quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Adélia Prado- Uma abordagem especial


Everton de Paula entrevista Adélia Prado



A concepção poética surge de maneiras diferentes, segundo os próprios poetas: às vezes surge no momento racional, ou de um desejo d'alma; e há quem acredita estar possuído pelos segredos divinos. E no seu caso ela brota como "os matinhos depois da chuva".

"Os matinhos, depois da chuva", como você citou, constituem exatamente uma situação não racional. Matinhos depois da chuva, brotam como conseqüência de uma ordem cósmica, independente da vontade, do desejo. Assim também é a poesia.

Seria especificamente no seu caso?

Bom, a poesia não depende de nenhuma ordenação lógica e racional. Quero dizer, ela (a poesia) não traz nenhum esforço, não é uma decisão minha, não. O que eu faço é escrever a experiência da natureza poética, que surge como os matinhos depois da chuva.

Filósofos, como Platão e Aristóteles, conceituaram a criação poética de maneiras diferentes: o primeiro a considerava uma "reprodução da aparência" - não muito profunda - das coisas e dos seres. Enquanto o segundo, defendia a "imitação da realidade do homem em ação" como ponto de

Do artista. E você?

Não tenho condições de responder ao nível da pergunta. Teria que dominar bem esses dois conceitos de Platão e Aristóteles. Digo que a criação poética é a revelação do real. Talvez isso coincida com um dos dois filósofos.

E aqueles que se dizem estar inspirados por seres divinos?

A poesia é divina. O poeta, ele próprio é precaríssimo, tem os pés de barro. O que ele diz, se está realmente fazendo poesia, é o que o torna porta-voz de algo maior que ele.
A literatura, em alguns casos, é declarada como forma de evasão do escritor. É o expurgo do trágico, provocando efeitos terapêuticos. Certa vez um terapeuta argentino, lendo os poemas de Carlos Drummond de Andrade, disse: "ele não precisa de divã". O próprio Drummond reforça isto ao dizer que procura na poesia uma forma de resolver seus próprios problemas. Você, Adélia, confessa "escrevo o poema e iludo-me de que escapei à tristeza". Como se processa tudo isso?

Qualquer obra de arte tem diversos níveis de abordagem, de enfoque e de leitura. Você pode olhar uma pintura sob o ponto de vista psicológico, sociológico, fisiológico, como também um poema. Quem ler o texto pode exclamar: Nossa!... Ela estava enfossada. Nossa! ela estava alegre. Nossa! ela estava eufórica. Isso é o de menos no texto literário. O que importa é saber se o texto (falando de fossa de miséria, amor, de Deus, de sexo, de problemas sociais) é realmente literatura; se como tal tem valor; se é uma obra de arte ou se se revela como poesia.
Não fosse assim, todas as pessoas que escrevessem diários, desabafos, seriam considerados autores, e não é verdade. O texto literário pode ser um desabafo, mas ele tem que ser, em primeiro lugar, um texto literário. Senão, ele não tem valor algum. O que interessaria às pessoas saber da minha fossa, da minha dor de cotovelo? Nada! A não ser que eu fale de maneira bela, numa forma poética!

O poeta e crítico Afonso Romano de Sant'Anna afirmou que você parece ser uma das poucas poetas que fazem referências à família. Afinal, a família está sempre presente nos seus textos. Qual a razão desse enfoque?

O tema dos meus livros é o cotidiano. A família pra mim, é uma experiência vital. Falar da família, é como falar do ar no qual eu estou mergulhada, o qual eu respiro. São coisas que me interessam em primeira mão.


Religião



Enquanto muitos poetas fazem citações de grandes pensadores, você optou por citações da Bíblia. Como é a religião de uma pessoa que é professora de Educação Religiosa e escreva frases como esta: "Deus me olha e me causa terror"?

É. Tomo da Bíblia muitas epígrafes, realmente. Isso acontece por dois motivos: a Bíblia, pra mim, é um livro vital. Eu considero que tudo está escrito lá. A Bíblia oferece farto material para grifar qualquer assunto, de maneira bela, tão bela! De altíssima literatura. Ela responde às necessidades dos meus textos, por serem verdadeiros e belos também.

Revelando essa verdade, qual o seu parecer diante das declarações do Papa João Paulo II, recentemente, sobre a dúvida em relação à data do nascimento de Jesus Cristo no Ano I da nossa era, aceitando, inclusive, discuti-la.

A Bíblia não é um manual de ciências, não é um manual de história, ela não ensina estatística, biologia, etc. A Bíblia é o livro de informação religiosa, é a revelação de Deus para o homem. Historicamente, você pode encontrar, por exemplo, afirmações como estas: Ah! Jesus nasceu, não foi no ano Um da Era Cristã, foi no ano tal da Era Cristã. Isso pouco importa. A Bíblia quer dizer é que o filho de Deus, salvador do homem, nasceu e é um homem como nós. Do ponto de vista histórico, a divergência de datas não muda em nada as coisas. O escritor sagrado, para narrar o fato religioso de que o mundo é criatura de Deus, de que nós saímos da mão de Deus, ele cria aquela história maravilhosa de Adão e Eva. Não vou pensar: Deus pegou o barro, amassou na mão e fez o homem. São formas literárias (metáforas, parábolas) de dizer as coisas. A intenção dessa história é contar o fato religioso de Deus criar o mundo e o homem. Descobrir que o homem veio ou não do macaco, ou de uma fruta, não faz a menor diferença. Parece que viemos do macaco, tudo bem.

Adão e Eva - Óleo sobre tábua. Alberto Durero. Museu do Prado, Madri
Por falar em Adão e Eva, até quando você acreditou nessa narrativa alegórica, da serpente incentivar Eva a comer a maçã?


Até hoje acredito. É isso que eu estou dizendo a você, é uma parábola. O que é uma parábola? É a gente usar uma história pra contar uma história maior. Então eu ensino os meus meninos, os meus alunos, e ensinarei sempre. Ensinarei, e em primeiro lugar a mim mesmo, que Deus criou o homem e a mulher. Que, no princípio, o mundo era um grande jardim. Essa é a forma que o espírito humano tem de projetar os seus desejos mais profundos. Como vou contar a alguém que Deus fez o mundo? Eu começo assim: Era uma vez, tudo estava escuro; as águas eram misturadas com a terra... Porque o homem se vê num mundo ordenado e então ele se pergunta: como era isso no princípio? Essa pergunta já é a busca da verdade, a procura do mistério da criação do mundo. Então está valendo tanto como quando eu tinha seis anos de idade, quando ouvi pela primeira vez a história. Só que agora eu tenho consciência de ser isso uma parábola. Agora, como é que o mundo foi feito? A ciência está aí para descobrir: cientistas, físicos, biólogos... estão escrevendo volumes e mais volumes, fazendo escavações arqueológicas, encontrando peças de milhões de anos para chegarem a uma conclusão. De repente: Olha!!! A Bíblia está errada!? Não, ela não está informando ciência. Ela nos informa: Deus nos criou. Só isso.

Este estilo não retarda a compreensão da realidade?

Se tirar isto que você chama de fábula nós vamos cair de quatro e regredir ao tempo do macaco. É como se se tirasse da criança o "Chapeuzinho Vermelho", a "Bela Adormecida", o "Rapunzel";isso constitui o próprio oxigênio da alma. Essa fabulação, essa criação de parábolas, é isso que nos leva pra frente. Se se colocar isso somente nas mãos dos cientistas, vai nascer rabo em nós outra vez, não demora. Não tenha dúvida!

Voltando à dúvida da data do nascimento de Jesus, pergunto: o que você pensa de certos pesquisadores bíblicos não concordarem com a figura de Jesus Cristo, descrito na Bíblia?

O Jesus dos Evangelhos não é um Jesus histórico, mas um Jesus conhecido na fé. Repare que os evangelistas não falam nunca no aspecto físico de Jesus. Tomara que os pesquisadores o façam, Marantha!!!
Qual a comparação feita por você entre "as escrituras de Deus" e as "escrituras de João" ao afirmar que "tudo é Bíblia, tudo é Grande Sertão"?

É como eu disse antes, tanto do ponto de vista literário e vital, são dois livros completos. Quer dizer, tudo que eu escrever, eles já escreveram. Não em nenhum assunto que não foi tocado por eles. Você, se pensar em Guimarães Rosa e disser: "isso-assim-assim", ele não falou, reveja o texto atentamente que vai encontrar. Assim acontece com a Bíblia, ambos são livros definitivos.

"Tire as sandálias de teus pés, porque a terra em que estás é uma terra sagrada". Esta citação do Êxodo no livro "Bagagem" me fez pensar: o idealismo do poeta propõe a criação de algo novo no mundo ou a mudar a realidade?

Não!... O poeta não cria nada no mundo. Ele revela realmente o que já é. Quando falo sobre esta flor aqui, eu não estou querendo inventar uma sempre-viva mais bonita do que ela é. A poesia, ao falar desta flor, revela ao leitor - e em primeiro lugar para mim -, qual é o Ser verdadeiro desta flor, da qual vejo apenas a aparência. A função da poesia - se é que tem função - , o seu papel é a revelação do verdadeiro Ser das coisas. Ela não inventa nada paralelamente ao mundo existente; ela revela este mundo. É maravilhoso!... Quando se lê um bom poema - pode se até desta sempre-viva que estamos vendo -, nota-se que ela vai revelar muito mais do que os nossos olhos estão vendo. A poesia mostra a profundeza das coisas.
No seu entender a poesia feita pelo homem procura decifrar a essência maior dos seres. Na sua visão, o ser humano caminha em busca de que essência?

Há dentro de nós a procura do bem, um desejo do bem, um desejo de beleza. Acho que é nesse sentido que caminhamos.

Uai! E quando o homem prega as leis do céu e age conforme as leis do inferno?


Essa é a condição humana. Nós somos contraditórios, porque em nós habitam, com a mesma força, o bem e o mal, a luz e a sombra. Muitas vezes o ódio realmente é uma forma equivocada de amor. O que segue é questãod e uso de nossa liberdade, claro, com todos os nossos condicionamentos.

É muito comum ouvir dizer que o ódio caminha de braços dados com o amor...

Tranqüilamente. Não tenha dúvida.

Como paroquiana, qual é o seu papel?

De paroquiana comum. Eventualmente fazemos encenações teatrais paralitúrgicas.

Social

Se a infância batesse de novo em sua porta, ela seria convidada a entrar?

(Suspiro) A infância já está comigo. Ela nunca esteve fora. De vez em quando ela bate de maneira especial, se transformando em poesia.

O que você quis dizer com: "No mesmo prato o menino, o cachorro e o gato. Como a infância do mundo".

Olha o nome do poema "Roça". Você já viu, especialmente, na roça, periferia de cidade, no meio da população mais carente, mais perto da terra, da poeira, o menino comendo com o prato na mão e repartindo o alimento com o cachorro e o gato? É isso...

Cada leitor faz sua leitura, imaginei referências da triste vida de cão, levada pelas crianças pobres...

Não! Não! Quando fiz, não estava pensando em tristeza. Pelo contrário, estava na maior alegria. O que me comoveu foi a pureza, a comunhão...

No poema "Com licença poética" um anjo ao seu nascer anunciou "vai carregar bandeira", mais que pesada. Foi pelo fato de a porta-estandarte ser mulher?

É pelo peso da condição feminina.

Essa condição tem sido conduzida de maneira "ainda envergonhada"?

Ela ainda sofre inúmeros condicionamentos opressores.

"Se ficasse na roça ia ser carpideira, puxadeira de terço, cantadeira.
... tirando bóia da panela..." Essas maneiras roceiras não aconteceram. Você veio para a cidade, aprendeu a ler, a escrever e a fazer "versos tão tristes". Por quê?

Porque, na cidade ou na roça, a minha vocação permanece a mesma.

Há uma afirmação sua : "A vida é mais tempo alegre do que triste". Por que, então, você escreve frases como "a vida é horrível", reforçando ainda "o esforço do amor, o maná em pequena rodelas, tornam boa a vida"?

Mas é isso mesmo, a vida é horrível, a vida é fantasticamente maravilhosa e bela. Quando falo: é horrível, é pela experiência de "horrobilidade" dela. Você não tem só experiências perfeitamente alegres, passa também pelo terrível, o horroroso, o pavoroso. Apesar do horrível, é melhor ser do que não ser, porque a vida, no seu conjunto, é maravilhosa. Porque dentro desta coisa horrível, tem em nós uma compulsão para superar isso. Existe uma profunda procura da vida maravilhosa, da vida ascendente, da vida perfeita.

Qual a sua perspectiva de vida para o amanhã?

Eu estou nas mãos de Deus. Ele é quem sabe...

Você não "fantaseia" seu mundo?

Não!... não "fantaseio" (risos). Amanhã vou fazer isso ou aquilo. Eu tenho sempre otimismo, gosto da vida. Sabe o que estou pensando em fazer agora: Em escrever meu outro livro; é meu prazer. E continuar nessa vidinha em minha casa, com a família, vivenciando os pequenos e grandes problemas. Eu me sinto tecendo minha vida como se tivesse fazendo um crochê. De vez em quando a linha escapa, pego novamente, enfio na agulha e continuo... Espero ficar um belo trabalho no fim de tudo. Agora este fim de tudo, Deus cuida dele, como tá cuidando neste momento e cuidou antes. Não é?

Encontrei nos seus textos ideologias divergentes entre mulheres: "Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes". Você reagiria diferente: "A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar". É por amor ou rótulo?

Uma mulher que se levanta, ajuda o marido a escamar, limpar e salgar o peixe, curte ficar na cozinha trabalhando à noite, você acha que ela faz isso, por quê?


__Bom, no sentido geral do texto, pareceu-me ser por amor.

__Eu também acho. Você sabe o que eu estou dizendo...

__Tudo bem. Mas ainda tem muita gente fazendo porque aprendeu a ser gata borralheira e não sabe livrar-se do rótulo.

__(Risos)

"Minha tristeza não tem pedigree" é uma frase sua. Como é esta sensação?

Quando falo que minha tristeza não tem pedigree, é quando digo: minha alegria tem pedigree. Eu estou dizendo que tenho vocação para a alegria. A tristeza vem de enxerida que ela é (risos).

E o que é que vem a ser tristeza com pedigree?

Não sei, sô! Sei o que é alegria com pedigree, tristeza não.

Sexo

Você confessou em um de seus livros: "... é em sexo, morte e deus, que eu penso invariavelmente, todo dia". É esse poema fez um escritor gaúcho me dizer certa vez: "Adélia, tchê! tempera seus versos com sexo e religião, da mesma forma que o índio velho faz um bom churrasco. É bueno. Fica no ponto". Que relação você vê nesse tempero: sexo e religião?

Gostei tanto da resposta do gaúcho, quase fico com ela mesma. A relação que vejo é essa: a religião não exclui nada que é humano. Com é que ela vai excluir sexo - uma coisa imediata na nossa experiência. Não vejo nenhuma discrepância entre as duas coisas. Então, como não vejo esse desligamento, elas ficam ligadas. Tornam-se uma experiência comum.

"Me abraça detrás do muro, levanta a saia para eu ver, amorosa e doida. Acontece a má coisa, eu lhe digo, também, sou filho de Deus, me deixa desesperar. Ela reponde passando a língua quente no meu pescoço... se descuida e fica meiga, aproveita pra me safar". Tem pessoas se assustando com determinados poemas seus. Chegam a chamá-los de alucinações eróticas. E acham pecado quando você compara "minha fantasia erótica, sei agora, eram fantasias do céu..." Alguém já a recriminou por essa atitude?

Muito raramente. Acontece das pessoas ficarem meio assustadas, mas absorvo bem. Às vezes as pessoas se opõem a uma palavra ou a uma coisa que o poema está dizendo e perdem o conjunto do texto. De repente elas lêem novamente e falam: Oh!!! depois Ah!!!. É questão de leitura.

E quando a palavra assusta?

Olha, o texto está dizendo muito mais que aquela palavra. Senão, não é literatura, passa a ser pornografia. Literatura é feita com palavras. Quando essa palavra é necessária ele tem que ser usada.

Nessa hora o censor não funciona? O pensamento sai sem preconceito como sua frase: "meu amor é assim, sem nenhum pudor"?

Censura é só para cortar o excesso. O desnecessário.

Mesmo sendo uma expressão escrachada?

Qualquer uma. Obsceno é o que não tem a necessidade de ficar em cena. Como uma coisa necessária pode ser imoral?

Alguma vez lhe passou pela cabeça que sexo seja pecado?


Fui educada de maneira muito rígida. Às vezes, uma explicação equivocada da doutrina cristã nos leva a ter certos escrúpulos e até comportamentos que hoje eu vejo como equivocados. À medida que fui crescendo coloquei as coisas nos lugares.

A historinha que você defendeu antes, da serpente instigar Eva a comer a maçã, não é uma maneira equivocada de doutrinação?


Não! É diferente. A história de Adão e Eva é uma forma literária de passar uma mensagem religiosa. Seria equivocado que depois de adulta eu descobrisse: Ah! Então não foi Deus quem nos fez. Continuo, aos 50 anos, acreditando, como acreditei quando menina, que Deus fez o homem e a mulher. Isso cada vez se confirma mais. A forma como foi contada é literária, a ciência pode contar de outra maneira. A doutrina bíblica é religiosa e não científica.

Mas a forma usada, em muitos casos, não esclarece de maneira tal...


É. Tem muitos ainda achando que a bíblia está ensinando algo científico. Cientificamente o professor chega e fala: o homem veio do macaco. Acontece o espanto geral: Oh! Não!... veio das mãos de Deus. Forma-se a briga. Essa briga não tem consistência nenhuma, cada qual está falando uma linguagem. Às vezes os professores de ciências não tem o menor tato, o menor respeito com a formação religiosa dos alunos. Acontece também o contrário, dificultando a conciliação das duas noções. Há quantos mil anos foi escrita a história de Adão e Eva?! Só em pensar nisso se entende. Moisés, o suposto escritor desta lenda do homem tentado pela serpente, que já existia em outras culturas. Ele apenas deu o enfoque religioso. Serviu-se desta parábola. Acontece hoje, em 1987, ao abrir um livro de ciências lá está Darwin com a Teoria da Evolução: o homem veio do macaco, ou o primeiro ser que existiu era uma ameba lá no meio do mar. Tudo vem a partir deste ponto inicial de vida. Tudo foi gerado, transformado, evoluindo até chegar nesta maravilha: Mozart fazendo sinfonia, Drummond fazendo poemas! Já pensou? E a gente era macaco de rabo!... Isso (a ciência) está brigando com a bíblia em quê? Absolutamente em nada.

A Bíblia fala: No princípio não tinha nada e Deus resolveu, por uma ato de seu amor, de sua bondade, criar um ser à sua imagem e semelhança. Como é que um autor, há cinco mil anos, ia ter a teoria da evolução? Ele só tinha uma forma de narrar isso: a fábula - no caso inspirada - Deus passeando no jardim do Éden, falou: vou criar o homem. Pegou a terra - imagina Deus pedreiro - misturou água, amassou e soprou. É fantástico! Você pode contar pros seus meninos, tranqüilamente. Quando eles chegarem da escola com a teoria da evolução, ligue as duas coisas. Você fala: tudo bem, meu filho. Deus criou o mundo. Quando ele alegar: mas o professor disse que o homem veio do macaco. Responda-lhe: Deus nos dotou de inteligência pra descobrirmos a maneira como fomos feitos.

Moisés achava que Deus fez assim, mas ele não tinha laboratório, nem forma científica de exploração do universo, não é verdade? Hoje temos e vamos descobrir. Será fantástico. Enquanto isso, na bíblia, a primeira história do Gênese permanece fresquinha, linda, uma maravilha de narração poética. Ela nunca vai perder essa beleza literária. Agora, é só pôr isso ao lado do livro de ciências, tudo bem. Ninguém briga com ninguém.

Então, Moisés pintou o criador do mundo de maneira literária...

Sim, a revelação divina comparece no texto sagrado de forma literária.

Morte

Gostaria apenas de confirmar, realmente, você acredita que: "quando soar a trombeta" pós-morte, os corpos plantados na terra levantarão, "como deuses, como a beleza das coisas que nunca pecaram", e configurarão com árvores, como pedras, exatas e dignas de amor?

Acredito sim. Isso significa a ressurreição da carne. Estão prometidos para nós, novos céus, novas terras. Toda lágrima será enxugada, as dores vão se acabar e a gente vai viver numa felicidade completa, perfeita. Creio também na ressurreição de toda a criação.

Não haverá divisão de turmas: os bons e os maus?

Sim, mas cuidado, de novo, com a forma literária da bíblia.

Ou será só um rebanho?

"Haverá um só rebanho, um só pastor", quem disse isso foi Jesus Cristo, não sou eu.

Nesta hora os "não alinhados com a justiça divina" seguirão os mesmos caminhos dos "justos"?
Isto parece incompatível com a justiça divina. Só posso dizer que a compaixão de Deus por nós é tão infinita quanto sua justiça. Mais do que isto funde minha cabeça. Aliás, isto já funde o suficiente.

Para evitar que a cabeça funda, podemos esperar um julgamento, o tal chamado dia do juízo-final?
O dia em que se completará a busca de nós todos por essa perfeição. Por essa plenitude e encontro do bem.

Quando a tristeza chega, o que acontece? Você a manda embora?


Não!... Vou até o fim do tacho, porque se eu não fico de braços dados com ela, não me livro dela. Não vou me distrair para fugir dela. Quando vem o sofrimento, a dor, eu quero ir até o fim. Senão, vou ficar brincando de viver, e não quero essa brincadeira. Quero é viver.

Viver e sofrer são verbos interligados, como os elos da corrente, no encadear da vida. Ela, a vida, só tem o sabor para quem vive essa correlação?

É difícil responder fora do contexto do poema em que este verso está inserido. No fundo é uma afirmação da alegria.


Ao escrever "a vida e a morte são uma coisa só", não há diferença?


Não. Não vejo.

O livro "O Coração Disparado", você revela: "Na minha terra a morte é minha comadre". Se esta comadre lhe chamar: "vem cá, meu bem, dá sua mão, vamos dar um passeio..." Que resposta ela teria?

Se ela me chamasse agora, não sei se teria essa virtude e equilíbrio pra dar uma resposta a ela. Quando a morte chegar, quero chamá-la de irmã, como São Francisco a chamava. Eu busco esse apaziguamento, essa aceitação feliz da morte. Não tenho ainda, mas busco. Espero que Deus me prepare, me eduque. Viver bem é uma forma de se educar para morrer. A vida é só isso, é uma educação para morrer. Não é verdade?!

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