sexta-feira, 22 de agosto de 2008

INOCENCIA CASTIGADA EM 3 ATOS- LEO BORGES



I- INOCÊNCIA CASTIGADA

Naquela época eu achei realmente que havia enlouquecido. Não havia outra explicação... O fato é que eu não conseguia mais tirar Carla da cabeça. Tratava-se da melhor amiga da minha filha, uma menina que também tinha seus pueris 13 anos. Sou casado, bem casado por sinal, vida estável, lado financeiro tranqüilo, trabalho idem, mas esse desejo latente, pecaminoso, proibido, estava me assombrando, corroendo. E foi através dele mesmo que consegui minha libertação, transformando um pesadelo de luxúria e devassidão em uma sadia realidade.


Dafne, minha filha, estudava em um colégio particular próximo de nossa casa. Ela, como aluna aplicada seguia saindo-se bem nas matérias, tirando boas notas e realizando suas atividades estudantis da melhor maneira, sem dar dor-de-cabeça para nós, eu e Miriam, seus pais. O problema silencioso começou quando ela trouxe certa vez aqui pra casa, para fazer um trabalho em dupla, a tal grande amiga do colégio, a Carla.


Eu estava no escritório da casa resolvendo meu trabalho sem maiores transtornos (sou projetista de embarcações) quando elas chegaram. Carla era qualquer coisa fora do normal. A garota era detentora de uma beleza indescritível. O rosto era meigo e sensual ao mesmo tempo, mesclando ingenuidade e malícia. O corpo transbordava tesão sob qualquer ângulo. Barriga fina, perfil delicado. Tenho 42 anos, mas confesso que minha mente estremeceu quando a vi pela primeira vez. Fiquei inclusive revoltado comigo mesmo, com essa reação emocional interna instintiva. A possibilidade de ser considerado um pedófilo era aterradora, algo que realmente não tinha nada a ver comigo, pois sou convicto sobre o crime covarde e cruel que é a moléstia sexual de crianças e adolescentes.

- Pai, esta é minha amiga Carla – disse Dafne. Cumprimentei a ninfeta com um olhar medroso. Lembro que ela me encarou com ousadia.

- Oi, seu Lincoln – falou a garota que nessa ocasião vestia uma calça colada realçando sua bunda esplendorosamente tesuda e uma blusinha que destacava de forma inapelável sua cintura, um sonho.


Pernas perfeitas e tentadoras que terminavam em uma bunda incomum pela formidável perfeição. Ela possuía um corpo que sabotava sua idade, mas eu sabia que não podia me iludir com essas armadilhas que o destino manda. Sou casado, pai de família e, além de tudo, a menina havia deixado de ser criança ontem.

Dafne havia firmado uma amizade forte com Carla, o que contribuiu para me deixar ainda mais tenso, pois as idas da garota lá em casa se tornaram freqüentes. E ela abusava de roupas justas, torturantes.

Procurei, a partir de então, afastar da minha mente qualquer pensamento obscuro que eu pudesse ter com Carla. Procurava nem mesmo passar pela sala quando elas estavam por lá. Porém, na cama com minha esposa, Carla já aparecia por inteiro, quase que sussurrando em meus ouvidos suas frases soltas, frugais "oi, seu Lincoln... posso ver seu escritório, seu Lincoln?... esse barco foi o senhor que criou?... tão bonito e luxuoso..." Aquela boquinha linda, os olhos amendoados que gelavam a alma de quem os encarassem, os cabelos compridos que transmitiam sensualidade mesmo quando não queriam.

Eu comecei a travar uma batalha interna com meu inconsciente. Sou homem, não sou um animal irracional, tinha por obrigação manter minha postura como um pai respeitador. Ainda que eu não fizesse nada, meus impulsos me incomodavam a todo instante:

- O que está havendo contigo que você está aéreo, desligado, de uns tempos pra cá, Lincoln? – queria saber Miriam e eu dizia qualquer coisa para que ela desviasse o assunto. Aquilo estava se tornando algo complexo, um problema que eu talvez tivesse que tratar com algum psicanalista.


II - O PECADO

Certo sábado pela manhã, Dafne estava com Carla lá em casa e pediu para que eu as levasse à praia. Meus nervos tremiam em qualquer situação em que eu tivesse que estar perto daquela garota. Mas, ali não havia como negar. Levei.
Logo vi que havia sido um erro, pois vê-la de biquíni atrapalhou ainda mais minha tentativa de esquecê-la de uma vez. Pior foi ela querer que eu ficasse na praia também. Eu olhava para qualquer lugar para não ter de encarar seu corpo, sua bundinha dourando, pedindo meu toque.

Ela parecia estar arquitetando tudo, criando as situações, produzindo meu terror. Resolvi ficar mais um pouco apenas para me obrigar a deixar o vício estando com ele ao meu lado. Em dado momento Dafne foi para a água e me deixou a sós com Carla.

- Passa um pouco de protetor nas minhas costas, seu Lincoln? O sol tá muito forte...
Por que ela não pediu para a Dafne? O que aquela garota queria? A angústia parecia não ter fim. Segurei o protetor solar e olhei para o fruto proibido. Suas costas lisas, esperando minhas mãos, brilhavam. Deitada, ela jogava os cabelos propositalmente para o lado, para não haver problemas.

Com isso, eles tapavam seu rosto como um véu, como uma barreira para que nossos olhares não se cruzassem e assim eu pudesse tocá-la sem constrangimentos. Eu admirava sua bunda, tão convidativa que por alguns momentos eu entrava quase em transe. Mas imaginava que ela poderia ser irmã de Dafne, que poderia ser minha filha também.

Segurei o pote de creme, coloquei um pouco na mão e deslizei timidamente sobre o ombro da morena, descendo, acompanhando o sulco de sua coluna. Com o toque, o corpo dela arrepiava e eu sentia uma sensação estranha, um desejo ardente, gostoso, intenso, misturado à uma sensação esquisita, medo de estar fazendo algo errado, algo que não deveria fazer. Continuei percorrendo com a mão direita a curva de sua tenra e delicada cintura enquanto o coração vibrava.

Que vontade de lamber suas costas, sua nuca, sua bunda, beijá-la, passear com minhas mãos sobre ela. Estava tão perto, tão ao meu alcance... Como o ser humano é espiritualmente pobre e fraco. Abortei aquele namoro insensato e deixei o pote na areia, limpando a mão na toalha:

- A Dafne termina de passar - decretei sem certeza.

- Ela não gosta. Eu passo nela, mas ela não passa em mim porque diz que suja as mãos. Muito fresca...

Carla parecia querer me tirar do sério a todo instante. Queria me destruir psicologicamente. Eu percebia seu jogo ardiloso, cheio de artimanhas onde eu era obrigado a testar meus limites. Dafne não percebia seu pai sendo castigado, dia após dia por sua amiga. Para ela, Carla era uma amiguinha bonita, desejada por seus amigos de turma, mas não passava disso.

Para mim, porém, já era uma avalanche de sentimentos, leões que eu tinha de matar todos os dias.
"Cara, não olhe mais para essa menina. Você vai acabar cometendo uma loucura!", "Se você comer essa garota você vai arrebentar a vida dela e a sua!", "Vai abandonar sua família por conta de uma aventura irracional?", alertavam os amigos. Só se eu furasse meus olhos e arrancasse meu cérebro da cabeça.


Carla estava lá em casa quase todos os dias, cada dia com uma roupa mais insinuante. Ela fundia meu raciocínio.
Com argumento de que estava fazendo um trabalho de Física, Carla certo dia fez questão de entrar no meu escritório e fez várias perguntas. Todas pareciam direcionadas a me afligir, a me intoxicar com sua sexualidade que aflorava como um vulcão em erupção.

- Esse barco que o senhor projetou aqui, um casal pode passar vários dias nele? Assim, em mar aberto, sem ter que voltar para terra firme? - perguntou, observando um protótipo na tela do computador.

- Pode sim.

- Deve ser legal. Estrelas, lua, e só nós dois...

- "Só nós dois"?! Como assim, Carla?

- Brincadeira, seu Lincoln. Só nós dois eu e a pessoa que estivesse comigo. Um casal apaixonado. Acho que seria bem divertido... – dizia ela passando por trás de mim, apoiando-se em meu ombro com uma das mãos.

Meu suor gelava, a respiração saía do compasso. Cadê a Dafne para me salvar? Estava na cozinha preparando algum lanche. A morena deslizou suas mãos por meu braço na desculpa de querer pegar o mouse. Com isso, encostou o rosto perto de meu pescoço, apoiando o queixo em meu ombro. Sua mão sobre a minha fazia com que o click do mouse partisse do meu dedo.

Fechei os olhos por alguns segundos enquanto ela clicava em algum link do barco querendo satisfazer curiosidades. Para qualquer outra amiguinha de Dafne eu teria a maior boa vontade em explicar todo o funcionamento de elaboração do meu trabalho. Mas, Carla era exceção. Ela me deixava sem rumo, desnorteado, como um barco sem bússola e sem motor, à deriva num oceano de tesão:

- Parece um iate. Queria entrar num desses. Eu e a pessoa por quem estou a fim. Ia ser legal, ficar ali uns dias... só fazendo o que a gente gosta. Ninguém saberia, eu não contaria nada pra ninguém. Segredo só nosso - dizia ela, olhando de soslaio para mim. Sua boca nunca esteve tão perto da minha. Seu batom, estilo gloss, passava a impressão de que seus lábios estavam sempre molhados, implorando um beijo, uma chupada ou qualquer coisa que os sorvessem.

O iate só existia na imaginação dela, mas desejo existia em nós dois. Aquela menina estava querendo me enlouquecer, sim, era isso. Não sei o que havia feito para que ela me torturasse sem piedade, esmigalhasse meu equilíbrio. Quem era inocente ali não era ela, era eu.


E eu estava sendo castigado por isso, maltratado física e psicologicamente. Sentia um desejo ardente, voraz, pecaminoso. Era doloroso admitir, mas aquela delícia estava me consumindo, pouco a pouco... Sua pureza duvidosa era a minha vontade, suja como a fome de um lobo perdido em uma floresta escura e sem saída.


Percebi que algo dramático, eroticamente tenso, teria de acontecer para que a minha normalidade reaparecesse. E aconteceu. Em nossa casa nossos telefones possuem extensão de mesma linha, até para que possamos controlar as ligações de Dafne. Foi então que, numa determinada noite, o aparelho toca e eu atendo no meu quarto uma ligação para minha filha. Era Carla. Quase gaguejei. Chamei Dafne que a atendeu em seu quarto.

Fiz que ia colocar o telefone no gancho, mas não consegui. A curiosidade em ouvir a conversa das duas foi muito mais forte. Controlei a respiração apesar do coração, que batia estrondosamente.

Miriam dormia ao lado. Começaram falando sobre uma prova que aconteceria na semana seguinte. Carla passava sensualidade até no timbre de voz, que era rasgadamente sedutor. A conversa continuou em amenidades adolescentes até que a amiga de minha filha entrou com um papo que colocava definitivamente em xeque seu semblante inocente.


Lembro das coisas que Carla falou, do que perguntou e do que respondeu. A menina falou sobre uma tal de Leocádia, amiga em comum das duas, que teria tido uma iniciação no boquete com um namorado. Elas riam com o tema e exploravam cada vez mais as dúvidas uma da outra. Foi quando Carla admitiu:

- Eu sou louca pra fazer... quando fiquei com o Ricardinho da sétima série quase rolou, mas ele era meio lerdo, nem percebeu que eu tava com vontade. Às vezes, tô aqui em casa e me dá um tesão danado. Vejo meu irmão falando com amigos sobre isso e fico louca!

- É? Eu também tenho curiosidade... nunca fiz, mas sei lá... meio nojento, eu acho.

- Não é não, garota! Quer dizer, acho que por ser assim meio nojento é que é bom. Vi uma vez um DVD pornô que o Lucas deixou aqui de bobeira e tinha umas cenas maneiras... as mulheres chupavam firme, os caras seguravam pelo cabelo e gozavam na cara mesmo! Elas ali ajoelhadas e muita porra escorrendo pelo rosto... puta, fiquei com um tesão do caralho!

- Eu também fico às vezes... alguns dias eu acordo com um comichão daqueles... mas tô quieta na minha ainda. Estou sem namorado.

- Ah, Dafne, eu tenho estado acesa demais ultimamente. Outro dia peguei uma banana e fiquei brincando com ela. Beijei, chupei como se fosse um pau grosso e gostoso. Como deve ser bom chupar um pau de verdade, passar a língua. A Leocádia disse que quando o cara goza na boca, a porra desce grudando pela garganta. Disse que é meio salgadinho, um pouco azedo...

- Hum... pára de falar que tá me dando vontade também, sua putinha!

- Depois passei a banana lá por baixo, mas não enfiei não... rocei na minha
bucetinha e fiquei brincando por ali. Mas essa vai ficar reservada para um pau de verdade! No filme que eu vi tinha mulher que até a bunda dava... os caras fodiam com força, botavam mesmo, não tinham dó, não. Uns caralhos imensos entrando e saindo, rasgando tudo! Aquilo me deu um tesão animal. Será que dói dar a bundinha? [riram muito quando falaram nesse assunto]

- Ah, sei lá... deve doer né? Se não doesse não seria xingamento o "vai tomar no cú!", né? [risos incontidos de ambas]

- Outro dia eu mexi nas coisas do meu irmão e vi uma pomada gel lá que acho que serve pra isso.

- Pra quê?

- Pra enrabar os outros, Dafne, deixa de ser tonta! Ele anda com uma namoradinha aí e acho que ela vem dando o cú pra ele sim. Ela tem 14 anos e por isso eu acho que só transa pagando boquete e dando o rabo. Pra se manter virgem. Ah, se ela pudesse me dar umas dicas no assunto! Mas nem em sonho, senão ele me mata! Ele acha até que eu nunca beijei na boca... coitado.

Eu estava explodindo de tesão escutando aquela conversa. Minha cabeça rodava, perdida, e meu pau queria estourar, explodir. E isso quase aconteceu quando Carla perguntou:
- Será que nossas mães dão a bundinha pros nossos pais?

- Ah, Cá, acho que não... mãe não faz isso... isso é meio que coisa de puta, né?

- Sei não. Seu pai é bonitão, charmoso... lá na praia até percebi que ele é grandão, você sabe, né? Quando passou creme nas minhas costas, ficou meio ligado... [risos]

- Que isso, Carla! Deixa de ser putinha, sua vaca. Meu pai só fica assim com a minha mãe.

Meu corpo parecia febril. Eu segurei meu pau que pulsava totalmente dilatado. Eu estava numa camisa de força, sendo chicoteado, talvez humilhado, talvez iludido. Atitude retida e desejo liberto, vagando dentro de mim, querendo por qualquer preço aquele paraíso impossível.

- É, dona Miriam é tão elegante, também não imagino ela dando a bundinha pro Lincoln, não. Mas quem sabe...

- Ei, que isso, Cá! Acho que ela não dá mesmo não, só puta que faz isso... não sei... mas nem vou perguntar uma coisa dessas, né? Mãe dando a bunda acho até que é pecado!

- Hum... já pensou a dona Miriam falando: "ai, Lincoln, mete no meu cuzinho, mete".

- Que isso, Carla... nem fazem! Mas, se fazem minha mãe nem deve pedir, ele é que deve querer, eu acho.

- Ah, Dafne, ela deve pedir sim. Eu pediria. Com todo respeito. Mas eu falaria pra ele: "me leva pro seu iate e lá vou ser só sua. Lá você vai fazer o que quiser comigo! Vai beijar minha boca, essa boquinha que você sonha".

- Que isso, Carla?! [elas riam e eu lacrimejava]

- "Você quer minha bucetinha? Minha xana virgem? Acho que ela eu não vou te dar!

Você não é casado comigo! Mas, minha bundinha eu posso pensar..."

- Meu pai nunca pensaria uma coisa dessas, Carla! Endoidou?

- "Passa seu pau na entradinha do meu rabo, Lincoln. É isso que você quer? Lá na praia eu já sabia, não esconde seu desejo. Vamos brincar em alto mar, agora. No nosso iate. Não precisa ficar com medo, pode mostrar seu lado selvagem, seu lado que está preso no casamento".


Meu coração estava batendo tão forte que o barulho estava quase acordando Miriam, que se remexeu na cama. Meu pau implorava por Carla, ainda que fosse só por aquela noite, ainda que fosse só um pecado ligeiro.


II- ENTREGA



'Quem nunca pecou que atire a primeira pedra', não é essa a passagem bíblica que perdoa as almas perdidas? Se aquele telefonema estava agendando meu encontro com o demônio, eu não conseguia dizer isso para Carla. Ela dominava. Brincava. Fazia o que queria. Eu afundava num turbilhão de emoções fictícias e o sofrimento por não concretizá-lo era só meu. "Pára, menina, pára com isso! Deixe-me em paz!!", gritos ecoavam dentro de mim como fantasmas intimidados.


Queria correr pela praia, andar sobre as águas, me tornar um ser divino para encontrá-la. Mas minha fraqueza me impedia de exteriorizar qualquer intenção. Ela prosseguia com sua tortura psicótica e eu seguia lembrando de sua bundinha linda na praia, redonda, tesuda, gostosa, implorando por mim e agora disponível só para o meu prazer. Tocar aquela pele, sentir seu cheiro. Desejo virando realidade dentro de um iate luxuoso e pervertido, tão louco quanto nossa abstraçãO:

- "Nós dois dentro do seu barquinho, mar aberto. Eu me ajoelho para chupar seu pau, como você quiser. Meus olhos vão derreter sua alma enquanto você sente minha língua doce. Você quer botar no meu cuzinho, eu sei. Você talvez não mereça, pois sua covardia em não me aceitar pode custar caro. Pode deixar você só na vontade. A Miriam não gosta disso, mas eu gosto. Nunca dei minha bunda, mas acho que nasci pra isso.
Come meu cuzinho, Lincoln. Você o desejou mais do que qualquer moleque da minha idade. Você surtou, teve pesadelos, pensou em não mais viver só por ele. Então, ele é seu. Trata com carinho. Empurra seu pau devagarzinho e sente ele alargando, te apertando. Eu quero. Bate na minha bunda, na minha cara, no meu rostinho angelical, seja macho, seja o homem que você quer ser e que eu sei que você é. Puxa meu cabelo como uma égua, pode fazer que eu sou puta, agora eu sou a sua puta!".


Minha mente estava escurecida. Talvez fosse um sonho. Mas não, era realidade mesmo. Ela falava com a certeza de que eu estava escutando, mas isso era impossível, não havia como. Ou havia? Sua voz era a de mulher, não era a de menina.


Sabia o que queria mais do que eu. Ela sempre soube, eu é que me comportei como criança. Meu desejo era nítido e só Miriam não via isso. Ninguém proibiu a entrada dessa garota na minha vida e agora ela me embriagava e me punia por minha inocência. Percebeu meu descontrole, minha fragilidade, mesmo eu nunca tendo falado nem feito nada, e agora me dilacerava com raiva naquele discurso erótico-devasso:
- "Não goza, me dá pra eu chupar de novo, tira do meu cuzinho e bota na minha boca novamente. Realiza sua fantasia, faz o que você tem vontade. Eu quero isso, que você mostre sua vontade, essa é a minha natureza... deixa eu mamar esse caralho gostoso... não tenho nojo, não tenho medo. Tenho só vontade!".


Toda a loucura era do ouvido diretamente para o cérebro, que não respondia pela lógica, mas por um desejo animal, desprovido de coerência. Meu caralho em ponto de estourar era mero figurante naquele cenário lascivo, figurante que exigia o papel principal, queria gozar, expiar seus pecados, todos eles.

- "Goza no meu rosto!"

Carla pareceu materializar-se diante de mim naquele momento. Poderia assegurar que ela estava em minha cama, com aqueles lábios que mais pareciam instrumentos de prazer em seu rosto. Não suportei mais e com apenas alguns toques por baixo da glande eu expeli visceralmente uma quantidade de esperma imensurável, gritando para dentro, num ruído rouco e realmente esquisito. Miriam se mexeu novamente, parecendo que iria acordar.

- Carla, você ficou louca??! Que conversa maluca é essa?! Vou desligar, amanhã a gente se fala, tchau! – disse Dafne, pondo um fim naquela insanidade enquanto eu também botava meu telefone no gancho, trêmulo.

Eu levantei e fui ao banheiro para limpar o resultado daquela transa muda, fantástica, estranha, inacreditável. Miriam acordou e perguntou alguma coisa. Respondi, gaguejando e suando muito, que estava com uma pequena insônia, nada mais.


Quando vi Carla novamente um constrangimento e um pavor afloraram gigantes dentro de mim. Mas consegui controlá-los, repudiá-los, exterminá-los. Não deixei que aquele fato, que marcou sobremaneira aquela noite, a minha vida, se estendesse a ponto de virar alguma anomalia que acabasse com minha família ou com Carla.



Acredito que tudo aquilo foi válido, pois me encheu de ímpeto para que eu fosse buscar com Miriam o que até então só existia nas minhas fantasias secretas. Hoje, recuperado, vivo melhor do que antes com minha esposa, e Carla se tornou um elemento virtual, criativo, ousado e revolucionário enquanto fruto proibido, e uma menina de 13 anos, com suas descobertas e curiosidades, nada mais que uma grande amiga de minha filha.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

GAROTAS DA COSTA LESTE


.
Devo encontrar-me com as garotas da Costa Leste
Bebericar uísque & vodca com elas.
São loiras doidas doidas loiras
a fim de demasiados afins
e que logo logo poderão estar afim de mim.

Pernoito em motéis de terceira.
Freqüento botequins onde ratos se divertem à beça.
Não consigo mais encontrar meus velhos
e sinceros amigos...

As garotas da Costa Leste são umas pestes!
Pestilentas!
Sedentas por sexo posto promíscuo posto
a qualquer valia.

Eu consigo comer algumas delas.
Após tomar bastante absinto.
Sinto-me tresvariado.
O raciocínio um tanto debilitado.
Todavia, não limitado.

Por conta disso, curo a minha ressaca
com boas goladas de cointreau
Lendo no almoço & na janta
frases versos versejos de Jean Cocteau

Ultimamente, tenho preferido as pirações de Artaud...

Por que depois d`eu tanto gozar
ninguém me matou?




FELIPE REY


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A Casa das Maçãs



Laurides estava arrasada. Descobriu que Batista tinha uma amante e que sustentava um segundo lar. O marido já não a procurava mais na cama e passava a maior parte do tempo fora de casa.

Batista nunca deixou de aproveitar a vida mesmo depois de casado. Pouco ficava em casa, pouco conversava com a esposa. Quando conheceu Gilda, ficou muito tentado a separar-se de Laurides, porém, sentiu muita pena da mulher e decidiu deixar as coisas como estavam. Gilda não se importava em ser a amante, ela até que gostava dessa situação.

Quando Batista encontrou Laurides chorando na cama, arrependeu-se de ter voltado. Deitou-se e fingiu que não havia percebido o choro da mulher e rezou para que ela nada falasse. Ela por sua vez, estava esperando o marido desde o final da tarde para esclarecer tudo. Respirou fundo e murmurou:

- Batista, por que você não gosta de mim?
- Por que isso agora, Laurides?
- Pode responder? Não me acha bonita? Não sente desejo por mim? O que ela tem que eu não tenho, Batista?
- Ela? Mas que diabos, do que está falando, mulher?
- Falo de Gilda, Batista. O que está te faltando em casa? Quero que me possua agora, quero provar que posso ser uma boa amante na cama, tão boa quanto a outra.

Laurides arrancou as roupas, ficou nua na frente de Batista e se jogou sobre ele. Tentou beijá-lo e abraçá-lo, mas ele tentava se desvencilhar. Temendo machucá-la, ele a empurrou para fora da cama, levantou-se e saiu de casa novamente. A jovem ficou sentada no chão, rejeitada, desgrenhada e humilhada. Chorou como nunca havia chorado na vida. Num ímpeto de fúria, levantou-se, quebrou todo o quarto, gritou e chamou o diabo! Queria fazer um pacto... em seguida, exausta, deitou-se sobre o colchão frio e adormeceu repleta de angústia e tristeza.

No dia seguinte Batista não conseguia olhar para a mulher. Ela, porém, o olhava com ódio, sedenta de vingança. Almoçaram num silêncio odioso e quase insuportável para Laurides. Ela não aguentava mais a indiferença do marido, também queria feri-lo e humilhá-lo.

- Vou sair, Batista.
- Onde vai?
- Vou à Igreja.
- Demora?
- Não sei.

Laurides saiu às pressas, pegou um ônibus, atravessou a cidade e chegou ao seu destino: um prostíbulo bem conceituado na periferia, frequentado por altos figurões da cidade. Estava decidida a pagar uma alta quantia para que alguma das prostitutas a ensinasse a ser sedutora e atraente. Foi recebida por uma mulher ruiva e alta, pouco glamourosa sem maquiagem que ouviu atentamente a sua proposta. Sentiu dó da jovem e decidiu ajudá-la por bem menos do que ela estava oferecendo. Laurides ficou muito grata e ansiosa para começar as aulas Com Daniela e saiu dali com uma sensação esquisita. Não conseguia parar de pensar nas coisas que Daniela havia lhe revelado e ficou impressionada com a quantidade de homens que se serviam dela todos as noites.
Eram homens das mais variadas idades e estilos, homens em sua maioria casados e insatisfeitos com o casamento. "Homens como Batista", pensou.

Depois daquele dia, ela voltou muitas vezes ao prostíbulo e numa das visitas, sentiu-se constrangida com a chegada de um cliente, que a confundiu com uma prostituta da casa. Ele sentou-se ao seu lado e colocou a mão em sua perna. Daniela ia esclarecer tudo, mas Laurides a interrompeu. Daniela entendeu que ela desejava continuar com a farsa e achou que aquela era uma ótima oportunidade de ensinar na prática o que Laurides tanto desejava aprender. Daniela colocou a mão na outra perna de Laurides e suavemente começou a acariciá-la. A moça a princípio se assustou com a atitude da amiga, mas não fez objeção nenhuma e se entregou aos seus carinhos para o deleite do cliente. Experiente, ela satisfez aos dois com muita competência. Realmente, a moça ruiva era uma máquina de sexo. Quando o cliente foi embora, Daniela olhou para laurides e começou a rir. Suas gargalhadas ecoavam pela casa e Laurides começou a rir também, porém sem entender direito o motivo da graça.

- Compreendeu, Laurides? – perguntou Daniela.
- O quê...?
- Que nós mulheres temos poder. Com o sexo, conseguimos tudo, qualquer coisa, mesmo.
- Você é muito boa e sabe bem que fazer.
- Você também pode ser, Laurides! Esqueça o Idiota do seu marido, você nasceu para ser uma prostituta, você é muito quente. Viu como aquele cliente lhe desejava? Ele vai voltar...
- Ele quase não tocou em mim.
- Naquele momento, ele estava mais interessado em nos observar transando, mas ele vai voltar por sua causa. Que nome você vai adotar?
- Não faço idéia (risos)
- Escolha um nome, oras! Vanusa, Verônnica, Michele...
- Eva!
- Eva é um bom nome.

Eva saiu do bordel muito contente. Flertou com alguns passageiros no ônibus, ensaiou olhares e sorrisos sedutores, rebolou ao caminhar. Em casa, ficou nua diante do espelho, tocou seu corpo, lembrou-se das carícias de Daniela e do convite para se tornar meretriz. Olhou a sua volta e constatou que não havia vivido. A paixão por Batista e o aborto expontâneo que tivera há 10 anos foram as únicas emoções em sua vida. Batista só se casou por causa do bebê. Nunca havia experimentado um orgasmo, nunca havia se sentido amada, nunca havia ganho presente algum. E ainda era bonita! Sim... dentro dela havia uma mulher ansiosa por novas experiências. Sorriu ao recordar-se do elogio da amiga... “você é quente!
Sua estréia como puta não poderia ser melhor. Com a ajuda de Daniela, entrou num vestido vermelho, maquiou-se, calçou uma sandália de salto alto e esperou ansiosa pelo cliente. Ficou imaginando como seria o primeiro homem com quem se deitaria depois de Batista... não romanceou nenhum príncipe encantado, qualquer um que viesse seria bem aceito. Foi escolhida por um senhor beirando os sessenta anos, grisalho, bem vestido, dono de um par de olhos verdes de tirar o fôlego. Ao vê-lo deitado na cama, Eva sentiu uma superioridade fora do comum. "Nós temos o poder". Sim, era verdade! Ela tinha aquele homem nas suas mãos e naquela tarde, não só o realizou sexualmente, como obteve seu primeiro orgasmo. Nunca em sua vida aquele político havia se deitado com uma mulher como Eva. Ela era generosa, quente, criativa, divertida e sensual. Cumprira seu dever com gosto e o fizera se sentir o homem mais sexy do mundo. Como era gostosa. Era pequena e magra, mas seu corpo preenchia bem a cama, Tinha cara de deusa... a Eva que fugiu do Éden para brincar com os homens. O político teve que sair dali carregado pelo seu secretário. Sentia-se fraco, porém, extremamente feliz.

Eva passava as tardes no bordel e à noite ia para casa esperar o marido, cada vez mais ausente. Atendia em média, cerca de sete ou oito clientes por tarde, sempre com a mesma energia e disposição. Em pouco tempo, era a prostituta mais procurada no horário. Inclusive, muitos clientes que frequentavam o estabelecimento à noite, também arrumavam uma forma de irem à tarde só para provarem as carícias de Eva. Sua vida com Batista em nada mudou, continuavam se tratando friamente e na cama, sempre que ela tentava se aproximar, ele a rejeitava.
Num dia, Paola enfezou-se e partiu para sempre, abandonando Batista sem explicação.
Ele não deve ter se importado. Mudou-se para o bordel, onde passou a atender à tarde e também à noite. Daniela resolveu passar o comando da casa para Eva, que mudou o nome para Casa das maçãs. A casa ficou famosa pelas magníficas e luxuosas orgias. Em pouco tempo, Eva ganhou fama na cidade e podia cobrar o que quisesse por momentos de prazer, mas também atendia a homens menos abastados por puro prazer. A vida de luxúria era muito boa, porém, ela não era totalmente feliz.

Já fazia alguns dias que ela mantinha contato com a atual esposa-amante de Batista, visando convencê-la a se tornar funcionária da Casa das Maçãs. Estava quase conseguindo, pois a vadiazinha era muito ambiciosa e estava entediada porque com o sumiço de Laurides, Batista a tratava como esposa. Eva planejava que o marido estivesse presente na noite de estréia da amante como piranha. Enfim, convenceu-a a virar puta e combinaram que sua estréia seria num show erótico em que as duas fariam um número lésbico. Para tanto, Eva teve que usar todo seu poder de sedução, mas não foi difícil, pois Gilda estava enfeitiçada por ela e além do mais, adorava carícias e jóias.

Laurides beijava Gilda tentando encontrar nela o gosto dos beijos de Batista, beijava o sexo da garota buscando o gosto do sexo do marido. Naquele momento, não se sentia superior, era apenas a adolescente de dezesseis anos que apaixonada pelo jovem boêmio, entregou-se a ele cheia de sonhos de amor.
Estava tudo pronto para a estréia. Eva pagou muito caro para proporcionar aos clientes e convidados o show mais luxuoso da Casa até então. Batista ficou muito contente de ter sido convidado, pois depois de ouvir falar tão bem da Eva, era uma honra estar naquele lugar para vê-la de perto e ainda por cima passar uma noite com ela, presente de um amigo misterioso.

Quando as cortinas se abriram, todos aplaudiram a jovem loira e nua, acorrentada na cama medieval. Batista não reconheceu Gilda, mas ficou muito excitado pela semelhança com a esposa. A moça era muito branca e tinha um par de seios fartos que transbordavam no sutiã de couro. Quando Eva entrou no palco carregada por quatro escravos, usava capa, botas e uma máscara. Ao tirar a capa vermelha de seda, ficando totalmente nua, recebeu aplausos e elogios. A mascarada partiu para cima da jovem acorrentada e mostrou para todos porque era considerada a melhor puta do país. Num determinado momento, muito próximo ao clímax, Eva libertou Gilda, beijou-lhe os lábios e arrastou-a pelos cabelos para bem perto da platéia. Gilda gritava por socorro, mas todos aplaudiam, pensando se tratar de uma encenação. Ao levantá-la pelos cabelos diante de Batista, a moça caiu no choro e Batista não acreditou no que viu. Com a outra mão, Laurides arrancou a máscara e encarou o marido, chamando-o no palco. Batista fez menção de ir embora, mas diante das vaias e chacotas dos homens ali presentes, voltou atrás e subiu ao palco, permanecendo imóvel e sério diante de Eva. Gilda ajoelhada no chão, escondia o rosto, pedia perdão ao amante e chorava copiosamente.

Eva envolveu o marido entre seus braços, beijou-lhe sensualmente e roçou seu corpo nu no dele. Dirigiu-se ao público e disse:
- Bem, cavalheiros, peço a licença de vocês por alguns minutos, pois agora, este cavalheiro terá o prazer de experimentar a mais deliciosa fruta da Casa das Maçãs...
- Não! - exclamou Batista.
Eva olhou atônita para o marido... ficou um pouco constrangida.
- Tenho o direito de ter o que quiser aqui, certo?
Eva foi obrigada a concordar.
- Pois bem - continuou Batista - quero passar a noite com ela! Ela é a única puta aqui que me interessa.

Eva quase desmaiou a ver o marido apontar para Gilda. Engoliu mais esta humilhação a seco, pediu licença a todos e subiu para seu quarto. De novo havia sido rejeitada por Batista. Era desejada por todos os homens, mas o único que queria, a trocara novamente por aquela miserável que havia se vendido por um par de brincos de ouro cravejados de rubi... uma mixaria. Derrotada, Eva olhou-se no espelho e enxergou a adolescente idiota que sempre fora. No fundo, nunca deixou de ser a maldita Laurides por continuar amando um homem que nunca sequer a elogiou, que nunca sorriu para ela, que nunca a possuiu com desejo.

Não havia mais motivos para continuar vivendo... Laurides pegou uma maçã na cesta de frutas que fazia questão de manter em seu quarto, envenenou-a e a devorou vorazmente. Enquanto aguardava a morte, ficou imaginando se se Batista havia perdoado a vadia... mas isso ela nunca saberia.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O tesão acabou...



-Bom dia amor! Dormiu bem?
A moça fechou a cara e sentou-se à mesa.
-Quer manteiga? Está fresquinha, mandei buscar ainda há pouco...
-Para de ser capacho! Odeio quando faz isso...Se eu quiser algo pego.
-Desculpa querida. Já vi que acordou num daqueles dias...
-Se viu por que não fica quieto?
-Tudo bem...Quando vai me tratar direito?
-Vai começar?
-Não. Desculpe mais uma vez. O rapaz se calou e tomou um gole do café, tinha esfriado...”Arre”...
-Fala demais, é isso. O café esfriou. Vá tirar o carro.
-Vai onde meu amor?
-Ao ginecologista.
-Pôxa! Eu tinha esquecido...
-Não marcou tudo...
-Pode ir se arrumando. Eu marco em alguns minutos, não se preocupe.
-Eu avisei do ginecologista ontem...Seu traste!
-Vai amor. Vá se trocar. Se perfumar toda...Essas coisas de mulher. Enquanto isso eu ajeito tudo. Seria bem mais fácil se...
-Vai começar?
-Não. Tudo bem. Sem reclamações, sou paciente...
-Eu vou repetir pela última vez: Não sinto mais tesão em você. Vai ter que se acostumar. De hoje em diante, se precisar relaxar, vai ter que se virar com qualquer outra...Manicure, Secretária, Faxineira, Enfermeira do Posto de Saúde, Ministra da Justiça e o escambau...Comigo, não mais.
-Tudo bem querida. Eu já havia entendido. Vá se arrumar e eu ajeito tudo para você. Ela foi para o quarto e ele deu os famosos telefonemas, depois foi tirar o carro.
-Tem certeza de que não quer...
-Ir junto comigo? Que coisa mais sem propósito. Claro que não.Eu vou passar no Banco e de lá vou para a minha consulta. Se apresse. Quero almoçar no ‘Lã França' hoje. Você sabe que meu apetite dobra depois dessas ‘consultas'.
-Claro meu amor. Pode ir. Eu cuido de tudo.
O consultório era antigo, um prédio que parecia ter sido uma imobiliária, cheia de salas e divisória. Faltava uma boa faxina.
-Credo. Um médico deveria cuidar mais da higiene do seu negócio. Limpou o dedo empoeirado que passara na mesinha da sala de espera e sentou-se na velha poltrona marrom. ‘Se eu fosse esposa desse cara dava uma repaginada em tudo por aqui’.
A porta se abriu e ela deu um sorriso como há muito não ousava dar.
-Olá Rodrigo. Eis-me aqui.
O moço estava impecável no jaleco verde combinando com seus olhos. Tinha o cabelo encaracolado e seu rosto fino, destacando um par de covinhas que a deixava muito excitada toda a vez que via.
-Entre Débora. Você é minha única cliente hoje, desmarquei todo o resto quando soube que viria.
-Por que doutor? Meu caso é tão grave assim?
-Sim. É grave. Mas tenho um tratamento novo que trouxe da França. Só que levará algumas horas. Terei que segura-la aqui um tempo.
-Sabe que não posso demorar muito...
-Fica quieta e venha. Puxou sua mão e fechou a porta da sala atrás de si.'Pode ir se preparando'. Apontou para a salinha onde as pacientes tiravam a roupa e vestiam o jaleco azul amarrado na frente. Débora adorava se vestir assim, isso a deixava excitada. Mas por que ainda se constrangia em sua presença? Não queria ser confundida com uma vagabunda. Ela o amava a seu modo. Sabia que não era o único, havia o professor de tênis, o técnico que dava assistência ao seu computador, o professor da Academia que freqüentava...Mas, a seu modo, amava todos eles, cada um com sua covinha idêntica... Pena que não sentia isso pelo marido. Era uma espécie de tara por uniformes...Se desejasse apenas seu marido seria sua chance de ter uma vida tranqüila. Mas não suportava nem o cheiro de Rafael. Esperava que isso passasse com o tempo.
-Está demorando muito. Precisa de ajuda?
-Não. Estou pronta. Estava com o jaleco e nua por baixo. O laço que prendia na frente estava frouxo e Rodrigo arrumou.
-Deite-se ali. Vamos, do modo de sempre. Coloque as pernas no suporte para o exame.
-Assim?
-Hum...Não. Vamos fazer diferente hoje. Para o campo de visão ficar melhor. Assim se tiver alguma lesão no colo do útero eu verei. Coloque os pés em cima do suporte em vez dos joelhos.
-Como? Isso é desconfortável...
-Não é não. Eu te ajudo. Ele colocou os pés da moça, um de cada vez em cima do local onde as pacientes apóiam os joelhos.
-Estou me sentindo estranha.
-Quieta. Vou ver os nódulos. Ele começou o exame dos seios e abriu de leve o jaleco deixando a mostra os biquinhos durinhos...Está com frio? Passou de leve o dedo no do seio esquerdo e a moça teve quase um desfalecimento. A posição a deixava vulnerável e isso era muito excitante. Ele percebeu e disse: Vou começar o novo tratamento. Aproximou a língua e molhou de saliva o biquinho de seus seios fazendo a moça gemer. Viu? Se tiver algum nódulo na auréola ele vai sobressair agora...Repetiu o gesto no outro seio e desamarrou o laço do jaleco descendo a língua até o umbigo. Ela mexeu as pernas e ele ordenou: Quieta. Não saia da posição.Ela estava com a vagina na ponta da maca e as pernas levantadas faziam com que ficasse pronta para penetrada. Ele percebeu como estava molhada e aproximou sua respiração do clitóris, tocando de leve a ponta da língua e fazendo-a gemer alto.De súbito abocanhou sua vagina e sugou-a por minutos intermináveis até que a moça gozou como há muito não fazia. Aproveitando-se de sua prostração, ergueu-a pelas coxas e penetrou-a fundo ritimadamente enquanto seus dedos entravam e saiam de seu ânus. Ejaculou rapidamente e saiu da sala. Era sempre assim. Parece que se culpava pelo ocorrido. A moça se recompôs rapidamente e saiu. Já sentia o ronco da barriga anunciando a fome exagerada que sentia depois dessas escapadas...
-Atrasou. O garçom já olhou quinhentas vezes para cá...
-Desculpa meu amor. Eu tive que tomar um banho, sujei todo o jaleco com o esperma...
-Cala a boca! Eu já disse: Aqui você é só o traste do meu marido...


(textos eróticos de Me Morte)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Corda Azul por Lara


Corda azul

A cada noite, gestos iguais como quem come um bife com cogumelos ao almoço no mesmo restaurante, cada quinta-feira, desde há 30 anos.
Ela veste camisas de renda, transparentes. Sempre o mesmo modelo. Curtas. É ele que lhas compra. Mal lhe sobram da anca. Fica-lhe o rabo destapado, como agora que se dobra um pouco e tira o preservativo da gaveta. Dobrada sob a luz baça do candeeiro, peça de design, como o resto do quarto. Preto e branco com almofadas vermelhas, ponteando.

Ela há-de sorrir-se de aqui a bocadinho. Muito quieta, a olhar aquele sem jeito que é ele dobrado, calvo apesar da idade, suado, a desenrolar a borracha sobre o sexo. Coloca-o ela que é mais rápido. Cuida que não o toque com as unhas que tem compridas com um brilho de verniz discreto.

Uma vez por noite, todas as noites.

Ela deitada de quatro sobre o tapete. Ele entrando no quarto.
Ela sorri-se. Coloca a carteirinha embrulhada em papel de seda verde, na mesa do seu lado. Nunca ela se colocou de quatro. Nem em cama, menos ainda em chão de quarto. Nem em viagem, motel ou estância de luxo. A posição de sexo é só uma. E não é de pé, nem outra que não seja uma, a única. Noite após noite. Sempre depois de ter passado um dia ao outro dia. Nunca depois de o sol se ter posto, antes do jantar ou quando calha.

Senhores! Que qualquer hora dava! Pensa ela, de vez em quando, que desde há muito tempo ela já nem pensa isso. Ela esquece. Apenas quando conversa com a amiga. Um dia. Conversando, Constança constatou que ela e o marido é sempre àquela hora e é ela deitada, e ele debruçado por cima. Ele muito magro, um ou mais ossos do corpo, carregando uma zona do corpo de Constança, num descuido que, benza-o um qualquer deus, ela quase nem sente, que Constança tem corpo cheio de carnes: as que baste, distribuídas pelo sítio certo.

Ele a colocar o sexo dentro dela como se fosse escarafunchar, buscar bicharoco em toca: meter o pau bem lá no fundo a ver se encontra. E ela recoloca o corpo: não se entrega. Fica quietinha a olhar o tecto, ou fecha os dois olhos, que é mais o costume. De quando em vez, Constança mexe-se, ritmadamente. Coisa de parecer, de não destoar do vai-vem dele: ritmado, certo. Constança, mal comparando, pensa em carro desengatado por ladeira abaixo – nem pára, e acaba em desastre. E ouve cada nota da música que toca no andar de cima – horrível e monótona.

Ele diz-lhe “vamos fazer amor?” e ela sabe que nem é pergunta. É sempre uma ordem e nunca um convite. Um dia, ela disse: hoje não posso. Pensava ela, ainda, que não podia, ao menos em alguns dias. Ele pegou-a com jeito, que ele sabe fazê-lo, e levou-a. Foi a repetição, apenas com a diferença que a ela lhe doeu. Nunca mais. Agora ela sabe. Constança sabe como fazer a coisa. Depois que ele a “convida”, ou mesmo que nem diga, se é hora, ela sobe a escada, espera-o. E é ficar ele por cima, ela por baixo, e é ela pensando em outra coisa, como no outro dia que o imaginou pendurado na corda da roupa. Coisa desmesurada. Louca.

Coisa divertida, mas só depois de contar à Glória, sua amiga, mulher a caminho do terceiro divórcio, e que lhe diz: ”Constança, tu andas nisso porque queres! não o deixas porque te dá muito jeito. Outra qualquer teria inveja, ou nem acreditava. Todos os dias?!” E Glória ri-se, acrescentando: “ que sorte, menina!”. Mas Constança está farta.

Foram muito poucos os intervalos. Três dias, há dez anos, quando abortou do Ricardo. Constança pôs-lhe nome. E ele: “Filhos, nem pensar”. Pagou-se caro em clínica de Londres. E, depois, nem há uns meses, quando foi operada a uma úlcera no estômago. Descanso por mais de quinze dias, além dos dois que passou na Casa de Saúde. “Stress, dizia o médico. Coisa destes tempos.” E ela a pensar que bom que era se ele a despisse, ali no meio do consultório, e lhe desse uma foda. Se a levasse para longe. Ela está certa, enquanto o médico vai falando, falando, na sua frente, que nem precisaria ser operada. “Garanto-lhe, o senhor doutor até podia escrever um artigo científico e outro religioso, que coisas destas, sendo da natureza, podem ser tidas por milagre ou avanços na ciência. Conhecimento empírico”. Diria ela, se o tivesse dito.

Mas ficou calada. Mas foi operada.

E continuou a ser fodida, todos os dias, pelo seu marido, escritor de romances e novelas: autor premiado.
Desde há uns tempos, vai talvez para seis meses, Constança ensimesmou nos planos. Vai conjecturando enquanto sente os espasmos dele. Planos malucos, como ela só os nota quando conta à Glória entre duas cervejas geladas, ou nadando ambas na piscina.
“São planos esquisitos”. É o que lhe diz Glória que se riu muito daquele, que é recorrente, que a Constança quase lhe parece já ter acontecido: o marido pendurado na corda como se fosse lençol molhado, ou camisola tirada da máquina, 60 graus, lavagem sem centrifugação. Ele balançando com o vento norte, nuzinho, o sexo reduzido a um pendente mole. A cabeça descaída sobre o ombro direito, como um Cristo de Velasquez.

Ela não sabe se ele está morto, se vivo.

As molas são quatro, uma amarela, outra verde e duas encarnadas. Prendem, de cada lado, uma o dedo médio, e a outra, a parte interior do braço que é onde a pele descai um pouco, que ele está ficando flácido apesar de ainda novo. Não coloca mola em cada cotovelo. Cada um deles pende, num ângulo agudo, apontando o chão muito lá em baixo. A corda fica esticada, muito tensa, entre a varanda do último andar, o segundo direito, e o prédio deles, no condomínio fechado. Por baixo, o relvado que contorna a piscina onde ele nunca toma banho que tem poluição e coisas que lhe fazem borbulhagem.

Em cada uma das noites, ele desempenha o acto e dá-o por terminado. Retira-se dela. O preservativo cheiinho de esperma. Pergunta-lhe: gostaste? Ele pergunta sempre, e nem ouve a resposta que já está mijando. Tanto que ele urina depois de cada foda. O tempo de ela se virar e pegar o sono.

Quando o imagina, melhor, quando engendra o plano sentindo-lhe o pénis entrando e saindo, ele está na corda, calçado com as botas pretas de que ele tanto gosta: sola grossa e biqueira de aço. Pesadas o bastante para que fiquem as duas pernas paralelas, quase unidas, balançando ao vento, dependuradas no retesado da corda de nylon. Ela pensa sempre: “Tem que ser uma corda em azul muito escuro.”
“Uma cor de luto”, ri-se a amiga Glória, com aquela mania de interpretar os sonhos. Aquilo era um plano e ela estava acordada. Que sonho que nada! Deixou de contar-lhe, fosse o que fosse, acerca do marido. Entre dois mergulhos, passou falar-lhe de trapos e criadas.

Glória dirá que nunca vira a amiga tão bem. E ninguém lhe pergunta o que ela quer dizer.

Ele a aproximar-se do clímax. Ela a ficar livre. Sabe que apressa o fim se respirar primeiro devagar, depois em crescendo. Se juntar um gemido, um hummm prolongado, e o mantiver, enquanto ele arfa alto, quase em tom agudo, e ela pensa que se fosse cavalo estaria raspando o lençol.
E acaba. Sai de cima dela que suspira num gesto de prazer. Um gesto tão bem feito como se fosse artista e não uma simples engenheira de sistemas. Quinze anos numa multinacional. Ganha para os alfinetes.
Ela sempre molhada. Preparo que baste para que não lhe custe aquele balanço de entra e sai, mete, retira, e fica a olhar para ela, e torna a deslizar para dentro. Constança, tem nisso um esmero: fabrica em abundância o líquido que aplica como óleo contra atrito.
O líquido que sente descer-lhe entre as pernas, não é prazer, é técnica. Também não é esperma: ele nunca derrama. Nem nunca lho coloca na boca. Nem perto, para que ela o toque, o lamba. Constança, um dia, há muito ano, fez menção de beijar-lho, e ele, sorrindo, afagou-lhe o cabelo que ela tinha então pelos ombros, e não muito curto, como o tem hoje. Disse-lhe: “nunca mais faças isso”. Percebeu Constança que seria tudo segundo as normas: Era ele que as impunha, tal qual o ritual de um serviço por noite, 365 noites por ano. Há doze anos.
Às vezes, frequentemente, o gato deita-se na cama e ela vai acariciando.
Nisso, ele não é esquisito nem tem erupções de pele.

Desde há quatro noites. Precisamente no domingo, e hoje é quarta-feira, ela decidiu.
Tem vestida a camisa de noite, curtinha, em cima das cuecas, peças que combinam sempre, na cor ou no padrão.
Ele escreve, no andar de baixo. É coisa que faz por ofício: encher papéis, depois de muitos ficheiros que arquiva num disco ou grava em cêdês. Escreve livros. Num deles, uma mulher é trucidada por um autocarro conduzido por gatos. Coisas estranhas as que ele conta. Ele lê-lhe, muitas vezes, excertos. Pergunta-lhe. Às vezes, ela dá-lhe dicas, como naquele em que ele pensara matar o personagem com uma bala entre os olhos e ela sugeriu a água da piscina aquecida a 300 graus.
Mas, desde há uns tempos, ela aproveita a imaginação que tem muito rica, diz ele: “devias escrever, Constança”, apenas para construir o plano. Tornou-se uma obsessão.
E hoje, quarta-feira, vai ser o dia certo. Constança terminou tudo no domingo. No enredo, não há psiquiatras, nem analistas, e ela não sabe se perde a fortuna que ele trouxe por morte dos pais e das muitas vendas e traduções. Não pensou nisso, nem sabe para quem fica a casa. Sabe, sim, das noites. E sobretudo, sabe alguma outra coisa que ela nem percebe, senhora engenheira de sistemas.
Glória dizia-lhe, por tudo e por nada: “Prezo demais a minha liberdade”. E usava umas roupas baratas e tinha um carro em segunda mão e uma empregada três vezes por semana. A sua amiga Glória, chefe dos serviços administrativos da empresa.

Ele escreve até muito tarde, mas antes, a uma hora bem marcada, meia-noite, ou rondando, sobe ao quarto e fode-a.
Constança já pensou em fazer risquinhos na parede por detrás da cabeceira da cama, sugestão da Glória que se diverte à brava. Desistiu da ideia, que ele ainda pensava coisas. Voltaria ao que estava latente desde há tantos anos. Nunca contara a Glória. Nunca contara. Segredo que guardara nem ela sabe como. E mesmo que não fosse isso, se ele visse os riscos viria com aquele rosário de perguntas que faz se ela muda a norma, se diz coisa que ele não espera, e nem pensar, que ela nunca falha na hora do jantar: “Onde foste, onde ouviste, quem te disse, de onde vieste? Como sabes?” mesmo indo com o motorista, o choninhas do Santareno, de casa à empresa, e no regresso. E poderia acontecer. Fora uma única vez. Uma sova de cinto. Motivo: Constança recusara-se. Dissera: hoje nãoposso. Não esta noite.” Fez finca-pé, gritou, trancou-se no quarto. Na manhã seguinte, saía ela do banho, sovou-a. Constança nunca disse a ninguém. Nunca mais se negou.
Se ela nem subiu na empresa, que teria que deslocar-se em viagens. Isso Glória sabe: dos ciúmes. “Uma estupidez, essa, que tu alimentas”. E ela concorda, mas na hora vai ficando, olhando as mordomias, os casacos na moda, as férias sempre em grande, o filho interno num belíssimo colégio, duas criadas e uma mulher a dias. “Merdas”- pensa de vez em quando, mas esquece. Ou nem sequer é isso. Ele trata-a com esmero não fora aquele exagero que está fartando.
E ele a dizer-lhe, cada uma das noites: “Vai subindo e despe-te que eu vou já. Fodo-te toda, minha querida” e a dar-lhe um beijo distraído sobre a parte do corpo que esteja mais a jeito. E rindo. Ri sempre com um rir divertido.

Como diz a Glória: “ Tu, se calhar, até gostas”.

E hoje é quarta-feira. Ela pensou o dia por ter grande afinidade com o número quatro. E, depois, ficaria livre para o passeio da empresa no domingo: ele nunca permite. Nem ela fala nisso.
Recostada nas muitas almofadas, o edredão tapando-lhe as pernas, Constança lê um artigo sobre o tema da reunião que marcou para amanhã ao meio-dia.
Daqui a pouco, ele subirá. Vai repetir-se, igual.
Ela sorri-se. Ele irá entrar naquela porta.
Enquanto subiu a escada e atravessou o corredor, terá despido cada peça de roupa. Empurrará, com um ombro, a porta do quarto que ela deixou encostada.
Quando ele entrar, Constança verá que traz, apenas, sapatos e peúgas, e as ceroulas que sempre usa, em algodão branco, imaculado. No braço esquerdo, será nesse, como é seu costume, trará a roupa que foi despindo. Terá na boca o cinto, preso nos dentes. Colocará toda a roupa, dobrando cada peça, em cima do sofá, aos pés da cama. Um tempo que ele nunca dispensa, o de dobrar, peça por peça, a roupa que veio retirando.
Teatro. Encenação ao mínimo pormenor. Tal qual pensaria Constança, deixando tombar a revista.
Mas nesta noite, ela nem observará, nem lhe verá os pêlos das costas salpicados de branco, ele sentado a descalçar as meias, a tirar os sapatos, o cinto sempre ao lado, do lado oposto àquele em que ela se roda deitando para o chão a revista. Constança sorrirá com um respirar de alívio. Tudo no maior silêncio.
Depois, será como é de uso.
E ele irá mijar.
Levantará a tampa da sanita. Loiça em quadradinhos pretos e vermelhos, oferta de estilista amigo.
Será como pensou. Correrá o plano. A tampa a levantar-se e logo a explosão. E depois pendurá-lo. Cumprir-se-á o plano.

Agora que olha o sangue, os cacos espalhados, um copo de dentes em cima da cama e a roupa que ele deixou bem dobrada salpicada de sangue e o candeeiro caído e o quarto em desalinho, partidos os vidros da janela e partidos os espelhos, caríssimos, que decoravam o quarto, Constança pensa que exagerou a potência da bomba. Levanta-se por entre os destroços. Dói-lhe muito a perna. Dói-lhe muito a cabeça. Onde era a casa de banho, não há quase nada que mostre o que ali havia. Não mais que as duas torneiras, dois cisnes doirados por cima da banheira que voou em estilhaços. Sangue por todo o lado. Constança não encontra bocados do marido. Tudo esmigalhado. Nem um dedo que sobre. Nenhum osso sobre osso.
Volta ao que foi o quarto. Aos restos que ficaram num total desalinho. Como cumprir do plano, é o que a preocupa. Como vai ela pendurar o marido. Colocar na corda os pedaços: pernas, braços, a cabeça, um pé, uma ou as duas mãos. Fazer como previu. Quer voltar à casa de banho. Encosta-se a uma parede e. Sente-se em desespero. A cabeça dói-lhe. Passam-lhe muitas imagens de como foi fazendo. Pensa que devia ter feito um engenho menos potente. Quem lhe deu as dicas não podia pensar nisso, não sabia qual era o objectivo. Ela devia ter previsto. A cabeça sangra-lhe, tem sangue a escorrer-lhe na cara. Constança assusta-se. Chora. Construiu o engenho sem grande dificuldade: uma consulta na net e restos de conversas que soube fazer com o pateta do Ernesto, chefe de serviço, sempre desejoso de mostrar que percebe. E ela, como que brincando, a uma fala do Ernesto: “Olha que giro! Uma bomba na retrete!” e pensando: “ ele levanta sempre a tampa…”
Religiosamente, ergui-a, sim, antes de urinar.
Até disso a Glória lhe dizia: “ que puta de sorte, menina! Um marido que mija só depois de levantar a tampa da sanita!”
Seria apenas preciso ligar o abrir da tampa com o detonador.
E foi o que se deu: um enorme estrondo.
Demasiado, pensa Constança agora que lhe entram pessoas no quarto.
Ela encostada à parede, enrolada, agachada. Vai ficando confusa. Que homens são aqueles a invadirem-lhe a casa, a impedirem-na de tomar um banho, de vestir roupa decente, de pegar ao colo o seu gato que mia no andar de baixo. Colocam-na numa maca. Ela pensa que eles vêm ajudá-la a pendurar os bocados. Farão por ela o resto do plano. Constança relaxa. Olha-lhes cada gesto. Quer mesmo perguntar-lhes se sabem onde está estendida a corda e onde estão as molas. Não sabe se eles a ouvem. Um deles acaricia-lhe as pálpebras, fecha-lhe os dois olhos. Pode ser que eles encontrem algum bocado intacto. Constança diz-lhes que estiquem bem a corda que ela prendeu, mas ficou bamba, entre a varanda do prédio onde eles moram e o prédio da frente. Tudo às escondidas do marido. Tudo numa pressa, antes de entrar em casa, antes do jantar. Disse ao segurança: “ estou a construir um telefone, daqueles antigos, sabe, para o meu Ricardo”. O homem abriu o único olho, que o outro era de vidro, sem perceber do que ela falava, e disse, numa deferência: “Faça favor, Senhora Engenheira, esteja à sua vontade, muito boa noite”. E ainda a ajudou a dar o último nó, bem apertado, na corda de nylon, azul de luto.
Ao dia seguinte contará a Glória.
Glória, sua amiga, embasbacada de não ter pressentido, chorando sobre a campa: “Que bem que trabalhaste, Constança, minha amiga!”,.
E nem mesmo ela sabe como foi o seu plano enorme.
Glória tem sincera pena que tenha falhado.

sábado, 2 de agosto de 2008

A unha

Uma mulher linda, dessas de perder-se à primeira vista, mas sou perfeccionista e não pude deixar de notar que lhe faltava uma unha. Tinha uma boca pecaminosa, do decote saltavam eles, reluzentes, fartos e apetitosos, mas volta e meia meus olhos caíam no dedo sem unha da moça.
Peguei-a pela cintura, apertei-a contra mim e latejando meu corpo pedia o dela, seu pescoço era lindo, escorreguei minha língua nele e me servi de seus seios, de sua barriga e de todas as suas carnes moles.
Mas quando me desconcentrava, vinha a imagem da unha que faltava no dedo do pé esquerdo. Aquilo me tirava o tesão mas tentei me abstrair.
Comi a prenda uma, duas, mas na terceira vez não consegui esquecer. Não riam, não foi engraçado, brochei, não consegui esquecer a maldita unha.
Dormi e acordei com os berros da moça no banheiro, disse-me:
_ Seu desgraçado, nunca mais transo com você noiado, olha, comeu a unha do meu dedo do meio de pé esquerdo!

Néon


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