segunda-feira, 6 de abril de 2009

TESTÍCULOS




A vítima estava transtornada. Nem tanto pela dor causada pelo ferimento, mas pela mutilação em si. Olhos esbugalhados, ele contemplava o membro embebido em sangue. A urgência do atendimento não podia aliviar-lhe a angústia nem lhe devolver a auto-estima. O estrago era irreversível.
A equipe médica fez tudo que podia, mas a ausência da parte amputada impedia qualquer possibilidade de recomposição do órgão. Desolado, ele choramingava enquanto os policiais procuravam registrar os fatos ocorridos.

-- Quantos eram? A pergunta soou-lhe fria.
-- Um.
-- Como se deu a abordagem?
-- Ele estava armado! Exasperou-se ao mesmo tempo em que completava, mentalmente, o pensamento, por acaso acha que me ofereci para ser extirpado?
-- Que tipo de arma?
-- Uma pistola.
-- Mas e quanto à faca?
-- Não tinha visto nenhuma até ele a usar.
-- Quanto tempo durou a ação?
-- Como vou saber? Pensa que fiquei cronometrando o serviço do maldito? Desta vez o complemento não foi apenas mental.
-- Estamos apenas cumprindo as normas de praxe. Zangou-se o policial.
-- Veja o estado em que fiquei, como estaria se sentindo em meu lugar?

O policial teve ímpeto de responder com rudez, mas considerou a falta que o órgão representava e relevou o nervosismo da vítima.

-- Deveriam estar à procura deste maníaco.
-- Fazemos o possível, mas nem todas vítimas colaboram.
-- Todas vítimas? Não foi um caso isolado? A surpresa o dominou por completo.
-- Com o seu, já são vinte os casos que nos chegaram ao conhecimento.
-- Vinte mutilações!
-- Poderia descrever o suspeito?
-- É claro!

Uma hora depois a vítima estava sedada e entregue a um sono agitado. Os policiais recolheram as informações e seguiram para a delegacia. Aquelas ocorrências estavam começando a assumir proporções absurdas. Não demoraria para a imprensa dar destaque aos ataques do maníaco.

-- Que tipo de maníaco atacaria desta forma? Indagava um dos policiais para seu parceiro.
-- Não faço a menor idéia. Temos uma hora marcada, com a psiquiatra do Decom, amanhã.
-- Em quem ela poderá nos ajudar?
-- Todos os casos foram passados para ela. Esperamos que possa nos dar algumas informações a respeito do suspeito.
-- Não acredito que ajude muito. Tirando o órgão extirpado, os casos não seguem nenhum padrão de modus operandi.
-- Dá para ficar meio maluco, não é?
-- Os ataques ocorreram em varias regiões da cidade, as vítimas eram das mais variadas idades e classes sociais, as horas não coincidem, a abordagem diferencia em pelo menos um terço dos casos...
-- Podemos levantar algumas hipóteses: um maníaco com compulsão a mutilações, um sectário de alguma ordem satânica, um rito de bruxaria...
-- Um pervertido!
-- É, de modo conciso, trata-se de um pervertido.

As evidências eram poucas e as pastas, contendo as ocorrências, muitas. Desde que o primeiro ataque foi praticado, há menos de três meses, foram vinte registros de mutilação. Todas as vítimas eram homens e sempre o mesmo órgão era objeto da mutilação. Em todos os casos o agressor havia extirpado os testículos das vítimas.
Recluso em um mundo particular e entranhado nas imundices do subsolo, um desfigurado, física e mentalmente, ser manipulava as amostras ovalóides armazenadas em cubas vítreas. O líquido conservante emanava um odor adocicado e enjoativo, mas sua atenção concentrava-se apenas nas amostras. Um riso demente compunha parte de seu semblante.
Mirando o espelho, com olhar de total alienamento, ele dialogava com o reflexo com se visse além da cena que tinha diante de si. Intercalando suas falas com períodos silenciosos como se alguém respondesse ou comentasse suas falas.

-- He, he, he! O riso nervoso denotava seu estado de profunda demência. Testículos! Sei que você vai ficar contente. O som que emitia lembrava mais um grunhido do que o som de produzido por um ser humano.
...
-- Claro que eram homens viris.
...
-- Não se preocupe. Fui cuidadoso. Não deixei pistas.
...
-- O que! Ele quase berrou.
...
-- Está bem, mas não me desafie novamente.

A mente perturbada não conectava a realidade existente. Como se operasse um corpo delicado, ele retirou dois dos testículos contidos em um das cubas, colocou-os sobre a superfície metálica que revestia o tapo da mesa. Um bisturi impecavelmente limpo e afiado seccionou os órgãos com invejável habilidade. Os cortes eram tão precisos que sua indisfarçável demência desaparecia por completo enquanto manipulava o instrumento cirúrgico.
Depois de ter dividido os órgãos, lavou-os cuidadosamente, depositou-os em um outro recipiente metálico, despejou um líquido oleoso até cobri-los por completo. Um pó esbranquiçado foi adicionado à mistura sem que se diluísse.

-- Prefere que os aqueça?
...
-- Está bem, mas eles podem...
...
-- Não precisa repetir!

A vasilha foi levada até uma outra mesa. Coberta por uma velha, porém limpa e ricamente decorada, toalha, tinha talheres e pratos dispostos como se duas pessoas fossem fazer uma refeição íntima.
Calmamente ele sentou-se, virou os pratos, colocou a vasilha no centro da mesa e esperou. Sua mente estava tão distorcida que ele não era capaz de conscientizar-se de ser sua própria vontade que se manifestava quando sua imaginária companhia agia.
Como se fosse a outra persona, ele serviu o prato da companheira, depois, já sendo ele mesmo, serviu-se. A ceia transcorreu como se duas pessoas partilhassem do momento. Nenhum de seus gestos demonstrou que ele tivesse noção de estar só.
Terminado o jantar, a mesa foi tirada, as vasilhas e talheres devidamente lavados, a arrumação comum a todo lar. Tudo realizado por uma única pessoa que acreditava ter a companhia de uma outra.
Mas a mais irracional de suas ações ainda estava para ter lugar. Utilizando toda sua distorcida mente, ele começou a viver uma entrega sexual imaginária. Apalpando o ar, ele entendia estar acariciando o corpo de sua hipotética amante. Jogando os braços para trás, entendia estar sendo abraçado pela mesma amante.
Com movimentos lentos e correografados, tirou as roupas da mulher imaginária, beijou-a repetidas vezes, acariciou-lhe os seios, sugou-os com impetuosos movimentos, prendeu-se em um abraço inflexível.
Em seu delírio, colocou-a sobre a mesa, foi abaixando até tocar sua buceta com a boca. Aquilo que seus sentidos não lhe mostravam era que, na verdade, ele enfiava a boca em uma metade de melão que tinha sobre a mesa. Segurando a fruta como se prendesse a bunda da companheira, atacou-a com sua fúria animal.
Ficou no exercício durante minutos seguidos. Sua demência era tanta que ouvia os gemidos que a amante emitia. Seu frêmito mantinha-o empolgado com as chupadas que dava na desejada buceta. Nenhuma amante era tão espetacular quanto a sua.
Balançando os braços com violência, ele simulou os tremores que dominam o corpo de uma fêmea quando o auge se aproxima. Afundando sua boca no carnudo fruto, viveu o gozo de sua amante. Ao abandonar o semidestruído fruto, sua boca tinha pedaços e sementes do mesmo. Uma gosma escorria de seus lábios.
Sem qualquer constrangimento, como se um louco pudesse sentir algo assim, ele desnudou seu membro, esfregou-o até senti-lo rijo afundando-o no fruto. Assim como havia procedido ao imaginar-se chupando a buceta de sua amante, ele enfiava e retirava o membro do, agora quase destruído, fruto.
Não demorou a que seu gozo vazasse em um espetáculo bizarro.
As mãos melecadas pelo sêmen não lhe causaram nenhum pejo. Seu sorriso demente acentuou-se e seus olhos assumiram um aspecto tresloucado. Como se ainda tivesse muito a fazer, afundou o membro em um outro pedaço do fruto. Agora ele sentia-se sendo chupado pela amante.
Em sua demência, não se deu conta de ter segurado uma das facas dispostas sobre a mesa. A precisão cirúrgica da lâmina fendeu sua carne separando seus testículos do resto do membro.
Olhos esbugalhados pelo efeito da dor e da surpresa, ele olhou para o fruto em suas mãos como se contemplasse o rosto zombeteiro de sua hipotética amante. Desvairado, jogou-o de encontro à parede enquanto esbravejava sem importar-se com o sangue que vazava do ferimento aberto. Em sua alienada realidade, sua amante havia arrancado seus testículos com uma mordida voraz.

-- Sua cadela! Por que arrancou meus bagos? Não lhe trouxe testículos suficientes para sua refeição? Olhe o que me fez! Desgraçada!

O fruto espatifado jazia próximo à parede. Ele aproximou-se tomado pelo ódio que irradiava por seus olhos. Sem nenhuma compaixão, passou a pisotear e golpear o fruto com a mesma arma que arrancara seus testículos.

-- Meretriz ordinária! Como acha que vou poder estancar o sangue que vaza pelo buraco que abriu? Maldita!

Cambaleante, ele tentou deter o sangue com um trapo que estava sobre a mesa. O pano encharcou-se de imediato e o sangue ainda jorrava livre pelo ferimento. A dor e a perda de sangue começava a deixá-lo zonzo. Sua cabeça rodava obrigando-o a sentar-se.

-- Droga, preciso procurar um médico!

Cambaleante, abandonou seu esconderijo avançando trôpego pelas galerias que conduziam a superfície. O caminho era penoso para alguém em perfeitas condições físicas, em seu caso tudo se mostrava muito mais difícil. À muito custo conseguiu ganhar a saída que levava até um dos inúmeros becos da cidade.
Assim que chegou a uma rua mais movimentada, seu estado chamou a atenção dos transeuntes. Não demorou até que um deles solicitasse a presença de uma equipe de socorro.
A viatura de emergência surgiu com a sirene sonante e os pneus troando alto. Enfermeiros e para-médicos abordaram-no com atencioso cuidado. Ao constatarem a natureza do ferimento, informaram uma equipe policial sobre o destino da viatura de emergência.
Mal haviam chegado ao hospital, uma viatura policial estacionou ao lado. O depoimento não poderia ser tomado naquele instante, mas os soldados deveriam permanecer na guarda da mais nova vítima do mutilador de testículos.
Quando, finalmente, os responsáveis pelas investigações puderam abordar a presumível vitima, ele estava branco devido à perda de sangue e ainda zonzo. Seu semblante transtornado devido a seu estado demente foi confundido como sendo resultado do trauma que sofrera.

-- Sabemos que ainda não está em condições de prestar esclarecimentos mais detalhados, mas precisamos de seu relato para as investigações.
-- Tudo bem, posso agüentar.
-- Pôde ver o agressor?
-- Agressora!
-- Uma mulher?
-- E que mulher!
-- O que estava fazendo quando ela o feriu?
-- Estávamos trepando.
-- O que?
-- Aquela vadia desgraçada estava me chupando quando arrancou minhas bolas.
-- Sexo oral?
-- Como podia saber que a cadela ia querer comer minhas bolas?
-- Mas onde está a mulher?
-- Se fui forte o bastante, em algum lugar do subterrâneo da cidade.
-- Forte o bastante?
-- Dei uma lição naquela cadela. Sua cabeça ficou toda esmagada.
-- Você a matou?
-- Foi legitima defesa.
-- Onde, exatamente, está o corpo?
-- Posso levá-los até lá, mas não sei se vão gostar do lugar.

Em nenhum momento a insanidade do indivíduo foi notada. A preocupação, em localizar o maníaco que vinha assombrando os incautos, era muito mais relevante do que a condição traumatizada da última vítima.
A diligência transcorreu sem maiores problemas. Com destreza o homem conduziu os policiais até seu esconderijo. O odor nauseabundo que dominava o ambiente fez muitos deles vomitarem e desejarem não estarem ali.

-- Onde está a mulher?
-- Ali! Caída junto à parede.

O policial seguiu a indicação feita indo até o ponto em que deveria estar o corpo da agressora. Ao observar o local encontrou apenas os destroços daquilo que fora um melão. Nenhum vestígio de sangue ou o corpo de alguma mulher.

-- Não tem corpo algum, aqui.
-- O que? Aquela desgraçada não morreu!
-- Tem certeza de que foi aqui que a deixou?
-- Absoluta!
-- Vasculhem o lugar! Ordenou aos outros policiais.

Uma varredura completa foi realizada nas galerias que circundavam o esconderijo. Como era de se esperar, não encontraram sinal algum que os levasse ao encontro de algum cadáver.
Enquanto eles realizavam as buscas, o demente mantinha-se impávido sentando em uma poltrona. Seus olhos fixos em um ponto qualquer poderiam ser tomados como evidência de sua absoluta alienação da normalidade, mas os policiais entendiam que sua obliteração era resultado do choque que sofrera.
Depois de horas vasculhando cada canto das galerias, a diligência foi suspensa. O insano foi reconduzido ao hospital e não foi mais incomodado por ninguém. Sob cuidados médicos, ele teria um tratamento que deveria ser aplicado a qualquer vítima de um ataque traumático.
Os policiais responsáveis pelas investigações seguiram para o distrito onde estavam lotados para o preenchimentos de seus relatórios. Cansados e desanimados, não conseguiam aceitar o fato de que mais uma vez o agressor havia conseguido escapar.

-- Será que nosso agressor é, mesmo, uma mulher?
-- Não consta de nenhum outro depoimento que tenha ocorrido uma relação entre vítima e agressor.
-- Podemos ter um novo agente?
-- Há algo que não se encaixa no depoimento deste sujeito.
-- Também o achei meio confuso, mas penso que seja efeito da agressão que sofreu.
-- Não sei, não. Todos os ataques anteriores ocorreram nas ruas, este foi praticado em um lugar de difícil acesso. As outras vítimas descrevem o agressor como sendo um homem e nenhum deles foi abordado por atitude que denotasse intenção sexual.
-- Estamos num beco sem saída.
-- Mais um caso sem solução?
-- Não será o primeiro. São tantas ocorrências...
-- Vamos torcer para que não ocorram mais casos.
-- Fazer o que? Se ao menos tivéssemos melhores meios para realizarmos investigações mais detalhadas.
-- Hei, não vamos sonhar acordado.

A resignação dos policiais colocou um ponto final as investigações. Os ataques permaneceriam sem solução e as vítimas teriam que viver com as conseqüências de acordo com as possibilidades de cada uma. Caso um novo ataque fosse realizado, as investigações recomeçariam, mas até lá...
Comodamente instalado no leito hospitalar, o verdadeiro autor das mutilações gozava da segurança que suas vítimas não tiveram. Seu semblante atormentado deveria ser observado mais cuidadosamente, mas os servidores do hospital não estavam interessados em particularidades dos pacientes.

-- Maldita cadela, não perde por esperar! Vai ver só quando eu sair daqui.

Em sua mente perturbada, era apenas uma questão de tempo até que pudesse extravasar sua demência. Talvez não mais mutilando suas vítimas, mas em outra modalidade de psiquismo criminoso. Fosse como fosse, em breve as manchetes policiais seriam decoradas com outra avalanche de suas atrocidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Néon


RockYou FXText

Porno Tube