sábado, 6 de março de 2010

ANIVERSÁRIO

Ele observou todas sem demonstrar nenhum interesse especial. Analisou-as em seus menores detalhes. Olhos, cabelos, boca, nariz, peitos, barrigas, coxas, bunda... não esboçou o menor indício de ter se sentido atraído por uma delas. Sua completa indiferença deixou algumas muito bravas.
Foi somente quando elas começaram a reagir à sua indiferença que ele se mostrou mais atento. Descartou duas apenas num relance de olhar. As outras continuaram a se manifestar até que ele ignorou-as totalmente. Seus olhos pousaram na mais frágil, na menos vistosa. Aquela que possuía uma beleza misógina, um amálgama de características que, por mais absurdo que pudesse parecer, tornava-a atraente.
Desejou expressar uma cantada galante, mas não conhecia nenhuma. Julgava toda manifestação galante uma forma hipócrita de corromper os ânimos das pessoas. Olhou-a com mais atenção e percebeu que ela o fitava calada. O porte franzino possuía harmonia em suas proporções. Não se notava nenhum detalhe que comprometesse seu físico.
Pensou que fosse mais fácil abordá-la. Ela estava ali justamente para isso. Mas sentiu que sua garganta ficava seca. As palavras evadiam-se de sua mente. Sem saber o que falar, ele se aproximou furtivamente. Ela percebeu seu movimento, mas apenas aguardou que ele tomasse a iniciativa.

-- Oi.
-- Oi.
-- Podemos...
-- Uma hora?
-- Pode ser.
-- Quinhentinho.
-- Tudo bem.
-- Pode me seguir.

Ela saiu em passos cadenciados com um rebolado contido daqueles que atrai sem ser vulgar ou chamativo em demasia. Ele sorriu para si mesmo. A abordagem foi mais fácil do que ele imaginara. Não que fosse sua primeira vez, mas sempre havia aquela sensação de que tudo daria errado.
O hotel, para onde ela o levou, não era nenhum primor. Um prédio velho de dois andares, localizado em uma ruela imunda. O cheiro, que acompanhava aqueles que transitavam por ela, não era nem um pouco agradável. A famigerada boca do lixo.
Sem nada falarem, eles seguiram direto para o quarto. Um diminuto cubículo bem no final do corredor do último andar. Uma verdadeira ratoeira se a moça não fosse lá muito honesta. Uma armadilha da qual ele não teria como escapar.

-- Cadê a grana? Ela disparou assim que a porta foi fechada.
-- Quinhentos, certo?
-- Foi o que disse.

A carteira era novinha. Um presente de aniversário. Ah, sim, agora ele se lembrou porque desejava que fosse tudo diferente. Ainda era seu aniversário. O mesmo tio que lhe dera a carteira, havia recomendado uma noite de aventura pelas ruas do prazer.
As notas estavam ordenadas por valor. Uma garota de programa não costumava ser tão caro, mas ele não estava a fim de discutir. Separou o valor combinado misturando notas de pequeno valor com duas de valor mais elevado. Facilitaria o montante para que ela o utilizasse mais tarde.
-- Como vão querer o serviço?
O tom frio o incomodou. Fosse pelo valor acertado ou porque estavam ainda no início, ele esperava um comportamento menos seco. Olhou-a incerto. Ambos ainda estavam completamente vestidos e ele sentiu-se bem que ela ainda não tivesse começado a se despir.

-- Poderia ser menos fria?
-- Tá querendo que eu seja doce?
-- Se não desejar ser, poderia, ao menos, fingir que é?
-- Isso faz alguma diferença?
-- Para mim, faz.
-- Tudo bem, que seja. Afinal quinhentos paus ajudam a me deixar menos azeda.

Ele não imaginava que uma moça tão franzina pudesse ser tão seca. No trajeto até ali, criara mil possibilidades em sua mente. Mas em nenhuma fizera uma idéia tão fria. Talvez fosse melhor desistir e procurar por outra. Chegou a pensar em expor sua vontade, mas reconsiderou concluindo que a moça não concordaria em devolver-lhe o dinheiro.

-- Devo fingir que sou virgem, também?
-- Não. Não será preciso. Só gostaria de que fosse um pouco menos fria.
-- Esta parte eu entendi.

Um momento de constrangedor silêncio os envolveu. Ele não sabia exatamente o que desejava que ela fizesse. Ela não imaginava o que aquele rapaz queria com ela, além do sexo é claro. Os olhos se estudavam sem nada revelar daquilo que ia em seus âmagos. Um impasse havia sido criado.

-- Então? Vai passar todo tempo só me olhando?
-- Será como eu quero?
-- O dinheiro é seu...

Sem esperar por qualquer outro comentário, ele a abraçou com firmeza. Encostou seus lábios aos dela, sentiu sua respiração, olhou-a fixamente, passou a destra por trás de sua cabeça segurando-a pela nuca. O beijo dado foi lânguido. As línguas se roçaram como se quisessem se devorar.

-- Espere um pouco. Ela implorou ofegante. Preciso respirar.
-- Tá. Ele respondeu receoso.
-- Nossa, você tem um fôlego e tanto.
-- Vou ser mais contido da próxima vez.
-- Tudo bem.

Palavras ditas sem que seus corpos tivessem se afastado. Ele ainda a mantinha sob o aperto dos seus braços. Ao voltar a aproximar sua boca, ele não tocou seus lábios. A língua avançou para o interior da orelha. Seus dentes cravaram-se delicadamente no lóbulo. Suas mãos a mantinham firmemente segura.

-- Será minha princesa por esta hora. Serei seu servo. Apenas nós. Esqueça tudo o mais. Não existe mais nada além deste quarto.

A voz sussurrante a fez arrepiar-se. Talvez não fosse a voz, mas sim o hálito quente que percorria seu pescoço. Talvez não fosse a voz ou o hálito, mas a delicadeza expressa naquele tom suave. Talvez... talvez... o que ela estava pensando? Não era nenhuma menininha inexperiente. Por que aquela reação inesperada?
Antes que sua razão pudesse encontrar uma resposta, sentiu a língua voltar a sumir em seu ouvido. Os dentes roçando o lóbulo, a respiração tocando sua pele, os dentes descendo até cingirem seu pescoço, a pressão pontiaguda forçando sem dilacerar sua carne.

-- Feche os olhos. Ele pediu delicadamente. Pode sentir o bater de meu coração? Ele está cantando para você. É uma canção antiga. Nem dolorida, nem festiva. Uma canção suave.
-- O que...

Ele não deixou que ela completasse seu pensamento. Beijou-a com a mesma sofreguidão anterior. Os corpos mais juntos do que nunca. O aperto se intensificando, as mãos procurando ir além dos limites. O ofegar acentuou-se e ambos voltaram a se fitar.

-- Por onde esteve, minha princesa? Não sabe que eu a desejo mais que a própria vida?
-- Você é...
-- Sim, eu sou! Mas neste momento não importa o que eu sou, nem o que você é, mas aquilo que desejamos.
-- Você me deseja?
-- Muito!

As mãos agiam alheias ao diálogo. Como se fossem membros independentes deslizavam pelos corpos descerrando as amarras, libertando a pele, expondo a tepidez da derme. A boca se calou ao mergulhar no rijo monte peitoral. A língua bailou sobre os mamilos, o sorver de seus seios a deixou balançada.

-- Oh, seja meu príncipe!

A habilidade do rapaz era contestável. Mas ela não se importava com isso. As mãos desciam e subiam com tamanha leveza que ela se deixava levar com docilidade. O toque suave a estava deixando arrepiada. Ao sentir a mesma suavidade percorrer sua dorsal em busca de suas formosas nádegas, ela enrijeceu-se. Aquele não era um cliente comum.

-- Minha boca sente a firmeza de seus seios. Estão rijos. Minhas mãos acariciam a curvatura arredondada de suas nádegas. Estão trêmulas. Meu corpo recebe o calor de sua respiração. Você está ofegante.
-- Eu... eu...
-- Não diga nada. Apenas sinta!

A peça superior ganhou o chão no mesmo instante em que seus lábios voltaram a se comprimir. Os seios foram tomados pelas mãos. O abraço havia se rompido, mas ela ainda o envolvia com seus braços. Ao beijo seguiu-se um avanço sobre o pescoço. O sugar ritmado produzia sensações eletrizantes. Ela estava dominada por um frenesi sem igual.
Deixando que ele a explorasse, ela sentiu quando as mãos puxaram a calça para baixo libertando as formas delineadas de suas coxas e a saliente bunda. A pequena calcinha quase não tinha função alguma. Uma mínima faixa cobrindo a lateral descendo pelo rego sem esconder nada e só.
A peça parou sobre os pés porque ele não se deu ao trabalho de retirá-la totalmente. Ao invés disso, foi descendo sobre o corpo, deixando a região peitoral, escorregando até o abdômen, beijando-lhe o ventre, acariciando-lhe a silhueta esbelta. Tudo com tanta suavidade que ela mal sentia os toques, mas o respirar era suficiente parta deixá-la desejando muito mais.
Colado em sua barriga, ele sentiu o odor adocicado proveniente da intimidade que aguardava o momento de ser tomada por sua boca. Novamente ele sorriu para si mesmo. Seria como uma conquista triunfal poder sorver do néctar que ela guardava em sua formosura. Sua língua haveria de adormecer no interior daquela gruta.
Mas ele não queria ser tão afoito. Uma hora era o tempo combinado, mas era um tempo considerável quando se deseja compartilhar e não apenas desfrutar. Voltou a elevar seu corpo. Ela reagiu protestando em um olhar silencioso, mas muito significativo. Ele sorriu para ela.

-- Garanto-lhe de que não se arrependerá.

As bocas voltaram a se unir. As línguas avançaram desenfreadas. Os seios roçavam o peito, ainda vestido, do rapaz. A nuca foi segura com a mesma firmeza de antes. Tudo parecia exatamente igual, mas de repente ela sentiu a diferença. Uma mão macia cobria sua intimidade. Mesmo a pequena fita, que servia como calcinha, não foi capaz de impedir que ela sentisse a tepidez da pele que a tocava,
O dedilhar de sua intimidade a fez ofegar novamente. O beijo a sufocava, mas desta vez ela não se afastou. O ar, que ele exalava, penetrava suas entranhas insuflando seus pulmões. O pequeno apêndice de sua intimidade recebia os afagos de uma mão que mais parecia um chumaço de algodão.
Ela nem percebeu quando ele abandonou sua boca, desceu por seu corpo, soprou a abertura de sua gruta e a invadiu como se o beijo dado em cima, continuasse agora embaixo. Quando a língua deslizou em sua caverna, ela notou a diferença. A boca, aberta, procurando pela outra, sentindo o ar invadir, seus pulmões, com violência. O delírio foi total.
Ao ser beijada pelos lábios voluptuosos, ela sentiu o ar faltar, agora que estava sendo beijada em sua intimidade, o ar penetrava tão intensamente que seu corpo convulsionava. As carícias não se detinham apenas na caverna úmida e quente, o rapaz avançava pelo regaço de seu pequeno botão. Os tremores a dominavam fazendo-a perder a noção de qualquer outro estímulo.
Apesar de desejar proporcionar o prazer mais intenso, ele não queria que tudo se acabasse num átimo. Da mesma maneira que se lançara aos beijos mais calientes na saborosa fruta, ele os cessou. Levantou-se como se a desafiasse a forçá-lo a continuar. Mas não era esta sua intenção.
Sem muita habilidade, ele se desfez de suas vestes. Ao se exibir totalmente desnudo, ele expôs a virilidade rija que estava oculta. Ao observar o instrumento de aparência pétrea, ela sabia o que deveria fazer. Não, não o que deveria, mas sim aquilo que desejava ardentemente fazer.
A boca engoliu o falo num movimento completo. Demorou-se com ele a roçar sua garganta até que sentiu necessidade de libertá-lo. Desta vez o ar faltou por sua própria vontade. Inspirou com força e voltou a engolir a rigidez do rapaz. Sua saliva escorria por seus lábios. Ela sentia um prazer diferente, como se as outras vezes não tivessem sido com ela.
O ato estendia-se por um tempo considerável. Sempre que entrava naquele cubículo, ela gastava mais tempo para despir-se do que com a relação em si, mas não estava sendo assim naquela oportunidade. As experiências anteriores iam se apagando como se ela jamais as tivesse vivenciado.
A copula finalmente teve lugar. Ele a levantou com suavidade. Colou seus lábios aos dela. Segurou-a pela cintura. Acariciou sua bunda mais uma vez. Tocou-a levemente com as mãos. Sugou-lhe os seios. Mordiscou o pescoço. Colocou-a deitada sobre o leito. Deitou-se sobre seu corpo ansioso pela penetração. Olhou-a com ternura. Afundou-se em sua intimidade.
As pernas tentavam aprisionar o amante com desespero como se ele pudesse fugir a qualquer momento. Os movimentos cadenciados obedeciam ao ritmo das investidas delicadas. Sua carne nunca tinha sido penetrada com tanta suavidade e ao mesmo tempo com o vigor de um instrumento tão másculo.
As respirações há muito que haviam se tornado ofegantes. Os olhares se apagavam ao mundo externo abrindo-se apenas para o êxtase que se aproximava. Suas mentes vagavam por dimensão muito além da misera realidade que os cercava. Os corpos fundiam-se num complemento indivisível.
O fogo queimava sem machucar. As estocadas aceleravam-se num frenesi despreocupado. As alianças de emoções vertiam por seus sentidos. As bocas devorando-se. As mãos avançando e cobrindo todo espaço desnudo. As vibrações... as sensações... os sentidos... o prazer... o gozo...
O tempo pareceu parar incontinenti. Tudo que não estava em seus sentidos foi desintegrado. Aniquilado pela intensidade do gozo que compartilhavam. As carnes fendendo-se, perdendo-se, completando-se, num explodir de liberdade, numa comunhão de energias que já não pertenciam a nenhum deles, mas sim eram doadas e recebidas sem percepção exterior.
O auge do prazer. Um instante quase exclusivo. Uma ausência total de anteparos ou perspectivas. Tudo estava congelado no êxtase que dominava seus âmagos. Tudo imortalizado em suas realizações. Um momento que jamais voltaria a se repetir.
A hora combinada transformou-se em outras tantas. A madrugada já se mostrava senhora do firmamento quando eles descerraram seus olhos. Os corpos nus ainda encaixados com perfeição. O calor compartilhado ainda ardia em suas entranhas.

-- Acho que lhe devo mais algumas notas.
-- Nem pensar. Ela respondeu instintivamente. Talvez algumas respostas.
-- Pode perguntar.
-- Por que eu?
-- É meu aniversário.
-- Por que não foi com sua namorada?
-- Eu não tenho uma. Sua voz saiu fraca como se ele estivesse justificando alguma falta imperdoável.
-- Por que tão carinhoso?
-- Não gostou?
-- Pelo contrário. Acontece que não costuma ser assim.
-- Já lhe disse é meu aniversário. Queria que fosse diferente.
-- Foi. Foi como se nunca tivesse feito algo assim.
-- Eu nunca havia feito.
-- Talvez nem eu.

Os olhares se cruzaram. Ele havia se vestido enquanto conversavam. Queria dizer muito mais, mas sua voz recusava-se a sair. Ela parecia lhe rogar algo, mas também não pronunciou frase alguma. No silêncio que se seguiu, ele a deixou.
Já na rua, sentindo o frio da manhã penetrar pela blusa leve, pensou em voltar e cobri-la de beijos. Despejar todo seu sentimento, mas não. Sem ter coragem para ir além de seus limites, ele apressou os passos em direção à estação do metrô.

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Néon


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