quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Green eyes- Sacer



The Green eyes

Sentou-se desolada no chão sujo da grande avenida, antes tumultuada pelos transeuntes, e desatou a chorar; chorou de soluçar, evoluindo para um pranto descontrolado e um alarido descomunal, enquanto a chuva molhava seu corpo apático.
Comparava sua vida àquela famosa avenida, onde repousava seu corpo junto ao meio-fio; a minutos atrás, a mais disputada e movimentada, agora, a mais solitária e erma.
Lembrava-se dele com a alma aos frangalhos, sentia seu cheiro, seu pulso, seu membro desfigurando-a desde o alvorecer ao anoitecer, sua língua passeando por sua vulva até arrancar-lhe os sentidos e seu gozo sincronizado ao dele, que lhe causava sempre a sensação de uma pequena e lenta morte. Ah, como desejava aquela morte!
Fechava os olhos marejados de lágrimas e via seu rosto coberto pela barba cerrada, os cabelos longos e principalmente o par de olhos verde bola-de-gude, como ele mesmo os definia, por não possuírem um verde puro e definido. Como amava aqueles olhos! Lembrava-se das promessas dele de que se um dia partisse, deixaria seus olhos de presente.
Desejava-o mais que a própria vida; haviam vivido durante aqueles longos e arrastados anos de amor e violência, a mais pungente obsessão. Separaram-se vez por outra, apenas para recobrarem o relacionamento com um desespero enlouquecedor.
Mas não era só tesão, havia sim, um amor doentio peculiar de suas personalidades exóticas, além de uma cumplicidade patética e febril, não só na cama, mas na vida.
Contudo, tinha a certeza do diagnóstico: era o fim, o verdadeiro e irrefutável fim! Chegaram as mais profundas raias da loucura, experimentaram tudo: cortaram-se, magoaram-se, machucaram-se, sangraram. Puxou a blusa de lado e observou o sangue estancado do corte de navalha da ultima vez em que fizeram amor, jurou que a marcaria para sempre, mal sabia que sua alma já estava rabiscada há mais tempo!


Na manhã seguinte, foi encontrada gelada e tilintando de frio no chão sujo, levada para casa, recusava-se a alimentar-se e a doença avançava a passos largos; quanto mais febril e fraca, mais visões lhe apareciam. Amava-o todos os dias no recôndito de sua patologia.
Entretanto, a primavera chegou com toda força varrendo a aridez do inverno e seu corpo parecia reagir junto com o clima- sua mãe dizia, que a mudança de estação levava consigo as doenças.
E estava correta em suas sábias palavras, Rebeca ressurgiu das cinzas, tão bela e forte como antes. O moço dos cabelos ao vento era só uma figura do passado, tão longe, tão longe quanto o tempo gélido de outrora.

Na ciranda da vida, conheceu outros homens, outros lugares, apesar de manter seu coração a salvo do desatino da paixão, quando em uma noite, deparou-se com seu algozseus pés cambalearam e uma forte pancada irrompeu-lhe o ventre. Cumprimentou-o e deslizou teatro adentro, na tentativa de furtar-se ao seu olhar perturbador. Mas seus olhos verdes a buscavam por toda parte, incessantemente até encontrar os dela.
Saiu correndo antes do término, mas não conseguiu ignorar sua ligação no dia seguinte, nem tampouco, o convite para um jantar, onde ele prometeu leva-la ao altar, acaso reatassem. Ela também não conseguiu recusar e casaram-se, sem formalidades e delongas, um mês depois.

Agora ele estava frágil e dependente, ao passo que ela demonstrava-se cada vez mais liberta de seus domínios. Longe de seu jugo, sua beleza desabrochava na medida em que ele regredia, sobravam-lhe apenas os belos olhos.
Consumida ainda pela mistura de amor e vingança, conservando os mais puros e devastadores sentimentos à flor da pele, ela desencadeou um tórrido romance com seu cunhado, transavam diuturnamente, intercalando todos os cômodos da casa.
Com a escassez do sexo, a acidez do tato e a indiferença de sua presença, ele foi pouco a pouco enlouquecendo, em pouco tempo, adquiriu a doença do amor, enclausurou-se em si mesmo e morreu em vida.

Até que um dia, cambaleando e arrastando-se sobre suas frágeis pernas, deparou-se com o objeto de sua obsessão sendo violentamente devorada pelo sangue de seu sangue. Chorou ao mesmo tempo em que o semêm do outro escorria por sua vagina trêmula.
Resfolegou, levou seu corpo até o quarto, lançou-se na dureza do solo, castigou sua alma com a recordação de minutos atrás e esquartejou seu corpo com a lâmina afiada da navalha.

No dia seguinte, foi encontrado sem vida junto à cama, nu, ensangüentado, com a adaga a atravessar-lhe o local desenhado à tinta guache escarlate no peito e o par de olhos em uma de suas mãos.
Ela recolheu as pseudo-bolas-de-gude, arrumou suas malas e desapareceu. Dizem os viajantes, que a cada mês, é possível vê-la dançando junto aos cabarés do mundo com dois olhos na mão, cantando uma triste melodia que diz:- os olhos são a janela da alma, se teus olhos forem bons, todo o corpo o será, mas se seus olhos forem trevas, quão trevas haverá em ti.

Um comentário:

  1. adorei muito esta história... parabéns mesmo.
    fazia tempo que não lia algo tão marcante.

    abraços e escreva sempre
    adriano siqueira

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Néon


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