domingo, 19 de dezembro de 2010

Sexo com compromisso é coisa de mulherzinha, e daí? Giselle Sato







Cheguei correndo como sempre. A recepcionista me olhou e deu aquele sorriso padrão que detesto. Dois minutos depois a porta abriu e a médica elegante na sua figura clássica pediu que eu entrasse. Duas vezes por semana vou ao consultório bem decorado, me esparramo na poltrona confortável e vomito tudo que está travado na garganta. Parece tão vulgar falar desta forma, mas estou sendo sincera, fazer terapia é um mal necessário para alguém como eu, que não tem amigos nem familiares dispostos a escutar meus problemas. Hoje decidi que é hora de falar do meu relacionamento recente, que eu estava evitando comentar por alguma razão que desconhecia mas que agora me parece tão clara. Vergonha. Mas não vou me calar hoje, começo minha história lembrando detalhes e diálogos com uma exatidão digna de autor de novela mexicana.


Quando fomos apresentados por um amigo em comum, tanto eu quanto Alexandre já sabíamos que tínhamos muitas afinidades e nosso ''cupido'' só teve o trabalho de nos colocar na mesma mesa. Foi atração imediata e no final da noite, quando rolou um clima mais quente senti que era coisa de pele, gosto, cheiro e muito tesão. Literalmente peguei fogo no primeiro beijo e soube que dali em diante não daria para segurar, não há como adiar o desejo quando bate daquela forma. Foi um sexo gostoso, desinibido e parecíamos velhos parceiros, tudo se encaixava tão bem que pensei que finalmente havia encontrado um parceiro, amante e quem sabe futuro companheiro. Ele também estava à procura de alguém bacana para dividir, palavras dele e acreditei que tínhamos tudo para dar certo. O que mais gostei em Alexandre foi a forma carinhosa e franca de expor seus planos de futuro, e tudo que ele queria batia com meus anseios o que me encheu de bons presságios. Alexandre tem muito conhecimento sobre energia, natureza, ecologia e um discurso bem parecido com o meu, de viver da melhor forma sem ser escravo da ambição desmedida. O simples e confortável nos bastava, não sonhávamos em comprar um barco e viajar o mundo inteiro, um final de semana legal no Nordeste seria perfeito.

Dois adultos independentes, livres e com disposição para começar uma relação, foi o que pensei e embarquei sem medo. O mais interessante era que Alexandre não tinha qualquer pendência, isto é raro, segundo suas explicações estava sem namorar há anos e queria muito acertar. A cada encontro o sexo ficava melhor e passávamos quase o tempo todo na cama, assistíamos filmes de mãos dadas, dormíamos abraçados e acordávamos enroscados. Ficar juntinho era bom demais. Alexandre disse que não tinha pressa e queria que tudo acontecesse devagar, eu concordei mas já estava com a cabeça nas nuvens.

Mulher é um ser que deveria vir com bula, somos sensíveis, emotivas, nos envolvemos demais e não conseguimos separar sexo de sentimento. Hoje passados três meses, revejo nossas conversas e não compreendo como não quis enxergar os toques que ele me deu todo o tempo. Só consigo pensar em duas explicações: burrice ou teimosia. Como sou uma mulher cujo cargo em uma grande empresa exige clareza e discernimento, sou obrigada a admitir que não quis enxergar. O pior cego é aquele que não quer ver, eis um ditado que poderia fazer uma tabuleta e colocar no pescoço. Mas acho que seria muito melhor correr pelas ruas, gritando que a cegueira é romântica, linda e inconsequente. Deliciosa ao extremo, eis o problema maior. O prazer é um grande problema, junte a isto um pouco de carinho e atenção e caímos de amores feito gatas no cio. Se bem que o gato é um dos animais mais independentes que conheço, admiro este mistura de independência e aparente fragilidade. Céus! Não posso dispersar e estou me comparando a um felino.

Enquanto continuo tagarelando sem parar, dou algumas olhadelas para minha analista , acho que ela balança a cabeça, cruza e descruza as pernas só para eu ver que está acordada. Eu sempre me pergunto porque continuo vindo às consultas se só eu falo e falo, não que eu não goste de falar mas é meio solitário. Conto o tempo sempre, sei que aos quarenta minutos e ela dará por encerrada a sessão. Algumas vezes saio mais frustada do que quando entrei, com vontade de voar no pescoço da infeliz, mas é claro que teria que procurar outra profissional e já estamos juntas há nove anos. Na verdade, gosto dela e já fiz algum progressos. Antes era uma ansiosa profissional e todo final de semana saía com algumas colegas desesperadas e íamos à caça. Cada barzinho, boite e casa onde tivesse homens disponíveis eram frequentados por nosso grupinho. No final de algum tempo, algumas se deram bem e outras desistiram, eu fui obrigada a dar um tempo porque adquiri uma gastrite horrível de tantas caipirinhas ingeridas com o estômago vazio. Ah! Eu sou obcecada por dietas e tenho pavor de engordar. Mas estava falando de Alexandre, preciso focar ou vou perder tempo dispersa em pensamentos bobos. Isto me lembra que se ficar muda vou pagar o horário do mesmo jeito, então o negócio é usar meu tempo e desabafar.

Começo lembrando que quando passamos um final de semana juntos, logo no começo do romance, percebi que Alexandre tinha hábitos de higiene e limpeza dignos de Monk, aquele personagem doido do seriado americano. Ele sempre saía em disparada para tomar banho mal acabávamos de transar, também escovava os dentes e fazia gargarejo. Aquilo me deixava constrangida porque era obvio que ele queria limpar alguma coisa ruim, no caso o delicioso sexo oral que tinha acabado de me proporcionar. E o orgasmo divino rolava pia abaixo ao som de cada cusparada, enquanto isso eu não sabia se fazia o mesmo ou tomava uma coca cola para tirar o gosto. Alexandre não me beijava se eu não fizesse um dos dois, mesmo assim era com certo ar de repugnância.

Ai meu Deus! existem detalhes íntimos que preciso contar, senão vou ficar com estas neuras martelando meu cérebro até o fim dos tempos. A médica nem piscou enquanto relatava as minúcias de nossos encontros, do quando fiquei animada com a performance de Alexandre no primeiro dia. Animada é pouco, entrei em êxtase total. O homem era uma máquina, nunca vi tanto entusiamos em um cara de quarenta e poucos anos. Talvez seja o estilo de vida dele, que teima em ser um eterno adolescente na forma de vestir e falar. Achei uma gracinha de imediato, era tipo Evandro Mesquita no tempo da Blitz...ou Juba e Lula em Armação Ilimitada. Tão anos oitenta...
Surf, skate, bike, asa delta, rapel, moto e eu não sei nem usar patins. Mas isto era um detalhe. Juro que não me importava, mesmo quando saíamos para jantar e eu precisava trocar mil roupas para não parecer uma senhora com um garotão.

Enquanto transávamos pela quinta ou sexta vez me perguntei se era possível morrer de prazer, minha coluna estava me matando mas não nem cogitei parar. Neste ponto sou esforçada ao extremo. Sabia que pagaria as consequências por uns dois dias, eu tenho um excelente massoterapeuta que cobra uma fortuna mas vale a pena.
Ah! E como valeu a pena, valeu tudo e muito mais. Desta vez achei a doutora mais interessada, mas podia ser impressão...preferi ignorar e falar de Alexandre.
Do corpo em si, afinal ele tem uma pele macia que me desconcerta, se pudesse devoraria aquele homem, minha vontade era ficar eternamente na cama com ele.
Simplesmente não conseguíamos ficar perto sem nos tocar, preciso confessar que adquiri uma fixação pelo pênis de Alexandre. É anatomicamente lindo, tem o tamanho e o diâmetro que melhor se encaixaram ao meu... corpo. Para ser educada não disse buceta ou vagina. Fiquei um pouco sem graça, mas pensei...pensar a gente pensa sempre.

Neste ponto consegui total atenção da doutora, com certeza ela deveria estar fazendo alguma associação com a minha infância. Bobagens, eu não sou sempre assim. Explico: Sexo oral virou mania, lembro dia e noite daquele pau. Não um cacete qualquer, mas o de Alexandre que é diferente de todos que eu já experimentei. Pausa. Ela não pergunta mas eu me apresso em explicar que não foram tantos assim... não revelei o número porque acho muito pessoal.
De volta à prática do boquete, felação ou chupada. Não me importava em levar o tempo que fosse preciso, era capaz de fazer em qualquer lugar por mais maluco ou público. Não conseguia disfarçar o quanto gostava de tocar, beijar e tudo o mais com aquele pau. Ele ficava maravilhado com tamanho empenho, achava que eu fazia para agradar e se achava o máximo. Eu me sentia dividida entre a paixão pelo homem e pelo falo. Mas ninguém normal se apaixona por um membro. Ou se apaixona? Será que é possível ou sou uma aberração? Não obtive resposta.

Continuando. No quesito sacanagem estávamos ótimos mas como nada é perfeito, Alexandre começou a ficar diferente, toda vez que a terminávamos de transar ele começava uma conversa chata, na verdade um discurso sobre os perigos de um envolvimento precoce da minha parte. Com o tempo passou a me advertir que não deveria me apaixonar , os planos que ele havia traçado eram complicados e individuais. Completamente confusa eu ouvia em silencio, não queria discutir uma relação inexistente. No instante seguinte estávamos transando como se nada tivesse acontecido. Alexandre parecia ter prazer no jogo do morde e assopra, enchia meu saco falando que não queria compromisso, que éramos só ''ficantes'' e depois seguia a mesma rotina de encontros semanais. Finais de semana juntos como qualquer casal, passeios e carinhos de namorados. Se eu não estivesse tão obcecada por aquele pau, teria sentido que era a hora perfeita para sair fora.

Um dia a coisa azedou, depois de um tremendo orgasmo ele tocou no assunto e desta vez resolvi que era hora de perguntar, e as explicações foram um horror completo. Apesar de tudo que estávamos vivendo, não havia como ir em frente porque para ele, eu já estava apaixonada e isto não fazia parte do acordo. Lógico que menti descaradamente e neguei qualquer envolvimento, cheguei a dizer que se quisesse sairia com outros sem o menor problema. Ele disse que era para ser assim mesmo, mas que para ele eu estava gostando dele e ponto final. Se foi desculpa para terminar a ''coisa'' ele conseguiu com nota dez, mas foi de uma infelicidade ímpar. Não precisava ser daquela forma.

Mentalmente me questionei em qual momento havia pedido ou dado a entender que queria mais que sexo, não consegui me lembrar de nenhum. Nunca cobrei nada, sou do tipo que estende o tempo e aguardo as coisas acontecerem. Aprendi que cada um dá o que tem, eu nunca espero nada de ninguém, o que vier é lucro. Quando falei isso, ele entrou em pânico e não mediu palavras o que me magoou demais. Disse que planejava sair com outras mulheres, que era muito novo e tinha metas como um filho daqui algum tempo. Finalmente admitiu que queria ir à luta e curtir a vida de solteiro e que nossos encontros assíduos estavam impedindo sua liberdade.
Morri de rir, logo eu que sempre fui tão livre havia me transformado em um algoz.

Naquele instante vi desmoronar o homem em que enxerguei tanto em comum, a simplicidade era uma máscara ocultando um grande egoísta, sem o mínimo tato para lidar com qualquer mulher. Não era à toa que estava sozinho. Quem atura tanta maluquice? Doeu, doeu fundo.
Porra, onde já se viu uma mulher ir para a cama com um homem, dar gostoso pra ele, fazer um boquete da melhor qualidade só para o filha da mãe ter prazer e ainda por cima permanecer impassível como uma profissional? Qual mulher dorme abraçadinha, troca carinhos, beijos e abraços sem sentir nada?
Na minha cabeça só dá para separar emoção quando rola pagamento, se eu estivesse recebendo alguma compensação já estaria condicionada, não me importaria se haveria outro encontro ou se ele iria me telefonar. Não perderia meu tempo. Ia ser pau, pau e adeus.

Foi aí que a ficha caiu, Alexandre não tinha namorada fixa há muito tempo, mas quem me garante quantas ''ficantes'' ele não enrolou com este mesmo papo de sexo sem amor? Fácil demais, ter todas as delícias de um namoro e depois mandar embora e não se comprometer. Namoradinhas descartáveis, mulherzinhas sonhadoras e sem noção como ele me chamou, mas quem estava mais perdido nesta história? Eu não vivo de fantasias nem minto que sou insensível.

Não. Nunca acreditei que fosse possível e por mais que eu tenha tentado, jamais menti para mim mesma. Para mim é impossível ter um caso sem me envolver. Toda vez que tentei me ferrei. A terapeuta olhou o relógio e no instante seguinte a recepcionista avisou o paciente do horário. Saí mais aliviada, de qualquer maneira tinha na bolsa a receita do meu remedinho para ansiedade. Acho que terapia é como falar para nós mesmas e tirar nossas próprias conclusões, só pode ser isso. Desta vez eu estava chateada por dois motivos: acreditei que tinha encontrado um parceiro bacana e descomplicado e perdi meu objeto de desejo. Sinceramente, eu não tinha a menor ideia de como iria superar as saudades daquela parte da anatomia de Alexandre.

Minha casa é linda, tem um vista incrível para a praia e sempre fico na varanda meditando. O mar algumas vezes angustia e outras traz tranquilidade, depende do meu estado de espírito. Há dias não durmo direito, houve mais coisas que não consegui contar na terapia, por falta de tempo ou porque não achei o momento certo. Tenho problemas como qualquer um, família temperamental e um histórico sentimental caótico, Alexandre só veio somar mais uma decepção.

Mas eu não tenho culpa, acreditei naquela conversa inicial de estarmos procurando o mesmo e isto é tudo. Cair e levantar faz parte do jogo, eu ainda queria ouvir o celular tocar e ser Alexandre dizendo que foi tudo um tremendo engano. Seria tão bom se ele me contasse que não encontrou nas outras o que tínhamos, que ele estava com medo e por isso havia sido tão tonto. Mas isto é coisa de filme, e o final de semana vai ser assim mesmo, ele não vai me ligar nem eu vou mendigar para ouvir outro fora. Foi muito difícil superar os primeiros dias pós adeus, várias vezes me peguei chorando baixinho no meio da noite, rolando na cama e tentando sentir o cheiro de Alexandre nos travesseiros. Três meses apenas, disseram minhas amigas dispostas a ajudar, mas estes meses tiveram bons momentos.

Como entender que eu só não podia me apaixonar, que era proibido um homem despertar tantos desejos: de estar sempre junto, amar, dançar, rir e brincar. Como aceitar tantos não sinta isso, não sonhe aquilo, não seja você mesma... E eu achei que ele poderia mudar, como se fosse possível alguém alterar um comportamento naquela idade, acostumado a viver daquela forma. Só eu mesma!
Eu apenas quis viver uma história. Alexandre foi infeliz nos comentários de que toda mulher é igual, não consegue conhecer um homem sem se envolver.

Nem todas são desta forma, não podemos generalizar mas a grande maioria tem coração e aquele imbecil não entendeu nada. Podia ter durado uma semana ou um ano, não me importaria de estar sofrendo sozinha agora se eu tivesse tido o gostinho de ter feito mais coisas com ele, porque tudo termina um dia e eu sei disso muito bem.
Alexandre traçou para si e sua vida mil regras e acha que deve seguir assim. Imagine se amanhã o mundo acabar ou toda a raça humana desaparecer, ser abduzida, sei lá... Nós poderíamos ter um grande final, sucumbir durante um incomparável orgasmo cósmico por exemplo, seria tudo de bom... Mas isto é ficção científica, pós Avatar e Harry Potter.

Finalmente paro de pensar e me acalmo. Vou até meu espelho e tiro a roupa, fico me olhando até sentir vontade de falar tudo que está engasgado. Aprendi este exercício em um livro de terapias alternativas e vira e mexe encaro com maior prazer. Imagino o alvo das minhas mágoas e mando ver:

*


* Dane-se Alexandre, se um dia eu te encontrar na praia e você me perguntar vou assumir que estava apaixonada. É isso aí. E não tenho vergonha porque liberei meus sentimentos. Você embora faça mil esportes radicais e sinta-se orgulhoso de sua liberdade, não tem a menor ideia do quanto é limitado. Mas vá pro inferno que eu vou à luta e você tem toda razão, sexo com envolvimento é coisa de mulherzinha. Nossa! Eu adoro ser mulherzinha, é maravilhoso e se puder vou voltar um milhão de vezes deste jeito. Se houver uma forma eu vou querer, nós geramos vida e eu mereço alguém muito melhor pra fazer parte da minha. E agora vou dar um mergulho no mar e me livrar deste peso...Dizem que água salgada tira as mazelas.


Meu nome é Rita, a Dra. Ana é uma ótima médica e é claro que não me deu alta, eu não quero parar a terapia. Alexandre nunca mais foi visto na praia, dou graças à Iemanjá todos os dia. Isto aconteceu há algum tempo e eu estou saindo com um cara bacana, não tem uma ''performance'' tão boa mas me apresenta aos amigos como sua namorada. Já pensei em colocar viagra no suco do Otávio, meu namorado agradável, não tive coragem. Ainda.




Nota: Homenagem ao personagem House que apesar de amar sua parceira levou anos para assumir... Série House.

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Néon


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