblia. Como é a religião de uma pessoa que é professora de Educação Religiosa e escreva frases como esta: "Deus me olha e me causa terror"?

É. Tomo da Bíblia muitas epígrafes, realmente. Isso acontece por dois motivos: a Bíblia, pra mim, é um livro vital. Eu considero que tudo está escrito lá. A Bíblia oferece farto material para grifar qualquer assunto, de maneira bela, tão bela! De altíssima literatura. Ela responde às necessidades dos meus textos, por serem verdadeiros e belos também.

Revelando essa verdade, qual o seu parecer diante das declarações do Papa João Paulo II, recentemente, sobre a dúvida em relação à data do nascimento de Jesus Cristo no Ano I da nossa era, aceitando, inclusive, discuti-la.

A Bíblia não é um manual de ciências, não é um manual de história, ela não ensina estatística, biologia, etc. A Bíblia é o livro de informação religiosa, é a revelação de Deus para o homem. Historicamente, você pode encontrar, por exemplo, afirmações como estas: Ah! Jesus nasceu, não foi no ano Um da Era Cristã, foi no ano tal da Era Cristã. Isso pouco importa. A Bíblia quer dizer é que o filho de Deus, salvador do homem, nasceu e é um homem como nós. Do ponto de vista histórico, a divergência de datas não muda em nada as coisas. O escritor sagrado, para narrar o fato religioso de que o mundo é criatura de Deus, de que nós saímos da mão de Deus, ele cria aquela história maravilhosa de Adão e Eva. Não vou pensar: Deus pegou o barro, amassou na mão e fez o homem. São formas literárias (metáforas, parábolas) de dizer as coisas. A intenção dessa história é contar o fato religioso de Deus criar o mundo e o homem. Descobrir que o homem veio ou não do macaco, ou de uma fruta, não faz a menor diferença. Parece que viemos do macaco, tudo bem.

Adão e Eva - Óleo sobre tábua. Alberto Durero. Museu do Prado, Madri
Por falar em Adão e Eva, até quando você acreditou nessa narrativa alegórica, da serpente incentivar Eva a comer a maçã?


Até hoje acredito. É isso que eu estou dizendo a você, é uma parábola. O que é uma parábola? É a gente usar uma história pra contar uma história maior. Então eu ensino os meus meninos, os meus alunos, e ensinarei sempre. Ensinarei, e em primeiro lugar a mim mesmo, que Deus criou o homem e a mulher. Que, no princípio, o mundo era um grande jardim. Essa é a forma que o espírito humano tem de projetar os seus desejos mais profundos. Como vou contar a alguém que Deus fez o mundo? Eu começo assim: Era uma vez, tudo estava escuro; as águas eram misturadas com a terra... Porque o homem se vê num mundo ordenado e então ele se pergunta: como era isso no princípio? Essa pergunta já é a busca da verdade, a procura do mistério da criação do mundo. Então está valendo tanto como quando eu tinha seis anos de idade, quando ouvi pela primeira vez a história. Só que agora eu tenho consciência de ser isso uma parábola. Agora, como é que o mundo foi feito? A ciência está aí para descobrir: cientistas, físicos, biólogos... estão escrevendo volumes e mais volumes, fazendo escavações arqueológicas, encontrando peças de milhões de anos para chegarem a uma conclusão. De repente: Olha!!! A Bíblia está errada!? Não, ela não está informando ciência. Ela nos informa: Deus nos criou. Só isso.

Este estilo não retarda a compreensão da realidade?

Se tirar isto que você chama de fábula nós vamos cair de quatro e regredir ao tempo do macaco. É como se se tirasse da criança o "Chapeuzinho Vermelho", a "Bela Adormecida", o "Rapunzel";isso constitui o próprio oxigênio da alma. Essa fabulação, essa criação de parábolas, é isso que nos leva pra frente. Se se colocar isso somente nas mãos dos cientistas, vai nascer rabo em nós outra vez, não demora. Não tenha dúvida!

Voltando à dúvida da data do nascimento de Jesus, pergunto: o que você pensa de certos pesquisadores bíblicos não concordarem com a figura de Jesus Cristo, descrito na Bíblia?

O Jesus dos Evangelhos não é um Jesus histórico, mas um Jesus conhecido na fé. Repare que os evangelistas não falam nunca no aspecto físico de Jesus. Tomara que os pesquisadores o façam, Marantha!!!
Qual a comparação feita por você entre "as escrituras de Deus" e as "escrituras de João" ao afirmar que "tudo é Bíblia, tudo é Grande Sertão"?

É como eu disse antes, tanto do ponto de vista literário e vital, são dois livros completos. Quer dizer, tudo que eu escrever, eles já escreveram. Não em nenhum assunto que não foi tocado por eles. Você, se pensar em Guimarães Rosa e disser: "isso-assim-assim", ele não falou, reveja o texto atentamente que vai encontrar. Assim acontece com a Bíblia, ambos são livros definitivos.

"Tire as sandálias de teus pés, porque a terra em que estás é uma terra sagrada". Esta citação do Êxodo no livro "Bagagem" me fez pensar: o idealismo do poeta propõe a criação de algo novo no mundo ou a mudar a realidade?

Não!... O poeta não cria nada no mundo. Ele revela realmente o que já é. Quando falo sobre esta flor aqui, eu não estou querendo inventar uma sempre-viva mais bonita do que ela é. A poesia, ao falar desta flor, revela ao leitor - e em primeiro lugar para mim -, qual é o Ser verdadeiro desta flor, da qual vejo apenas a aparência. A função da poesia - se é que tem função - , o seu papel é a revelação do verdadeiro Ser das coisas. Ela não inventa nada paralelamente ao mundo existente; ela revela este mundo. É maravilhoso!... Quando se lê um bom poema - pode se até desta sempre-viva que estamos vendo -, nota-se que ela vai revelar muito mais do que os nossos olhos estão vendo. A poesia mostra a profundeza das coisas.
No seu entender a poesia feita pelo homem procura decifrar a essência maior dos seres. Na sua visão, o ser humano caminha em busca de que essência?

Há dentro de nós a procura do bem, um desejo do bem, um desejo de beleza. Acho que é nesse sentido que caminhamos.

Uai! E quando o homem prega as leis do céu e age conforme as leis do inferno?


Essa é a condição humana. Nós somos contraditórios, porque em nós habitam, com a mesma força, o bem e o mal, a luz e a sombra. Muitas vezes o ódio realmente é uma forma equivocada de amor. O que segue é questãod e uso de nossa liberdade, claro, com todos os nossos condicionamentos.

É muito comum ouvir dizer que o ódio caminha de braços dados com o amor...

Tranqüilamente. Não tenha dúvida.

Como paroquiana, qual é o seu papel?

De paroquiana comum. Eventualmente fazemos encenações teatrais paralitúrgicas.

Social

Se a infância batesse de novo em sua porta, ela seria convidada a entrar?

(Suspiro) A infância já está comigo. Ela nunca esteve fora. De vez em quando ela bate de maneira especial, se transformando em poesia.

O que você quis dizer com: "No mesmo prato o menino, o cachorro e o gato. Como a infância do mundo".

Olha o nome do poema "Roça". Você já viu, especialmente, na roça, periferia de cidade, no meio da população mais carente, mais perto da terra, da poeira, o menino comendo com o prato na mão e repartindo o alimento com o cachorro e o gato? É isso...

Cada leitor faz sua leitura, imaginei referências da triste vida de cão, levada pelas crianças pobres...

Não! Não! Quando fiz, não estava pensando em tristeza. Pelo contrário, estava na maior alegria. O que me comoveu foi a pureza, a comunhão...

No poema "Com licença poética" um anjo ao seu nascer anunciou "vai carregar bandeira", mais que pesada. Foi pelo fato de a porta-estandarte ser mulher?

É pelo peso da condição feminina.

Essa condição tem sido conduzida de maneira "ainda envergonhada"?

Ela ainda sofre inúmeros condicionamentos opressores.

"Se ficasse na roça ia ser carpideira, puxadeira de terço, cantadeira.
... tirando bóia da panela..." Essas maneiras roceiras não aconteceram. Você veio para a cidade, aprendeu a ler, a escrever e a fazer "versos tão tristes". Por quê?

Porque, na cidade ou na roça, a minha vocação permanece a mesma.

Há uma afirmação sua : "A vida é mais tempo alegre do que triste". Por que, então, você escreve frases como "a vida é horrível", reforçando ainda "o esforço do amor, o maná em pequena rodelas, tornam boa a vida"?

Mas é isso mesmo, a vida é horrível, a vida é fantasticamente maravilhosa e bela. Quando falo: é horrível, é pela experiência de "horrobilidade" dela. Você não tem só experiências perfeitamente alegres, passa também pelo terrível, o horroroso, o pavoroso. Apesar do horrível, é melhor ser do que não ser, porque a vida, no seu conjunto, é maravilhosa. Porque dentro desta coisa horrível, tem em nós uma compulsão para superar isso. Existe uma profunda procura da vida maravilhosa, da vida ascendente, da vida perfeita.

Qual a sua perspectiva de vida para o amanhã?

Eu estou nas mãos de Deus. Ele é quem sabe...

Você não "fantaseia" seu mundo?

Não!... não "fantaseio" (risos). Amanhã vou fazer isso ou aquilo. Eu tenho sempre otimismo, gosto da vida. Sabe o que estou pensando em fazer agora: Em escrever meu outro livro; é meu prazer. E continuar nessa vidinha em minha casa, com a família, vivenciando os pequenos e grandes problemas. Eu me sinto tecendo minha vida como se tivesse fazendo um crochê. De vez em quando a linha escapa, pego novamente, enfio na agulha e continuo... Espero ficar um belo trabalho no fim de tudo. Agora este fim de tudo, Deus cuida dele, como tá cuidando neste momento e cuidou antes. Não é?

Encontrei nos seus textos ideologias divergentes entre mulheres: "Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes". Você reagiria diferente: "A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar". É por amor ou rótulo?

Uma mulher que se levanta, ajuda o marido a escamar, limpar e salgar o peixe, curte ficar na cozinha trabalhando à noite, você acha que ela faz isso, por quê?


__Bom, no sentido geral do texto, pareceu-me ser por amor.

__Eu também acho. Você sabe o que eu estou dizendo...

__Tudo bem. Mas ainda tem muita gente fazendo porque aprendeu a ser gata borralheira e não sabe livrar-se do rótulo.

__(Risos)

"Minha tristeza não tem pedigree" é uma frase sua. Como é esta sensação?

Quando falo que minha tristeza não tem pedigree, é quando digo: minha alegria tem pedigree. Eu estou dizendo que tenho vocação para a alegria. A tristeza vem de enxerida que ela é (risos).

E o que é que vem a ser tristeza com pedigree?

Não sei, sô! Sei o que é alegria com pedigree, tristeza não.

Sexo

Você confessou em um de seus livros: "... é em sexo, morte e deus, que eu penso invariavelmente, todo dia". É esse poema fez um escritor gaúcho me dizer certa vez: "Adélia, tchê! tempera seus versos com sexo e religião, da mesma forma que o índio velho faz um bom churrasco. É bueno. Fica no ponto". Que relação você vê nesse tempero: sexo e religião?

Gostei tanto da resposta do gaúcho, quase fico com ela mesma. A relação que vejo é essa: a religião não exclui nada que é humano. Com é que ela vai excluir sexo - uma coisa imediata na nossa experiência. Não vejo nenhuma discrepância entre as duas coisas. Então, como não vejo esse desligamento, elas ficam ligadas. Tornam-se uma experiência comum.

"Me abraça detrás do muro, levanta a saia para eu ver, amorosa e doida. Acontece a má coisa, eu lhe digo, também, sou filho de Deus, me deixa desesperar. Ela reponde passando a língua quente no meu pescoço... se descuida e fica meiga, aproveita pra me safar". Tem pessoas se assustando com determinados poemas seus. Chegam a chamá-los de alucinações eróticas. E acham pecado quando você compara "minha fantasia erótica, sei agora, eram fantasias do céu..." Alguém já a recriminou por essa atitude?

Muito raramente. Acontece das pessoas ficarem meio assustadas, mas absorvo bem. Às vezes as pessoas se opõem a uma palavra ou a uma coisa que o poema está dizendo e perdem o conjunto do texto. De repente elas lêem novamente e falam: Oh!!! depois Ah!!!. É questão de leitura.

E quando a palavra assusta?

Olha, o texto está dizendo muito mais que aquela palavra. Senão, não é literatura, passa a ser pornografia. Literatura é feita com palavras. Quando essa palavra é necessária ele tem que ser usada.

Nessa hora o censor não funciona? O pensamento sai sem preconceito como sua frase: "meu amor é assim, sem nenhum pudor"?

Censura é só para cortar o excesso. O desnecessário.

Mesmo sendo uma expressão escrachada?

Qualquer uma. Obsceno é o que não tem a necessidade de ficar em cena. Como uma coisa necessária pode ser imoral?

Alguma vez lhe passou pela cabeça que sexo seja pecado?


Fui educada de maneira muito rígida. Às vezes, uma explicação equivocada da doutrina cristã nos leva a ter certos escrúpulos e até comportamentos que hoje eu vejo como equivocados. À medida que fui crescendo coloquei as coisas nos lugares.

A historinha que você defendeu antes, da serpente instigar Eva a comer a maçã, não é uma maneira equivocada de doutrinação?


Não! É diferente. A história de Adão e Eva é uma forma literária de passar uma mensagem religiosa. Seria equivocado que depois de adulta eu descobrisse: Ah! Então não foi Deus quem nos fez. Continuo, aos 50 anos, acreditando, como acreditei quando menina, que Deus fez o homem e a mulher. Isso cada vez se confirma mais. A forma como foi contada é literária, a ciência pode contar de outra maneira. A doutrina bíblica é religiosa e não científica.

Mas a forma usada, em muitos casos, não esclarece de maneira tal...


É. Tem muitos ainda achando que a bíblia está ensinando algo científico. Cientificamente o professor chega e fala: o homem veio do macaco. Acontece o espanto geral: Oh! Não!... veio das mãos de Deus. Forma-se a briga. Essa briga não tem consistência nenhuma, cada qual está falando uma linguagem. Às vezes os professores de ciências não tem o menor tato, o menor respeito com a formação religiosa dos alunos. Acontece também o contrário, dificultando a conciliação das duas noções. Há quantos mil anos foi escrita a história de Adão e Eva?! Só em pensar nisso se entende. Moisés, o suposto escritor desta lenda do homem tentado pela serpente, que já existia em outras culturas. Ele apenas deu o enfoque religioso. Serviu-se desta parábola. Acontece hoje, em 1987, ao abrir um livro de ciências lá está Darwin com a Teoria da Evolução: o homem veio do macaco, ou o primeiro ser que existiu era uma ameba lá no meio do mar. Tudo vem a partir deste ponto inicial de vida. Tudo foi gerado, transformado, evoluindo até chegar nesta maravilha: Mozart fazendo sinfonia, Drummond fazendo poemas! Já pensou? E a gente era macaco de rabo!... Isso (a ciência) está brigando com a bíblia em quê? Absolutamente em nada.

A Bíblia fala: No princípio não tinha nada e Deus resolveu, por uma ato de seu amor, de sua bondade, criar um ser à sua imagem e semelhança. Como é que um autor, há cinco mil anos, ia ter a teoria da evolução? Ele só tinha uma forma de narrar isso: a fábula - no caso inspirada - Deus passeando no jardim do Éden, falou: vou criar o homem. Pegou a terra - imagina Deus pedreiro - misturou água, amassou e soprou. É fantástico! Você pode contar pros seus meninos, tranqüilamente. Quando eles chegarem da escola com a teoria da evolução, ligue as duas coisas. Você fala: tudo bem, meu filho. Deus criou o mundo. Quando ele alegar: mas o professor disse que o homem veio do macaco. Responda-lhe: Deus nos dotou de inteligência pra descobrirmos a maneira como fomos feitos.

Moisés achava que Deus fez assim, mas ele não tinha laboratório, nem forma científica de exploração do universo, não é verdade? Hoje temos e vamos descobrir. Será fantástico. Enquanto isso, na bíblia, a primeira história do Gênese permanece fresquinha, linda, uma maravilha de narração poética. Ela nunca vai perder essa beleza literária. Agora, é só pôr isso ao lado do livro de ciências, tudo bem. Ninguém briga com ninguém.

Então, Moisés pintou o criador do mundo de maneira literária...

Sim, a revelação divina comparece no texto sagrado de forma literária.

Morte

Gostaria apenas de confirmar, realmente, você acredita que: "quando soar a trombeta" pós-morte, os corpos plantados na terra levantarão, "como deuses, como a beleza das coisas que nunca pecaram", e configurarão com árvores, como pedras, exatas e dignas de amor?

Acredito sim. Isso significa a ressurreição da carne. Estão prometidos para nós, novos céus, novas terras. Toda lágrima será enxugada, as dores vão se acabar e a gente vai viver numa felicidade completa, perfeita. Creio também na ressurreição de toda a criação.

Não haverá divisão de turmas: os bons e os maus?

Sim, mas cuidado, de novo, com a forma literária da bíblia.

Ou será só um rebanho?

"Haverá um só rebanho, um só pastor", quem disse isso foi Jesus Cristo, não sou eu.

Nesta hora os "não alinhados com a justiça divina" seguirão os mesmos caminhos dos "justos"?
Isto parece incompatível com a justiça divina. Só posso dizer que a compaixão de Deus por nós é tão infinita quanto sua justiça. Mais do que isto funde minha cabeça. Aliás, isto já funde o suficiente.

Para evitar que a cabeça funda, podemos esperar um julgamento, o tal chamado dia do juízo-final?
O dia em que se completará a busca de nós todos por essa perfeição. Por essa plenitude e encontro do bem.

Quando a tristeza chega, o que acontece? Você a manda embora?


Não!... Vou até o fim do tacho, porque se eu não fico de braços dados com ela, não me livro dela. Não vou me distrair para fugir dela. Quando vem o sofrimento, a dor, eu quero ir até o fim. Senão, vou ficar brincando de viver, e não quero essa brincadeira. Quero é viver.

Viver e sofrer são verbos interligados, como os elos da corrente, no encadear da vida. Ela, a vida, só tem o sabor para quem vive essa correlação?

É difícil responder fora do contexto do poema em que este verso está inserido. No fundo é uma afirmação da alegria.


Ao escrever "a vida e a morte são uma coisa só", não há diferença?


Não. Não vejo.

O livro "O Coração Disparado", você revela: "Na minha terra a morte é minha comadre". Se esta comadre lhe chamar: "vem cá, meu bem, dá sua mão, vamos dar um passeio..." Que resposta ela teria?

Se ela me chamasse agora, não sei se teria essa virtude e equilíbrio pra dar uma resposta a ela. Quando a morte chegar, quero chamá-la de irmã, como São Francisco a chamava. Eu busco esse apaziguamento, essa aceitação feliz da morte. Não tenho ainda, mas busco. Espero que Deus me prepare, me eduque. Viver bem é uma forma de se educar para morrer. A vida é só isso, é uma educação para morrer. Não é verdade?!

Néon


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