quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Comportamento inadequado



por Vertigo



Eu não podia deixar de mostrar meu assombro com o que vinha acontecendo. Olhava para a tela do computador e pensava em como dar um fim naquele conto com aquela situação desconfortável martelando minha mente. Conhecia a Paula e sabia que ela não era disso, não era dessas. Ainda que eu também compreendesse suas angústias e destemperos, a vontade que tais sentimentos instigam deve ser reprimida, para o bem da manutenção de algo maior. No caso dela, o matrimônio.


- Eu sei, Jacqueline. Você está certa. Isso não devia ser assim, meu casamento não foi de brincadeira, você, melhor que ninguém, sabe disso, assinou o livro da igreja como testemunha, você foi minha madrinha.

- Pois então, Paula. Antes de mais nada, sou sua amiga e por isso mesmo que te dou esses conselhos. Mesmo que você não estivesse bem com seu marido, eu não aceitaria isso. Não é coisa de mulher direita, de mulher casada.

Paula consentia com minhas ponderações, mas no íntimo eu sabia que sua briga interna entre o que sentia e o que queria parar de sentir não se resolveria com pequenos exemplos de boa conduta, de dizer que quem entra num relacionamento contratual não deve trair. Não é mero ensinamento de etiqueta aprendido na escola, trata-se de caráter, de ética cristã, solidificada em séculos.

- Ele me chamou pra sair de novo, Jacqueline. O problema não é o convite em si, porque do jeito que estou contando aqui parece que foi com poucas palavras. Mas é o jeito como ele faz, como ele me envolve. Tenho estado muito sozinha... ando meio carente.

Paula não completara dois anos de casada, mas de fato estivera poucos meses com o marido sob o mesmo teto. O trabalho do sujeito não permitia que ficasse sem viajar por mais de três semanas. Com longos períodos ausente, sua esposa tentava manter o núcleo familiar imaculado, sem saídas com o pessoal do trabalho, sem diversões extras. Ela é séria e vinha conseguindo. As tentações, Paula deixava por minha conta, que, agindo como uma psicóloga fervorosa, seguia demovendo os possíveis pensamentos volúveis da amiga.

- Você recusou, não é?

Um vácuo revelador bastou para que eu percebesse que minha missão protetora começava a falhar.

- Amiga, não... Acabamos saindo, mas não fomos longe, fomos a um barzinho aqui perto de casa.

- E aí ele te levou em casa depois e ficou nisso, né?

- Mais ou menos isso... quando me trouxe em casa aconteceu. Eu juro que não queria, que virei o rosto, mas aconteceu, a gente se beijou...


* * *



Sei que o que fazia era errado. Que alguém, em algum período da História, estabeleceu que aquilo era algo que afrontava os mais elementares conceitos de boa conduta. Traição, sim, vil e baixa. Mas, eu não estava disposta a servir como pára-raios de todos os males da humanidade. Comportamento inadequado, que grande balela! Ser humano é ser egoísta e perverso desde sempre, e, pra mim, durante aqueles minutos mais do que nunca.

Jairo se esmerava em me satisfazer e só isso bastava para que meu suposto arrependimento se transformasse em depravação, desejo por mais pecado, por mais sacanagem. O caminho trilhado por sua língua já era bem íntimo, cada vez mais indisciplinado e úmido. Por mim, eu ficava ali assim até meu marido voltar de mais uma de suas intermináveis viagens. Não, não... mentira. Eu pararia antes para poder chupar aquele pau também. Não poderia me refutar a retribuir-lhe o prazer. E quanto mais humilhação pro marido, mais o amante gosta. Vê-la chupando seu pau ajoelhada é o apogeu. Nesse caso, mais devasso ainda saber que ela é a melhor amiga da esposa.

O gozo fingia que vinha, mas era suspenso. Não poderia estragar a festa assim. Em nossa primeira vez, ele não suportou a pressão e ejaculou em minha boca. Fiquei puta! Não pelo fato em si, é claro, mas porque não soube esperar. Havia uma surpresa pra ele naquele dia, no dia em que terminaria meu livro de contos. Queria por trás, de quatro. E no fim ele ainda decidiria o que queria de mim afinal. Queria tudo? Só uma parte? E ele deixou a perder no prefácio oral. Agora era diferente, e ele tinha ciência plena. E mais que isso, ele tinha tempo.

Com ele eu gostava de virar puta mesmo. Não havia frescura. E esse sentimento rugia tão forte dentro de mim, que era difícil tentar explicar o que era permitido. Quando ele entendeu que era tudo, largou de ingenuidade e passou a explorar com mais virilidade o que eu lhe estava ofertando. Esse era o nosso terceiro encontro e, certamente, vinha sendo o mais integral, sem pudores, sem receios, sem culpa.

Sedenta, pedia rouca que me invadisse, que fizesse desejasse, o que sempre quis, o que queríamos. Minha buceta o comprimia como se aquele pau fosse mais íntimo do que o do Gilson. E era mesmo, pau grosso e quente, estúpido e faminto. Como era bom aquilo, aquele gosto de ser puta, vadia, uma vagabunda qualquer. Os xingamentos eram mais suaves do que as sensações que faziam meu corpo convulsionar em orgasmos. Um, dois, diversos. Não me prendia em contagem, só queria rola, rola de todas as formas.

Jairo entendia e prendia o gozo para um grand finale ainda mais emocionante. Dilatado ao extremo, com uma cabeçorra quase rachando de tão inchada de sangue concentrado, virou-me de quatro. Anal com meu marido era raro, coisa de mulher certinha, com um comportamento adequado ao ambiente familiar. Diferente do que estava acontecendo agora, que eu queria mesmo ser estragada pelo marido da Paula. A Paula do meu conto, da minha imaginação, que agora ganhava vida legítima, vida como uma chifruda, como nunca desconfiara, mas que sempre fora.

No fim, ele queria aquilo que todo homem quer. É, na realidade, o máximo em perversão, mas com um toque humilhante, que faz toda a diferença. Meu marido não merecia aquilo. “Seu cuzinho é muito mais tesudo que o da Paula”, revelou enquanto experimentava o prazer na sodomia. “Nem meu marido faz assim...”, entreguei, ainda sentindo seu pau invadir pouco a pouco. Os olhos apertados no começo, acreditando que assim a dor sumiria mais rápido. Logo eu era pura vontade. E todas as variáveis envolvidas naquele jogo tornavam meu prazer anal ainda mais forte.


* * *



A tarde caía acinzentada, fria e chuvosa, pedindo um fondue com um bom vinho. Uma transa gostosa e demorada logo após e a noite estaria selada com chave-de-ouro. Tudo estaria perfeito nestas condições, exceto por Paula e seu problema que não me saía da cabeça. Aquilo me intrigava mais do que a situação em si, pois o problema era dela, ainda que eu fosse sua melhor amiga. Eu estava afetada e não queria aceitar. Se não fosse isso, o que explicaria meu pensamento fantasiar de forma tão despudorada enquanto estava com meu marido? Por que o esposo da minha amiga surgia na minha mente em insights totalmente despropositados? Não só aparecia como se situava, jogava conosco o jogo da sedução. Chupar dois paus é coisa que pouca prostituta faz, e eu ali, com aqueles relances diabólicos na cabeça quando estava apenas fazendo amor com o homem da minha vida.

- Oi, Jacqueline, tudo bem?

- Oi, Paula, tudo ótimo.

- Como está o trabalho com o seu livro de contos eróticos?

- Ótimo. Mentiram pra mim dizendo que eu sabia escrever e eu acreditei. Agora estou fechando o último conto e aí vou enviá-lo para revisão. Acho que antes do fim do ano está publicado. Por sinal, esse último está muito quente e psicótico.

- Qual o título?

- "Comportamento inadequado". Título que também dá nome ao livro. Um conto sensual onde o pecado não deveria existir, e que, por se fazer presente, tudo acaba adquirindo um contorno imprório. E quanto mais errado, mais orgânico se torna. É provisório, mas acho que está muito pertinente.

- Essa atitude é tudo o que eu não queria ter.

- Como assim, Paula?

- Não sei bem como definir, Jac, mas acho que não ando bem... emocionalmente, eu quero dizer. Tenho tido um comportamento parecido com esse do título da sua história. Casada com uma pessoa e amando outra... a pessoa errada. Ou eu que sou a errada, sei lá. Você já sabe do que estou falando.

As conversas com a Paula, quando entravam por esse pântano lascivo, ficavam cada vez mais perigosas.

- O que foi, Paula?

Eu sentia que estava absorvendo os problemas da amiga. Para livrá-la deles eu estava quase vivendo-os.

- Saí com ele novamente. E dessa vez rolou mais que beijos.

Ou então, eu estaria com inveja. Sim, esse era o motivo real que eu queria tampar para não assumir. A puta da minha amiga fodia descaradamente com um amigo enquanto o marido viajava a trabalho e eu, naquela de ditar moral e regras de comportamento, sentia, no fundo, uma escrota vontade de estar fazendo o mesmo.

- Você está brincando, Paula.

- Não, Jacqueline, nós transamos e o pior é que gostei. Gostei demais.


* * *



O passeio de suas mãos por meu corpo não era só provocante, erauma sensação que misturava completo engano ao mais sublimetesão. Essa era a raiz da entrega. Ele sabia disso. Também gostava dessa traiçoeira fuga do cotidiano, de manter esse comportamentocondenado pela sociedade. Quem não trai não sabe o que é oorgasmo genuíno, o verdadeiro encontro com a natureza humana.“Mete, isso, mete no meu cuzinho... ele é só seu, você sabe”. “Só meu? E do seu marido, ele também é?”. “Não, seu bobo, só você come, ai... só você... aquele corno vive só da minha promessa... e nem sabe que pra você já é realidade!” Jairo urrava com as minhas palavras. Entravam em seus ouvidos como uma sinfonia doce que, aliada ao entra-e-sai, formavam a pólvora de seu gozo.

“Vadia! Você fode melhor que a Paula! Melhor que qualquer uma que já enrabei!”. “A Paula rebola como eu?”. “Não!”. “Dá o rabo com esse gosto?”. "Não! Tenho que implorar... ela é fresca... você é vadia!”. “E que tipo de comportamento você gosta?”. “O errado, o mais pervertido possível!”. “Filho da puta! Você não vale nada! Isso, mete mais no meu rabo, esfola... isso é o que você quer, não é?”. “É, vadia! Galha no corno do teu marido...”, “...e galha na donzelinha da tua esposa!”. Nossos gritos se completavam quase como estrofes satânicas, versos malditos que harmonizavam entre si, mas queimavam a ética dos bons costumes. A hipocrisia humana ia sendo reuzida a mera fudelança de cú naqueles instantes intermináveis, doces para nós, amargos para quem amávamos.

Ficamos deitados ainda algum tempo refletindo nas nossas atitudes adolescentes, tão gostosas quanto inconseqüentes. Era isso que queríamos? Não, não era. Infelizmente, eu poderia dizer que estávamos bem. Jairo ainda se superava e matinha sua interpretação cínica comigo, que entendia e seguia no mesmo jogo sórdido. Mostrava interesse em meus assuntos particulares para tentar me convencer de que o que mantínhamos era mais que sexo. Era um grande cafajeste, sem dúvida.

- Como vai o livro que você está escrevendo?

Bem lembrado. Não poderia esquecer de reinventar um nome para a minha protagonista.


* * *



- Gostou demais?! Que isso, Pâmela?
Silêncio.

- Gostei, vou dizer que não? Minto pra todo mundo, menos pra você. Sei que você não vai me chamar de puta, que vai entender meu problema.

- Foi rápido, só para matar a vontade, né? – desejava imensamente que menos coisas tivessem ocorrido. Eu me corroía de ciúmes, de inveja, de vontade de dar também. Porra! Que merda é a vida. Uma putinha dondoca que não conhece nada de nada e já se entrega a um amante. E eu escrevendo contos eróticos para entreter burguesinhas mal amadas.

- Fizemos oral. Senti o que nunca sentira antes. Foi mágico. Ele nem chegou a pedir, mas eu desci e chupei o pau dele... deu um arrepio quando aconteceu isso. Nunca tinha feito isso em outro homem. Ele vibrou, não me deixava parar. Ajoelhei e fiz como uma donzela que perde os pudores. Essas são mais vagabundas que as putas de berço.

- Ah, essa não, Pâmela... você chupou o pau do cara?! Nunca se faz isso com um amante! Você já errou em dar pra ele, mas isso é demais. Uma coisa tão íntima...
Decepção. Quando a mulher se predispõe a isso, é o fim. Como elairia olhar novamente para seu marido? Com aquele gosto de porra de outro na boca...

- Você é uma amiga muito pura, Jacqueline. Vou parar de contar as merdas que tenho feito. Estou envergonhada. Acho que não dá para falar sobre isso com ninguém, muito menos contigo. Estou péssima... aquela não era eu. Esse não é meu comportamento. Não resisti aos meus instintos e agora vou viver com a culpa.

- Comportamento inadequado, Pâmela. Isso não combina contigo. Isso é só o título de um livro, de um conto erótico. Coisa feia. Você é casada! Pense nisso, no que os outros vão falar. Ou é pedir muito?

- Sei disso... mas não resisti. Acho que por isso mesmo. Por ter tido esse comportamento adequado por toda minha adolescência... namoro na sala, comportada... acho que me libertei. Preciso de tempo.

Eu estava incrédula. Não havia o que dizer. “Chupei o pau dele, sim”. Aquelas palavras feriam minha mente. A verdade é que eu estava corroída de inveja e angústia por não viver sua libertinagem. “Agora ele me quer por inteira. Meu marido quis e eu não dei. Ele vai ter que suar para comer minha bundinha. Mas, no fim, tudo acaba da forma como eu quero!” Seu comportamento inadequado havia quebrado a barreira do normal e ela agora estava mais convicta do que nunca sobre o rumo de sua vida. “Vigorosa sessão de sexo anal com o amante, sem juízo e sem arrependimento! Não adianta lição de moral, Jacqueline, porque é isso que vai fazer seu livro vender como nunca.” Não havia mais argumentos. Eu não tinha mais o que fazer a não ser viver o delírio daqueles dois mundos distintos, o meu e o dela, que agora se entrelaçavam. Olhei para a tela do computador e vi o cursor piscando na última linha pedindo definição.

- Vou ter que deligar, Jac. O Jairo acabou de chegar e agora já não sei como vou encontrar coragem para encará-lo.


* * *



Ficou bom. Só não poderia me esquecer de trocar esse nome também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Néon


RockYou FXText

Porno Tube