terça-feira, 31 de março de 2009

Io e te


Ricordi, nostalgie, ferri e fili.Formano antichi gomitoli
al forte vento. Vicende dimenticate,polvere del tempo
Gesti, risa, pensieri arditi.
Modellando l’amore in soffici nuvole. Essenza morena in dolci promesse.
Lettere scambiate, strappate,vissute
Verità e falsità non pesano. Mai...

Mi sono svegliata nel miscuglio di sole, luna e stelle.
E ho trasformato la tua vita nel mio cammino
Abbiamo percorso vie strette, stradine, parchi, città, e grandi viali.

Nel tuo corpo, voce, odore e piacere
Circuito il vuoto dello sconforto In risate dissimulate, ebbre, testarde.

Ho seminato, ho ballato, ho perdonato, ho abbracciato…
Ho amato troppo.
Il tempo ha ingannato gli anni e li ha portati via

Foto
Nostre musiche
Gioventù
Colori e sapori
Bramosia
Impetuosità
Abbandono
Tanti sogni
La certezza

Io e te mai siamo stati noi.




Giselle Sato

http://paroleinemozioni.blogspot.com

segunda-feira, 30 de março de 2009

Alcoólicas- Hilda Hilst




É crua a vida. Alça de tripa e metal.

Nela despenco: pedra mórula ferida.

É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.

Como-a no livor da língua

Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me

No estreito-pouco

Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida

Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.

E perambulamos de coturno pela rua

Rubras, góticas, altas de corpo e copos.

A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.

E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima

Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.

(Alcoólicas - I)



Também são cruas e duras as palavras e as caras

Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida

Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos

Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes

Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos

Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas

De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo

Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas

Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento

Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte

É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.

Sussurras: ah, a vida é líquida.

(Alcoólicas - II)



* * *



E bebendo, Vida, recusamos o sólido

O nodoso, a friez-armadilha

De algum rosto sóbrio, certa voz

Que se amplia, certo olhar que condena

O nosso olhar gasoso: então, bebendo?

E respondemos lassas lérias letícias

O lusco das lagartixas, o lustrino

Das quilhas, barcas, gaivotas, drenos

E afasta-se de nós o sólido de fechado cenho.

Rejubilam-se nossas coronárias. Rejubilo-me

Na noite navegada, e rio, rio, e remendo

Meu casaco rosso tecido de açucena.

Se dedutiva e líquida, a Vida é plena.

(Alcoólicas - IV)



* * *



Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito

Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado

Salpicado de negro, de doçuras e iras.

Te amo, Líquida, descendo escorrida

Pela víscera, e assim esquecendo

Fomes

País

O riso solto

A dentadura etérea

Bola

Miséria.

Bebendo, Vida, invento casa, comida

E um Mais que se agiganta, um Mais

Conquistando um fulcro potente na garganta

Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.

Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos

Quando não sou líquida.

(Alcoólicas - V)



(in Do Desejo - Campinas, SP: Pontes, 1992.)

Textos Grotescos- Hilda Hilst





O que eu podia fazer com as mulheres além de foder? Quando eram cultas, simplesmente me enojavam. Não sei se alguns de vocês já foderam com mulher culta ou coisa que o valha. Olhares misteriosos, pequenas citações a cada instante, afagos desprezíveis de mãozinhas sabidas, intempestivos discursos sobre a transitoriedade dos prazeres, mas como adoram o dinheiro as cadelonas! Uma delas, trintona, Flora, advogada que tinha um rabo brancão e a pele lisa igual à baga de jaca, citava Lucrécio enquanto me afagava os culhões e encostava nas bochechas translúcidas a minha caceta: ó Crasso (até aí o texto é dela) e depois Lucrécio: "o homem que vê claro lança de si os negócios e procura antes de tudo compreender a natureza das coisas". A natureza da própria pomba ela compreendia muito bem. Queria umas três vezes por noite o meu pau rombudo lá dentro. E antes desse meu esforço queria também a minha pobre língua se adentrando frenética naquela caverna vermelhona e úmida. Empapava os lençóis. Era preciso enxugá-la com uma bela toalha felpuda antes de meter na dita cuja. Na hora do gozo ria.

-isso não é normal Flora.

-bobinho! Isso é vida, alegria, o amor é alegre, Crassinho.

Histérica e sabichona dava gritinhos e rápidos aulidos, e quando tudo acabava, sentava-se sóbria na beirada da cama:

as causas judiciais demoram tanto para serem solucionadas, meu Crasso, tem algum numerário aí para mim? assim que receber dos meus clientes te pago. O seu único cliente era eu e claro que eu pagava. Afinal não me fazia mal ouvir Lucrécio de vez em quando, se a atriz discursante era dona daquela pomba molhada e faminta. Claro que nem todas as soi-disant cultas são assim tão chatas. Tive as cultas refinadas e originais também. Mas que mão de obra, meu pai! Uma delas é inesquecível. Josete. Inesquecível por vários motivos. Mas principalmente pelo gosto exótico na comida e no sexo. Ela adorava tordos com aspargos. E pastelões de ostras. Era preciso que eu telefonasse uma semana antes para os maîtres dos tais restaurantes. Tordo?! Nunca sabiam se era um pássaro ou um peixe. Eu imagino hoje que ela sempre acabava comendo um sabiá. Com aspargos. O pastelão de ostras era mais fácil. Mas os vinhos para acompanhar aquilo tudo! Josete entendia de vinhos como se tivesse nascido embaixo duma parreira de Avignon. Depois desse inferno todo, ainda tínhamos que dançar, porque é delicioso dançar com você amor, se você tivesse mais tempo...

-tenho todo o tempo do mundo, querida (talvez tivesse, mas nem tanto!)

Tinha mania de uma música: You've changed, e era aquela xaropada até às duas da manhã mais ou menos, quando eu já havia mergulhado meus dedos várias vezes na sua suculenta xereca. Abria discreta e elegante as pernas nas boates, embaixo da mesa, enquanto engolia com avidez aqueles vinhos caríssimos. Sorrindo soltava um pífio arroto de tordos e ostras abafado entre os seus dois dedinhos, enquanto os meus (dedos naturalmente) beliscavam-lhe a cona. Muitas beliscadinhas, muito dedilhado até que ela gozava escondendo o gozo e simulando um segredo e enchendo de bafo, gemidos e saliva a concha do meu ouvido. Eu dizia com a caceta dura e espremida entre as calças:

-vamos embora, hen bem?

-tá tão gostoso, amor

-eu sei, Josete, mas olha só o meu pau

-não seja grosso, Crasso

E aí eu tinha que começar tudo de novo, não sem primeiro ouvi-la pedir as sobremesas e os licores. Depois de Josete ter gozado umas dez vezes entre sabiás e musses e álcoois dos mais finos que me custavam um caralhão de dinheiro, levantava-se garbosa, Espártaco antes da derrocada final, naturalmente. Eu ia atrás meio cego mas ainda sedento. Um tal de Ezra Pound, poeta norte-americano, era o xodó de Josete. Ô cara repelente. Um engodo. Invenção de letrados pedantescos. No primeiro dia que ela citou o tal poeta eu lhe disse: meu tio Vlad quando eu era molequinho, tinha crises de loucura quando ouvia esse aí falando numa rádio italiana. O cara era um bom fascistóide, você sabia?

-bobagens, Crassinho, o homem foi um gênio.

Para agradá-la, pedi que me emprestasse algum livro dele. Emprestou Do Caos à Ordem, cantar XV. Aquilo era uma pústula, uma privada de estação em Cururu Mirim. Senão, vejam:



"O eminente escabroso olho do cu cagando

[moscas,

retumbando com imperialismo

urinol último, estrumeira, charco de mijo sem

[cloaca

................. o preservativo cheio de baratas,

tatuagens em volta do ânus

e em círculo de damas jogadoras de golfe em

[roda dele."

Josete adorava. Os olhinhos cor de alcaçuz, úmidos, tremelicavam. A boca repetia lentamente (em inglês, lógico) esses últimos dois versos do tal gênio: "tattoo marks around the anus, and a circle of lady golfers about him". Eu achava um lixo, mas não queria me desentender com toda aquela boceta-chupeta que literalmente, quando ativada, abraçava e quase engolia o meu pau.

-tudo bem, Josete, se você gosta... de gustibus et coloribus etc.

-pois gosto tanto, amor, que vou te mostrar a que ponto vai minha reverência por esse autor admirável

Abatido, já me imaginei desperdiçando aquelas horas a folhear idiotias, ainda mais em inglês. Estávamos no apartamento de Josete. Pensei: é agora que ela vai se levantar e esparramar os livros do nojento aqui na cama. E adeus mesmo, vou inventar uma súbita náusea e me mando. Surprise! Ah, como a vida me encheu de surpresas! Josete deitou-se de bruços e ordenou lacônica:

-pegue aquela grande lupa lá na minha mesinha.

- Lupa?

-Lupa, sim, Crassinho.

-Então peguei.

-faz um favor, benzinho, abra o meu cu.

-como?

-oh, Crassinho, como você está ralenti esta noite

-e o que eu faço com a lupa?

-a lupa é pra você olhar ao redor dele.

-ao redor do seu cu, Josete?

-evidente, Crassinho.

Foi espantoso. Ao redor do buraco de Josete, tatuadas com infinito esmero e extrema competência estavam três damas com seus lindos vestidos de babados. Uma delas tinha na cabeça um fino chapéu de florzinhas e rendas.

-não acredito no que estou vendo, Josete, você tatuou à volta do seu cu pra quê?

-homenagem a Pound, Crassinho

-mas isso deve ter doído um bocado!

-the courageous violent slashing themselves with knifes ( que quer dizer: os violentos corajosos cortando-se com facas. Continuação do Canto XV).

-coma meu cuzinho, coma meu bem, andiamo, andiamo (cacoetes de Pound)

Aí achei o cúmulo. "Jamais, meu amor, machucaria essas lindas damas". Josete começou a chorar.

-ó Crasso, você é o primeiro homem a quem eu mostro esse mimo, essa delicadeza, essa terna homenagem ao meu poeta, andiamo, andiamo in the great scabrous arse-hole (no grande escabroso olho do cu)

Aí pensei: essa maldita louca vai começar a choramingar mais alto e o prédio inteiro vai ouvir. Enchi-me de coragem e estraçalhei-lhe o rabo com inglesas ou americanas (who knows?) e babados e o chapéu, não naturalmente sem antes lhe tapar a boca, porque tinha certeza que ela ia zurrar como um asno. Zurrou abafada, mas eu podia discernir algumas palavras. Ela zurrava: ó (leia-se aou, aou, aou, entonação inglesa) Aou Ezra, aou my beloved Ezra! Nunca entendi por que Josete quando citava Pound colocava a entonação inglesa. Também nunca perguntei. Certamente o nojento era o Shakespeare dela.

(...)

sábado, 28 de março de 2009

Mundos paralelos








Ao longo da linha do meridiano, somam-se vagas.Percorrendo oceanos, arrebatando sentimentos.

Fluindo em correntezas paralelas, tomando direções opostas.Consumindo as horas mortas na distancia e solidão.

Luz e escuridão permeiam horizontes sem fim.Agonia! Bálsamo profano ardendo no fogo da luxúria. Ventos e abismos brotam em crescente...Fúria!

A eternidade é conjurada no leito sagrado. Rotas completam-se e perdem-se.Em goles ávidos tomam o fel dos vícios.


Incontroláveis Desejos Inconfessáveis

Impulsos Desvios Indecentes

Infinitas Dores Imorais



Queimam em fogo ardente. Proibido amor que os tange em círculos.

A única certeza: Todas as linhas de meridianos entrecruzam-se nos pólos.


Giselle Sato

sexta-feira, 27 de março de 2009

Meu vício- Camille


Tenho fome
da tua carne...
Tenho sede
do teu gozo

Você me sacia plenamente
Em todos os sentidos e formas

Tenho medo
dos teus vícios
Tenho ganas
De te devorar

Atiça meus instintos
Em incontáveis cios
Escraviza!
E domina sua redenção.

quinta-feira, 26 de março de 2009

DESEJO- Lameque




Estancou maravilhado diante aquele peitão ali a mostra. E as coxas carnudas então? Deixavam qualquer mortal babando de vontade. Entusiasmou-se com sua pele bronzeada, douradinha, cheirosa. Mas era um sonho quase inatingível para ele, um reles mendigo. Resolveu passar o dia esmolando na esperança de conseguir o dinheiro suficiente para saciar o seu desejo “carnal”, afinal também não era ele um filho Deus? Terminado o dia, notas amassadas dentro dos puídos bolsos, tomou coragem e foi direto ao assunto.

-Boa noite.

—O que há de boa nela? – foi a resposta indelicada.

—Quanto custa? – perguntou apontando com o queixo.

—Dez real, completo.

—Farofinha também?

—Também.

—Vou querer.

Voltou para a praça onde dormia feliz, de posse do suculento frango-assado que tanto sonhara. O arrogante e mal-educado português da padaria que se danasse
.

terça-feira, 24 de março de 2009

O Estratagema do Amor- Marquês de Sade


De todos os desvios da natureza, o que fez mais pensar, o que pareceu mais estranho a estes meio-filósofos que querem analisar tudo sem nada compreender, dizia um dia a uma das suas melhores amigas a Menina de Villebranche de quem vamos ter ocasião de nos ocuparmos em seguida, é este gosto estranho que mulheres duma certa construção, ou dum certo temperamento, conceberam por pessoas do seu sexo.

Embora muito antes da imortal Safo e depois dela não tenha havido uma só região do universo nem uma única cidade sem nos oferecer mulheres com este capricho e embora, perante provas de tal força, parecesse mais razoável acusar a natureza de singularidade do que estas mulheres de crime contra a natureza, nunca todavia se deixou de vituperá-las, e sem o ascendente imperioso que sempre teve o nosso sexo, quem sabe se algum Cujas, algum Bartole, algum Luís IX não teriam imaginado fazer contra estas sensíveis e infelizes criaturas leis iníquas, como as que se lembraram de promulgar contra os homens que, construídos no mesmo género de singularidade, e por tão boas razões sem dúvida, julgaram poder bastar-se a si próprios, e imaginaram que a mistura dos sexos, muito útil à propagação, podia muito bem não revestir esta mesma importância para os prazeres.

Deus nos livre de tomar qualquer partido a tal respeito... não é, minha cara?, continuava a bela Augustine de Villebranche atirando a esta amiga beijos que pareciam, contudo, um tanto suspeitos, mas em vez de iniquidades, em vez de desprezo, em vez de sarcasmos, todas armas perfeitamente embotadas nos nossos dias, não seria infinitamente mais simples, numa acção tão totalmente indiferente à sociedade, tão igual a Deus, e talvez mais útil do que se acredita na natureza, deixar cada um agir a seu gosto... Que se pode recear desta depravação?... Aos olhos de todo o ser verdadeiramente sensato, parecerá que ela pode evitar maiores, mas nunca se provará que possa conduzir a perigosas... Ah, justos céus, receia-se que os caprichos destes indivíduos de um ou outro sexo façam acabar o mundo, que ponham em leilão a preciosa espécie humana, e que o seu pretenso crime a aniquile, por não proceder à sua multiplicação?

Reflicta-se um pouco sobre isto e ver-se-á que todas estas perdas quiméricas são inteiramente indiferentes à natureza, que não só não as condena, mas nos prova através de milhares de exemplos que as quer e as deseja; ah, se estas perdas a irritassem, tolerá-las-ia em milhares de casos, permitiria, se a progenitura lhe fosse tão essencial, que uma mulher só pudesse servir para isso durante um terço da sua vida e que ao sair das suas mãos a metade dos seres que ela produz tivessem o gosto contrário a essa progenitura no entanto exigida por ela? Digamos melhor, permite que as espécies se multipliquem, mas não o exige, e bem segura de que terá sempre mais indivíduos do que necessita, está longe de contrariar as inclinações dos que não têm a propagação como uso e que se repugnam de conformar-se a ela.
Ah! deixemos agir esta boa mãe, convençamo-nos bem de que os seus recursos são imensos, de que nada que façamos a ultraja e de que o crime que atentaria contra as suas leis nunca estará nas nossas mãos.

A Menina Augustine de Villebranche de que acabamos de ver uma parte da lógica, senhora das suas acções com a idade de vinte anos, e podendo dispor de trinta mil libras de rendas, decidira-se por gosto a nunca se casar; o seu nascimento era bom, sem ser ilustre, era filha única dum homem que enriquecera nas índias e morrera sem jamais a ter podido convencer ao casamento. Não o devemos dissimular, muito entrava desta espécie de capricho, de que Augustine acabava de fazer a apologia, na repugnância que testemunhava pelo himeneu; seja conselho, seja educação, seja disposição de órgão ou calor de sangue (nascera em Madras), seja inspiração da natureza, seja tudo o que se quiser enfim, a Menina de Villebranche detestava os homens, e totalmente entregue ao que os ouvidos castos entenderão pela palavra safismo, só encontrava volúpia com o seu sexo e só se satisfazia com as graças do desprezo que sentia pelo Amor.

Augustine era uma verdadeira perda para os homens; alta, feita para ser pintada, os mais belos cabelos castanhos, o nariz um pouco aquilino, os dentes soberbos, e olhos duma expressão, duma vivacidade... a pele duma delicadeza, duma brancura, todo o conjunto numa palavra duma espécie de volúpia tão atraente... que era bem certo que vendo-se tão feita para dar amor e tão determinada a não o receber, podia muito naturalmente escapar a muitos homens um número infinito de sarcasmos contra um gosto, aliás muito simples, mas que privando, apesar disso, os altares de Safo duma das criaturas do universo mais bem feitas para os servir, devia necessariamente indispor os sectários dos templos de Vénus. A Menina de Villebranche ria satisfeita de todas estas censuras, de todos estes maus propósitos, e nem por isso se entregava menos aos seus caprichos.

- A mais elevada de todas as loucuras - dizia ela -, é envergonharmo-nos das inclinações que recebemos da natureza; e fazer pouco dum qualquer indivíduo que tem gostos singulares, é absolutamente tão bárbaro como o seria mofar dum homem ou duma mulher saído zarolho ou coxo do seio da mãe, mas insinuar estes princípios razoáveis a néscios é empreender parar o curso dos astros.
Existe uma espécie de prazer para o orgulho em rir dos efeitos que não se tem, e estes gozos são tão doces ao homem e particularmente aos imbecis, que é muito raro vê-los renunciar-lhes... Isso provoca, aliás, maldades, frios ditos de espírito, fracos trocadilhos, e para a sociedade, ou seja para uma colecção de seres que o tédio junta e que a estupidez modifica, é tão doce falar duas ou três horas sem nada dizer, tão delicioso brilhar à custa dos outros e anunciar estigmatizando-o um vício que se está muito longe de ter... é uma espécie de elogio que se pronuncia tacticamente sobre si mesmo; por este preço consentem até em se unir aos outros, em fazer cabala para esmagar o indivíduo cujo grande erro é o de não pensar como o comum dos mortais, e retiram-se para casa inchados do espírito que mostraram, quando só provaram radicalmente por uma tal conduta pedantismo e tolice.

Assim pensava a Menina de Villebranche e muito afirmativamente decidida a nunca se constranger, rindo-se dos preconceitos, bastante rica para se bastar a si própria, acima da sua reputação, visando epicuriamente uma vida voluptuosa e de modo algum as beatitudes celestes nas quais acreditava muito pouco, ainda menos uma imortalidade demasiado quimérica para os seus sentidos, rodeada por um pequeno círculo de mulheres pensando como ela, a querida Augustine entregava-se inocentemente a todos os prazeres que a deleitavam. Tivera muitos apaixonados, mas todos tinham sido tão maltratados, que se estava enfim em vésperas de renunciar a esta conquista, quando um jovem chamado Franville, pouco mais ou menos da sua categoria social e tão rico como ela, tendo ficado loucamente amoroso, não só não se desgostou com os seus rigores mas determinou-se mesmo muito seriamente a não abandonar a praça enquanto ela não fosse conquistada: participou o seu projecto aos amigos, riram-se dele, manteve que conseguiria, desafiaram-no e ele tentou.

Franville tinha dois anos a menos do que a Menina de Villebranche, ainda quase nenhuma barba, uma linda figura, as feições mais delicadas, os mais belos cabelos do mundo; quando o vestiam de moça, ficava tão bem neste trajo que enganava sempre os dois sexos, e várias vezes recebera, de uns por engano, de outros conscientes do que faziam, uma quantidade de declarações tão preciosas, que poderia no mesmo dia tornar-se o Antínoo de qualquer Adriano ou o Adónis de qualquer Psiqué. Foi assim vestido que Franville imaginou seduzir a Menina de Villebranche; vamos ver como se houve.

Um dos maiores prazeres de Augustine era vestir-se de homem no carnaval, e correr todas as assembleias sob este disfarce tão análogo aos seus gostos; Franville que fizera espiar os seus passos e tivera até aí a precaução de muito pouco se lhe mostrar, soube um dia que aquela que adorava devia ir nessa mesma noite a um baile dado por associados da Ópera, onde todas as máscaras podiam entrar, e que seguindo o uso desta encantadora moça, ela estaria de capitão de dragões. Disfarça-se de mulher, faz-se embelezar, compor com toda a elegância e todo o cuidado possível, põe muito pó de arroz, sem máscara, e seguido duma das suas irmãs muito menos bela do que ele, entra assim na assembleia onde a amável Augustine apenas ia procurar aventuras.
Franville não dera três voltas à sala quando foi logo distinguido pelos olhos conhecedores de Augustine.

- Quem é esta bela moça? - disse a Menina de Villebranche à amiga que a acompanhava. - Parece-me que nunca a vi em parte nenhuma, como pôde pois escapar-nos uma tão bela criatura?

E mal estas palavras são ditas, Augustine faz tudo quanto pode para entabular conversa com a falsa Menina de Franville que primeiro foge, volteia, evita, escapa e tudo isso para se fazer desejar mais ardentemente; por fim dá-se o encontro, as impressões vulgares mantêm de início a conversa que, pouco a pouco, se torna mais interessante.

- Está um calor horrível no baile - disse a Menina de Villebranche -, deixemos as nossas companheiras juntas e vamos tomar um pouco de ar nestes gabinetes onde jogamos e nos refrescamos.

- Ah! Senhor - disse Franville à Menina de Villebranche continuando a fingir tomá-la por um homem -, na verdade, não me atrevo, apenas tenho aqui a minha irmã, mas sei que a minha mãe deve vir com o esposo que me destina, e se uma ou outro me vissem consigo, seria um sarilho...

- Bom, bom, é preciso sobrepor-se a todos esses terrores de criança... Que idade tem, belo anjo?

- Dezoito anos, senhor.

- Ah! Respondo-lhe que aos dezoito anos se deve ter adquirido o direito de fazer tudo o que se quiser... vamos, vamos, siga-me e nada tema... - e Franville deixa-se conduzir.

- O quê, encantadora criatura -, continua Augustine, conduzindo o indivíduo que julga ser uma moça para os gabinetes contíguos à sala do baile -, o quê, vai-se casar realmente... como a lastimo... e quem é essa personagem que lhe destinam, um maçador aposto... Ah, como esse homem será afortunado e como gostaria de estar no seu lugar! Consentiria em desposar-me, a mim, diga-o francamente, filha celeste.

- Ai de mim, sabe-o Senhor, quando se é jovem seguem-se os movimentos do coração?

- Está bem, mas recuse-o a esse homem desprezível, faremos juntos um mais íntimo conhecimento, e se chegarmos a acordo... porque não nos entenderíamos? Não preciso, graças a Deus, de nenhuma autorização... embora só tenha vinte anos, sou senhor dos meus bens e se pudesse inclinar os seus pais a meu favor, talvez antes de oito dias estivéssemos os dois ligados por laços eternos.

Assim conversando, tinham saído do baile, e a hábil Augustine, que não levava a sua presa para a envolver nas malhas dum amor perfeito, tivera o cuidado de a conduzir para um gabinete muito isolado, o qual graças às combinações que fazia com os organizadores do baile, tinha sempre o cuidado de reservar.

- Oh, meu Deus! - disse Franville, logo que viu Augustine fechar a porta deste gabinete e apertá-lo nos braços.

- Oh, meu Deus, que pretende fazer?... Uma entrevista a sós, Senhor, e num lugar tão retirado... deixe-me, deixe-me, suplico-lhe, ou gritarei por socorro.

- Vou retirar-te o poder, anjo divino - disse Augustine imprimindo a sua bela boca sobre os lábios de Franville -, grita agora, grita se podes, e o bafo puro do teu hálito de rosa ainda mais incendiará o meu coração.

Franville debatia-se muito fracamente: é difícil mostrar cólera quando se recebe assim ternamente o primeiro beijo de tudo quanto se adora. Augustine, encorajada, atacava com mais força, empregava aquela veemência que realmente apenas é conhecida das mulheres deliciosas seduzidas por esta fantasia. Em breve as mãos passeiam, Franville representando a mulher que cede, deixa igualmente vaguear as suas. Toda a roupa se afasta, e os dedos chegam quase ao mesmo tempo onde cada um deles julga encontrar o que lhe convém... Então Franville mudando subitamente de papel:

- Oh, justos céus - exclama -, com que então não passa duma mulher...

- Horrível criatura - disse Augustine pondo a mão sobre coisas cujo estado não pode sequer permitir a ilusão -, dei-me eu tanto trabalho para achar um desprezível homem... é preciso ser muito infeliz.

- Na verdade não mais do que eu - disse Franville, arranjando-se e mostrando o mais profundo desprezo -, uso o disfarce que pode seduzir os homens, amo-os, procuro-os, e só encontro uma p...

- Oh, p..., não - disse azedamente Augustine -, nunca o fui em toda a minha vida, não é quando se abomina os homens que se pode ser tratada dessa maneira

- Como, é mulher e detesta os homens?

- Sim, e isso pela mesma razão que o senhor é homem e abomina as mulheres.

- A coincidência é única, eis tudo o que se pode dizer.

- É bem triste para mim - disse Augustine com todos os sintomas do mau humor mais marcado.

- Na verdade, Menina, é ainda mais fastidiosa para mim - disse amargamente Franville - eis-me manchado para três semanas; sabia que na nossa ordem fazemos voto de nunca tocar numa mulher?

- Parece-me que podem sem se desonrarem tocar numa como eu.

- Por minha fé, minha bela - continua Franville -, não vejo que haja grandes motivos para excepção e não acho que um vício lhe possa merecer um mérito a mais.

- Um vício... mas é o senhor quem reprova os meus... quando possui outros tão infames?

- Olhe - disse Franville -, não nos querelemos, estamos os dois metidos no jogo, o melhor é separarmo-nos e nunca mais nos vermos.
E dizendo isto Franville preparava-se para abrir as portas.

- Um momento, um momento - disse Augustine, impedindo-o de abri-las -, vai divulgar a nossa aventura a toda a terra, aposto.

- Talvez me divirta a fazê-lo.

- De resto, que me importa, graças a Deus estou acima dos murmúrios, saia, Senhor, saia e diga tudo o que lhe agradar... - E detendo-o uma vez mais -: Sabe - disse sorrindo -, que esta história é muito extraordinária... enganámo-nos os dois.

- Ah! o erro é muito mais cruel - disse Franville - para as pessoas com o meu gosto do que para as que têm o seu... e este vazio causa-nos repugnância...

- Por minha fé, meu caro, creia que o que me oferece nos desagrada pelo menos tanto; vamos, a repugnância é idêntica, mas a aventura é deveras divertida, temos de concordar? Volta ao baile?

- Não sei.

- Por mim não volto mais - disse Augustine -, fez-me sentir coisas... desgostou-me... vou-me deitar.

- Já não era sem tempo.

- Mas tenha ao menos a delicadeza de me emprestar o seu braço até minha casa, habito a dois passos, não tenho o meu coche, não me vai deixar ficar aqui.

- Não, acompanhá-la-ei de boa vontade - disse Franville -, os nossos gostos não nos impedem de ser correctos... quer a minha mão?... Ei-la.

- Só aproveito porque não encontro melhor por agora.

- Fique bem certa que por mim só lha ofereço por delicadeza.
Chegam à porta da casa de Augustine e Franville prepara-se para se despedir.

- Na verdade, o senhor é delicioso - disse a Menina de Villebranche -, com que então deixa-me na rua.

- Mil perdões - disse Franville -, não ousava.

- Ah, como são bruscos estes homens que não gostam das mulheres!

- É que eu - disse Franville, dando todavia o braço à Menina de Villebranche até ao seu apartamento -, é que eu, Menina, gostava de voltar depressa ao baile para reparar a minha tolice.

- A sua tolice, sente-se então muito aborrecido por me ter encontrado?

- Não digo tanto, mas não é verdade que podíamos ambos ter achado infinitamente melhor?

- Sim, tem razão - disse Augustine entrando enfim em casa -, tem razão, senhor, eu sobretudo... porque receio bastante que este funesto encontro venha a custar a felicidade da minha vida.

- O quê, não está então bem segura dos seus sentimentos?

- Ontem estava-o.

- Ah! não acredita muito nas suas máximas.

- Não acredito em nada, está a enervar-me.

- Está bem, eu saio, Menina, eu saio... Deus me livre de a incomodar durante mais tempo.

- Não, fique, ordeno-lhe, poderá uma vez na vida obedecer a uma mulher?

- Eu - disse Franville sentando-se por condescendência -, nada há que não faça, já lho disse, sou educado.

- Sabe que é horrível de na sua idade ter gostos tão perversos?

- Julga que seja decente de na sua os ter tão singulares?

- Oh, é muito diferente, nós, é recato, é pudor... é orgulho mesmo se o preferir, é o receio de se entregar a um sexo que só nos seduz para nos dominar... Todavia os sentidos falam e arranjamo-nos entre nós; se tudo dissimulamos bem revestimo-nos dum verniz de discrição que muitas vezes se impõe, assim fica a natureza contente, observa-se a decência e os costumes não se sentem ultrajados.

- Eis o que se chamam belos e bons sofismas, por esse caminho tudo justificaríamos; e que disse afinal que nós não possamos igualmente alegar em nosso favor?

- Absolutamente nada, com preconceitos tão diferentes não devem ter os mesmos pavores, o vosso triunfo está na nossa derrota... quanto mais multiplicam as vossas conquistas, mais acrescentam a vossa glória, e não podem recusar-se aos sentimentos que fazemos nascer dentro de vós, a não ser por vício ou depravação.

- Na verdade, creio que me vai converter.

- Gostaria.

- Que ganharia com isso, continuando no erro?

- É um favor que o meu sexo me ficará a dever e como amo as mulheres, sinto-me feliz por trabalhar para elas.

- Se o milagre acontecesse, os seus efeitos não seriam tão gerais como parece acreditar, eu só me converteria por uma única mulher quando muito a fim de... experimentar.

- O princípio é honesto.

- É que é bem certo haver um pouco de receio, sinto-o, em tomar um partido sem ter provado de tudo.

- O quê, nunca viu uma mulher?

- Nunca, e a Menina... acaso possuíra primícias tão seguras?

- Oh, primícias, não... as mulheres que vemos são tão astutas e ciumentas que não nos deixam nada... mas nunca conheci um homem em toda a minha vida.

- E fez uma jura?

- Sim, não quero ver nem jamais conhecer senão um tão singular como eu.

- Sinto-me desolado por não ter feito a mesma jura.

- Não creio que seja possível ser mais impertinente.

E dizendo estas palavras, a Menina de Villebranche levanta-se e diz a Franville que se pode retirar quando quiser. O nosso jovem apaixonado sempre de sangue-frio faz uma profunda reverência e apresta-se para sair.

- Regressa ao baile - diz-lhe secamente a Menina de Villebranche fitando-o com um despeito misturado com o mais ardente amor.

- Claro que sim, já lho disse, parece-me.

- Não é assim capaz do sacrifício que por si fiz.

- O quê, fez-me algum sacrifício?

- Só voltei para casa para não ver mais nada após ter tido a infelicidade de o conhecer.

- A infelicidade?

- É o senhor que me força a servir desta expressão, só do senhor dependia que eu usasse uma bem diferente.

- E como conciliaria isso com os seus gostos?

- O que não abandonamos nós quando amamos!

- De acordo, mas ser-lhe-ia impossível amar-me.

- Isso sucederia se conservasse hábitos tão horríveis como os que em si descobri.

- E se renunciasse a eles?

- Eu imolaria imediatamente os meus sobre os altares do amor... Ah! pérfida criatura, como esta confissão custa à minha glória, e tu acabas de ma arrancar - disse Augustine em lágrimas, deixando-se cair numa cadeira.

- Obtive da mais bela boca do universo a confissão mais lisonjeira que me seria possível ouvir - disse Franville precipitando-se aos joelhos de Augustine.

- Ah, querido objecto do meu mais terno amor, reconheça o meu fingimento e digne-se não o punir, é a seus joelhos que imploro a graça e aí ficarei até ao meu perdão.

Vê junto de si, menina, o amoroso mais constante e mais apaixonado; julguei necessário este estratagema para vencer um coração cuja resistência conhecia. Consegui, bela Augustine, recusará ao amor sem vícios o que se permitiu deixar ouvir ao apaixonado culpado... culpado, eu... culpado do que acreditou... ah! acaso supunha que uma paixão impura pudesse existir na alma daquele que só por si se sentiu incendiado.

- Traidor, enganaste-me... mas perdoo-te... todavia nada terás para me sacrificar, pérfido, e o meu orgulho será menos lisonjeado, está bem, não importa, por mim sacrifico-te tudo... Vai, renuncio com alegria por te agradar a erros a que a vaidade nos arrasta quase tanto como os nossos gostos. Sinto-o, a natureza vence, abafava-o com extravagâncias que agora detesto com toda a minha alma; não se resiste ao seu império, ela só nos criou para vós, ela só vos formou para nós; sigamos as suas leis, é pela própria voz do amor que ela mas inspira hoje, não me serão por isso menos sagradas. Eis a minha mão, senhor julgo-o homem de honra e em condições de me pretender. Se pude merecer perder um instante a sua estima, à força de cuidados e de ternura repararei talvez os meus erros, e forçá-lo-ei a reconhecer que os da imaginação nem sempre degradam uma alma bem nascida.

Franville, todos os seus votos satisfeitos, inundando com as lágrimas da sua alegria as belas mãos que beijava, ergue-se e precipitando-se nos braços que se lhe abrem:

- Oh dia mais afortunado da minha vida - exclama -, nada existe de comparável ao meu triunfo, reconduzo ao seio das virtudes o coração onde vou reinar para sempre.

Franville beija milhares de vezes o divino objecto do seu amor e separa-se; dá a conhecer no dia seguinte a sua felicidade a todos os amigos; a Menina de Villebranche era um partido demasiado bom para que os seus pais lho recusassem, desposa-a na mesma semana. A ternura, a confiança, a discrição mais escrupulosa, a modéstia mais severa coroaram o seu himeneu, e ao tornar-se o mais feliz dos homens, teve a sabedoria suficiente para fazer da mais libertina das moças a mais prudente e a mais virtuosa das mulheres

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ultimo Tango em Paris- Resenha






Um homem e uma mulher se encontram por acaso em um apartamento abandonado. Alguns minutos depois estão transando. A partir daí, ficarão se encontrando, nesse mesmo apartamento. Ele se apressa em colocar as regras: jamais devem dizer o próprio nome um para o outro. Ali não têm nome, nem história. No entanto conversam, falam de suas vidas e fazem sexo.

Há momentos de ternura profunda. Mas o clima é sobretudo de desejo carnal, de um erotismo que se degrada em uma abordagem cada vez mais obscena. Há uma sofreguidão entre os dois. Algo mais que um desejo, algo que é da ordem de uma urgência. Ele a possui de todas as maneiras, levando às últimas conseqüências o fazer de uma mulher o seu fetiche. Condição de gozo, o corpo dela é objeto – instrumento para alcançar um gozo último, que extrapole qualquer enquadramento. Como se ele visasse num movimento desesperado, fazer coincidir a morte e o gozo no ato sexual. Fazer explodir o erotismo, num acesso ao que há de melhor e pior, naquilo que é desumano em nós.

Paul é o nome do homem. Um homem cuja vida parece esfacelada diante da morte da mulher. Rose, a mulher que se foi, que quis ir, pondo fim à vida, sem deixar nenhuma explicação. Uma mulher que se vai e deixa um amante como testemunho de apenas mais um mistério. Paul parece viver, entre o luto por essa mulher que decidiu morrer, abandonando-o com seus fantasmas e o encontro com essa mulher que se entrega a ele sem limites, sem questionar nada, apenas se entrega. Jeanne, a jovem com quem ele se encontra, parece encontrar nesse homem, a condição para amar.

Seu amor nasce da devastação a que se vê submetida, por esse Outro, que lhe abusa, ao mesmo tempo em que lhe erotiza. Fisgada por um gozo que lhe ultrapassa.Um amor sem precedentes, que a faz se entregar totalmente,que a faz precisar dele cada vez mais. Quando não está com Paul, Jeanne está com seu namorado cineasta que, apaixonado, busca sempre o melhor enquadre de sua amada. Jeanne brinca de gato e rato com este homem. Seduz, foge, escapa do enquadre, se diverte. É de outra coisa que não o amor do que se trata. Jeanne denuncia algo de que o amor não dá conta.

Bertolucci brinca com os dois extremos: por um lado, um homem apaixonado, feminizado por seu amor, que busca a todo custo enquadrar a amada – temos aqui o amor em sua função de véu, tão bem colocado. O amor enquanto o que vela a inexistência do encontro, dando dignidade ao objeto. Ainda aqui, o amor e suas falhas, o véu e seus buracos – o que vela denuncia em sua função um vazio. Por outro lado, um homem arrasado pela perda de uma mulher, ferido de morte, jogado ele mesmo à condição de objeto, de frente para o buraco, para o sem sentido do desencontro mais radical.
Este homem tem em sua função de “macho” um reduto último, um recurso ao qual faz apelo para não morrer. Ainda que a pulsão de morte dê o tom de seus atos nesse momento, é via eros que ele busca uma salvação.O encontro com a jovem Jeanne, ela própria uma mulher desesperada, constituirá o ninho perfeito para que esses seres solitários arrisquem uma possibilidade. Mas a dessimetria estrutural a nossa condição de humanos marca sua presença, na medida em que chega o amor, ou alguma possibilidade dele.
Enquanto é Jeanne que ama, que se entrega, que se deixa fetichizar, até as raias de uma devastação, tudo bem. Eles podem continuar se encontrando. Há um lugar para isto na vida dela. Um apartamento sujo e abandonado em um canto qualquer da cidade. Como dois seres sem nome. Assim eles podem continuar se encontrando. Mas isto terá um limite.
Há uma angústia que se agudiza, na medida em que o gozo avança, na medida em que o amor comparece com suas exigências. No entanto, o ponto de não retorno é justamente a chegada de Paul em outros termos. É quando ele chega, belo, de terno e gravata, dizendo de si, contando de sua vida, querendo começar do fim, “com amor e tudo o mais”, aí já não é mais possível para Jeanne. Ela já não suporta . Estar com ele enquanto um sujeito, uma mulher amada, isto parece insuportável para ela. Diante dos apelos dele, de sua proximidade, de sua demanda de amor, de sua feminização, a solução é de uma radicalidade chocante. Mesmo aí, nessa radical dessimetria, Paul e Jeanne formam um par.
Liane Barros

A BOLA SAGRADA- Nina


Esta é uma homenagem a um filho da puta:




Não era uma bola qualquer, era a bola que tocara os pés do atacante Vandercleiverson na última partida da Copa do Mundo de 2010, culminando com a consagração do seu time e de seu país, que nunca levara nada pra casa. Vandercleiverson era o nome da vez, seu passe e, principalmente, seus pés valiam mais que algumas pequenas fortunas acumuladas ao longo de gerações e gerações.Entrementes, do outro lado do mundo, estava alguém cujos pés, mãos, tronco e cabeça já não valiam grande coisa, a não ser, pelo fato de ter dividido a infância paupérrima com o atual astro da bola.

Foi assim, em meio à crise que assolava o mundo, que Edmundo viu seu amigo de pelada nos campos de terra batida consagrar-se campeão mundial e sentiu não só um orgulho pelo parceiro de longa data, como avistou no outro uma saída para seus problemas.Era bem verdade que, na época de Ginásio no subúrbio carioca, onde o astro treinava, longe da família e com parcos recursos, Edmundo resgatava o amigo dos “campos de concentração” e dividia com ele não só alimentos, como tudo que possuía.E assim, de certa feita, o jogador quedou doente, com uma misteriosa doença no tornozelo.

Desenganado pelo médico do time, viu sua vida ruir e determinou-se a largar o mundo incerto dos gramados, mas, Edmundo, além de bancar a consulta, ainda conseguiu a cura para o mal que devastava o amigo.Meses depois, com os pés refeitos, Vandercleiverson era vendido ao exterior como uma cabeça de gado de bom corte e pronta para o abate nos campos, enquanto Edmundo era esquecido em meio à poeira e o acaso da vida- cada um seguiria um caminho na bifurcação do Destino e o resultado só o tempo diria e disse- um ficou cada vez mais pobre e o outro, cada vez mais rico.Relembrando esses fatos esquecidos na Historia, Edmundo ligou para o amigo que o recebeu com pompa e circunstancia e assim, acreditando na propagação da amizade, cruzou o país até o Estado em que o amigo passava as férias.

Durante o caminho, Edmundo pensava na vida: o fracasso no negócio que montara com o dinheiro da única casa que possuía, a mulher que fora embora levando seu filho nos braços, a ordem de despejo e toda ruína que o cercava.Ao chegar na dispare realidade que se abria diante de seus olhos, avistou o amigo jogando bola no gramado da mansão com o filho de seis anos, pensou em seu próprio filho, quando a partida foi interrompida pelo outro que o reconhecera e trocaram um abraço caloroso.Conversaram amenidades sentados sob a grama verde, quando Vandercleiverson iniciou a conversa crucial:

-E a vida como anda?

-Pois é, não anda bem.Vandercleiverson franziu o cenho, conhecia bem os contornos daquela conversa e sabia onde iria acabar.

-Bem, vamos entrar para almoçar.Sentindo-se humilhado e percebendo a mudança na atmosfera que os cercava, Edmundo precisava prosseguir, afinal desperdiçara o dinheiro que seria gasto com as compras de mês para chegar até ali.

-Olha, eu preciso da sua ajuda. Estou arruinado, eu vim até aqui porque sei que você é meu único socorro.

-E em que eu posso te ajudar?

-Preciso de um dinheiro emprestado para recomeçar minha vida.

-Quanto?

-Uns cinqüenta mil Reais.

-Quarenta ajuda?

-Claro.

-Então, vamos almoçar, porque segunda-feira este dinheiro estará na sua conta. Volte para casa em paz.

Sentados à mesa e diante de tanta suntuosidade, a comida não descia na garganta de Edmundo, ao passo que, os olhos de Vandercleiverson estavam distantes; calculavam que a quantia pleiteada representava o dizimo de seu salário, mas, como não possuía nenhuma crença, não pretendia dispor de nenhum centavo do dinheiro que recebia às custas de seus pés refeitos pelo amigo no passado.

Depois de algumas horas, despediram-se e Vandercleiverson fez questão de autografar e dedicar a bola sagrada ao filho do pobre amigo, que a levou orgulhoso no banco do carona de volta para casa, como se retornasse com seu companheiro de infância ao lado.No dia seguinte, em uma conversa informal com outro ícone da bola na atualidade, Vandercleiverson comentou:

-Sabe que ontem recebi um amigo de infância aqui em casa.

-É mesmo e o que ele veio fazer?

-Veja se consegue adivinhar!

-Pedir dinheiro?

-Isso mesmo, cinqüenta mil Reais.

-E você?

-Mandei ele seguir em paz, que arrumaria na segunda-feira!

-E você vai arranjar?

-Claro que não, se eu for dar dinheiro pra todo mundo que me procura, daqui a pouco, eu é que vou ter que tomar emprestado.

-E o que você vai fazer?

-Isso aqui. E jogou o celular na lixeira, ao que outro retrucou:

-Não seria melhor emprestar, você não sabe o que pode acontecer, vai que você perde ainda mais que isso.

-Você não entende, eu não tenho nada a perder, só a ganhar, a vida pra mim é uma vitória.

Na data aprazada, Edmundo iniciou as chamadas infindáveis para o celular do outro, que só emitia a mensagem monótona: “Este número encontra-se desligado ou fora da área de cobertura, por favor, tente mais tarde.”
Depois de um mês de insistências, Edmundo, enfim, entendera o ocorrido e decidiu por fim àquela agonia, sem dinheiro para comprar uma passagem de trem se quer e com um aperto no coração, leiloou a bola que ganhara e conseguiu dinheiro para viajar e ainda comprar um presente para o amigo. Ao avistar o pobre coitado, Vandercleiverson tentou fugir, mas foi impedido pelo grito do amigo.

-Espere, não quero mais seu dinheiro!

-Não?

-Não, eu vim retribuir o presente.

E sacando do revolver, desferiu cinco tiros, acertando minuciosamente um tiro em cada joelho e tornozelo, sendo que, dois tiros foram projetados sobre o tornozelo curado outrora, deixando o astro da bola inerte sobre o gramado.Contudo, antes de dar de ombros, Edmundo mirou os olhos do outro e ainda proferiu:

-Nem eu e nem você. Isso é pra você aprender que todo mundo tem algo a perder
!

sábado, 21 de março de 2009

Minha Cria- Carlos Alberto Barros


Feita alta maré,
Sou bem mais que dama...
Te incendeio a cama,
Te lambuzo as pernas.
Tudo em mim se enerva,
Ao sugar-lhe a rama
Que, em riste, inflama
Meu licor-mulher.

Beba-o com fé,
Dentro, em mim, descamba.
E com a língua em samba,
Faz gemer tua Eva.
Meu quadril, eleva;
Abra-o em duas bandas.
Morda forte em ambas.
Cante minha ré.

Beije-me os pés,
Os meus dedos lamba,
Vem, me deixe bamba.
E me faça ébria;
De teus lábios, serva;
De teu membro, ama.
Em meus seios, mama:
Minha cria és!






quinta-feira, 19 de março de 2009

Cântico de Salomão pós-moderno


Seus cabelos são como trigais sacudidos pela ventania,
Amo-te mais que a mim mesmo
Seus olhos são como dois lagos onde quero me afogar,
Amo-te mais que a mim mesmo
Sua boca, vermelha, inspira uma elegia,
Amo-te mais que a mim mesmo
Seu pescoço, suculento, me convida a te vampirizar,
Amo-te mais que a mim mesmo
Seus seios, pontiagudos, que eu sugo com energia,
Amo-te mais que a mim mesmo
Sua barriguinha, alva, nela quero me aconchegar,
Amo-te mais que a mim mesmo
Sua vulva, talho da paixão, eu contemplo com alegria,
Amo-te mais que a mim mesmo
Sua bunda, com seu talho do tesão, dela eu quero me apossar,
Amo-te mais que a mim mesmo
Você, por inteira, me inspirou uma poesia,
Amo-te mais que a mim mesmo
Você, aos pedaços, fez meu desejo aflorar.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Slave To Love- Bryan Ferry & Roxy Music


Slave To Love





Tell her I'll be waiting
In the usual place
With the tired and weary
There's no escape
To need a woman
You've got to know
How the strong get weak
And the rich get poor
You're running with me
Don't touch the ground
We're restless hearted
Not the chained and bound
The sky is burning
A sea of flame
Though your world is changing
I will be the same
The storm is breaking
Or so it seems
We're too young to reason
Too grown up to dream
Now spring is turning
Your face to mine
I can hear your laughter
I can see your smile
No I can't escape
I'm a slave to love

Lição de casa - Lulu Alves


Lição de casa

Nando dirigia-se à casa de uma professora como lhe fora indicado por amigos, sabendo que ela era especialista em revisão de textos. A “boneca” debaixo do braço, estava tenso e suava um pouco pela expectativa de encontrar-se com aquela personalidade. Bateu à porta e aguardou. Logo foi atendido por uma mocinha de uniforme branco e preto que o introduziu numa sala. Ele ficou de pé passeando os olhos pelos móveis, quadros e adornos. De repente sentiu que era observado e virou-se.

Foi uma surpresa e tanto. A mulher tinha pouco mais de 1,55m. Loira, miúda, passava dos quarenta, mas tinha ainda traços bonitos. Elegantemente trajada, usava “mule” preta, saia reta também preta um pouco acima dos joelhos e uma blusa branca meio transparente que permitia ver o sutiã branco.

Ela caminhou na direção dele, estendendo-lhe a mão no cumprimento e convidou-o para passar para outro cômodo, provavelmente o escritório dela. Ali tudo era de bom gosto em couro e madeira envernizada. Ela sentou em um sofá batendo com a mão ao lado num convite mudo para que sentasse. Nando ajeitou seus 1,90m ao lado dela e acompanhava a leitura que ela fazia de seus poemas. Aspirou o perfume dela, quente, amadeirado e extremamente atraente. Sentiu uma atração incontrolável por aquela mulher.

Diante do silêncio dele, ela levantou a cabeça e logo estava enlaçada por Nando que a beijava com loucura. No início ela relutou, mas logo Nando sentiu que ela correspondia. Pegou-a com facilidade, deitando-a no sofá sem parar de beijar aquela boca. Baixou a cabeça tentando sentir-lhe o cheiro do colo e os seios dela saltaram com o desabotoar da blusa. Nando abocanhou, mordiscou, sugou os mamilos rosados enquanto a mão, apressada, buscava debaixo da saia encontrar a calcinha. Puxou-a e encontrou-lhe o sexo. Desceu a cabeça até o meio das pernas dela e percebeu o cheiro da vagina, cheiro de corpo limpo e perfumado, mas com o fundo natural. Introduziu a língua e ela retorceu-se, gemendo. Num instante, Nando sentiu-lhe o orgasmo precipitado, e a boca sentiu o gosto do líquido emanado dela.

Já desinibido totalmente, Nando deixou livre o pênis intumescido, ela levou a mão ainda tímida e agarrou-o num vaivém leve, cadenciado. Nando levantou-se com ela no colo, subindo-lhe a saia, expondo as nádegas despidas. Fez com que se dobrasse levemente para frente, tocando com o membro a vagina molhada. Deu-lhe duas estocadas firmes e ela remexeu a bunda. Ele retirou o pênis, atraído pelo orifício rosado que se expunha à medida que ele entreabria suas nádegas com as mãos firmes. Desceu o rosto e lambeu-a, ela remexeu-se, então ele meteu-lhe o membro com toda a vontade no ânus.

Ela gritou de dor à passagem da cabeça do pau. Sem dó, Nando descabaçou-a. O orifício anal, passada a glande, ajustou-se ao pênis, apertando-o e fremindo. Nando não resistiu e gozou, enchendo-a com seu sêmen. Logo estavam os dois abraçados, saciados, sentados no chão. Um beijo dela e Nando novamente aceso, puxou-a para recomeçar. Dali, nunca conseguiram ficar um sem o outro.

terça-feira, 17 de março de 2009

A alcova saciada como antes - Dos Anjos






Nas covas da tua boca estou perdido
Num gozo visceral que é pleno gozo
Teu seios tem um pólen saboroso
Tuas nádegas um gosto dividido.

Dou urros de prazer com teu aroma
Teu cheiro de sangria iluminada
Só lembro do teu sexo em jornada
Num cavalgar sem volta que me assoma.

A noite nunca morre pros amantes
Que dormem pelos laços da volúpia
Nas camas com aromas de torpores.

Na cama sempre ficam dois odores
De alcova saciada como antes
Estremecendo as carnes sem desculpa.

domingo, 15 de março de 2009

O tesão acabou- Me Morte


-Bom dia amor! Dormiu bem?

A moça fechou a cara e sentou-se á mesa.

-Quer manteiga? Está fresquinha, mandei buscar ainda há pouco...

-Para de ser capacho! Odeio quando faz isso...Se eu quiser algo pego.

-Desculpa querida. Já vi que acordou num daqueles dias...

-Se viu por que não fica quieto?

-Tudo bem...Quando vai me tratar direito?

-Vai começar?

-Não. Desculpe mais uma vez. O rapaz se calou e tomou um gole do café, tinha esfriado...”Arre”...

-Fala demais, é isso. O café esfriou. Vá tirar o carro.

-Vai onde meu amor?

-Ao ginecologista.

-Pôxa! Eu tinha esquecido...

-Não marcou tudo...

-Pode ir se arrumando. Eu marco em alguns minutos, não se preocupe.

-Eu avisei do ginecologista ontem...Seu traste!

-Vai amor. Vá se trocar. Se perfumar toda...Essas coisas de mulher. Enquanto isso eu ajeito tudo. Seria bem mais fácil se...

-Vai começar?

-Não. Tudo bem. Sem reclamações, sou paciente...

-Eu vou repetir pela última vez: Não sinto mais tesão em você. Vai ter que se acostumar. De hoje em diante, se precisar relaxar, vai ter que se virar com qualquer outra...Manicure, Secretária, Faxineira, Enfermeira do Posto de Saúde, Ministra da Justiça e o escambau...Comigo, não mais.

-Tudo bem querida. Eu já havia entendido. Vá se arrumar e eu ajeito tudo para você. Ela foi para o quarto e ele deu os famosos telefonemas, depois foi tirar o carro.

-Tem certeza de que não quer...

-Ir junto comigo? Que coisa mais sem propósito. Claro que não.Eu vou passar no Banco e de lá vou para a minha consulta. Se apresse. Quero almoçar no ‘Lã França' hoje. Você sabe que meu apetite dobra depois dessas ‘consultas'.

-Claro meu amor. Pode ir. Eu cuido de tudo.

O consultório era antigo, um prédio que parecia ter sido uma imobiliária, cheia de salas e divisória. Faltava uma boa faxina.

-Credo. Um médico deveria cuidar mais da higiene do seu negócio. Limpou o dedo empoeirado que passara na mesinha da sala de espera e sentou-se na velha poltrona marrom. ‘Se eu fosse esposa desse cara dava uma repaginada em tudo por aqui’.
A porta se abriu e ela deu um sorriso como há muito não ousava dar.

-Olá Rodrigo. Eis-me aqui.

O moço estava impecável no jaleco branco combinando com seus olhos azuis. Tinha o cabelo encaracolado e seu rosto fino, destacando um par de covinhas que a deixava muito excitada toda a vez que via.

-Entre Débora. Você é minha única cliente hoje, desmarquei todo o resto quando soube que viria.

-Por que doutor? Meu caso é tão grave assim?

-Sim. É grave. Mas tenho um tratamento novo que trouxe da França. Só que levará algumas horas. Terei que segura-la aqui um tempo.

-Sabe que não posso demorar muito...

-Fica quieta e venha. Puxou sua mão e fechou a porta da sala atrás de si.'Pode ir se preparando'.

Apontou para a salinha onde as pacientes tiravam a roupa e vestiam o jaleco azul amarrado na frente. Débora adorava se vestir assim, isso a deixava excitada. Mas por que ainda se constrangia em sua presença? Não queria ser confundida com uma vagabunda. Ela o amava a seu modo.

Sabia que não era o único, havia o professor de tênis, o técnico que dava assistência ao seu computador, o professor da Academia que freqüentava...Mas, a seu modo, amava todos eles, cada um com sua covinha idêntica... Pena que não sentia isso pelo marido. Era uma espécie de tara por uniformes...Se desejasse apenas seu marido seria sua chance de ter uma vida tranqüila. Mas não suportava nem o cheiro de Rafael. Esperava que isso passasse com o tempo.

-Está demorando muito. Precisa de ajuda?

-Não. Estou pronta. Estava com o jaleco e nua por baixo. O laço que prendia na frente estava frouxo e Rodrigo arrumou.

-Deite-se ali. Vamos, do modo de sempre. Coloque as pernas no suporte para o exame.

-Assim?

-Hum...Não. Vamos fazer diferente hoje. Para o campo de visão ficar melhor. Assim se tiver alguma lesão no colo do útero eu verei. Coloque os pés em cima do suporte em vez dos joelhos.

-Como? Isso é desconfortável..
.
-Não é não. Eu te ajudo. Ele colocou os pés da moça, um de cada vez em cima do local onde as pacientes apóiam os joelhos.

-Estou me sentindo estranha.

-Quieta. Vou ver os nódulos. Ele começou o exame dos seios e abriu de leve o jaleco deixando a mostra os biquinhos durinhos...Está com frio? Passou de leve o dedo no do seio esquerdo e a moça teve quase um desfalecimento.

A posição a deixava vulnerável e isso era muito excitante. Ele percebeu e disse: Vou começar o novo tratamento. Aproximou a língua e molhou de saliva o biquinho de seus seios fazendo a moça gemer. Viu? Se tiver algum nódulo na auréola ele vai sobressair agora...

Repetiu o gesto no outro seio e desamarrou o laço do jaleco descendo a língua até o umbigo. Ela mexeu as pernas e ele ordenou: Quieta. Não saia da posição.Ela estava com a vagina na ponta da maca e as pernas levantadas faziam com que ficasse pronta para penetrada. Ele percebeu como estava molhada e aproximou sua respiração do clitóris, tocando de leve a ponta da língua a fazendo-a gemer alto.

De súbito abocanhou sua vagina e sugou-a por minutos intermináveis até que a moça gozou como há muito não fazia. Aproveitando-se de sua prostração, ergueu-a pelas coxas e penetrou-a fundo ritimadamente enquanto seus dedos entravam e saiam de seu ânus. Ejaculou rapidamente e saiu da sala. Era sempre assim. Parece que se culpava pelo ocorrido. A moça se recompôs rapidamente e saiu. Já sentia o ronco da barriga anunciando a fome exagerada que sentia depois dessas escapadas...

-Atrasou. O garçom já olhou quinhentas vezes para cá...

-Desculpa meu amor. Eu tive que tomar um banho, sujei todo o jaleco com o esperma...

-Cala a boca! Eu já disse: Aqui você é só o traste do meu marido...


(textos eróticos de Me Morte)

O bom de ser mulher - Giselle Sato


O bom de ser mulher

Somos tão fortes: andamos de salto alto pelas calçadas esburacadas, carregamos a vida por nove meses e enfrentamos supermercados lotados. Tudo que fazemos, colocamos empenho, raras vezes somos imparciais. Faz parte da nossa essência este envolvimento, o ‘’algo a mais’’ que não conseguimos explicar nem resistir. Somos doadoras, capazes de tudo e ferrenhas defensoras de nossas crias. Filhas da Terra, agraciadas com sentido aguçado. Desconfiadas e criativas, divertidas e amigas. Açucaradas mulheres, imprevisíveis e sempre cheias de afazeres e planos. Únicas.
E quando amamos não existe meio termo, que o mundo conspire ao nosso favor ou arregaçamos as mangas e vamos à luta. A capacidade de entrega é um dom, no entanto, quase nunca é compreendido. Alguns homens dizem que somos intensas, complicadas, que enxergamos tramóias inexistentes. Falam que somos apressadas, ansiosas, desesperadas ou idealistas. Se a carreira é meta principal, ambiciosas, competitivas, agressivas, conquistando postos e tomando conta do mercado. Em contrapartida, se preferimos ficar em casa, viramos preguiçosas.
Relacionamento. Chegamos ao tópico temido e mais difícil de descrever. Riquíssimo em milhares de fórmulas, conselhos e manuais de auto-ajuda. O fantástico universo sentimental feminino. Tão simples em sua necessidade básica e universal: O amor. Se a chama inicial não for renovada, mantida aquecida e bem cuidada, vai diminuindo, ficando quase invisível e no final...Desaparece.
Sonhos que se perdem em decepções, rupturas, traições e partidas inesperadas. Nossos ombros cansados, algumas vezes tombam. Ficamos abatidas, perdidas, até mesmo deprimidas, precisamos de tempo para viver a dor.
Reciclamos e começamos tudo outra vez. São tantas histórias, rostos formando um caleidoscópio de imagens e tramas. Somos boas ouvintes, conselheiras, parceiras de altos e baixos.Cúmplices em mirabolantes planos, em que apenas nós mesmas acreditamos. E se não dão certo, choramos as mágoas em uma boa rodada de sorvete, chocolates, chopp para quem gosta de afogar o pranto e enfiar o pé na jaca.
Mas quem disse que não sabemos ser felizes, mente e não entende que pequenos detalhes compõe nossas necessidades. Suspiramos deliciadas em um shopping, amamos um cartão de crédito, sair de mãos dadas com o namorado, dividir uma água de coco, pegar o avião para uma lua de mel no Caribe... No fundo o que queremos: é a sensação plena de viver da melhor maneira possível, beber em pequenos goles a realização, satisfação em inconstantes arpejos, hormonais ou não...do feminino.

sábado, 14 de março de 2009

Delírio- Olavo Bilac


Delírio

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci….

sexta-feira, 13 de março de 2009

Tudo Passa-Lucia Czermainski Gonçalves


Tudo passa



Um belo dia, repentinamente, percebemos que perdemos. Pode ser um ente querido, o amor da nossa vida, a carreira, um bem material. Seja o que for, mais dia ou menos dia, sejamos nós quem formos, perdemos algo. E haja espaço para tanta dor! Aí nos fechamos em nós mesmas porque queremos sofrer tudo o que pudermos de um só golpe.

Umas reagem deixando a dor para ser vivida mais tarde, outras entregam-se imediatamente a ela. Contudo, esse sofrimento só a nós pertence e tomamos posse dele por inteiro, egoisticamente. Queremos que a dor chegue a tal clímax que se imploda, parecendo assim diluir-se nos ares.

Diziam nossas avós: “Nada como um dia após o outro”, e acredite, isso acontece mesmo. Porque na vida tudo passa, (hum, parece clichê) e é verdade. Tudo tem seu tempo certo, a infância, a juventude, o amor, a tristeza, a saudade, a dor da perda. O que precisamos saber é que essa dor vai se dar na medida exata de quanto podemos suportar.

Para evitar as decorrências de tanto sofrimento temos que alimentar a crença de que nada é eterno e que somos passageiros do tempo, sem sermos nem termos donos. Somos livres até mesmo para sentir quanta dor quisermos. E vai chegar a hora em que até as lágrimas secarão por si próprias. Entretanto, é preciso não nos deixarmos secar por inteiro, guardar lá dentro de nós a nossa capacidade de nos emocionarmos.

Como os cactos nos desertos, não podemos secar para podermos sobreviver e novo dia virá, o sol vai nascer, e estaremos de volta à vida. Com certeza a ferida estará guardada no íntimo porque somos assim, registramos todas as passagens pelas nossas existências e é isso que nos traz força, sabedoria, esperança, capacidade de amar e amar infinitamente.

Somos fênix, renascemos diariamente para a vida, afinal, somos mulheres!

....“Enfim...
Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer o que tem de ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras...Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.”....

Mário Quintana


(por Lucia Czermainski Gonçalves)

quinta-feira, 12 de março de 2009

E-book do Vale das Sombras - Me Morte


Estou acostumado a ler bons autores na interNerd: Angela Oiticica, Carlos Cruz, Flávio Mello, Gaivota, Giselle Sato, Mali Ueno, Me Morte, Leonardo Quintela. Me identifico mais com eles que com os clássicos, de gerações passadas, restritos ao papel e à tinta (ainda que os idolatre). Gosto de escolher entre a infinidade de estilos e idéias que flutuam virtuais. É a anárquica avaliação dos leitores, contundente, mordaz, e desinteressada, ou melhor, isenta, pois é a mais interessada.
Estamos no auge da Revolução Digital. A migração das mídias culturais para novas plataformas, a atualização da literatura para o mundo eletrônico. Nossos autores não usam lápis e papel, mas teclado e tela, nada mais justo que serem divulgados pelo mesmo meio. Bom pro escritor, bom pro leitor. É livre, independente.
Para quem gosta de ler, a rede foi uma dádiva. Favorece o reconhecimento de interessantes autores (para mim) desconhecidos, como Álex Marcondes e Fred Teixeira, além de possibilitar saber da existência dos novos (ou apenas distantes), como Ana Kaya, Bruno Mourthe, Caio Tadeu de Moraes, Diego Balin, Emerson Sarmento, Rafael Orrú, Ivy Gomide, Maria Gorete Rocha, Platz Mendes, René Ociné e Thiers R – escritor é igual jedi, highlander ou vampiro: reconhecemo-nos, lemo-nos, sabemos da existência de outro como nós, com esse ímpeto
maravilhoso e maldito pelas letras.
Este ebook é a mais pura e contemporânea expressão literária brasileira, pela primeira vez absolutamente inserida no contexto mundial. Globalização e intimidade, sentimentos e ansiedades, perspectivas e decepções, todo o espectro social moderno está representado nesses simplórios bits que significam tanto para os autores, que é tão importante para a cultura.
Bem vindo ao 3º ebook do Vale das Sombras.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Horas Rubras - Florbela Espanca


Horas rubras


Horas profundas,lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…


Ouço as olaias rindo desgrenhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes.
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p’las estradas…


Os meus lábios são brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…


Sou chama e neve branca misteriosa…
E sou talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!




*******


Mais alto


Mais alto, sim! mais alto, mais além
Do sonho, onde morar a dor da vida,
Até sair de mim! Ser a Perdida,
A que se não encontra! Aquela a quem


O mundo não conhece por Alguém!
Ser orgulho, ser àguia na subida,
Até chegar a ser, entontecida,
Aquela que sonhou o meu desdém!


Mais alto, sim! Mais alto! A intangível!
Turris Ebúrnea erguida nos espaços,
À rutilante luz dum impossível!


Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber
mal da vida dentro dos meus braços,
Dos meus divinos braços de Mulher!

terça-feira, 10 de março de 2009

Hedonistas II - Circuito das pedras

por Vertigo


Para que se tenha melhor compreensão deste conto indico inicialmente a leitura de sua primeira parte, “Hedonistas – O Clube do passa-anel”.

O que estávamos vivendo poderia muito bem ser definido como um novo patamar de desenvolvimento dos sentidos. Certamente a mais prazerosa das emoções. Sim, o Hedonismo era para nós uma quebra de paradigma que significava sexo com ausência de culpa, o prazer em sua plenitude, verdadeiramente integral, compartilhado. A conversa com Raquel e o nosso envolvimento – meu e de meu marido – com ela e Nicolai foram mais que tempero para nossa união, significou verdadeiro renascimento matrimonial. Com o nosso amadurecimento dentro desta nova concepção de relacionamentos, os encontros com o casal passaram a ser mais freqüentes, normalmente em motéis de alto luxo ou na casa deles. Na nossa ainda não, pois temos filhos e seria complicado realizar qualquer coisa neste sentido que não despertasse a curiosidade nas crianças. É claro que para amigos e familiares não comentávamos sobre a essência dessa mudança. Eles percebiam nossa felicidade e achavam equivocadamente que essa era puramente advinda de nossa ascensão social. Seria difícil para que leigos entendessem isso, isto é, a descoberta da legítima satisfação de um casal em relação à sua própria sexualidade. Meu receio de ver toda aquela diversão estragando minha lealdade e amor com Hicker não só não se configurou como, ao contrário, acabou por se tornar um elemento de coesão para nossa estabilidade conjugal.

As festas do seleto clã do alto escalão da Acchian Sauer, organizadas por Nicolai e sua namorada, continuavam simplesmente fora do comum, discretas e sempre com temáticas que reverenciavam as tradicionais pedras e metais preciosos, matérias-primas da empresa. E no fim daquele ano estava sendo cogitada uma incrível orgia privê no iate de um diretor canadense que vez por outra estava no país para conferências e divulgações. O nome dele era Ralst Candalore, magnata dos negócios de quarenta e poucos anos, um sujeito que, segundo Hicker, era simpático, brincalhão e bastante criativo. Ele não só já estava ciente do que acontecia no underground brasileiro daquela multinacional como também era fervoroso praticante da arte do prazer sem fronteiras. O canadense era o responsável pela divisão americana de desenvolvimento, criação e design das jóias, onde ele próprio elaborava as mais arrojadas estruturas de anéis e colares, criando verdadeiras obras de arte que logo se tornavam tendências no mercado. Eu e Hicker imaginávamos: se esse homem já era assim no cenário business, imagine no mundo sexual.

E o grande dia finalmente chegou. Era meio de dezembro e a tarde caía gostosa em Angra dos Reis, cidade do litoral sul fluminense onde ficava a embarcação. As paradisíacas praias das ilhas de Angra formavam belo cenário para o evento, cujo clima iria esquentar ainda mais com o que estava para ocorrer no interior do iate de Ralst. Ao chegarmos à marina, pude vislumbrar a grandiosidade e o requinte da embarcação toda branca que deveria ter cerca de trinta e cinco metros de comprimento. Quem estava recepcionando o grupo era uma escultural e simpática loira de cerca de vinte e cinco anos, que logo percebemos se tratar de uma garota de programa de altíssimo nível, destas que estampam books para executivos de elite. Curiosamente ela já sabia meu nome e fez as honras com um “seja bem-vinda, Ludmila”, entregando-me na mão uma pequena caixinha. Ato contínuo desejou com um gostoso “seja bem-vindo, Hicker” para meu marido, ao tempo em que forneceu a ele um outro pote estilizado.

Ao abrir, vi na minha caixa uma reluzente pedra ametista, enquanto que na dele, um topázio. Junto, deixou um envelope comigo e outro com meu marido. Dentro, um papel informava que nossos nomes dentro do iate seriam o das pedras preciosas que estavam em nosso poder. “Meu nome é Safira e nossos brilhos se encontrarão em mar aberto”, finalizou a loira, em tom malicioso. Sorri achando bastante interessante aquela sacada de Ralst. No iate, alguns casais que eu já conhecia conversavam animadamente entre si e com um belo, alto e musculoso rapaz negro que até então eu nunca vira e que possivelmente chegara formando par com Safira. A embarcação era opulenta. Contava com seis suítes, condicionador de ar central, som interligado entre os ambientes, além de cozinha, varanda na popa e sala de estar bastante aconchegante.

Meu marido me mostrou discretamente quem era o tal canadense. Candalore era um sujeito de presença forte, alto, de pele muito branca e de cabelos curtos tão loiros que quase eram brancos. Em todos os momentos que o observei, Ralst estava sorrindo, atitude esta que lhe conferia uma permanente expressão jovial. Hicker revelou que o executivo não decepcionava na língua portuguesa. Restava saber se sua língua mantinha essa mesma qualidade com outro tipo de uso. Raquel estava esbelta numa blusinha curta deixando a barriguinha ligeiramente à mostra. Comentou sobre o ‘circuito das pedras’ que Candalore estava colocando em prática. “Original! Estou excitada com tudo o que está acontecendo”, falei. “Certeza de prazer”, completou a morena com seu copo de whisky na mão repleta de finos anéis valiosos. “Qual seu nome?”, ela quis saber. “Ametista”, respondi. “Púrpura real que transmite sorte. É você mesma: magnitude da sedução”, explanou. Fiquei envaidecida com meus supostos atributos. “E o seu?”, indaguei. “A mais valiosa de todas as gemas verdes, a pedra que simboliza pessoas ambiciosas e apaixonadas. Esmeralda”, disse com seu peculiar brilho no olhar, evidenciando o quão verdadeiras eram suas definições de “ambiciosa e apaixonada”.

Enquanto o iate começava a se deslocar a atmosfera ali dentro ia se transformando, ficando cada vez mais libertina, franca. Os homens que ainda não estavam de roupões, tiravam suas camisas, enquanto as mulheres desfilavam sensualidade em trajes tropicais apropriados para a ocasião. Raquel dissera que o príncipe de ébano chamava-se Michel sendo que ali ele era Rubi, a própria materialização da emoção, simbolizada por sua fina estampa rubra. Segundo ela própria contou, o cara era muito bem-dotado e a mulher que entrasse na vara com aquele homem ia sair ‘maravilhada’. Só era bom tomar cuidado com a parte dos fundos, pois, se ele quisesse por ali, a coisa ia complicar... Já a cicerone dourada era Tábata, a Safira, e trazia do hebraico a sua alcunha de ‘a mais bela’.
De fato, a loira era um espetáculo à parte, com um brilho que fazia justiça ao seu apelido. Raquel comentou que Carlos Kautier, um executivo da filial Brasília, moreno de charmosos cabelos grisalhos, com cerca de quarenta e cinco anos, não conseguia mudar o foco de seus olhos sobre minhas pernas. Passei a retribuir os olhares assim que percebi sua cobiça. Sentir prazer e culpa ao mesmo tempo talvez fosse o único constrangimento possível dentro daquele barco do sexo. Paradoxo esse eu já solucionara desde a primeira orgia na mansão de Paollini.

O sol se despedia no horizonte sendo tragado pelas águas da Ilha Grande, mas seu brilho e seu calor continuavam presentes no semblante de cada um. Subitamente o iate parou e Candalore saiu da cabine pedindo para que todos observassem as portas das suítes. Cada uma trazia indicação de quais ‘pedras’ deveriam compor aquele ambiente. A ametista estava na suíte dois, junto com as pedras citrino e rubi. Fui para a suíte um tanto tensa, ansiosa, mas feliz. Meu coração batia forte com todo aquele jogo de sedução e mistério. Entrei no compartimento e percebi uma decoração de muito bom gosto. Sobre a cômoda havia uma pequena caixa prateada lacrada com números numa bobina que lembravam um cofre. Quando resolvi inspecioná-la melhor, uma voz masculina soou bem perto de minha nuca: “talvez o que exista aí dentro possa ser só metade do que você merece”. Era Michel, que ao tocar meu ombro gerou uma onda de arrepio em meu ser.

Seu peito másculo emergindo por entre o roupão displicentemente aberto cresceu sobre mim. Minha curiosidade infantil pela caixa desapareceu frente àquela presença negra, forte, incisiva. O tempo parou ao sentir o gosto de seus lábios quentes. Suas mãos fortes envolveram meu corpo, determinadas que estavam em levar para a prática o claro domínio que a imagem já impusera. Desfez-se de minhas vestes através de uma virilidade inequívoca, beijando meus seios oferecidos de maneira despudorada, sem nenhum medo. Sua boca voraz beijava com ardor meu corpo, descendo até onde puderam encontrar minha buceta molhada de desejo. A embarcação balançava numa cadência tão suave quanto os movimentos da língua de Michel percorrendo meus grandes lábios. Ele separava minhas coxas com força, obtendo assim espaço para poder prosseguir em sua atividade de sorver minha vagina, numa emocionante atividade que me deixava quase sem condições de respirar.

Não havia erro em nenhuma de suas atitudes. Suas mãos subiam e apertavam meus peitos, descendo pelas laterais, como que lapidassem ainda mais minha cintura, numa reverência que me enchia ainda mais de vontade de ser logo preenchida. Então, ele ficou de pé libertando seu pau. Raquel tinha razão: o pau de Michel era monstruoso. Fiquei perplexa ao ver aquele portentoso pedaço rígido de carne a poucos milímetros de meu rosto. A glande avermelhada como um rubi aceso, suplicava pela maciez de minha boca. Tentei domar o pau incomum com ambas as mãos para que dessa maneira melhor pudesse saboreá-lo. Michel segurava meus cabelos enquanto eu tentava mamar da melhor forma possível aquele gigante negro de ponta cor-de-sangue. Pela nuca ele puxava tentando fazer com que eu colocasse mais caralho para dentro da boca. Carlos Kautier, o outro integrante do grupo do passa-anel, que flertara silenciosamente comigo minutos antes, já estava bem próximo, masturbando-se com o que via enquanto esperava seu membro ganhar a rigidez necessária. Logo, passei a dividir as chupadas entre Citrino, seu nome dentro daquele iate, e Michel.

O pau de Kautier era mediano, mas tornava-se ínfimo se comparado ao de Rubi. Já repleto de tesão, Carlos resolveu atacar minhas costas, depois de colocar a camisinha. Sem dificuldades, fez com que eu me posicionasse de quatro para facilitar sua performance por trás, enquanto eu ainda me deliciava com a árvore de Rubi. Senti quando posicionou seu pau perto de minha buceta e começou a massageá-la com a glande. Molhada que estava, ela sugou com agilidade aquele pau sedento. Kautier começou num ritmo leve que logo se acentuou. As fortes estocadas por trás catapultavam meu corpo para frente de maneira que fazia involuntariamente com que o pau de Michel invadisse minha garganta a dentro. Seguimos naquele sanduíche até que resolveram trocar de lugar, com Rubi passando para trás.

O preservativo, do tipo especial, mal passava pela cabeça inchada. Eu gelei só de pensar que aquele negro fantástico pudesse querer comer meu cú. Seria, em tese, impossível, dado o inacreditável calibre de seu instrumento. Acredito que ele tenha tido pena de mim e, por isso, resolveu comer minha bucetinha, dando prosseguimento ao trabalho bem iniciado por Citrino. Ainda assim, seu pau enorme entrava como um aríete, rasgando, esfolando meu canal vaginal. Só não dava para gritar porque já estava com o caralho de Kautier na boca. Com as bombadas mais cadenciadas, consegui a concentração e com ela o prazer. Gozei enquanto Michel dedilhava com uma das mãos ao tempo que com a outra prendia meu quadril para melhor conduzir a penetração. Na frente, Kautier segurava meus cabelos como se estes fossem rédeas. Não tardou para que Carlos gozasse quase em minha garganta, puxando minha cabeça ao máximo, para que a menor quantidade possível de esperma fosse desperdiçada para fora da boca.

Por trás, Rubi também não tardou em ejacular fundo, empurrando seu poste inteiro dentro de mim. Kautier abriu o cofre sobre o criado-mudo e de lá tirou dois lindos anéis de ouro, um bordado com citrino e o outro cravejado com rubis. Ao sair do cômodo, ainda zonza com o misto-quente, resolvi ver o que se passava nos outros cômodos. Na suíte um me surpreendi ao ver meu marido numa complexa e frenética DP com uma nissei de longos cabelos lisos e negros, namorada de um de seus colegas. Ajoelhado atrás da mulher, metia com vigor naquele rabo, enquanto que por baixo alguém tratava de sua xana. Impressionava como o sentimento de ciúme desaparecera de mim e agora, observando aquela cena, meu desejo era de torcida por Hicker, para que esfolasse mais e mais aquele rabo nipônico. No quarto onde estava Raquel, Candalore, dava um trato no cuzinho gostoso da morena. Em pé, ao lado da cama, o cara urrava ao enrabar com força a Esmeralda do iate. Seus volumosos seios se espremiam contra o abdômen de Safira, que, por sua vez, tentava alcançar com a boca o sexo de ambos num depravado meia nove.

A surpresa maior, entretanto, ainda estava por vir. Quando todos saíram de seus quartos, nos reunimos na sala central tendo Safira, a loira maravilhosa da embarcação, aos pés de Michel. Ambos fariam pequeno show para o grupo, que se agrupava em um círculo com a dupla no centro. Candalore mexeu no repertório de músicas, colocando uma canção ainda mais propícia para o espetáculo. Logo Safira se ajoelhou e segurou com as mãos o nababesco pau de Rubi. Com a experiência da loira foi fácil chupar aquele pau sem engasgos e sobressaltos. Ela, como uma verdadeira mágica, colocava quase metade do pau para dentro da boca, ato este que já era uma grande vitória. Hicker, ao saber que eu tinha estado com Michel em uma das suítes, olhou-me com expressão de assombro. Com ar soberano, apenas sorri. Tábata mamava com suavidade, mostrando que o fazia muito mais por prazer do que por mero profissionalismo. Então, dançando na frente de Michel, virou-se de costa deixando que o belo negro tirasse um gostoso sarro de sua bundinha lisa e convidativa.

Abraçando-a pela cintura, Rubi beijava sua nuca e, com ágeis mãos, brincava com seus peitinhos intumescidos. Logo, Safira, com os olhos comprimidos e cabelos sensualmente soltos com desleixo, passou a flexionar gradativamente os joelhos, descendo até ficar de quatro para seu amante. Encostou a cabeça e os ombros num almofadão, deixando a bundinha empinada, exposta em direção à lua, que brilhava num céu límpido. Michel colocou nova camisinha do tipo especial para membros superdotados, apoderou-se de um tubo lubrificante e o espalhou pela extensão do pênis gigantesco.

Todos olharam incrédulos quando o afro-descendente encostou a anormal glande rubi na entradinha do cú de Tábata. A garota pediu: “vem, fode meu rabinho”. Michel segurou-a pelo quadril com firmeza inequívoca e, ato contínuo, passou a passear com o membro ao redor do esfíncter. Porém, era humanamente impossível conceber sua entrada sem que aquela bunda branca rachasse ao meio. Foi então que a menina, numa relaxada providencial, abriu espaço suficiente para que a cabeça entrasse apertada. A loira gritou, retorcendo-se. Os olhos completamente comprimidos e os dentes trincados denunciavam o que ela estava vivendo. Todo aquele agito só serviu para o caralho entrar mais. Por maior que fosse a experiência da loira na área anal, era fácil entender que seu sacrifício para comportar tal cilindro de carne tinha alguma origem sobrenatural.

Dali em diante o controle era só de Michel, que passou a empurrar o restante do caralho com calma apenas para não traumatizar muito sua companheira. Quando o pau escorregou todo para dentro todos acharam que havia sido mais um truque de Candalore, um jogo de espelhos ou de iluminação. Até Raquel, a rainha do anal no grupo, estava perplexa com a exuberância da dupla. Rubi deixou o cacete estacionado por alguns segundos até que Safira recobrasse seu equilíbrio e ela própria ajudasse no entra-e-sai, com sua já conhecida rebolada. O ânus dilatado da moça criava muita excitação nos espectadores, e não demorou para que o próprio organizador de tudo aquilo, Ralst Candalore, deixasse seu lugar na platéia e, com o pau duro, fosse pedir para que a loira o chupasse enquanto era sodomizada.

Contando com o apoio da torcida, a loirinha não se fez de vítima e virou verdadeiro sanduíche multicor. Já refeita da colossal invasão negra a que foi submetida, Safira segurou com sutileza o caralho de Ralst, que também um porte considerável. A bela garota começou, então, uma mamada cadenciada, levada pelo ritmo das ainda leves estocadas de Rubi. Raquel e eu babávamos vendo aquela delícia de cena! Pela frente, o canadense segurava os cabelos loiros da gata para que estes não escondessem de nós a boquinha gulosa que mamava aquele cacete com muita elegância. Seus olhos, antes fechados pela dor, agora estavam angelicalmente cerrados por gosto. Michel dava mais dinamismo à enrabada, entrando-e-saindo com cada vez mais volúpia. Mas, o que até então era castigo, parecia virar prazer para Tábata, um prazer que todos curtiam, inclusive nós, reles admiradoras invejosas. Os homens curtiam e também invejavam o fabuloso pau de Rubi, que seguia devastando sem clemência o convidativo anel de Tábata.

Ralst deu mostras de queria gozo externo, pois tirou seu pau da boca da loira e passou a esfregá-lo em sua face, ao mesmo tempo em que se masturbava freneticamente. Não tardou para que aquele caralho avermelhado expelisse jatos intermitentes de líquido viscoso no delicado rosto da loira que sorriu, passando a língua em volta dos lábios, tentando saborear as gotas que não pararam em sua boca pelo fato de que sua cabeça, assim como seu corpo, ainda eram furiosamente sacudidos pela foda animalesca de Michel. De vez em quando o garanhão negro soltava uns bons tapas nas ancas brancas de Tábata, temperando-as com um leve tom rosáceo.

Realmente impressionava como aquele caralho anormal conseguia sumir por inteiro naquele buraco, de forma que a virilha de Rubi tocava a bunda de Safira em praticamente todas as arremetidas. Soltando urros roucos, misturados aos gemidos agudos da mulher, Michel tirou o caralho trêmulo de dentro daquele cú, talvez orientado por Candalore, que sabia que em todo show pornô o gozo externo era sempre mais interessante, e ejaculou fortemente na bunda e costas da loira. O esfíncter de Tábata demorou a se fechar, tal a amplitude que alcançara com a foda. Os aplausos efusivos evidenciaram o tesão de todos diante daquele magnífico espetáculo carnal. Ralst Candalore, então, pegou uma das famosas caixinhas pretas da A. Sauer e de dentro tirou um espesso e lindo anel de ouro, ornado com uma bela pedra de safira no centro. Ofereceu-o à Tábata, que chorando, agradeceu o prêmio que merecia com honras, tendo como testemunhas apenas as estrelas, o luar e aqueles maravilhosos amantes do clube do passa-anel.
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Arte: yachtsbrasil

Néon


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