sábado, 27 de março de 2010

* LAVANDO LOUÇA NUA *


Não aguentava mais aquela situação. Mais de um mês sem que o marido a procurasse. Só de se mexer sua pele arrepiava, o desejo exalando dos poros. Andava pela casa em cio constante. O roçar de uma perna na outra... desvairava-lhe. Passou a andar pela casa sem calcinha, pra ver se ficava mais 'fresca'. Suas coxas ficavam meladas, com o líquido escorrendo entre elas.


Não sabia o que estava havendo... Mas nesta noite ela chamaria a atenção do marido. Ah se chamaria! Pintara os cabelos num tom mais claro. Quase loura. Se maquiara com primor e pegou aquele óleo iluminador que a revendedora da Natura lhe dissera ser deliciosamente afrodisíaco. Enquanto untava o corpo... não resistiu... tocando-se gozou. Então o óleo e o cheiro de cio se misturaram.


O marido chegaria lá pelas seis. Pegou o avental e vestiu. Apenas aquela pecinha de pano cobria seu corpo. Começou a lavar a louça, vagarosamente. Dali a pouco o telefone tocou. Era o marido, avisando que sairia do escritório e iria pra casa do Aníbal, terminar uns projetos. Que não esperasse por ele, pois talvez até passassem a noite trabalhando. Olhos marejados de lágrimas, colocou o telefone no gancho. Será que o marido estava tendo um caso com outro homem? Não era a primeira vez que fazia isso...


Nisso a campainha toca. Corre pra atender. Vai ver é o marido, fazendo graça como no início do casamento. Passava esses trotes, dizendo que ia a algum lugar, mas chegava de surpresa. Passou em frente ao espelho, olhou-se rapidamente, estava linda, sim senhor!


Abriu a porta e fez uma pose sedutora. Quando olhou-o nos olhos... Não era o marido e sim o síndico novo [assustado]. Viera pedir uma xícara de açúcar emprestado [como era solteiro, acabava esquecendo de fazer compras].


Um brilho maquiavélico perspassou os olhos da mulher. Esta noite faria café para o síndico... e lavaria toda a louça empilhada na pia... do apartamento dele!


...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Joio - Flá Perez

sábado, 20 de março de 2010

A entrevista - por Camille C.



A entrevista




Lembro que enquanto me espremia no ônibus lotado, tentando fugir dor sarros, pensei no quanto o mundo era ingrato com as mulheres decentes. Isto decididamente não era certo. Meu corpo vendia saúde, minha idade era mais que perfeita, então porque nunca apareceu uma oportunidade na minha vida?

Enquanto nada acontecia, eu morava de favor com uma tia muito pobre e ciumenta, no pior subúrbio do Rio. Ainda por cima meu tio quando bebia, ficava dando em cima de mim e chamado titia de bagulho. Finalmente, ela me deu uma semana pra sumir ou ia jogar minhas coisas no meio da rua.

A grande chance aconteceu quando uma vizinha, com dó, me deu um endereço e disse que a filha ia sair do emprego. Eles estavam procurando substituta. Precisava conseguir aquela vaga de recepcionista, em uma clinica pequena na zona sul carioca. O dono, um famoso urologista, na faixa dos sessenta, bem conservado e elegante, saiu do consultório algumas vezes e me cumprimentou rapidamente.

A entrevista seria no final do expediente, mas a tal filha da vizinha, secretária do médico, mal me viu entrar, olhou o relógio marcando dezoito horas e nem se despediu. Não havia pacientes e ficamos apenas nós dois, eu meio sem graça e ele se fazendo de amável. Mas sem disfarçar o efeito das minhas pernas, quase me comendo com os olhos pequenos e míopes. É verdade que o doutor nada tinha de bonito, era baixinho, óculos de lentes grossas e quase careca. Uma barriguinha indecente, mas o sorriso bonito e a voz agradável.

Pronto. Lá vou eu... ele tinha um sorriso e voz. E só. Tudo bem, aquele foi um bom começo e logo estávamos na sala de consultas. Achei o salário razoável, acertamos que eu começaria no dia seguinte. Eu já pensando em como iria encontrar uma vaga pra ficar, em um lugar perto do trabalho.

Não sei como, o assunto pendeu para o lado dos pacientes e seus problemas. Ele contou que a maioria tinha problemas sexuais, como falta de ereção e outras e que certamente eu escutaria este tipo de conversa na recepção.
Eu tenho um amigo que não transa há séculos, e acabei confessando que para mim, também estava complicado, fazia tempo que estava sozinha. Ele riu, mas acho que a coisa já estava no ar, porque a aproximação foi imediata, em dois minutos eu estava sentada na mesa do consultório. O homem praticamente me levou no colo. Amei a demonstração de macho.

Ele tirou minha roupa e o ar condicionado gelado, deixou meus peitos durinhos. A boca do doutor sugando com vontade, me fez revirar os olhos, quis me tocar, senti que estava toda molhada, mas ele não deixou. Gostei.

Adoro homem que sabe mandar, gosto de ser submissa na hora da transa... Ele deve ter entendido, porque o próximo passo, foram dois dedos enfiados na minha bucetinha. Ele meteu rápido e fundo, tocando pontos que me fizeram gemer alto. Outro dedo tocou meu cuzinho e ficou massageando, preparando para entrar.
Eu quis retribuir mas ele não deixou, me empurrou e deitei na mesa de vidro. Puxou meu corpo para a beirada e apoiou meus pés bem na pontinha. Totalmente escancarada, ele ficou um bom tempo apenas apreciando minha bucetinha. Agradeci a depilação feita na véspera.

Quando senti a língua quente no grelo, fiz um pequeno movimento e ele me segurou pelos quadris. Imóvel, apenas podia gemer e gemer, enquanto ele devorava cada pedacinho, enfiando a língua dentro da vagina ensopada, mordiscando os lábios repuxados, abrindo ainda mais com as mãos grandes. Sim! Ele tinha mãos enormes! Dedos grossos e longos. Um dedo enfiado bem fundo enquanto a boca comia meu grelo, me fizeram implorar para que me deixasse fazer alguma coisa. Ele me ignorou e me fez gozar outra vez.

Toda ensopada, de tanto gozar na boca do patrão, ele levantou e soltou o pau duríssimo. Não era muito grande, mas ganhava em circunferência, uma pequena tora pronta pra entrar. Vestiu a camisinha e meteu gostoso, desta vez minhas pernas foram parar no ombro dele, facilitando a abertura e indo mais fundo.

Ele socava com vontade e eu já tinha perdido as contas das vezes em que gozei. Soltando um gemido mais forte, ele tirou o pau rapidamente da minha vagina e forçou meu cuzinho. Confesso que tremi, ele rapidamente pegou uma pomadinha e lambuzou com o dedo, senti um calorzinho e relaxei. Doeu mas compensou, ele foi bem cuidadoso no início, depois quando sentiu que já estava acostumando, mandou ver com vontade. O som das bolas na minha bunda e nossos gemidos altos foram os únicos sons por quase meia hora. Soltei um gritinho quando ele tirou e me colocou de quatro, apoiada na mesa, o rosto entre os braços. O homem tinha a maior disposição e eu já começava a ficar cansada.

Voltou a enfiar no meu cuzinho ardido, os dedos trabalhando a bucetinha sem parar, estava bom demais e eu não parei de gemer um só minuto. De repente, ele meteu mais forte e parou. Ficou respirando pesado e imaginei que ele tinha acabado de gozar. Ficamos algum tempo encaixados, ele acariciando meu corpo todo, beijou minha nuca, meus ombros, mordiscou minha pele inteirinha, lambeu minha orelha e fiquei toda arrepiada, enquanto me acalmava nos braços dele.

Finalmente o doutor se jogou no sofá confortável, depois de ajeitar as calças e passar as mãos na camisa amassada. Eu catei as roupas e comecei a me vestir apressada. Pensei que tinha estragado tudo, e já estava preparada para ouvir a recusa sobre o emprego. Ele me olhou sério:

_Todos os dias só vejo cu de homem. Sabe que havia perdido o interesse, até hoje quando vi sua bunda linda nesta calça branca. Não sei o que vou fazer agora, trabalharmos juntos depois disso é a maior furada. Mas só de te olhar fico com tesão.

Eu abaixei a cabeça e concordei, já pegando minha bolsa e indo em direção à porta. Ele deu um salto e ficou na minha frente, pela primeira vez tocou meu rosto e olhou bem de perto, a boca quase tocando a minha. Senti meu cheiro naquele hálito e sorri:

_ E agora? Eu preciso do emprego e você está sem funcionária. Como vai ser?

_ Não sei ainda, mas há muito tempo não tinha nada igual ao que aconteceu aqui hoje. Vou ter que ficar com você de qualquer jeito. – Foi a primeira vez que senti que minha sorte havia mudado.

Trocamos alguns beijos e por incrível que pareça, ele ainda estava de pau duro e quis recomeçar a brincadeira. Naquela época eu ainda não conhecia os truques de certas pílulas azuis e fiquei boquiaberta com tanta disposição. Foi minha vez de pagar um boquete, sem a menor pressa.

Ele nunca se cansou de elogiar meu corpo, minha pele macia, meu jeitinho meigo e eu jamais levantei o tom de voz.
Só fomos embora porque o prédio era comercial e precisavam fechar. Nunca voltei para casa da minha tia, dali fomos para um hotel e ele ficou comigo até quase o dia amanhecer.

Isto foi há seis meses, apesar de casado, Gilberto passou a manter um apartamento bem bonitinho perto do consultório e tenho uma mesada bem aceitável. Com minha ajuda, contratamos uma atendente de meia -idade, mas muito competente e discreta.

Não estou nem um pouco preocupada se sou amante, se ele me mantém ou se vai durar. Vou a praia todos os dias manter a marquinha do biquíni, porque Gilberto gosta e depois bato perna até a hora dele chegar. Estamos testando tudo que eu encontro nestas lojinhas de sacanagem, e ele agora anda me amarrando na cama. Confesso que estou adorando ser completamente dominada, minha próxima compra é um chicotinho ....

quarta-feira, 17 de março de 2010

Meu primo, minha perdição...




Eu me chamo Aline e vou contar como vim parar aqui na casa de prostituição mais famosa de Belo Horizonte. Era jovem ainda, 18 anos, mas parecia mais velha. Ainda virgem, tentava sobreviver a uma turma pra lá de endiabrada. O lema era não ser virgem, isso era quadrado, por isso escondia de todos minha falta de experiencia, fingindo um arrojo que só existia na teoria mesmo.
Minha família era tradicional, as mulheres casavam virgens e os homens, machões, a esses era permitido toda a experiencia do mundo.
Sempre fui bonita, os meninos que conviviam comigo não disfarçavam os olhares quando eu passava, principalmente quando usava meus famosos vestidinhos de algodão. Minha mãe fazia questão de me vestir como uma mulher e quase nunca me permitia usar calça comprida. Eu realmente nasci no tempo e lugar errado, não me acostumava ao choque entre o mundo moderno e as regras arcaicas de minha família.
Meus primos, Mário de 18 anos, Lucas de 19 e Jonas de 21, eram o exemplo puro de educação errada, criados para serem machos, não respeitavam uma saia. Para se auto afirmar viviam me importunando pelos cantos, sempre com gracinhas e afagos, que eu julgava serem inofensivos.
-Meninos, deixem a prima de vocês em paz. Vão amolar outra pessoa.
Era sempre assim, minha tia intervia e saiam desapontados.
Até que um dia minha mãe adoeceu e para que eu não soubesse me mandou passar as férias na casa de meus tios, só depois vim a saber que era câncer e me afastavam por que ela não queria que eu presenciasse o sofrimento que a doença causava, ela tinha muito pouco tempo de vida.
-Então finalmente vamos poder passar mais tempo juntos. Jonas me olhou de cima em baixo. Confesso que nutria uma certa admiração por ele, por ser mais velho sempre o admirei, ele tinha um certo ar protetor que me fascinava.
-Pois é...Eu estava ficando constrangida com seus olhares. Mas ele parecia entender a situação pois não me tratou mais como uma presa. Parecia que finalmente me respeitava.
Um dia minha mãe piorou e meus tios foram até minha casa para verificar a situação. Se fosse da vontade de minha mãe, voltariam para me buscar, pois parecia que a hora estava se aproximando e eu teria que me despedir. Morávamos em Búzios há muitos anos, éramos de Belo Horizonte, mas já nos sentíamos verdadeiros cariocas, eu havia chegado ao Rio com dois meses de idade. Meus tios haviam chegado dois anos depois para tentar a vida, animados com o crescimento do negócio de meus pais.
Não sabia da doença e tampouco da gravidade, por isso me divertia na praia sempre que o tempo permitia. A casa de minha tia era bem próximo ao mar, o que me possibilitava estar sempre na água.
-Coitada da priminha...Não vai poder nadar hoje. Era Mário que ria da minha tristeza, pois o tempo estava chuvoso e parecia que não ia melhorar.
-Não podemos deixar nossa priminha triste assim...
-Deixem de gracinhas garotos. Vamos todos jogar video game ok?
-Ora, ora...Video game é coisa de criança. Poderíamos nos divertir bem mais conversando. Lucas piscou para o irmão e mais novo e ele sorriu malicioso.
-Nada disso. Vamos tomar algo gelado. O calor era insuportável e Jonas se dirigiu até a cozinha para buscar algo que refrescasse.
-Hum...Sinto que finalmente vamos nos divertir.
-Vocês são muito palhaços. Não podem falar uma frase sem fazer gracinhas? Eu estava irritada com os dois quando Jonas entrou com um balde de sorvete e algumas vazilhas.
-Vamos. Parem de discutir e vamos atacar de sorvete. De que sabor quer o seu Aline?
-Chocolate.
-O meu limão...
-Limão também...Lucas e Mário pularam na minha frente.
-Ok, ok...Tem para todos.
-Ora, por que não fazemos o jogo do sorvete? É mais legal assim...Mário deu a idéia.
-Claro...Quem acertar mais ganha.
-Que jogo é esse? Eu estava curiosa, não devia ser boa coisa.
-Vendamos os olhos e tentamos descobrir o sabor.
-E se errar?
-Bom, aí é problema seu. Eu não pretendo errar.
-Mas o que acontece?
-Se errar o sabor tira uma peça de roupa...

-Eu estou fora...Não ia arriscar e ficar nua perto deles.
-Está com medo?
-Não.
-Está sim...Cadê aquela garota moderna? Medo de tirar a roupa perto dos primos...
-Não é medo...
-Eu topo. Era Lucas que respondeu prontamente.
-Ora, vamos Aline. Eu controlo esses dois tarados.
Fiquei mais tranquila e aceitei. Não queria parecer tola.
-Ok então...Como será o jogo?
-Um de nos dá o sorvete na boca de cada um e o primeiro que errar tira uma peça de roupa. Depois de uma rodada quem acertar fica no lugar da pessoa que serve o sorvete.
-Jonas serve o sorvete primeiro. Eu ficaria mais tranquila com ele no comando.
-Tudo bem. Vamos cuidar das vendas. Pegaram três lenços e tamparam os olhos, um a um, de Mario, Lucas e Aline.
-Vamos lá...Abram a boca. Era Jonas que falava com os três.
-Limão.
-Baunílha.
-Creme.
-Sinto muito. Mário, Lucas e Aline erraram. Vamos lá...
Tiraram os sapatos.
Jonas dava sorvete na boca de Aline e ela experimentava sem pegar no copo.
-Nada disso. Eu sirvo.
-Eu não estou vendo...
-Não se preocupe. Só chupe o sorvete. Eu levo até sua boca.
-Chocolate...
-Morango.
-Morango.
Erraram de novo. Sinto muito. Tirem mais uma peça.
-Eu não vou tirar, estou de short e camiseta apenas.
-Ora, sua camiseta é grande e está de biquini por baixo. Pode tirar. Era Lucas que argumentava.
Eu fui gostando da brincadeira. Além do sorvete estar refrescando o maldito calor, ainda tinha a vantagem de poder experimentar vários sabores.
Foi aí que levei um susto. Uma mão gelada e molhada de sorvete apoiou nas minhas nádegas, eu estava de pé em frente ao sofá.
-Ei!
-Desculpe Aline. Estou vendado e desiquilibrei. Era Lucas que se desculpava.
-Vamos, experimente esse...Uma grande porção de sorvete era colocada na minha boca. Estava deliciosa, era abacaxi, mas tinha um sabor diferente que não conseguia identificar.
-Abacaxi...
-Não, errou.
Não errei, é abacaxi...Novamente senti o sabor salgado e arranquei a venda. Mário estava em minha frente, em pé num banquinho, com o pênis duro fora da calça e com uma porção de sorvete na cabecinha direcionada à minha boca.
-Jonas...Olhe ela...
Jonas estava atrás de mim e segurou minha cintura para que eu não me afastasse. Mário enfiou o membro em minha boca com vontade e Lucas que estava parado olhando, se aproveitou de eu estar sem venda e ergueu minha camiseta, deixando a mostra meu seio...Com a boca cheia de sorvete ele abocanhou meu seio e começou a beijá-lo com fúria.
-Parem com isso por favor...Eu estava apavorada. Uma vergonha enorme se apoderou de mim. Como pude confiar em Jonas...
-Caminha priminha, vai ser divertido. Jonas abaixou meu biquini e encostou seu pau duro no meu ânus.
-Não, por favor...Nunca fiz isso.
-Sempre tem a primeira vez. Calma, vai ser bom...Colocou um pouco de sorvete na cabecinha, segurou minhas ancas e enfiou a cabecinha. Quase gritei de dor.
-Assim eu eu fico louco...Era Mário que vendo a cena sentia o gozo chegando. Segurou minha cabeça e eu pude sentir o primeiro jato de semên na minha garganta. Engasguei, era horrível. Tentei sair, mas ele me segurou.
-Fica fria prima, engole tudo...
Jonas aproveitou que eu não poderia gritar e enfiou até o fim seu pau, causando uma dor horrível.
Lucas babava no meu seio enquanto tocava uma punheta com a outra mão.
Eu estava sendo abusada da pior forma possível. Jonas estocava sem se importar com meu choro. Foi quando anunciou que ia gozar e encheu meu ãnus com seu esperma. Foi acalmando, ainda dentro de mim, parecia que queria aproveitar até o último instante. Mário apertava seu pênis para que saisse o finalzinho e Lucas reclamou:
-E eu...Também quero...Me deitaram no tapete segurando minhas pernas abertas e fizeram sinal para que o rapaz me penetrasse
-Vai logo...
-Cara...Ela é virgem!
-Anda, muda isso...Come ela.
Lucas não esperou mandarem novamente. Encostou a cabecinha e empurrou. Era difícil.
Parecia que não ia conseguir enfiar seu membro. Foi quando Jonas disse a frase que ia ficar marcada para sempre:
-Anda logo ou eu faço...Deflora logo ela caralho!
Lucas enfiou com vontade e começou uma séria de estocadas, que terminaram num gozo alucinado.
Eu estava paralizada. Não sentia tesão em momento algum, só medo e vergonha. Eles sairam de cima de mim e foram se limpar. Eu não sabia como reagir, apenas me levantei, vesti minhas roupas e saí. Andei sem rumo até que voltei para minha casa. De longe vi o tumulto, gente entrando e saindo. Eram pessoas de branco e uma ambulãncia estacionada.
Soube que minha mãe tinha falecido durante a noite sem se despedir de ninguém. Eu pirei. Perdi totalmente meu chão. Tinho ido até ali para pedir sua ajuda, seu colo e a encontrei morta, sem ao menos ter sido avisada que estava doente.
Nem preciso dizer. Não perdoei nunca meus tios, meu pai e tampouco meus primos. Esses últimos eu jurei vingança. Ia chegar o dia em que eles iam sentir o mesmo que eu.
Estava parada, lembrando de tudo que aconteceu, fazia 6 anos, eu estava com 24 e morava num casarão de prostituição de Belo Horizonte. Nunca mais soube de meus parentes, fugi naquele dia e nunca mais quis saber de ninguém.


CONTOS DA MADAME MMEY

domingo, 14 de março de 2010

Assassinos S/A Vol. II -Por Manuela Azevedo.




Admito: quando a escritora Jana Lauxen me pediu para ler ‘com carinho’ e ‘dar minha opinião sincera’ sobre os originais do segundo volume da coletânea de contos policiais brasileiros Assassinos S/A, que ela organiza ao lado do escritor Frodo Oliveira em parceria com a Editora Multifoco, pensei ‘ih, lá vem mais uma coletânea de ficção policial’. Mesmo assim não recusei, mais por educação do que, de fato, por curiosidade.

E agora, depois de ter lido (ou melhor, devorado ferozmente) os 20 contos, de 20 diferentes escritores brasileiros, posso afirmar com cem por cento de convicção: não se trata de mais uma coletânea de ficção policial.

Trata-se, sim, d’A Coletânea de ficção policial.

Apesar do sugestivo nome, as histórias que compõem esta coleção não são, simplesmente, sobre assassinatos, assassinos, vítimas e investigadores. Além da superficialidade meramente chocante que muitos textos do gênero costumam proporcionar, os assassinos de Jana Lauxen e Frodo Oliveira imergem intensamente na sagacidade do crime, em seus motivos (ou na falta deles) e na mente doentia e arguciosa de seus matadores.

A violência não é gratuita; é elaborada, fidedigna, eqüitativa, quase sincera.

Não encontraremos no segundo volume desta coletânea detetives usando sobretudos e lupas, e nem artimanhas literárias que buscam somente e tão somente assombrar o leitor. Até porque, como sabemos, chocar é fácil, basta apelar. Mas Jana, Frodo e seus autores não apelam. Eles entram, sem bater na porta nem pedir licença, na mente de um matador, e sem procurar justificar seus crimes e atrocidades, apenas nos apresentam o assassino por dentro – por dentro, inclusive, de nós mesmos, nobres cidadãos.

Telefonei para Jana e dei minha sentença:

- É fenomenal!

E ela me respondeu:

- Tem mais!

Ela falava das ilustrações.

Assassinos S/A Vol. II não é apenas A Coletânea de contos de ficção policial. É também A Coletânea de contos de ficção policial ilustrada. E digo mais: divinamente ilustrada.

Jana escalou uma baita seleção de ilustradores, como Mario Cau, responsável pela sensacional capa da edição, Jota Fox, M. Watcher, Rodrigo Molina, Giovana Milanezi e Daniel Faccio.

Feito. O time estava completo.

Por isso, caros leitores, se posso oferecer um singelo porém sincero conselho, digo-lhes: dêem uma chance para esta que é A Coletânea de contos policiais brasileiros ilustrada. Permitam que Jana Lauxen, Frodo Oliveira e sua trupe entrem em suas cabeças também, e os levem a conhecer a sociedade secreta de seus assassinos, e de seus crimes (im)perfeitos, acidentais, elaborados, premeditados, ocasionais.

Contudo não se assustem com o que encontrarão ali, dentro do livro.

Conforme descreveu a própria Jana na apresentação da edição, estamos todos ‘ingenuamente protegidos pelas páginas impressas que separam a ficção da realidade’.

Além do que, como disse Hassan Sabbah, fundador da Ordem dos Assassinos, seita ismaelita que, entre o final do século XI e a metade do XIII, trouxe terror e pânico à região do Oriente Médio: nada é verdade.

Logo, tudo é permitido.






Nota: Estou fazendo parte deste livro com o conto O Multiplicador

terça-feira, 9 de março de 2010




por Vertigo



Folhas amarelas derramavam-se por entre os arvoredos da praça, caracterizando a presença da nova estação. A expectativa do frio iminente parecia torná-lo ainda mais excitante. As brisas outonais surgiam por de trás da pequena casa de bela arquitetura colonial. Mexiam com os cabelos de Lisa, ora encobrindo seus olhos cor de mel, ora permitindo que contemplassem o plástico anoitecer.



Debruçada em sua janela, linda como uma obra de arte, a moça era cúmplice da chegada do outono e de seu gélido ar romântico. Entretanto, sem perceber, não o contemplava só: um rapaz, sentado em um banco da praça, observava-a. O olhar de Lisa, que misturava mistério e beleza, fitou o estranho. Sem reconhecê-lo como alguém da cidade, procurou analisá-lo melhor. Não o achou belo, porém ficou intrigada com a petulância de ele também encará-la sem medo. Lisa, loira, recém saída da adolescência, pele macia e corpo muito cobiçado na cidade, julgava-se bela demais para qualquer homem da região. Vivia praticamente só, já que seus pais fazendeiros apareciam apenas nos finais de semana.


Percebendo o flagrante interesse do rapaz, Lisa saiu da janela, fechando-a. Recostou-se no armário e fitou o espelho. Admirava-se. Olhava por entre o decote da blusa de botões parte de seus bem delineados e consistentes seios. Colocando-se de lado, esticava o corpo e analisava, orgulhosa, a lateral de sua coxa, grossa, de músculos jovens deliciosamente bem definidos. Queria ser modelo e acreditava que só não era por falta de oportunidades naquela longínqua cidade com ares rurais. Sua mente narcisista entendia que era uma mulher para poucos; talvez algum fazendeiro rico ou, deixando sua imaginação infantil aflorar, um ator belo e famoso. Sem vislumbrar qualquer porto afetivo com essas características, restava a ela brincar com os sonhos dos homens.


Alguém bateu à porta, quebrando seus devaneios. Com preguiça, Lisa foi atender imaginando que seria dona Marlene, a senhora da casa ao lado que fazia e vendia artesanatos solicitando algo emprestado ou apenas querendo conversar. Para sua surpresa, entretanto, era o mesmo rapaz que havia visto na praça.


– Sim? – atendeu a jovem com fisionomia surpresa.


- Estou olhando esses bibelôs e quero levar um para guardar como lembrança desta cidade. Aquela ali – falou o forasteiro, apontando para a maior peça do local, um perfeito busto feminino com a cabeça encoberta pelos cabelos -, adornará bem meu ambiente de trabalho. Lembrarei da magnitude deste lugar. E deste momento.


A beleza campestre de Lisa dissolvia a guarda do jovem de pele morena.


- Ah, desculpe, mas você está confundindo... não trabalho com esses artesanatos. Eu sou a vizinha de dona Marlene, que é quem os faz e vende. Ela deve ter saído, mas já volta. Como seu ateliê também é a sua casa ela atende até de noite. E, com relação àquela obra de arte, eu servi como modelo – destacou Lisa, orgulhosa.


- Por esse motivo é que também desejo levá-la. Da praça já havia reparado sua exuberância. E se essa beleza eu já guardei na memória, porque não a sua imagem em minha mesa?
Lisa ficou desconcertada com o jogo de elogios proferidos por Juliano. A idéia da pouca atração física formada quando o vira pela janela, cedeu lugar a um certo interesse. Esquadrinhando o rosto do rapaz, Lisa admitiu para si que ele não era feio e que seu jeito sedutor ajudava a melhorar o conjunto. Juliano possuía olhos negros e cabelos da mesma cor, não tão curtos, desalinhados pelo vento que corria na praça. Apesar de o rapaz não possuir um porte físico tido para ela como o ideal, Lisa entrou em sintonia com ele, pois passou a deixar seus sentimentos vislumbrarem algo mais que mera aparência física.


Mesmo gostando do jeito do forasteiro, procurou não demonstrar e tentou ser natural:


- Quer um copo d’água enquanto a espera? Entre. Qual seu nome? O meu é Melissa, mas pode me chamar de Lisa.


O rapaz sorriu e aceitou a oferta ainda parado à porta. Reparando o corpo de Melissa enquanto esta se afastou até à cozinha, Juliano experimentou a sensação de paixão súbita, sentindo o fluxo sangüíneo se intensificar. Por breve momento sentiu-se hipnotizado seguindo com o olhar as pernas da jovem até onde estas se uniam e formavam os belos e redondos montes glúteos, provocantes e misteriosos atrás do short. Por cima, parte da calcinha branca eroticamente escapava.


Entrando devagar, o visitante disse seu nome e fez breve comentário sobre sua visita à cidade. Um som country americano vinha, em baixo volume, de um moderno aparelho na estante. Ainda sem acreditar na favorável situação que o destino estava lhe propiciando, Juliano, pelo vão da porta da cozinha, não perdia a oportunidade de apreciar os seios intumescidos pelo frio ou pela excitação da ninfa. Estes levantavam um pouco a blusa, mostrando parte de sua delicada cintura, dourada pelo reflexo da luz do corredor. Olhando em volta da aconchegante sala, Juliano viu um quadro que se assemelhava a uma pintura: Lisa esplendorosa montando um manga-larga. Na foto da mesa central, ela nos braços de um homem com chapéu.


- É seu pai? – indagou Juliano já com o olhar cheio de luxúria.


- Meu namorado – mentiu ela, já que era um amigo do pai, dono de um haras.


- Ele deve ter orgulho de ter uma mulher assim... bela, interessante e, aparentemente, sincera.


Melissa estava nitidamente envolvida e sentia-se cada vez mais entusiasmada com o estilo irônico daquele carismático estranho.


- Sinceridade é algo incerto, pois se eu lhe disser que visto uma calcinha preta cavada isso pode ser verdade para você, caso não saiba de fato qual a sua cor – instigou ela, notando o tesão borbulhante em Juliano.


O rapaz viu naquelas palavras a senha buscada para o arremate e, virando-se em um movimento ágil, encarou Lisa nos olhos, sentindo a respiração luxuriosa da moça perto de seus lábios.


- Vontade, assim como sinceridade, também é algo incerto. Mas posso ver as duas coisas nos seus olhos agora – disse Juliano, beijando-a ao final da última palavra. Lisa, já de olhos fechados, abraçou-o com franqueza.


As mãos do jovem forasteiro tomaram de assalto a bem delineada cintura de Lisa, passando por cima da blusa de seda, escapulindo por dentro e sentindo as costas macias e quentes. Melissa despia-se de sua soberba, não só permitindo como desejando que Juliano a explorasse por inteiro. No controle da situação, ele a derrubou com maestria sobre o sofá, não descolando seus lábios dos dela. As coxas expostas da garota formavam delicioso convite às mãos do rapaz, que entendia o recado e por elas viajava com explícita volúpia. Lisa, por sua vez, vasculhava com a língua o pescoço do amante enquanto o ajudava a retirar o casaco. Com lasciva violência, a garota erguia a camisa de Juliano e mordiscava seu peito, brincando com os mamilos, e descia beijando a barriga, sedenta como quem procura por água no deserto árido.


Escorregando sem sobressaltos pelo corpo do rapaz, ajoelhou-se diante do até então desconhecido e pôs-se a abrir sua calça. O jovem, de olhos fechados, sentia a respiração tornar-se ofegante. O coração vibrava na mesma intensidade com que Lisa manuseava seu pênis. Uma profunda sensação de prazer invadiu o corpo de Juliano quando este sentiu a umidade quente da boca de Lisa massageando-o. Modelo de inspiração para a obra de arte que Juliano admirara, Lisa fazia malabarismos com a língua na mesma eficiente cadência em que sua cabeça promovia movimentos circulatórios suaves, num ato que gerava incerteza sobre sua angelical inocência.
Sabendo que não suportaria aquela situação por mais tempo sem entrar em êxtase, Juliano segurou-a pelos cabelos loiros e, com virilidade, trouxe o corpo macio de sua ninfa para debaixo de si. Com as mãos, o rapaz abaixava o short e a calcinha de Lisa, saboreando cada milímetro de pele conquistada. As paredes vaginais, quentes e receptivas como um veludo abrasivo, fizeram Juliano entrar em outra dimensão. Melissa seguia nas mesmas sensações com inconfundíveis e sensuais sussurros que continham nexo apenas para eles. Seu amante, de forma instintiva, passou a acelerar os movimentos do quadril, como que se daquilo sua vida dependesse naquele momento. Com olhos cerrados e comprimidos de prazer, a jovem loira passou a sentir correntes elétricas varando seu organismo. Soluçava enquanto seu corpo era convulsionado por orgasmos que, em instantes, eram eternos.


Em jatos quase ininterruptos, Juliano fluiu para dentro de Lisa numa conexão magistral, onde ambos, extasiados, compartilhavam um sentimento único e especial de purificação.
Olhando para o relógio, Juliano viu que estava atrasado para a saída do ônibus com os outros estudantes da excursão. Refletia filosoficamente observando o meigo sorriso que florescia no rosto de Lisa, deitada sobre seu peito. Lisa, sempre majestosa, fitava-o com peculiar encanto, pensando na beleza e no mistério que o outono carregava.



sábado, 6 de março de 2010

ANIVERSÁRIO

Ele observou todas sem demonstrar nenhum interesse especial. Analisou-as em seus menores detalhes. Olhos, cabelos, boca, nariz, peitos, barrigas, coxas, bunda... não esboçou o menor indício de ter se sentido atraído por uma delas. Sua completa indiferença deixou algumas muito bravas.
Foi somente quando elas começaram a reagir à sua indiferença que ele se mostrou mais atento. Descartou duas apenas num relance de olhar. As outras continuaram a se manifestar até que ele ignorou-as totalmente. Seus olhos pousaram na mais frágil, na menos vistosa. Aquela que possuía uma beleza misógina, um amálgama de características que, por mais absurdo que pudesse parecer, tornava-a atraente.
Desejou expressar uma cantada galante, mas não conhecia nenhuma. Julgava toda manifestação galante uma forma hipócrita de corromper os ânimos das pessoas. Olhou-a com mais atenção e percebeu que ela o fitava calada. O porte franzino possuía harmonia em suas proporções. Não se notava nenhum detalhe que comprometesse seu físico.
Pensou que fosse mais fácil abordá-la. Ela estava ali justamente para isso. Mas sentiu que sua garganta ficava seca. As palavras evadiam-se de sua mente. Sem saber o que falar, ele se aproximou furtivamente. Ela percebeu seu movimento, mas apenas aguardou que ele tomasse a iniciativa.

-- Oi.
-- Oi.
-- Podemos...
-- Uma hora?
-- Pode ser.
-- Quinhentinho.
-- Tudo bem.
-- Pode me seguir.

Ela saiu em passos cadenciados com um rebolado contido daqueles que atrai sem ser vulgar ou chamativo em demasia. Ele sorriu para si mesmo. A abordagem foi mais fácil do que ele imaginara. Não que fosse sua primeira vez, mas sempre havia aquela sensação de que tudo daria errado.
O hotel, para onde ela o levou, não era nenhum primor. Um prédio velho de dois andares, localizado em uma ruela imunda. O cheiro, que acompanhava aqueles que transitavam por ela, não era nem um pouco agradável. A famigerada boca do lixo.
Sem nada falarem, eles seguiram direto para o quarto. Um diminuto cubículo bem no final do corredor do último andar. Uma verdadeira ratoeira se a moça não fosse lá muito honesta. Uma armadilha da qual ele não teria como escapar.

-- Cadê a grana? Ela disparou assim que a porta foi fechada.
-- Quinhentos, certo?
-- Foi o que disse.

A carteira era novinha. Um presente de aniversário. Ah, sim, agora ele se lembrou porque desejava que fosse tudo diferente. Ainda era seu aniversário. O mesmo tio que lhe dera a carteira, havia recomendado uma noite de aventura pelas ruas do prazer.
As notas estavam ordenadas por valor. Uma garota de programa não costumava ser tão caro, mas ele não estava a fim de discutir. Separou o valor combinado misturando notas de pequeno valor com duas de valor mais elevado. Facilitaria o montante para que ela o utilizasse mais tarde.
-- Como vão querer o serviço?
O tom frio o incomodou. Fosse pelo valor acertado ou porque estavam ainda no início, ele esperava um comportamento menos seco. Olhou-a incerto. Ambos ainda estavam completamente vestidos e ele sentiu-se bem que ela ainda não tivesse começado a se despir.

-- Poderia ser menos fria?
-- Tá querendo que eu seja doce?
-- Se não desejar ser, poderia, ao menos, fingir que é?
-- Isso faz alguma diferença?
-- Para mim, faz.
-- Tudo bem, que seja. Afinal quinhentos paus ajudam a me deixar menos azeda.

Ele não imaginava que uma moça tão franzina pudesse ser tão seca. No trajeto até ali, criara mil possibilidades em sua mente. Mas em nenhuma fizera uma idéia tão fria. Talvez fosse melhor desistir e procurar por outra. Chegou a pensar em expor sua vontade, mas reconsiderou concluindo que a moça não concordaria em devolver-lhe o dinheiro.

-- Devo fingir que sou virgem, também?
-- Não. Não será preciso. Só gostaria de que fosse um pouco menos fria.
-- Esta parte eu entendi.

Um momento de constrangedor silêncio os envolveu. Ele não sabia exatamente o que desejava que ela fizesse. Ela não imaginava o que aquele rapaz queria com ela, além do sexo é claro. Os olhos se estudavam sem nada revelar daquilo que ia em seus âmagos. Um impasse havia sido criado.

-- Então? Vai passar todo tempo só me olhando?
-- Será como eu quero?
-- O dinheiro é seu...

Sem esperar por qualquer outro comentário, ele a abraçou com firmeza. Encostou seus lábios aos dela, sentiu sua respiração, olhou-a fixamente, passou a destra por trás de sua cabeça segurando-a pela nuca. O beijo dado foi lânguido. As línguas se roçaram como se quisessem se devorar.

-- Espere um pouco. Ela implorou ofegante. Preciso respirar.
-- Tá. Ele respondeu receoso.
-- Nossa, você tem um fôlego e tanto.
-- Vou ser mais contido da próxima vez.
-- Tudo bem.

Palavras ditas sem que seus corpos tivessem se afastado. Ele ainda a mantinha sob o aperto dos seus braços. Ao voltar a aproximar sua boca, ele não tocou seus lábios. A língua avançou para o interior da orelha. Seus dentes cravaram-se delicadamente no lóbulo. Suas mãos a mantinham firmemente segura.

-- Será minha princesa por esta hora. Serei seu servo. Apenas nós. Esqueça tudo o mais. Não existe mais nada além deste quarto.

A voz sussurrante a fez arrepiar-se. Talvez não fosse a voz, mas sim o hálito quente que percorria seu pescoço. Talvez não fosse a voz ou o hálito, mas a delicadeza expressa naquele tom suave. Talvez... talvez... o que ela estava pensando? Não era nenhuma menininha inexperiente. Por que aquela reação inesperada?
Antes que sua razão pudesse encontrar uma resposta, sentiu a língua voltar a sumir em seu ouvido. Os dentes roçando o lóbulo, a respiração tocando sua pele, os dentes descendo até cingirem seu pescoço, a pressão pontiaguda forçando sem dilacerar sua carne.

-- Feche os olhos. Ele pediu delicadamente. Pode sentir o bater de meu coração? Ele está cantando para você. É uma canção antiga. Nem dolorida, nem festiva. Uma canção suave.
-- O que...

Ele não deixou que ela completasse seu pensamento. Beijou-a com a mesma sofreguidão anterior. Os corpos mais juntos do que nunca. O aperto se intensificando, as mãos procurando ir além dos limites. O ofegar acentuou-se e ambos voltaram a se fitar.

-- Por onde esteve, minha princesa? Não sabe que eu a desejo mais que a própria vida?
-- Você é...
-- Sim, eu sou! Mas neste momento não importa o que eu sou, nem o que você é, mas aquilo que desejamos.
-- Você me deseja?
-- Muito!

As mãos agiam alheias ao diálogo. Como se fossem membros independentes deslizavam pelos corpos descerrando as amarras, libertando a pele, expondo a tepidez da derme. A boca se calou ao mergulhar no rijo monte peitoral. A língua bailou sobre os mamilos, o sorver de seus seios a deixou balançada.

-- Oh, seja meu príncipe!

A habilidade do rapaz era contestável. Mas ela não se importava com isso. As mãos desciam e subiam com tamanha leveza que ela se deixava levar com docilidade. O toque suave a estava deixando arrepiada. Ao sentir a mesma suavidade percorrer sua dorsal em busca de suas formosas nádegas, ela enrijeceu-se. Aquele não era um cliente comum.

-- Minha boca sente a firmeza de seus seios. Estão rijos. Minhas mãos acariciam a curvatura arredondada de suas nádegas. Estão trêmulas. Meu corpo recebe o calor de sua respiração. Você está ofegante.
-- Eu... eu...
-- Não diga nada. Apenas sinta!

A peça superior ganhou o chão no mesmo instante em que seus lábios voltaram a se comprimir. Os seios foram tomados pelas mãos. O abraço havia se rompido, mas ela ainda o envolvia com seus braços. Ao beijo seguiu-se um avanço sobre o pescoço. O sugar ritmado produzia sensações eletrizantes. Ela estava dominada por um frenesi sem igual.
Deixando que ele a explorasse, ela sentiu quando as mãos puxaram a calça para baixo libertando as formas delineadas de suas coxas e a saliente bunda. A pequena calcinha quase não tinha função alguma. Uma mínima faixa cobrindo a lateral descendo pelo rego sem esconder nada e só.
A peça parou sobre os pés porque ele não se deu ao trabalho de retirá-la totalmente. Ao invés disso, foi descendo sobre o corpo, deixando a região peitoral, escorregando até o abdômen, beijando-lhe o ventre, acariciando-lhe a silhueta esbelta. Tudo com tanta suavidade que ela mal sentia os toques, mas o respirar era suficiente parta deixá-la desejando muito mais.
Colado em sua barriga, ele sentiu o odor adocicado proveniente da intimidade que aguardava o momento de ser tomada por sua boca. Novamente ele sorriu para si mesmo. Seria como uma conquista triunfal poder sorver do néctar que ela guardava em sua formosura. Sua língua haveria de adormecer no interior daquela gruta.
Mas ele não queria ser tão afoito. Uma hora era o tempo combinado, mas era um tempo considerável quando se deseja compartilhar e não apenas desfrutar. Voltou a elevar seu corpo. Ela reagiu protestando em um olhar silencioso, mas muito significativo. Ele sorriu para ela.

-- Garanto-lhe de que não se arrependerá.

As bocas voltaram a se unir. As línguas avançaram desenfreadas. Os seios roçavam o peito, ainda vestido, do rapaz. A nuca foi segura com a mesma firmeza de antes. Tudo parecia exatamente igual, mas de repente ela sentiu a diferença. Uma mão macia cobria sua intimidade. Mesmo a pequena fita, que servia como calcinha, não foi capaz de impedir que ela sentisse a tepidez da pele que a tocava,
O dedilhar de sua intimidade a fez ofegar novamente. O beijo a sufocava, mas desta vez ela não se afastou. O ar, que ele exalava, penetrava suas entranhas insuflando seus pulmões. O pequeno apêndice de sua intimidade recebia os afagos de uma mão que mais parecia um chumaço de algodão.
Ela nem percebeu quando ele abandonou sua boca, desceu por seu corpo, soprou a abertura de sua gruta e a invadiu como se o beijo dado em cima, continuasse agora embaixo. Quando a língua deslizou em sua caverna, ela notou a diferença. A boca, aberta, procurando pela outra, sentindo o ar invadir, seus pulmões, com violência. O delírio foi total.
Ao ser beijada pelos lábios voluptuosos, ela sentiu o ar faltar, agora que estava sendo beijada em sua intimidade, o ar penetrava tão intensamente que seu corpo convulsionava. As carícias não se detinham apenas na caverna úmida e quente, o rapaz avançava pelo regaço de seu pequeno botão. Os tremores a dominavam fazendo-a perder a noção de qualquer outro estímulo.
Apesar de desejar proporcionar o prazer mais intenso, ele não queria que tudo se acabasse num átimo. Da mesma maneira que se lançara aos beijos mais calientes na saborosa fruta, ele os cessou. Levantou-se como se a desafiasse a forçá-lo a continuar. Mas não era esta sua intenção.
Sem muita habilidade, ele se desfez de suas vestes. Ao se exibir totalmente desnudo, ele expôs a virilidade rija que estava oculta. Ao observar o instrumento de aparência pétrea, ela sabia o que deveria fazer. Não, não o que deveria, mas sim aquilo que desejava ardentemente fazer.
A boca engoliu o falo num movimento completo. Demorou-se com ele a roçar sua garganta até que sentiu necessidade de libertá-lo. Desta vez o ar faltou por sua própria vontade. Inspirou com força e voltou a engolir a rigidez do rapaz. Sua saliva escorria por seus lábios. Ela sentia um prazer diferente, como se as outras vezes não tivessem sido com ela.
O ato estendia-se por um tempo considerável. Sempre que entrava naquele cubículo, ela gastava mais tempo para despir-se do que com a relação em si, mas não estava sendo assim naquela oportunidade. As experiências anteriores iam se apagando como se ela jamais as tivesse vivenciado.
A copula finalmente teve lugar. Ele a levantou com suavidade. Colou seus lábios aos dela. Segurou-a pela cintura. Acariciou sua bunda mais uma vez. Tocou-a levemente com as mãos. Sugou-lhe os seios. Mordiscou o pescoço. Colocou-a deitada sobre o leito. Deitou-se sobre seu corpo ansioso pela penetração. Olhou-a com ternura. Afundou-se em sua intimidade.
As pernas tentavam aprisionar o amante com desespero como se ele pudesse fugir a qualquer momento. Os movimentos cadenciados obedeciam ao ritmo das investidas delicadas. Sua carne nunca tinha sido penetrada com tanta suavidade e ao mesmo tempo com o vigor de um instrumento tão másculo.
As respirações há muito que haviam se tornado ofegantes. Os olhares se apagavam ao mundo externo abrindo-se apenas para o êxtase que se aproximava. Suas mentes vagavam por dimensão muito além da misera realidade que os cercava. Os corpos fundiam-se num complemento indivisível.
O fogo queimava sem machucar. As estocadas aceleravam-se num frenesi despreocupado. As alianças de emoções vertiam por seus sentidos. As bocas devorando-se. As mãos avançando e cobrindo todo espaço desnudo. As vibrações... as sensações... os sentidos... o prazer... o gozo...
O tempo pareceu parar incontinenti. Tudo que não estava em seus sentidos foi desintegrado. Aniquilado pela intensidade do gozo que compartilhavam. As carnes fendendo-se, perdendo-se, completando-se, num explodir de liberdade, numa comunhão de energias que já não pertenciam a nenhum deles, mas sim eram doadas e recebidas sem percepção exterior.
O auge do prazer. Um instante quase exclusivo. Uma ausência total de anteparos ou perspectivas. Tudo estava congelado no êxtase que dominava seus âmagos. Tudo imortalizado em suas realizações. Um momento que jamais voltaria a se repetir.
A hora combinada transformou-se em outras tantas. A madrugada já se mostrava senhora do firmamento quando eles descerraram seus olhos. Os corpos nus ainda encaixados com perfeição. O calor compartilhado ainda ardia em suas entranhas.

-- Acho que lhe devo mais algumas notas.
-- Nem pensar. Ela respondeu instintivamente. Talvez algumas respostas.
-- Pode perguntar.
-- Por que eu?
-- É meu aniversário.
-- Por que não foi com sua namorada?
-- Eu não tenho uma. Sua voz saiu fraca como se ele estivesse justificando alguma falta imperdoável.
-- Por que tão carinhoso?
-- Não gostou?
-- Pelo contrário. Acontece que não costuma ser assim.
-- Já lhe disse é meu aniversário. Queria que fosse diferente.
-- Foi. Foi como se nunca tivesse feito algo assim.
-- Eu nunca havia feito.
-- Talvez nem eu.

Os olhares se cruzaram. Ele havia se vestido enquanto conversavam. Queria dizer muito mais, mas sua voz recusava-se a sair. Ela parecia lhe rogar algo, mas também não pronunciou frase alguma. No silêncio que se seguiu, ele a deixou.
Já na rua, sentindo o frio da manhã penetrar pela blusa leve, pensou em voltar e cobri-la de beijos. Despejar todo seu sentimento, mas não. Sem ter coragem para ir além de seus limites, ele apressou os passos em direção à estação do metrô.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Pequenos grandes jogos - Lucia Czer





Relacionamentos nem sempre são fluidos e facilitadores de uma convivência harmoniosa e gratificante para todos. O que vai definir o bom clima no estabelecimento de relações é a dinâmica de comportamento dos envolvidos. É preciso que se entenda a diversidade e se tome a decisão de aceitar, conformar-se ou renegar aspectos comportamentais do outro. Entra aí, como parceira, a comunicação, a coerência entre o discurso e a prática. Entender os estados psicológicos que permeiam as relações e aprimorar nossas habilidades de convívio.

Existe um conjunto de variáveis que determinam a condução do processo de comunicação. Não basta somente emitir e receber mensagens num processo inter- relacional . O que vai condicionar uma boa ou má relação entre as pessoas, serão as expectativas de um em relação ao outro. Há que se permitir uma flexibilidade no sistema que vai impregnar as formas com que cada um percebe o mundo e atua sobre ele. Sabedoria é admitir que não somos perfeitos, somos humanos e passíveis de erros, somos frutos da hereditariedade e da influência do meio. Isso vai demarcar nossos princípios, valores, maneira de enxergar o outro, sentir e agir. Só a compreensão da nossa própria condição de humanidade permite uma (re)aprendizagem das diferenças, as quais por si mesmas podem constituir motivos de comunicação e convívio, sem riscos de perda de identidade cultural e social. Então, como se lida com as diferentes demandas para interações saudáveis? É preciso que se cultue a compreensão social, concepções e crenças sobre o que deve ou não deve ser emitido, ter claramente a noção de direitos, nossos e dos outros. Poderíamos chamar de funcionalidade a contribuição para que a pessoa apresente um desempenho que garanta o máximo de aprovação e outras conseqüências positivas no contexto social.

Convenhamos, relacionamentos são difíceis, em quaisquer círculos, e vou descobrindo que não sei onde nem como eles podem ser perfeitos. Faço a minha parte: Sou amiga, procuro entender o ser humano, aceito os erros e desculpo os defeitos. Preparo-me para a crítica e conto até mil para não explodir. Peço desculpas, peço perdão, procuro não mentir, sou honesta, sou sincera e leal. Todavia, não encontro o meu lugar.

Para que se seja “aceito” no grupo ou bando, é preciso fazer “joguinhos de faz de conta”, rir sem vontade de piadas burras, elogiar o feio e o mal feito, aplaudir o discurso inócuo e cansativo, enxergar a roupa invisível do rei. Não! Definitivamente, não sei fazer isso, apesar de ter toda a urbanidade possível, sem ser subserviente.

Existem grupos, ou clãs, que se consideram acima do bem e do mal. São os elitizados, os mais cultos, os esclarecidos, os dogmáticos, os que benevolamente nos deixam comer as migalhas da sua atenção. E, párias, circulamos ao derredor, aspirando o ar que nos seja permitido. Majestosos em suas máscaras e subterfúgios de grandes pensadores, filósofos memoráveis, ufanos guardiães da sapiência e da cultura, os requintados cérebros acima da banalidade dos míseros mortais (nós, os outros), tecem jocosos ditos sobre o que pensamos e consideramos, exercem a sua conversa dissimulada entre dentes que só aos pares é visível o tom do deboche e sarcasmo.

Decididamente, fico de fora, vou procurar minha turma, vou ser eu mesma, vou ser autêntica e genuinamente mediana, não quero o requinte dos deuses, quero permanecer mortal, humana e gente. Senhores, continuem o sarau, desta vez, sem mim.

quarta-feira, 3 de março de 2010

K R A K O W




KRAKOW
Thiers R >




sorri teu corpo

branco

aqueço-me

palavras incendeiam

meu desejo

travesso corpo

me toma

no mel de teus lábios

refaço contornos

doce bala

jorra

tingindo branca paisagem

vagueio in rosa

rosa’da’virgem

palavras

cuspidas do alecrim

íntimo sentido desafia

assim te amo

penetrando a alma

assim te amo

desfazendo nuvens

assim ...

espasmos

de cabelos revoltos

refúgio

da escandalosa manhã

que abriga

insensato pensamento.





> > > > > >

terça-feira, 2 de março de 2010

Bum Bum - Latino




bumbum bumbum
burumbum bumbum
Bumbum
BurrrummmBumbum
Shake your Bumbum
Burrrummm Bumbum

Bumbum que eu venero...
Bumbum que suplica pra eu olhar...
Bumbum que me ganha...
Bumbum que me chama pra namorar...
Bumbum que incendeia, se eu te beijar no calcanhar... ou ahhhh
Bumbum de sereia que eu não canso de pescar...

Burrrummm Bumbum

Ki Bumbum é esse que tem o meu amor?
Que eu uso de conchinha, travesseiro e cobertor.
Ki Bumbum é esse que tem o meu amor?
Que eu uso de conchinha...

Bumbum
Burrrummm Bumbum
Shake your Bumbum
Burrrummm Bumbum

Bumbum
Burrrummm Bumbum
Shake your Bumbum
Burrrummm Bumbum

Bumbum que me assanha...
Bumbum que desanda meu caminhar...
Bumbum sacaninha, faz perder a linha ao te tocar...
Bumbum que incendeia, se eu te beijar no calcanhar... ou ahhhhh
Bumbum de sereia que eu não canso de pescar...

Burrrummm Bumbum

Ki Bumbum é esse que tem o meu amor?
Que eu uso de conchinha, travesseiro e cobertor.
Ki Bumbum é esse que tem o meu amor?
Que eu uso de conchinha...

bumbum bumbum
bumbum bumbum
Bumbum
Burrrummm Bumbum
Shake your Bumbum
Burrrummm Bumbum

segunda-feira, 1 de março de 2010

A Bunda, que Engraçada- Carlos Drummond de Andrade


A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda

Hilda Hilst, essa desconhecida


"Eu sempre me fascinei com o matemático indiano Srinivasa Ramanujan. Ele dizia que para resolver seus intricados teoremas era movido apenas pela beleza das equações.
Na poesia também é assim. É uma espécie de exercício do não-dizer, mas que nos dilata de beleza quando acabamos de ler um poema." (Hilda Hilst)


A morte de Hilda por Rey Vinas

Hilda Hilst morreu hoje (4/2/2004), de falência múltipla dos órgãos, depois de uma queda em que fraturou o fêmur, me diz a Sônia, atravessada daquela melancolia da perda que se nos abate quando perdemos o rumo, o prumo, o
riso. Os jornais trarão certamente a biografia e alguns poemas de Hilda; dirão da grandeza de seu texto desconcertante, de sua beleza enigmática quando jovem, de sua desistência de quase tudo em favor da literatura, de sua solidão, de sua dezena de cães, de sua bem-comportada loucura, etc.
Por isto preferirei tocar em um outro aspecto de sua vida, um aspecto transversal, digamos, ligado a uma questão incômoda a mim e certamente a todos os que admiravam as inegáveis qualidades da escritora monumental que ela era: se era magnífica a sua escrita, por que tão poucos liam Hilda?
Não é difícil constatar que a liam basicamente escritores e literatos, alguns especializados nesse negócio de texto literário. E temos, malgrado, de constatar que Hilda era a escritora de um "grupo de eleitos", num sentido infelizmente elitista e perverso, resultado de nossa condição de país periférico, dependente e quase que apenas semi-alfabetizado.
Porque para ler Hilda é preciso conhecer minimamente a literatura e seus meandros, ter pelo menos lampejos de erudição (olha lá: não é aquela erudição besta) para perceber, mesmo que intuitivamente, a maestria de sua arquitetura verbal, o poder contagiante de sua linguagem, de seu poema - um desafio quase intransponível a nossa estatística de mais de 50 milhões de
analfabetos (inclua aí, por favor, os analfabetos funcionais, aquela legião que não consegue entender um parágrafo com mais de duas frases) e mais de 40 milhões de brasileiros declaradamente incultos (que não estão nem aí para essa coisa chamada literatura e suas adjacências).
Resumindo: para ler Hilda precisávamos de um povo culto (e alerto mais uma vez que falo aqui não da cultura de perfumaria, voltada à inflação dos egos, mas da cultura como valor espiritual e de sensibilidade). E apesar de nossa
vocação para a beleza, de nossa capacidade inata para o deslumbramento diante dos signos, da fantasia e da surpresa, estamos cada vez mais distantes, como povo, de compreender o valor de uma escritora da dimensão de
Hilda.
Estamos por demais ocupados, como nação, em exportar bananas, madeira e roupas de praia, em dar solução paliativa a problemas provisórios - que sem dúvida se tornarão crônicos, porque nos tem faltado o sustentáculo de um país promissor: um povo verdadeiramente educado, uma juventude não superficial, capaz de lidar com linguagens complexas e dotada de
sensibilidade. Mas essa mesma juventude é hoje incapaz de ler Hilda. Com raríssimas exceções, os jovens não a suportariam: não foram preparados para isso.
Lembro-me de que, certa vez, pediram-me que "declamasse" um poema num encontro de bibliotecários em Brasília. Eu "li" dois textos de Hilda que se encontram justamente neste site da Artelivre:

"Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.

Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto".
e

"Dizeis que tenho vaidades.
E que no vosso entender
Mulheres de pouca idade
Que não se queiram perder


É preciso que não tenham
Tantas e tais veleidades.

Senhor, se a mim me acrescento
Flores e renda, cetins,
Se solto o cabelo ao vento
É bem por vós, não por mim.

Tenho dois olhos contentes
E a boca fresca e rosada.
E a vaidade só consente
Vaidades, se desejada.

E além de vós
Não desejo nada. ". (Trovas de muito amor para um amado senhor)

Estávamos próximos do fim da Era FHC, pelo menos achávamos isso. Ardíamos em esperança por uma sociedade que viria finalmente a ser transformada em função de um novo quadro de valores. E os poemas de Hilda naquele momento
soaram como um estandarte, uma espécie de unção. Um silêncio comovido apoderou-se do auditório e eu percebi, pela primeira vez em toda a minha convivência com aquele texto cerebral, que a mensagem de Hilda havia sido captada intensamente por uma platéia de certa forma comum ou pelo menos não especializada.
E me perguntavam: Quem é essa escritora?
Há décadas meu pai me dizia que nada haverá que possa se opor à aliança entre a competência e a ternura. Hoje eu somaria a esses elementos a espiritualidade. Somente quando realizarmos o projeto dessa trindade nada haverá que nos derrote. E tal como Hilda teremos alcançado alguma forma embrionária de sublimidade.

Néon


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