quarta-feira, 14 de julho de 2010

Solidão a dois em tempos de crise - Giselle Sato





A crise financeira vem influenciando vários aspectos do cotidiano. Se antes pensávamos em lingerie e jantar a luz de velas, hoje damos trato à bola tentando driblar cobranças e pendências. Até que ponto a relação é forte o suficiente para superar tantas crises? Começa com as contas atrasadas, discussões na hora de checar o cartão de crédito, quem gastou mais e as intermináveis justificativas. O dia se arrasta e a comida desce com tempero de ressentimentos. Finalmente chega a hora de dormir, dividir a cama pode transformar-se em um grande pesadelo.
O casal não consegue desligar o mecanismo da preocupação e o peso das dívidas. O clima romântico não suporta a pressão e o afastamento é natural. Cada qual monta um mosaico de pesos e medidas. Existe o medo de iniciar um diálogo e começar uma briga, o receio de expor sentimentos e ser rechaçado. Muitas mulheres afirmam que problemas financeiros terminaram com a vida sexual. Esta solidão que chega de mansinho e se apossa de vez é cada vez maior. Não serão receitas de sedução que trarão o parceiro de volta.

Dividir preocupações e tentar encontrar soluções juntos é delicado e requer jogo de cintura. Por sua natureza emotiva, normalmente as mulheres esperam demonstrações de carinho como forma de incentivo. Muitas vezes não encontram mais que o silencio que tomam como acusação ou descaso. Pares perfeitos que há bem pouco tempo viviam em perfeita harmonia, hoje em dia andam as turras com a falta de dinheiro. Não há como fingir que a vida segue cor de rosa, é preciso lutar para preservar o ‘’bom do amor’’. O que nos trouxe até o convívio sob o mesmo teto não tem prestações atrasadas nem juros. Talvez esteja perdido em alguma gaveta e com certeza fazia parte do plano inicial.

Carinho não paga mercado nem traz alívio ao coração. Mas como a alma agradece! Um abraço apertado vale muito quando estamos nos sentindo fracassados. Partilhar a falta de palavras custa apenas sentar ao lado e se muito, dar as mãos. Abandonar velhos hábitos como sair com amigos, fazer compras e jantar em bons restaurantes não é fácil. Pode parecer fútil para alguns, no entanto não vamos julgar os valores alheios. No mínimo ouvir sem dar palpite já ajuda muito quem reclama.


Não adianta começar a falar em pensamento positivo e que melhores dias virão para uma pessoa com o especial estourado. É hora de cada um no seu quadrado e aos pouquinhos juntar as peças. Lentamente e com cuidado porque magoar é fácil demais neste momento.
Sexo. Vai existir um instante propício em que a cumplicidade e o carinho vencerão a resistência. Não há libido que supere as preocupações com o desemprego, sobrevivência e expectativas. Nunca houve tantos semblantes preocupados e tristes caminhando aos pares. Cada vez que me deparo com um deles, recordo o desabafo das amigas da velha firma que todos julgavam inquebrável. Pouquíssimas conseguiram manter o casamento. Casais que pareciam existir um para o outro, tornaram-se inimigos por conta da partilha de louças. São tantas histórias, contadas de ângulos diversos... A única certeza é que querendo encontrar soluções sozinhas ou resguardar o companheiro excluímos ajuda. Em ambas as situações, estaremos lutando sem qualquer apoio. O velho chavão: ‘’A união faz a força’’ ainda vale.


Solidão a dois: Momento em que não há mais nada a dizer nem sonhos a compartilhar. A total ausência de esperança, afeto, respeito e amizade. A certeza de dias sombrios em tempos conturbados. E o medo de não saber quando o pesadelo irá terminar.

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