domingo, 2 de novembro de 2008

Freddy, o elefante por Carlinhos Barros- Escritor convidado


Freddy, o elefante por Carlinhos Barros- Escritor convidado

Freddy, o Elefante
Por Carlinhos Barros


Não era a primeira vez que o elefante Freddy ia à Casa da Árvore Drink’s. Sempre que brigava com a esposa, ia à boate para relaxar. Desta vez, chegou enfurecido.
– Aquela vaca não dá valor ao marido que tem! – disse ao balconista.
– De novo a esposa, Freddy?
– Trabalho o dia inteiro para chegar em casa e ouvir aquela tetas caídas buzinar nos meus ouvidos! Tenha dó, meu amigo!
– As vacas são assim, companheiro. Passam a vida pastando, quietinhas. Quando casam... querem falar tudo o que não falaram. E quem sofre são os maridos! Mas, veja pelo lado bom, ao menos você tem quatro tetas para usufruir – disse rindo, enquanto enchia o copo do elefante.
– Não me venha com suas ironias – virou o copo numa única golada.
– Elefante e vaca não combinam, Freddy. Já te disse isso.
– Deixa de bobagem e faça seu serviço – apontou para o copo vazio. – E a Tutinha, está aí hoje?
– Sim, senhor – falou e riu, maliciosamente, o balconista. – Quer que eu a chame?
– Não, não. Só avise que estou por aqui e que vou querer serviço completo hoje.
Freddy pegou seu copo e saiu vagando à procura dos amigos. O balconista até que era um bom companheiro, mas o elefante não gostava muito dos homens. Para ele, humanos só serviam para uma coisa: sexo.
Andou pelo grande salão observando a todos. A Casa da Árvore sempre lhe pareceu um lugar misterioso e acolhedor. Adorava estar ali, na penumbra daquele ambiente. Tudo lhe era agradável: os vaga-lumes responsáveis pela pouca iluminação, os animais freqüentadores, as mulheres bailarinas, a banda de jacarés, as garçonetes avestruzes. Ali, Freddy sentia-se em casa.
Dentre os presentes, o elefante não viu nenhum que trouxesse uma verdadeira conversa de amigos. Voltou ao balcão.
– Mudei de idéia. Fala para a Tutinha que estou esperando no quarto de sempre – disse Freddy. – E peça para levar tudo o que tem direito – deu um sorriso de satisfação e virou-lhe as costas.
Atrás do balcão, o homem, intrigado, via Freddy afastar-se e tinha a impressão de que suas grandes nádegas rebolavam mais do que o normal. Depois da intrigante cena, mandou chamar Tutinha, a prostituta preferida do elefante.

***

– Isso, assim... – disse Freddy, ofegante.
– Você gosta? – perguntou a mulher.
– Ai... muito... Na orelhinha, agora, minha Tutinha. Na orelhinha...
– Vou morder ela toda, meu gostoso!
– Morde! Morde, sim! Aí, isso, bem aí... Ai... Agora a tromba, a tromba, meu anjo...
– Hum... pode deixar – falou Tutinha, com volúpia.
Segurou a tromba com firmeza e, enquanto beijava-a toda, dizia, intercalando beijinhos e palavras:
– Sabe o que eu mais gosto nela? São esses pelinhos. É tão sensual... – a moça ia e vinha, falando e beijando.
– Ela é todinha sua, todinha!
– E essa sua bundona gostosa, de quem é? – perguntou Tutinha, fingindo-se carrasca.
– Sua, sua! De mais ninguém! – respondeu Freddy, bancando-se indefeso. – Morde ela, bate nela! Vai, forte!
Tutinha mordia e dava palmadas violentas, mas o elefante, ainda vestido, parecia não sentir muito. A moça pegou uma espécie de raquete de madeira. Começou a golpear-lhe as nádegas.
– Toma, seu gordinho safado! É disso que você gosta, não é?
– Sim! Sim! Mais forte, benzinho, mais forte!
– Que tal se a gente tirar esta sua roupinha, agora, para ficar mais gostoso?
Freddy levantou-se extasiado da enorme cama “Big King Triple Size”. Iniciou uma dança com extrema desenvoltura. Ia fazer um streap-tease. Tutinha enconrajou-o, simulando, com a voz, as notas de uma música sensual.
O dançarino girava e pulava. A cada salto, o chão estremecia e Tutinha vibrava com “hipes" e “hurras”. Não demorou muito, Freddy, triunfante, apresentou-se de roupas íntimas: um conjunto de couro vermelho de calcinha e sutiã.
– Ah! Que menino sapeca! – brincou Tutinha. – Está lindo, lindo! Desta vez você caprichou, meu fofinho. Acho até que vou te presentear com um brinquedinho novo que arrumei...
– E o que é, minha Tututi? – perguntou, ansioso, o elefante.
A moça foi até o armário e voltou com um objeto fálico, grande e brilhante. Freddy emitiu um ruído estranho, como quem está sem ar. Falou com voz aguda:
– Menina! Que que é isso?
– Algo muito especial. É mágico...
– Mágico? Como assim? – entortou a cara Freddy.
– Preste bem atenção.
A moça segurou o objeto pela base e falou um “ai” bem prolongado. Na medida em que o “ai” se estendia, também crescia o objeto na mão de Tutinha. Depois falou um “ui”, também prolongado, que causou o efeito contrário, fazendo o objeto voltar ao seu tamanho normal.
– Minha Mãe-Natureza! Onde você arrumou isto? – perguntou, espantado, Freddy.
– Um mágico nunca revela seus segredos, meu docinho.

***

Quando a vaca louca entrou na Casa da Árvore, não teve quem a segurasse. Só se ouviu alguém gritar: “É a mulher do Freddy!”
– A senhora não pode entrar assim! – repreendeu-a o balconista.
– Vem me impedir, seu homem-estrume. Eu já sei de tudo! Vou pegar aquele elefante bicha agora! – vociferou a vaca.
Em poucos instantes, já estava diante da porta do quarto. Ouviu a voz do marido em longos gemidos:
– Ai, ui, ai, ui, ai, ui...
Enfurecida, levou a porta abaixo feito o mais violento dos touros.
– Sua bicha louca dos infernos! Eu vou te matar! – e mordeu com toda força a tromba do marido.
– Ai! – Freddy deu um berro alto e estendido.
Não houve tempo de salvar o elefante. O objeto mágico cresceu de tal forma que penetrou fundo no bicho, rasgando entranhas e órgãos.
Tutinha gritou em desespero. Fugiu para um canto, apavorada.
A esposa de Freddy viu o sangue escorrer da boca e da tromba do marido. Não entendeu bem o que aconteceu, mas notou que estava morto.
– É isso que você merece por me enganar todos esses anos! Como pude me casar com um elefante gay? Devia é ter seguido os conselhos de minha mãe e arrumado um touro mesmo! Mais vale um touro chifrudo do que um forte elefante gay! Adeus, seu infeliz...
E, feito vaca louca como entrou, virou as costas e foi embora. Nunca mais a viram.



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