quinta-feira, 4 de março de 2010

Pequenos grandes jogos - Lucia Czer





Relacionamentos nem sempre são fluidos e facilitadores de uma convivência harmoniosa e gratificante para todos. O que vai definir o bom clima no estabelecimento de relações é a dinâmica de comportamento dos envolvidos. É preciso que se entenda a diversidade e se tome a decisão de aceitar, conformar-se ou renegar aspectos comportamentais do outro. Entra aí, como parceira, a comunicação, a coerência entre o discurso e a prática. Entender os estados psicológicos que permeiam as relações e aprimorar nossas habilidades de convívio.

Existe um conjunto de variáveis que determinam a condução do processo de comunicação. Não basta somente emitir e receber mensagens num processo inter- relacional . O que vai condicionar uma boa ou má relação entre as pessoas, serão as expectativas de um em relação ao outro. Há que se permitir uma flexibilidade no sistema que vai impregnar as formas com que cada um percebe o mundo e atua sobre ele. Sabedoria é admitir que não somos perfeitos, somos humanos e passíveis de erros, somos frutos da hereditariedade e da influência do meio. Isso vai demarcar nossos princípios, valores, maneira de enxergar o outro, sentir e agir. Só a compreensão da nossa própria condição de humanidade permite uma (re)aprendizagem das diferenças, as quais por si mesmas podem constituir motivos de comunicação e convívio, sem riscos de perda de identidade cultural e social. Então, como se lida com as diferentes demandas para interações saudáveis? É preciso que se cultue a compreensão social, concepções e crenças sobre o que deve ou não deve ser emitido, ter claramente a noção de direitos, nossos e dos outros. Poderíamos chamar de funcionalidade a contribuição para que a pessoa apresente um desempenho que garanta o máximo de aprovação e outras conseqüências positivas no contexto social.

Convenhamos, relacionamentos são difíceis, em quaisquer círculos, e vou descobrindo que não sei onde nem como eles podem ser perfeitos. Faço a minha parte: Sou amiga, procuro entender o ser humano, aceito os erros e desculpo os defeitos. Preparo-me para a crítica e conto até mil para não explodir. Peço desculpas, peço perdão, procuro não mentir, sou honesta, sou sincera e leal. Todavia, não encontro o meu lugar.

Para que se seja “aceito” no grupo ou bando, é preciso fazer “joguinhos de faz de conta”, rir sem vontade de piadas burras, elogiar o feio e o mal feito, aplaudir o discurso inócuo e cansativo, enxergar a roupa invisível do rei. Não! Definitivamente, não sei fazer isso, apesar de ter toda a urbanidade possível, sem ser subserviente.

Existem grupos, ou clãs, que se consideram acima do bem e do mal. São os elitizados, os mais cultos, os esclarecidos, os dogmáticos, os que benevolamente nos deixam comer as migalhas da sua atenção. E, párias, circulamos ao derredor, aspirando o ar que nos seja permitido. Majestosos em suas máscaras e subterfúgios de grandes pensadores, filósofos memoráveis, ufanos guardiães da sapiência e da cultura, os requintados cérebros acima da banalidade dos míseros mortais (nós, os outros), tecem jocosos ditos sobre o que pensamos e consideramos, exercem a sua conversa dissimulada entre dentes que só aos pares é visível o tom do deboche e sarcasmo.

Decididamente, fico de fora, vou procurar minha turma, vou ser eu mesma, vou ser autêntica e genuinamente mediana, não quero o requinte dos deuses, quero permanecer mortal, humana e gente. Senhores, continuem o sarau, desta vez, sem mim.

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Néon


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