segunda-feira, 23 de março de 2009

Ultimo Tango em Paris- Resenha






Um homem e uma mulher se encontram por acaso em um apartamento abandonado. Alguns minutos depois estão transando. A partir daí, ficarão se encontrando, nesse mesmo apartamento. Ele se apressa em colocar as regras: jamais devem dizer o próprio nome um para o outro. Ali não têm nome, nem história. No entanto conversam, falam de suas vidas e fazem sexo.

Há momentos de ternura profunda. Mas o clima é sobretudo de desejo carnal, de um erotismo que se degrada em uma abordagem cada vez mais obscena. Há uma sofreguidão entre os dois. Algo mais que um desejo, algo que é da ordem de uma urgência. Ele a possui de todas as maneiras, levando às últimas conseqüências o fazer de uma mulher o seu fetiche. Condição de gozo, o corpo dela é objeto – instrumento para alcançar um gozo último, que extrapole qualquer enquadramento. Como se ele visasse num movimento desesperado, fazer coincidir a morte e o gozo no ato sexual. Fazer explodir o erotismo, num acesso ao que há de melhor e pior, naquilo que é desumano em nós.

Paul é o nome do homem. Um homem cuja vida parece esfacelada diante da morte da mulher. Rose, a mulher que se foi, que quis ir, pondo fim à vida, sem deixar nenhuma explicação. Uma mulher que se vai e deixa um amante como testemunho de apenas mais um mistério. Paul parece viver, entre o luto por essa mulher que decidiu morrer, abandonando-o com seus fantasmas e o encontro com essa mulher que se entrega a ele sem limites, sem questionar nada, apenas se entrega. Jeanne, a jovem com quem ele se encontra, parece encontrar nesse homem, a condição para amar.

Seu amor nasce da devastação a que se vê submetida, por esse Outro, que lhe abusa, ao mesmo tempo em que lhe erotiza. Fisgada por um gozo que lhe ultrapassa.Um amor sem precedentes, que a faz se entregar totalmente,que a faz precisar dele cada vez mais. Quando não está com Paul, Jeanne está com seu namorado cineasta que, apaixonado, busca sempre o melhor enquadre de sua amada. Jeanne brinca de gato e rato com este homem. Seduz, foge, escapa do enquadre, se diverte. É de outra coisa que não o amor do que se trata. Jeanne denuncia algo de que o amor não dá conta.

Bertolucci brinca com os dois extremos: por um lado, um homem apaixonado, feminizado por seu amor, que busca a todo custo enquadrar a amada – temos aqui o amor em sua função de véu, tão bem colocado. O amor enquanto o que vela a inexistência do encontro, dando dignidade ao objeto. Ainda aqui, o amor e suas falhas, o véu e seus buracos – o que vela denuncia em sua função um vazio. Por outro lado, um homem arrasado pela perda de uma mulher, ferido de morte, jogado ele mesmo à condição de objeto, de frente para o buraco, para o sem sentido do desencontro mais radical.
Este homem tem em sua função de “macho” um reduto último, um recurso ao qual faz apelo para não morrer. Ainda que a pulsão de morte dê o tom de seus atos nesse momento, é via eros que ele busca uma salvação.O encontro com a jovem Jeanne, ela própria uma mulher desesperada, constituirá o ninho perfeito para que esses seres solitários arrisquem uma possibilidade. Mas a dessimetria estrutural a nossa condição de humanos marca sua presença, na medida em que chega o amor, ou alguma possibilidade dele.
Enquanto é Jeanne que ama, que se entrega, que se deixa fetichizar, até as raias de uma devastação, tudo bem. Eles podem continuar se encontrando. Há um lugar para isto na vida dela. Um apartamento sujo e abandonado em um canto qualquer da cidade. Como dois seres sem nome. Assim eles podem continuar se encontrando. Mas isto terá um limite.
Há uma angústia que se agudiza, na medida em que o gozo avança, na medida em que o amor comparece com suas exigências. No entanto, o ponto de não retorno é justamente a chegada de Paul em outros termos. É quando ele chega, belo, de terno e gravata, dizendo de si, contando de sua vida, querendo começar do fim, “com amor e tudo o mais”, aí já não é mais possível para Jeanne. Ela já não suporta . Estar com ele enquanto um sujeito, uma mulher amada, isto parece insuportável para ela. Diante dos apelos dele, de sua proximidade, de sua demanda de amor, de sua feminização, a solução é de uma radicalidade chocante. Mesmo aí, nessa radical dessimetria, Paul e Jeanne formam um par.
Liane Barros

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Néon


RockYou FXText

Porno Tube