quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sonetos - Florbela Espanca



Ambiciosa



Para aqueles fantasmas que passaram,

Vagabundos a quem jurei amar.

Nunca os meus braços lânguidos traçaram

O vôo dum gesto para os alcançar...


Se as minhas mãos em garra se cravaram

Sobre um amor em sangue a palpitar...

- Quantas panteras bárbaras mataram

Só pelo raro gosto de matar!


Minha alma é como a pedra funerária

Erguida na montanha solitáriaI

nterrogando a vibração dos céus!


O amor dum homem? –Terra tão pisada,

Gota de chuva ao vento baloiçada...

Um homem? – Quando eu sonho o amor dum Deus!...



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Mais alto




Mais alto, sim! Mais alto, mais além

Do sonho, onde morar a dor da vida,

Até sair de mim! Ser a Perdida,

A que se não encontra! Aquela a quem


O mundo não conhece por Alguém!

Ser orgulho, ser águia na subida,

Até chegar a ser, entontecida,

Aquela que sonhou o meu desdém!


Mais alto, sim! Mais alto! A Intangível!

Turris Ebúrnea erguida nos espaços,

À rutilante luz dum impossível!


Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber

O mal da vida dentro dos meus braços,

Dos meus divinos braços de Mulher!




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Nervos d'oiro



Meus nervos, guizos de oiro a tilintar

Cantam-me n'alma a estranha sinfonia

Da volúpia, da mágoa e da alegria,

Que me faz rir e que me faz chorar!



Em meu corpo fremente, sem cessar,

Agito os guizos de oiro da folia!

A Quimera, a Loucura, a Fantasia,

Num rubro turbilhão sinto-As passar!


O coração, numa imperial oferta, Ergo-o ao alto!

E, sobre a minha mão,

É uma rosa de púrpura, entreaberta!


E em mim, dentro de mim, vibram dispersos,

Meus nervos de oiro, esplêndidos, que são

Toda a Arte suprema dos meus versos!



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