quinta-feira, 13 de março de 2008

ED & o Estranho da Estação

Da janela do velho trem pareceu-lhe chuva ácida em tons azulados, mas não era. Era chuva de verão, daquelas que vêm em dia morno de fevereiro. Em breve teria que descer do trem... e se ainda chovesse? Nem ligaria, seguiria até a praia e no caminho sairia chutando as poças de água parada... e quando chegasse mergulharia numa fúria de Poseidon. Seria água de sólida liquidez... de liquidez solícita. Seria mole e de mil tons, seria de sal marinho e maresia. Enlaçado por esses devaneios, Everton Dellahua nem se deu conta que o trem havia parado. Continuava chovendo, uns pingos finos como os alfinetes das modistas da Maison Genet e Everton ainda tinha na cabeça a vontade de ir até a praia e se jogar nas ondas nervosas do mar. Sentiu então, nesse momento, uma respiração muito próxima de sua nuca. Virou-se, e com a languidez que lhe marcava bem a alma, encontrou os olhos que o levaria a perdição. Perdeu a própria respiração enquanto tentava desvendar numa fração do minuto os mistérios daquele olhar lascivo... perturbador. O rosto que emoldurava tal olhar era de homem vigorosamente forte. Forte não de músculos evidentes, sua força vinha do desejo que havia nos seus olhos. Nunca o vira por ali, e, vejam, Everton conhecia todos nas redondezas, senão de íntima intimidade, certamente de já ter visto passando. Na seqüência nada disseram, o estranho deu a entender que apanhava algo que caíra, fazendo-o se aproximar daquela forma sorrateira para logo depois se afastar de Dellahua. Everton, depois de tal insight erótico, sai resignadamente da estação. Na rua, a chuva dava-lhe uma sensação de dolorido prazer com seus pingos de alfinete. Uma água gelada que fustigava a derme e que ao invés de apagar as quenturas da alma de Everton, que a essas alturas já era de torpores gozodérmicos, atiçava-o ainda mais, fazendo com que nem percebesse que estava sendo seguido pelo estranho de ardiloso olhar. Chegando à praia, lançou-se em direção às ondas e num mergulho audaz e determinado, submergiu nas águas inquietas daquele mar. Um mergulho sem culpa que dilacerava com lirismo a trajetória da onda... e lá no fundo: areia branca, solta, cristalizada no fundo da ampulheta marinha. Quando voltou a si e à tona, viu o estranho da estação surgir, quase ao seu lado, como um monstro mítico das abissais profundezas oceânicas. Não houve transição, Everton pulou do susto para cair no desejo quando viu os pêlos negros do estranho dançarem ao ritmo do vento naquele corpo moreno, enquanto o outro mirava-o sem pudor. E por instantes eles permaneceram assim, a se olharem, a se medirem... E o mar, conspirando num movimento mole e contínuo, uni-os com lubricidade pueril e o desejo agora era toque de pele, de algas carnívoras boiando na água de ondulações indômitas. E assim, querendo-se, se beberam... e foram fome fágica, e em golfadas bestiais foram gozos espasmáticos e luxúria convulsiva. Depois se lavaram onde a onda quebra e seguiram por caminhos opostos. Everton foi para casa envolto num campo magnético que lhe dava choques na aura... e o estranho? Do estranho saber-se-ia...


Após exatos sete dias, Everton Dellahua ainda era frisson do gozo tido quando viu estampado numa página policial, sem tarja nenhuma, os olhos que lhe mostraram o caminho para tanto prazer naquela manhã de delírios e devassidão supremos. O estranho da estação chamava-se Lúcio Lobo dos santos, era soropositivo e estava sendo procurado por, de perverso propósito, contaminar incautos desavisados pelas praias no nordeste brasileiro.


I ♥ SEX
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7 comentários:

  1. Trágico! Mas esse final foi supreendente!

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  2. Já havia lido. Muito bom. Homossexualismo masculino é raro de se ler, assim escrito com tamanho bom gosto.

    Parabéns.

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  3. A temática não me atrai. Mas o conto em sí, tá muito bom! Parabéns.

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  4. Bem escrito e elegante. Alguns temas são complicados de relatar sem cair na vulgaridade merecem um cuidado especial.
    Parabéns.

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  5. Texto muito bem escrito, permeado de lirismo homoerótico.

    O final, apesar de meio, digamos, batido, muda completamente o rumo do conto, tornando-o - o final - bastante interessante.

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Néon


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