quinta-feira, 20 de março de 2008

Pit-boys amam travestis

A fumaça azul serpenteava entre as folhas da vegetação; abrigávamos-nos dos respingos da queda d´água do Poço Azul. O baseado quase no fim entre os lábios da minha mulher, como o dia que se encerrava atrás das montanhas da Chapada Imperial. Poucas pessoas restavam. Passar o domingo em cachoeiras era diversão comum dos brasilienses. De repente, um grito:
- assalto!
Dois sujeitos com capuzes negros surgiram empunhando canivetes. Recolheram minha mochila e as botas de caminhada da patroa; eu usava havaiana. Correram em direção aos outros grupos e os assaltaram também.
– vai deixar barato? Tu não é o poderoso Mão Branca? – Caçoou minha esposa. Tá mais para Mão Branda!
Resmunguei um palavrão e continuei perseguindo com os olhos a ação dos bandidos. Eram jovens, malhados, com tatuagens bem feitas e linguajar correto. Certamente não eram malas de periferia.
Atacaram um Peugeot 206. Rapidamente estavam fugindo do local com o carro.
- seqüestraram o motorista! – Falou alguém. – vamos à delegacia.
Puxei minha mulher.
- veja! – Mostrei a chave reserva que sempre guardava no pára-choque do meu carro. – vamos embora. – Virei-me para o grupo de assaltados. – alguém anotou a placa?
Eles se entreolharam ranzinzas. Ficaram tão apavorados com o assalto que nem atentaram para os detalhes que diferenciam os sobreviventes dos enjeitados.
- a gente se encontra na delegacia... – Gritei pela janela. - ... no dia do fim do mundo. – Completei intimamente.
Voltei para casa. Nem pensei em perseguir o carro dos assaltantes, eu tinha decorado a placa. No caminho, discursei.
- entenda: reagir é perigoso. Se não tiver plena capacidade para finalizar prontamente o ataque, é melhor nem tentar. O bandido se assusta e faz besteira. Aliás, foi uma sandice este roubo. Qual foi o lucro? Mochilas e sapatos? – Bufei. - reconheci os idiotas, eles passaram o dia inteiro bebendo na cachoeira. Meteram o assalto pois se consideraram impunes. Até foi um bom plano: esperaram o início da noite, rapelaram num arrastão os últimos banhistas, depois fingiram que seqüestravam o motorista do Peugeot e foram embora. Mas, oras, quem vai para uma cachoeira à pé? Ninguém, é claro. O motorista fazia parte do bando. Eles apenas simularam o seqüestro para fugirem de carro sem levantarem suspeitas.
A patroa se surpreendeu. No dia seguinte, a nota no jornal a irritou.
- a polícia continua esperando notícias sobre o Peugeot seqüestrado. Nunca imaginarão que os donos do carro são os próprios viadinhos que nos assaltaram.
- viadinhos?
- claro. Você não notou que eles depilavam o corpo?
“Não”, pensei, mas a informação catalisou o plano que eu tentava conceber. Como um novelo sendo desenrolado, bolei meus próximos passos para cumprir a vingança. Devo ter feito uma expressão demoníaca.
- você vai matá-los? – Ela perguntou, a voz levemente trêmula.
- sim, mas de vergonha! – Rangi entre-dentes e logo abri meu sorriso mais sacana: - vou oferecer sexo e publicidade aos rapazes!
Liguei para Soninha Tarja Preta, um travesti que ajudei certa vez. Ela estava sendo perseguida por um cliente ciumento. O cara até se dispusera a financiá-la, mas, como todo puto, Soninha preferia a vida burlesca. Resolvi o imbróglio levando o sujeito para uma orgia no Parque da Cidade. Foderam tanto seu rabo que decidiu retornar às mulheres por um tempo.
- preciso de sua ajuda.
- o que quiser, gostosão.
- vou dar uma lição nuns pit-boys.
- sou toda sua, gostosão.
- consegue umas amigas bem taradas?
- o que quiser, gostosão. – Pela terceira vez ela enfatizou o “gostosão”. Fazia isso pois sabia que minha mulher se enciumava com essas intimidades. Gostava de provocar, de perverter, não acreditava em heterossexualidade.
- soninha.
- sim? – A voz estava divertida. Ela sabia que seria repreendida.
- não me chame de gostosão.
- certo. – Ouvi uma respiração profunda. – gostosão. – Ela gostava de ser maltratada para sentir-se como uma vagabunda de malandro. Coisa de putos.
Liguei, então, para o dono da boate Star Night, que eu também ajudara livrando da fiscalização do governo, simplesmente fotografando e chantageando um ministro do STJ que dera uma escapulida para aquela “casa da luz vermelha”.
- preciso de três convites com tudo pago.
- vai passar outra noite com os amigos? – Quase senti o sorriso na pergunta.
- não desta vez.
Consegui o endereço do dono do Peugeot acessando o sistema do Detran; eu usava o perfil falso que comprei de um funcionário. Era na Asa Sul. Passei os dias seguintes numa campana ao apartamento do sujeito, para descobrir seus comparsas e suas rotinas. Os baseados e os livros de ficção me mantinham acordado enquanto me corroia o tédio durante as longas esperas no carro.
Os três sacanas eram filhinhos de papai, estudantes do nível superior, donos de carros e com dinheiro no bolso. Por hobbie, roubavam sons automotivos na faculdade em troca de drogas. Nada contra elas, pelo contrário, mas sempre desprezei o uso dado ao lucro do narcotráfico: armas e organizações criminosas.
Estavam sempre juntos, ora na gandaia, ora nas academias de malhação. Toda noite se encontravam no Uniceub para fumar crack e cantar as patricinhas. Arrumaram duas ou três brigas durante os poucos dias em que os espionei. Eram bons de luta, usavam de capoeira e jiu-jitsu a krav magá. Agradeci à minha covardia por não ter reagido quando nos pegaram na cachoeira. Eu teria sido trucidado. Nunca fui bom em brigas, não havia tempo para analisar todas as possibilidades antes de cada golpe, como eu gostava de fazer sempre que preparava emboscadas. Além do mais, nunca gostei daquela agarração durante os treinamentos, me parecia suspeito, meio boiola.
Estabeleci a meta e pus em prática a segunda etapa.
Mandei cartas para os safados, convidando-os para uma noite gratuita na boate por conta da promoção de uma empresa que telefonia qualquer. O papo era furado mas eles certamente arriscariam, eram canalhas aproveitadores. Comprei metanfetaminas e barbitúricos com meu traficante particular. Soninha reservou duas suítes no Manhattan Flat. Daí para frente foi fácil.
Os rapazes chegaram ruidosos, já embalados em alguma química. Eu torcia para que fosse cocaína, economizaria minhas drogas. Beberam uns uísques, assistiram shows de garotas peladas e se esfregaram em várias prostitutas que perambulavam no salão. Soninha me cutucou e eu permiti que ela servisse as doses batizadas com ecstasys. Rapidamente a droga sintética os descontrolou, transformando-os em animais excitados.
Sem perder tempo, Soninha e as amigas atacaram os rapazes na balbúrdia. Foi fácil enganá-los; os travestis fingiam-se de putas, o Nembutal que colocamos nas bebidas diminuía a acuidade visual além de ser anestésico. Cantaram, beberam e dançaram. Percebi que era hora de sairmos dali quando um dos rapazes tentou abaixar as calças. Fomos todos para o hotel. Eu fiquei no quarto ao lado, esperando o momento combinado.
Meu celular tocou. Entrei sorrateiro; a câmera fotográfica em punho. A cena inicial era espantosa: Soninha, nua, acariciava os próprios peitos enquanto estocava o pau duro na boca de um dos rapazes, que estava empinado e era enrabado por um travesti. Outro rapaz rebolava no colo de uma bicha de seios e piroca enormes. Ele gemia e beijava o amigo com habilidade, parecia sentir prazer na curra.
Fiz várias fotos. Os travestis continuaram empurrando êxtases e anfetaminas aos rapazes. Suas evidentes excitações deslumbravam os putos, mesmo sabendo que eram causadas pelas drogas. Foi esta a promessa de Soninha às amigas: uma noite para se refestelar com três pit-boys alucinados. Cumpriam voluptuosamente o acordo.
Foi nauseante: seios falsos chupados por bocas masculinas; rostos barbados lambendo bundas cabeludas; pênis duros e moles manipulados, acariciados e abocanhados por corpos de homens. O cheiro de suor repleto de testosterona lembrava um vestiário de operários. Os gemidos, graves e doloridos, pareciam vindos de um matadouro de porcos. As expressões, contudo, eram quase de prazer, revelavam satisfação nos atos quase brutais, mas, também injustiça e sentimento de violação, pois os rapazes tinham os rabos penetrados muito mais vezes do que conseguiam alguma carícia nos próprios paus. Filmei algumas gozadas nas bocas, uns tapas nas ancas e até um bandidinho chorando de satisfação pois achou que tinha gozado pelo cu; chegou a ejacular durante os espasmos. Uma viadice inacreditável!
- Soninha. – Chamei. Ela acochambrava meio sonolenta um dos rapazes. Acho que ainda estava dentro dele. – o que fez para eles gostarem tanto desta putaria homossexual?
A voz estava pastosa:
- gastei todo o MDMA que você me deu. É a droga do amor! Né, amor? – Empurrou a pélvis mais para junto do rapaz, que cerrou os olhos lacrimejantes. Soninha também tinha um pau enorme.
Deixamos os rapazes dormindo no hotel. Eles que se encarregassem da conta. Só a garrafa de uísque que eu quase matei assistindo ao bacanal – afinal, eu não conseguiria fotografar aquelas esquisitices sem beber - já custaria uma grana preta. Agradeci a Soninha e às amigas.
- Disponha. – Ela disse, dobrando os joelhos e segurando uma saia imaginária. Sempre que fazia isso eu tinha vontade de chutar sua bunda arrombada. Ela provocava sempre que podia.
Publiquei as fotos na Internet, no blog www.playboys-amam-travestis.blogspot.com . Fiz uma faixa de 50cm por 5 metros com o endereço e a pendurei perto do retorno, no canteiro do Eixão, que levava às quadras dos rapazes. O acesso foi pequeno, porém específico. Algum pilantra acessou as imagens, reconheceu os pitboys e divulgou entre os conhecidos. De boca em boca a informação chegou a pais, amigos e namoradas. Sei de alguns que não gostaram do que viram, a decepção foi amarga. Sei também de um rapaz que se viu no blog e adorou, até procurando a amiga de Soninha para um relacionamento mais sério e duradouro. A amiga, que preferia a vida depravada, recusou o namoro. O rapaz ficou mais desolado com o fora da bicha do que com a desilusão da família. Coisa de putos.
- não disse que eram viadinhos! – Falou minha mulher, analisando as fotos do bacanal.
- hehehe. – Eu dichavava um camarão de Skunk para comemorar a missão bem sucedida. – se não eram, se tornaram! – Lambi a margem do papel assim que acabei de enrolar o cigarro. – o curioso é que eles depilavam todos os pêlos do corpo, menos do saco e da bunda.
Ela sorriu. Pegou o baseado aceso e deu uma tragada profunda. Falou enquanto prendia a fumaça no pulmão, entre tosses e soluços:
- que frescos... sabe, pitboys e travestis se parecem: são vaidosos e vestem-se na moda; passam o dia agarrados a homens em treinamentos ou em salões de beleza; usam gel nos cabelos; são irritadiços e antipáticos; causam repulsa por conta de orelhas de repolho ou de bochechas siliconadas... – Parou o discurso com a visão etérea. – e o mais engraçado: ambos fazem o “contorno”.

3 comentários:

Néon


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