quarta-feira, 16 de julho de 2008

Vênus, A Professora de Literatura

Minha vida parecia um poço sem fundo. Solidão e mistério.

Depois de muita aporrinhação e dois anos na fila de espera, consegui ingressar no supletivo da melhor escola estadual da cidade. Na verdade, eu nunca tive saco pra estudar.

Larguei a escola com 15 anos, sempre preferi cabular aula, fumar maconha, jogar bola, videogame e me meter em campeonato de punheta com meu amigo Rubão.
Naquela altura eu era um garoto de vinte anos entrando novamente no ensino médio, trabalhando em um café, colecionando revistas caras sobre carros e uma imensa vontade de gozar a vida, mas com mais tesão de me jogar no poço pra brincar com os monstros.

No primeiro dia de aula me senti transtornado. Naquela época parecia haver uma barreira entre eu e as garotas da minha idade, meu amigo Rubão se mandara para a Inglaterra e a maconha não dava mais barato.È, eu estava triste e me faltava um pedaço. As forças que regiam a minha vida não estavam turbinadas o suficiente. Eu tinha vontade de chorar as dores do mundo, porque as minhas eu não conhecia. Mas acho que eu estava seco como o deserto.

-Paulo meu filho você anda cabisbaixo, não ta gostando da escola?Acho que você precisa de uma namoradinha sabe.

Eu andava sentindo raiva de tudo, com vontade de explodir bancos, me aliar a facções terroristas e minha mãe falava demais.

No quarto dia de aula eu já pensava em abandonar a escola e ainda não tinha sequer o nome de ninguém na cabeça.

Uma ira das risadinhas e falatório geral tomara conta de mim quando uma espécie de Vênus adentrou aquela sala imunda.
Meus olhos, meu grito fora engolido e era como se ela tivesse me engravidado.

Eu,o homem grávido do grito de Vênus.

Ela parecia ter lá seus trinta e cinco anos, as formas bem distribuídas, os cabelos caindo exatamente na bunda. De longe eu sentia o perfume das coisas que não podem ser, da imortalidade, da crucificação de um homem. Eu estava condenado para toda a eternidade e sabia disso. Meu primeiro impulso, foi o de querer matá-la para me livrar da condenação e o segundo de possuí-la. Pedi licença e me retirei da sala. No pátio vazio, esmurrei as paredes e falei a linguagem dos anjos.

Não voltei para sala e não dormi naquela noite, sonhei acordado com a professora a noite toda, Vênus me chicoteando, me lambendo. No dia seguinte trabalhei feito um robô. Estava descerebrado e tenso. Queimei minha colega com leite e vi o paraíso demente no fundo dos olhos dela.

Na escola tratei de fazer amizades com segundas intenções. Descobri que a professora chamava-se Lúcia e que dava aula de literatura duas vezes por semana.

No dia seguinte teríamos outra aula dela e assim passei mais uma noite sem dormir, embalsamado no perfume da maldição.

No trabalho meus colegas mostraram-se preocupados e irritados com minha desatenção e ar mórbido. Eu não ligava. Afinal eu estava em um tipo de coma ou hipnose. Ou grávido de Vênus.

Pedi para sair mais cedo do trabalho e devido minha cara de moribundo consegui o que queria. Fui para casa, tomei banho demorado, coloquei uma das minhas melhores roupas e passei até perfume, coisa que nunca faço. Minha mãe questionou minha sexualidade, ri sarcasticamente, dei-lhe um beijo e a mandei tomar no cu.

Na aula da professora Lúcia, eu estava protegido da minha raiva pela mesquinharia do mundo, fechado na concha e condenado por aquela mulher perigosa.
Era um conflito terrível e delicioso. No meu colo eu mantinha um caderno para evitar qualquer constrangimento. Ela recitava poesias e sua voz rouca me deixava louco. No meu mundo paralelo, eu me via sugando seus peitos e colocando as mãos por debaixo de sua saia, até atingir o sexo que me estava tirando o sono. Eu não o conhecia, mas sua umidade já era minha e me encharcava o espírito. Enquanto ela declamava aqueles poemas do tal Manuel Bandeira, delirante, escutei alguém sussurrar “gostosa” e foi mais forte do que eu. Atirei uma cadeira na direção da cabeça do desgraçado. Como ele ousara interromper meu ritual?

Fui parar na diretoria e a o caso foi resolvido da seguinte forma: como a cadeira não acertou o infeliz eu estaria suspenso por uma semana. Meu coração partido e minha fúria me levaram para casa feito uma carruagem. Uma semana sem Lúcia. Um doente sem sua medicação, viciado sem ópio.

Por causa de minha musa eu resolvera adquirir alguns livros de poesia. E certa noite, com alguma dificuldade de concentração eu lia um livro de um poeta que me parecia entender a paixão e muitas coisas mais. Estava sentado na mesa do café, tomando chá gelado, quando aquele perfume me enforcou. Era ela.Tentei me esconder atrás do livro, mas isto só piorou as coisas.

Lúcia veio até minha mesa, comentou o incidente, perguntou meu nome e mostrou-se encantada com o livro.

-Ora, gosta de poesia então. Que coisa intrigante, pelo jeito sua paixão não se estende somente à violência.

Depois se mostrou extremamente desconcertada com seu próprio comentário.
Por alguns momentos lembrei de um comentário do pai do Rubão que me dizia para andar “armado” com um livro de poesia, isto arrastaria qualquer putinha acadêmica, das mais fogosas.
Aquele pensamento me trouxera tristeza, pois a professorinha já não parecia tão pura assim. Por outro lado o sangue borbulhou na cabeça e eu estava pronto para tomá-la encima da mesa do café.
-Bem, é tarde,hoje estou de folga,só vim comprar uma revista,vou para casa.

-Sabe professora, é muito perigoso por aqui neste horário,outro dia estupraram uma moça nestas bandas, menti.

-Sério?Ai meu Deus!

-Se a senhora permitisse, gostaria muito de acompanhá-la. Pelo menos parte do caminho.

- Tudo bem, vamos lá então.

Eu estava extasiado. Cada passo ao lado daquela mulher, com aquele fogo e perfume me tiravam a alma do corpo. Ela parecia tão completa e intensa. Tão minha. Não pude mais agüentar, rompi numa crise terrível de choro. Aquilo estava preso por tanto tempo. Lúcia extirpara uma espécie de câncer do meu espírito e as brasas do desejo me queimavam a face.

-O que há Paulo?

-Há você Vênus, me tirando o sono, me salvando do imundo, me danando a alma...

-O que?

-Chega, não posso mais!

Num ímpeto desmedido eu a beijei. Para minha surpresa aquela boca doce e aquela língua de seda me acolheram por completo. Estávamos perto de um beco e fomos nos arrastando desesperados e finalmente minha mão conheceu seu destino maior. Toquei de leve no sexo dela que recuou, pediu que parasse, mas seu corpo se abriu completamente para meus dedos. Logo eu estava brincando com minha mão na bucetinha mais quente, e fechada que pude experimentar na vida. Aquele cheiro parecia dominar toda a rua e despertar os corações. Ela estava cada vez mais molhada e aquilo para mim se chamava felicidade.
Uma febre. Eu queria arrancar suas roupas e possuí-la na rua. Ela parecia enlouquecida e confusa.

-Por favor, por favor moço...

Sussurrava esfregando-se toda em mim..Minha vida nunca mais seria a mesma. Transamos ali mesmo do lado de uma caçamba de lixo. Ela com as pernas erguidas,dizendo como meu pau era gostoso, eu afundado nos seios de perfume suspeito com versos jorrando na cabeça, mordendo-a forte e ela não me impedia. Minha Vênus nascia na minha concha.
Eu queria todo o resto se explodisse.Meu gozo fez-me ter uma vertigem tão avassaladora que perdi a consciência por alguns minutos.

Quando recobrei os sentidos, vi que ela já tinha ido embora. Dei um uivo de felicidade e maluquice. Rolei no chão e parei em um bar para umas cervejas, em casa li mais um pouco de Vinicius de Moraes .Beijei minha mãe com ternura e nunca tive tanta paz tomando sopa de feijão.

No dia seguinte, cheguei mais cedo à escola, mesmo sabendo que não entraria, só para ver minha “amante”. Foi quando uma pedra gigante caiu na minha cabeça. Escondido no estacionamento eu vi quando Lúcia chegara de carro junto com o diretor do colégio. Vi quando se beijaram e quando ele afundou aquela cara inchada nos peitos dela.
Cai no chão, o mundo era um breu devorador e eu não era mais habitado.

Ao recobrar a consciência, tracei um plano. Sempre fui comunicativo, apesar de calado e consegui fazer com que o diretor permitisse que eu assistisse aula naquele dia. Queria enfiar um caco de vidro na jugular dele. Mas controlei-me, puxei o saco do homem e compareci na aula.

Ao ver-me na sala Lúcia enrubesceu e sorriu timidamente. Sorri como um demônio e sentei-me no fundo da sala.

-Bem,hoje teremos uma aula diferente. Trouxe livros de vários poetas para pesquisarmos em grupo e cada grupo elege uma pessoa, para ler um poema.

-Pois eu tenho meu próprio livro professora. Posso começar? Eu disse num tom um tanto quanto amável, para minha fúria.

-Está bem.

-Este é para a senhora professora!

A mulher engoliu seco, a última saliva que lhe restava.

Enchi o peito, abri o livro de antologia poética e comecei a leitura de forma inspirada e raivosa:


SONETO DE DEVOÇÃO

Vinicius de Moraes

“Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e grandeza de quem amam
E guarda a marca dos meus dentes nela

Essa mulher é um mundo!-uma cadela
Talvez...-mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela”


Ao final do poema,o silêncio foi estarrecedor, como se uma notícia trágica houvesse chegado. Me dirigi até a professora :

-Você destruiu meu sonho, minha Vênus, cadela!

Suguei sua língua o mais forte que pude e apertei pela última vez a vagina que fora minha
Depois disso,corri da sala o mais rápido que pude e nunca mais voltei.

Mudei-me para Pernambuco, primeiro para casa de alguns parentes, por medo dos meus atos e depois fui morar na Inglaterra com Rubão onde me formei em literatura.

Minha professorinha às vezes recita poesias para mim, nos meus sonhos e eu enrabo todas as minhas colegas e alunas com todo meu ódio e esperança de curar esta ferida.

Amor somente para com as letras e o feto morto de Vênus.


RITA MEDUSA

2 comentários:

  1. Linda Rita, surpresa maravilhosa, muito bom seu conto de estréia...parabéns...

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  2. adorei!
    parabens!

    já conhece o MUNDO AFORA? tem novidades para voce lá! visite1

    sucesso!

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Néon


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