domingo, 31 de janeiro de 2010

Violência moral e/ou psicológica- Lucia C. Gonçalves





Do ponto de vista semântico, violência é um distúrbio comportamental que incide sobre outrem em prejuízo desse, transformando os atores dessa relação em vítima e agressor. Podemos dizer que violência é um comportamento que causa dano a outra pessoa, ser vivo ou objeto. Durante o emprego da violência, nega-se a autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida do outro. A violência moral e/ou psicológica diferencia-se do uso da força. Enquanto força designa, em sua acepção filosófica, a energia ou "firmeza" de algo, a violência caracteriza-se pela ação corrupta, impaciente e baseada na ira, que não convence ou busca convencer o outro, simplesmente o agride.

Quando falamos de violência psicológica referimo-nos a um comportamento (não-físico) específico por parte do agressor, seja este agressor um indivíduo ou um grupo específico num dado momento ou situação. Muitas vezes, o tratamento desumano tal como rejeição, depreciação, indiferença, discriminação, desrespeito, punições (exageradas), pode ser considerado como um grave tipo de violência. Esta modalidade, muitas vezes não deixa (inicialmente) marcas visíveis no indivíduo, mas pode levar à graves estados psicológicos e emocionais. Muitos destes estados podem se tornar irrecuperáveis em um indivíduo, de qualquer idade.

Diferentemente da violência física, a violência moral e psicológica tem menor visibilidade, pois as decorrências não são percebidas de imediato, vindo a sê-lo em estado avançado, quando ocorrem evidências de depressão, dependência química e suicídios. Crianças, idosos e deficientes são as potenciais vítimas no círculo escolar ou familiar.

Existe violência explícita quando há ruptura de normas sociais estabelecidas a esse respeito: contudo não é um conceito absoluto, variando entre os diferentes grupos. A violência está contida em todos os círculos, diferentes níveis sociais e organizações humanas: na política, no trabalho, na família, dentro ou fora dos muros.
As crianças são mais expostas à violência psicológica, tendo em vista que dispõem de menos recursos que lhe garantam a proteção, assim como os adolescentes também são vítimas da mesma situação por motivos semelhantes às crianças. Mesmo indivíduos adultos podem sofrer as mesmas conseqüências danosas. Um exemplo claro disto são as situações de assédio moral.

As mulheres são comumente vítimas da violência moral e/ou psicológica dentro do ambiente de trabalho, muitas vezes em decorrência do assédio sexual a que são submetidas. Sua atuação e capacidade profissional são colocadas em xeque, desmerecidas publicamente, gerando maus resultados na avaliação do desempenho do trabalho.

A Análise Transacional é um estudo psicodinâmico, entretanto sua principal diferença em relação à psicanálise é que a pessoa pode modificar seus sentimentos, pensamentos e escolhas pelo autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Analisa as relações entre as pessoas.

De acordo com a Análise Transacional, as relações humanas são regidas por jogos psicológicos que se transformam em dramas. A formação do ser está relacionada aos órgãos psíquicos, os quais se manifestam fenomenologicamente e operacionalmente através dos três estados de Ego correspondentes, são eles Pai, Adulto e Criança. Os Estados do Ego são manifestações dos órgãos psíquicos, podendo compreendê-los da seguinte forma: Quando um indivíduo não tem uma das figuras do PAC (Pai, Adulto, Criança) desenvolvidos saudavelmente, isso originará uma característica de pessoa mal resolvida psicologicamente.
O indivíduo que não têm desenvolvidas corretamente as etapas do PAC, passa a ser o agressor ou vítima, dependendo de qual capacidade foi desenvolvida ou não. O choque advindo do jogo psicológico dentre os meios sociais onde ocorre a violência moral e/ou psicológica é justamente a geração de drama nessas relações. Nessa instância, ou a figura da criança ou a do pai (PAC) não foram corretamente desenvolvidos. Sendo a da criança, os mecanismos de defesa da vítima não estão suficientemente desenvolvidos não permitindo uma reação adulta; sendo a do pai, a condição impõe que deva ser protetor, conciliador e orientador, e isso faz com que seja benevolente com o agressor, visto como filho no momento, estimulando ainda mais as atitudes agressivas- violência.

Caracterizando-se por palavras maldosas, gestos agressivos, olhares sarcásticos entre outras ações, o agressor mórbido vai continuamente usando esses instrumentos como meio de aplicação da violência. Palavras usadas que vão atuar na auto- estima da vítima, olhares duros, irônicos, gestos desrespeitosos, risos sardônicos, usados constantemente sobre um único alvo, geram um grau de exaustão tão grande que a vítima é paralisada pela incapacidade de reação dentro do jogo psicológico.

Para a Saúde Pública, a preocupação com os índices de violência é relevante na medida em que o indivíduo passa a desenvolver estados patológicos, problemas físicos, psicológicos ou comportamentais que o afastam do trabalho ou convívio social.

Por outro lado, necessita a Saúde Pública analisar a questão da morbidade do agressor, autor da violência moral e/ou psicológica. No estado mórbido em que se encontra o agressor, não lhe é permitido perceber da satisfação acometida pelo mal que ocasiona no outro indivíduo- sadismo, ou seja um estado patológico.

A maioria dos suicídios é, pois, uma decorrência da submissão à violência moral e/ou psicológica sofridas pelas vítimas submetidas a um jogo psicológico estafante e altamente prejudicial..
Finalizando, observamos que nesse jogo psicológico temos dois seres envolvidos numa relação dramática, portadores de deficiência na área da saúde, pois tanto vítima quanto agressor são potencialmente deficitários, pacientes merecedores de atenção pelas políticas de saúde pública e de ações concretas como meio de diminuir a incidência da violência nas relações humanas.


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Fins e inícios




O velho leão já quase não caça, só o mínimo para sua sobrevivência e suas necessidades vão diminuindo dia após dia. Foge das lutas e move-se cada vez mais mansamente a fim de passar quase desapercebido, não fora seu porte majestoso.

Mas, elas, as hienas vêm em bando sequiosas de espaço e poder. Cercam-no, rosnam ameaçadoras. Espreitam e acuam, constrangem-no com os dentes arreganhados, raivosas, sedentas de sangue. Aos poucos o conduzem até o limiar de seus domínios.

O velho leão vai sendo expelido de seu território e o apressa o saber que pouco as impede de galgar-lhe ao pescoço, aniquilando-o definitivamente.

O velho Nicolau é um velho leão cansado dos embates pela manutenção da vida. Já não tem forças e aos poucos deixa de reagir aos apelos de luta. Alquebrado, carrega no dorso as marcas da trajetória imposta.

Expulso, dá uma última olhada ao que lhe pertenceu, dá adeus ao que amealhou aos poucos durante a vida difícil e laboriosa. Deixa tudo que conquistou com o trabalho de toda sua existência.

Espera-se que tenha no peito uma mágoa incontrolável, ledo engano!

O velho guerreiro vê na linha divisória um novo horizonte, o azul do céu, o espaço sem fim, a liberdade, enfim...

Não é o fim da linha, mas uma nova linha que se inicia.
Fecha a porta e sai para viver!

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