segunda-feira, 23 de março de 2009

A BOLA SAGRADA- Nina


Esta é uma homenagem a um filho da puta:




Não era uma bola qualquer, era a bola que tocara os pés do atacante Vandercleiverson na última partida da Copa do Mundo de 2010, culminando com a consagração do seu time e de seu país, que nunca levara nada pra casa. Vandercleiverson era o nome da vez, seu passe e, principalmente, seus pés valiam mais que algumas pequenas fortunas acumuladas ao longo de gerações e gerações.Entrementes, do outro lado do mundo, estava alguém cujos pés, mãos, tronco e cabeça já não valiam grande coisa, a não ser, pelo fato de ter dividido a infância paupérrima com o atual astro da bola.

Foi assim, em meio à crise que assolava o mundo, que Edmundo viu seu amigo de pelada nos campos de terra batida consagrar-se campeão mundial e sentiu não só um orgulho pelo parceiro de longa data, como avistou no outro uma saída para seus problemas.Era bem verdade que, na época de Ginásio no subúrbio carioca, onde o astro treinava, longe da família e com parcos recursos, Edmundo resgatava o amigo dos “campos de concentração” e dividia com ele não só alimentos, como tudo que possuía.E assim, de certa feita, o jogador quedou doente, com uma misteriosa doença no tornozelo.

Desenganado pelo médico do time, viu sua vida ruir e determinou-se a largar o mundo incerto dos gramados, mas, Edmundo, além de bancar a consulta, ainda conseguiu a cura para o mal que devastava o amigo.Meses depois, com os pés refeitos, Vandercleiverson era vendido ao exterior como uma cabeça de gado de bom corte e pronta para o abate nos campos, enquanto Edmundo era esquecido em meio à poeira e o acaso da vida- cada um seguiria um caminho na bifurcação do Destino e o resultado só o tempo diria e disse- um ficou cada vez mais pobre e o outro, cada vez mais rico.Relembrando esses fatos esquecidos na Historia, Edmundo ligou para o amigo que o recebeu com pompa e circunstancia e assim, acreditando na propagação da amizade, cruzou o país até o Estado em que o amigo passava as férias.

Durante o caminho, Edmundo pensava na vida: o fracasso no negócio que montara com o dinheiro da única casa que possuía, a mulher que fora embora levando seu filho nos braços, a ordem de despejo e toda ruína que o cercava.Ao chegar na dispare realidade que se abria diante de seus olhos, avistou o amigo jogando bola no gramado da mansão com o filho de seis anos, pensou em seu próprio filho, quando a partida foi interrompida pelo outro que o reconhecera e trocaram um abraço caloroso.Conversaram amenidades sentados sob a grama verde, quando Vandercleiverson iniciou a conversa crucial:

-E a vida como anda?

-Pois é, não anda bem.Vandercleiverson franziu o cenho, conhecia bem os contornos daquela conversa e sabia onde iria acabar.

-Bem, vamos entrar para almoçar.Sentindo-se humilhado e percebendo a mudança na atmosfera que os cercava, Edmundo precisava prosseguir, afinal desperdiçara o dinheiro que seria gasto com as compras de mês para chegar até ali.

-Olha, eu preciso da sua ajuda. Estou arruinado, eu vim até aqui porque sei que você é meu único socorro.

-E em que eu posso te ajudar?

-Preciso de um dinheiro emprestado para recomeçar minha vida.

-Quanto?

-Uns cinqüenta mil Reais.

-Quarenta ajuda?

-Claro.

-Então, vamos almoçar, porque segunda-feira este dinheiro estará na sua conta. Volte para casa em paz.

Sentados à mesa e diante de tanta suntuosidade, a comida não descia na garganta de Edmundo, ao passo que, os olhos de Vandercleiverson estavam distantes; calculavam que a quantia pleiteada representava o dizimo de seu salário, mas, como não possuía nenhuma crença, não pretendia dispor de nenhum centavo do dinheiro que recebia às custas de seus pés refeitos pelo amigo no passado.

Depois de algumas horas, despediram-se e Vandercleiverson fez questão de autografar e dedicar a bola sagrada ao filho do pobre amigo, que a levou orgulhoso no banco do carona de volta para casa, como se retornasse com seu companheiro de infância ao lado.No dia seguinte, em uma conversa informal com outro ícone da bola na atualidade, Vandercleiverson comentou:

-Sabe que ontem recebi um amigo de infância aqui em casa.

-É mesmo e o que ele veio fazer?

-Veja se consegue adivinhar!

-Pedir dinheiro?

-Isso mesmo, cinqüenta mil Reais.

-E você?

-Mandei ele seguir em paz, que arrumaria na segunda-feira!

-E você vai arranjar?

-Claro que não, se eu for dar dinheiro pra todo mundo que me procura, daqui a pouco, eu é que vou ter que tomar emprestado.

-E o que você vai fazer?

-Isso aqui. E jogou o celular na lixeira, ao que outro retrucou:

-Não seria melhor emprestar, você não sabe o que pode acontecer, vai que você perde ainda mais que isso.

-Você não entende, eu não tenho nada a perder, só a ganhar, a vida pra mim é uma vitória.

Na data aprazada, Edmundo iniciou as chamadas infindáveis para o celular do outro, que só emitia a mensagem monótona: “Este número encontra-se desligado ou fora da área de cobertura, por favor, tente mais tarde.”
Depois de um mês de insistências, Edmundo, enfim, entendera o ocorrido e decidiu por fim àquela agonia, sem dinheiro para comprar uma passagem de trem se quer e com um aperto no coração, leiloou a bola que ganhara e conseguiu dinheiro para viajar e ainda comprar um presente para o amigo. Ao avistar o pobre coitado, Vandercleiverson tentou fugir, mas foi impedido pelo grito do amigo.

-Espere, não quero mais seu dinheiro!

-Não?

-Não, eu vim retribuir o presente.

E sacando do revolver, desferiu cinco tiros, acertando minuciosamente um tiro em cada joelho e tornozelo, sendo que, dois tiros foram projetados sobre o tornozelo curado outrora, deixando o astro da bola inerte sobre o gramado.Contudo, antes de dar de ombros, Edmundo mirou os olhos do outro e ainda proferiu:

-Nem eu e nem você. Isso é pra você aprender que todo mundo tem algo a perder
!

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